Silêncio a Ocultar Desideratos Estranhos
Apesar das garantias constitucionais
de que nenhuma desapropriação poderá ser realizada
sem justa e prévia indenização, o aético Estado Brasileiro
sempre desapropria pagando posteriormente
valores injustos e parcelados.
O escândalo dos precatórios, que são pagos em 10 anos
após trânsito em julgado das decisões judiciais,
é a consagração do Estado caloteiro, que, todavia,
nunca perdoa os contribuintes.
Por essa razão, com propriedade,
Eça de Queiroz dizia que os políticos e as fraldas
devem ser mudados constantemente pelas mesmas razões.
Ives Gandra Martins
Preparava um texto a respeito de reflexões acerca das pinturas abstrata e etnocêntrica, quando constatei quantidade apreciável de e-mails recebidos a respeito do post anterior. Apoios incondicionais à causa vieram não apenas de nossa comunidade Brooklin-Campo Belo, mas da cidade de São Paulo, do Brasil e do Exterior. Causou-me forte impacto a observação generalizada referente ao silêncio da Administração Pública e do Metrô, quando todo o projeto está estampado em site da Companhia pormenorizadamente, assim como ao item 9 do Edital, que trata das áreas remanescentes que serviriam, após conclusão das obras, a “empreendimentos associados”, palavras rigorosamente evasivas, prestando-se às interpretações mais diversas. Houve, inclusive, contundência mais intensa nos termos utilizados pelos leitores quanto a este dúbio item 9 do Edital para Licitação do Projeto Arquitetônico da Estação Campo Belo. Aqueles que se comunicaram através da internet insistiram em um segundo texto, a abordar outros aspectos não contemplados anteriormente, devido à tipicidade dimensional de meus posts semanais. Fá-lo-ei através do presente, a evidenciar que já há uma mobilização competente de moradores e comerciantes visando à transferência natural do terminal de ônibus para o entorno da Av. Água Espraiada, localização bem mais adequada a não causar danos ao ambiente, evitando a degradação absoluta da região e a ter uma abrangência extraordinariamente mais qualificada à comunidade como um todo. Sob égide outra, urge a reconsideração do trajeto do Metrô.
Alguns aspectos mereceriam um pormenorizar mais atento, que ficou ao largo na visão da Administração Pública e do Metrô. Se considerarmos os milhões que são gastos para a revitalização da cidade, fato este que o governo alardeia e a mídia divulga com ênfase, o orçamento a ser destinado ao Metrô em sua Estação Campo Belo, assim como ao terminal de ônibus, será extraordinariamente alto, mas com o sentido inverso ao da revitalização. A área, considerada nobre nos padrões paulistanos, terá nessa Estação Metrô-Terminal Ônibus o peristilo da total decadência. Terminais espalhados pela cidade são exemplos gritantes da derrocada social de regiões escolhidas. Considerando-se o fluxo fantástico de cidadãos previsto já no projeto – cerca de 5.000/hora – e a chegada certa do comércio informal, que se desloca e se instala no entorno, verifica-se, com a serenidade possível, que haverá a des-revitalização, ou seja, o absoluto opposite à propaganda alardeadora de uma cidade melhor. Haverá, isso sim, a hecatombe de área considerada nobre e sem uma junção plausível desse possível terminal. Que interesses estranhos estão por trás de todo esse projeto Brooklin-Campo Belo? Qual a razão do silêncio da mídia, sempre ávida pelo escândalo, que ainda há pouco exauriu ad nauseam, durante bem mais de um mês, o caso da infortunada menina atirada de um apartamento por mãos intencionais? Dezenas de jornalistas e fotógrafos a acompanharem o infortúnio. O porquê dos meios de comunicação não verificarem o projeto Metrô-Terminal de Ônibus e observarem equívocos evidentes, entre estes, apenas como menção, a ausência da adequação à legislação ambiental, ou ainda a negligência quanto a um conhecimento pleno do solo fragilíssimo da área proposta, onde o lençol aqüífero está a pouquíssima profundidade? Que interesses inconfessos, a ratificar o exposto no post imediatamente anterior, estão embutidos nesse projeto silencioso?
Talvez ainda seja possível a esperança. A Ata da 29ª Reunião Ordinária da Câmara Técnica de Sistemas de Transportes do Conselho Estadual do Meio Ambiente, CONSEMA, realizada aos 13 de Junho, vislumbraria direcionamento que, ao menos, pareceria apontar para a possibilidade de um debruçar mais atento, sem realmente a pressa demonstrada, pois são inúmeros os tópicos preocupantes, a causar ansiedade entre os moradores da região ampla que se estende da Rua Barão do Triunfo à Rua Califórnia, das Ruas Edson-Flórida à Av. dos Bandeirantes. Ficariam pois para discussões apropriadas, sem o açodamento absurdo até o momento apresentado através do exposto no site do Metrô, itens fundamentais, dos quais destacamos: a) necessidade de elaboração de um estudo de risco para evitar os problemas ocorridos na linha amarela (Pinheiros); b) necessidade de estudo de suporte viário; c) não ser o projeto fator de transformações de áreas preservadas, pois as estações, principalmente quando funcionam como terminais ou pontos de integração, causam mudanças ambientais significativas na área do entorno; d) necessidade imperiosa de a sociedade ser ouvida pela Administração; e) necessidade absoluta de uma análise isenta referente ao impacto urbanístico; f) estudos igualmente isentos relativos às alternativas de localização de trajetos do Metrô e do pretenso Terminal de Ônibus.
A luta continuará. Teremos de ser ouvidos amplamente. Enquanto estivermos nesse combate da esperança, voltarei às minhas temáticas, e o post próximo, a respeito de tendências pictóricas, será bem mais ameno para o prezado leitor. Tendo precisões quanto a nossos apelos reivindicatórios, regressaremos à temática de interesse pleno de nossa cidade bairro, Brooklin-Campo Belo.
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