Sinônimo de Equipe Solidária
Uma vez
é a primeira
Adágio Açoriano
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Emoções inusitadas trazem sempre a certeza da surpresa à espreita. A própria vida está a apresentar, dependendo em grande parte da ação voluntária, atrações difíceis de serem avaliadas racionalmente.
Quando de meu tratamento quimioterápico na Clínica Clioh em 2004, conheci médicos, enfermeiros e funcionários que até hoje permanecem enraizados em meu afeto. Periodicamente sinto o prazer de visitá-los, quando de exames de manutenção.
Em Janeiro de 2006 comecei a andar pelas ruas de minha cidade bairro, Brooklin-Campo Belo, e a partir de Março, a correr intercalando com andanças. Progressivamente as distâncias aumentaram, e hoje já corro septuagenariamente de 8 a 12 quilômetros três vezes por semana. Para alguém que está a lutar contra um mal tão cruel, mas passível de ser vencido a partir da ação voluntária, cercar-se naturalmente de pessoas radiantes é fundamental. Estímulos são positivos, projetos dimensionam-se sem pressões, a vida pode mudar.
Confesso que jamais cruzei com corredores amadores que não fossem saudáveis. O gesto, o desenvolver do exercício, o contágio das endorfinas a propiciar a vontade de prosseguir, tudo concorre para patamar que me era absolutamente desconhecido. O Piano agradece, os textos descontraem-se e a idade avança sem traumas, a clamar que a terceira idade pode ser entendida como o resultado do que fomos e sentimos. Propicia também sentimentos interiores que levam à paz e à serenidade possíveis neste mundo conturbado.
Cristina Ito trabalha na Clioh. Conheci-a quando, em reuniões de pacientes em tratamento de químio, buscávamos ajudar-nos sob sua coordenação. Passaram-se os anos e Cristina soube que começara a correr. Sempre que a encontro, um ou mais quilômetros são relatados pelo corredor entusiasmado. Soube ela que participei da Maratona de São Paulo em Junho, no percurso de 5km (Vide Sobreviver com Qualidade de Vida, 07/06/08). Qual não foi meu espanto quando ela me convidou para integrar a equipe TA LENTO, que estava a fazer inscrição para a maratona de revezamento Ayrton Senna Racing Day, que seria realizada aos 16 de Novembro no Autódromo de Interlagos. Incontinente disse sim e não escondi a euforia por ter sido convidado por alguém que estimo e pertencente à Clioh. Um aval de que as coisas caminham bem. Seria eu o Matusalém de uma equipe cuja faixa etária varia entre 42 e 47 anos. Estava assim encerrada a primeira etapa, e os sete integrantes não cansaram de enviar-me mensagens alentadoras. Uma frase em particular, escrita por Sérgio Yuji Yokoyama, ficou gravada: “O melhor resultado não é da equipe que consegue o melhor tempo; o melhor resultado é daquela que consegue desfrutar da alegria, do prazer, da satisfação de estar entre amigos e fazer perdurar isso pelo maior tempo possível…”.
Estava pois integrado ao grupo TA LENTO, equipe nipo-brasileira. Dizer da contagiante felicidade do encontro é pouco. Foram momentos mágicos, só possíveis com a prática do esporte sem pressões, longe de quaisquer outros princípios que não o do prazer de correr e o da alegria do congraçamento. Fui o primeiro da equipe a percorrer os 5.275m, devido à idade e ao fato de às oito horas da manhã o asfalto ter ainda uma temperatura satisfatória. Ao chegar, passei a braçadeira à Cristina. A cada integrante que findava o seu percurso, a indisfarçável euforia do grupo.
Percorrer a pista de Interlagos é extraordinária experiência. Primeiramente, sair nesse batalhão constituído por centenas de corredores, tantos deles profissionais. Sentir a descida após os boxes, tangenciar o S do Senna, correr pelo traçado famoso: Ferradura, Pinheirinho, Laranjinha, curva do sol; enfrentar a subida do lago e o temido aclive em direção à chegada, quando se tem de graduar energias, passar pelas zebras e ver ainda as marcas dos pneus dos possantes meteoros da Fórmula 1, tudo contagia e traz um sentimento de gratidão por lá estar apreciando o autódromo lendário, rememorando os monstros sagrados do automobilismo. Sensação única.
Quando faltavam uns poucos 300 metros, ouvi gritos vindos do terraço na parte superior dos boxes. Minhas netas gritavam: “Vai, vovô !”. Tinha ainda reservas e, num sprint, consegui passar umas moças de academia conhecida de São Paulo. Alegria total.
Um fato curioso deu-se durante o trajeto. Na longa inclinação a levar aos boxes, estava passando por corredor que despejou “potência” logo na descida após a largada. Dele me lembrei por não ser jovem e ter inscrições em cirílico na parte posterior de sua camisa branca. Quando ficamos emparelhados, disse-lhe: “falta pouco, meu caro”. Respondeu-me, bem cansado, que a idade pesava. Aparentava sessenta e tais anos. Como corri sempre na mesma passada, falei de minha idade e continuei a dizer que sete outros corredores o aguardavam e que valeria correr por eles. No meu trotar ultrapassei-o e persisti até a chegada. Bem mais tarde, encontrei-o tranqüilo nas imediações dos boxes. Foi uma satisfação ouvi-lo dizer que estivera a ponto de desistir e só não o fizera graças às minhas palavras de estímulo. Respirou fundo e chegou, cansadíssimo, como afirmou, mas entregou a braçadeira ao seu companheiro. Abraçamo-nos bem contentes com o feito mútuo.
Enquanto nossos companheiros se revezavam, conhecemos essa simpatia que é Viviane Senna, irmã do tri-campeão da Fórmula 1, Presidente da Fundação e do Instituto Ayrton Senna e incentivadora incansável de projetos sociais através do esporte. Deixou-se fotografar com a maior naturalidade, o que trouxe um grande prazer à TA LENTO.
Ao leitor, passo os tempos de nossos valorosos corredores: Ademir Giacomelli 26:40, Américo Risato Umeda 27:38, Luis T. Sato 30:06, Sérgio Yuji Yokoyama 34:36, Franco Nakamura 36:02, Regina Tokuzumi Umeda 38:11, Cristina Ito Nakamura 40:00 e o meu 40:51. Nosso tempo bruto foi de 04:44:38. Ficamos em posição bem intermediária o que propiciou entender o recado de Sérgio: “…fazer perdurar isso pelo maior tempo possível”.
Ao receber e-mails de meus já amigos, mais um incentivo. Fui incorporado à equipe e esse fato despertou um surdo entusiasmo. Sim, estarei com essa incrível TA LENTO. Enquanto forças tiver, participarei com o maior gosto. Que extraordinária dádiva é alcançar um objetivo através da constância e da vontade. Que maravilhamento é o convívio com pessoas tão sensíveis e estimulantes.
Bem haja !
The emotions of my debut as a marathon runner at the relay race held on 16 November at the Interlagos circuit in São Paulo. I was part of the Nippo-Brazilian team named “Ta Lento”, made up of eight members, each running a set part of the circuit. At 70, I was the Methuselah of the group, but managed to run my 5.725 m in 40’51”. We didn’t break any record, but finished in a middle position. The feeling of euphoria was intensified by the fact that the event took place at the venue of the F1 Brazilian Grand Prix, with its illustrious history of motor racing. It was a great day for me: for the marathon itself and for the pleasure of being with a group of people I admire and whose company I enjoy.
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