A recepção afirmativa faz leitores solicitarem outros temas
A vaidade não é um vício e sim uma doença.
Antoine de Saint-Exupéry
“Citadelle”
Erudição não é cultura. É acúmulo de informações.
Cultura pode prescindir de acúmulo de informações,
por seleção qualitativa e por capacidade de integração das recebidas.
Ives Gandra da Silva Martins
(“Reflexões sobre a vida”)
Devido à qualidade dos aforismos de Ives Gandra da Silva Martins sobre temas espinhosos, como política e judiciário, em seu recente livro “Reflexões sobre uma vida”, e mercê da absoluta incongruência que o país atravessa, sem perspectivas claras de melhora, o post anterior teve ampla recepção, mormente por se tratar de conceitos emitidos por um dos mais notáveis juristas do país.
Não obstante as temáticas palpitantes, recebi mensagens e comunicados de leitores, ansiosos por conhecerem posições do jurista sobre temas relevantes, que se estendem da sociedade a costumes, educação, cultura, humanismo, moral e cotidiano, todos apenas mencionados no post anterior. Reuni, pois, uma série de outros aforismos contidos em “Reflexões de uma vida”, numa síntese pessoal do substancioso livro, a conter 1022 máximas.
Em continuação, ei-las:
75 – É inútil pensar que o mundo deve ser feito à nossa imagem e semelhança. É o que é. Podemos auxiliá-lo a melhorar com o nosso exemplo, palavras e obras, mas devemos nele viver sem irritações e inconformismos para que possamos ser eficazes.
80 – A velhice não é um mal senão para aqueles que não a aceitam, que querem viver como se não fossem velhos ou que se queixam das limitações que a idade traz. Para o sábio, a velhice é um bom exemplo de reflexão e de um trabalho mais eficaz, porque age com maior ordem e maior conhecimento das verdades da vida. É tempo de serenidade e não de agitação.
92 – A imaginação, quantos males e perda de tempo não gera! Se a controlarmos, quanto não poderemos fazer; mais do que isto, quantos problemas não evitaremos?
97 – Não devemos esperar que os outros compreendam os nossos defeitos. Devemos corrigi-los. Devemos, todavia, ter tolerância com os defeitos alheios e, se possível, auxiliar as pessoas a corrigi-los, sem nenhuma atitude de prepotência, de superioridade ou de incômodo. Como amigos. Bons amigos.
99 – Vive menos quem vive para si.
158 – O verdadeiro homem luta por ideais. A vitória ou a derrota pouco importam. Importa crescer para os outros, ou melhor, para servir aos outros. E ter a consciência tranquila de que se fez o máximo.
166 – A natureza não dever ser violentada. Quando o é, o preço a ser pago é elevado. Quem não reconhecer no tempo o limite de suas forças terminará por pagar este preço, que é tanto maior quanto maior for o desconhecimento dos limites.
170 – O verdadeiro humilde é feliz. Tem de si mesmo um retrato pior do que realmente vale. O soberbo é infeliz por fazer de si uma imagem melhor do que possui, e a todo momento sua imagem real desfigura aquela que sua vaidade construiu.
183 – Como é difícil vencer o defeito dominante. O importante, todavia, é não desistir. Lutar sempre, mesmo que a vitória venha apenas no final da vida e no último momento.
184 – O tempo que passa já não podemos mais recuperar, mas podemos arrepender-nos pelos erros cometidos. Que o tempo presente seja de tal forma vivido que dele não nos arrependamos, visto que não sabemos se o tempo futuro chegará para nós.
194 – Na vida, ou esperamos tudo dos outros e viveremos um inferno ou não esperamos nada e viveremos um paraíso, se a isso aliarmos paz interior, alegria e espírito de servir.
202 – A idade reduz as forças, mas se mantivermos a vontade, esta supre as deficiências. O mundo necessita mais de homens com vontade do que com forças.
204 – A idade gera desconforto físico. Se mostramos na pele o envelhecimento, por dentro também tudo envelhece. Só não podemos deixar a alma ficar velha. Temos que morrer com alma jovem.
219 – O trabalho até a morte torna o velho mais jovem.
233 – A vaidade é a rainha dos que acreditam que são alguém. Como são escravos, entretanto, desta rainha ardilosa, são incapazes de perceber que não são ninguém.
291 – Viver com simplicidade sem carregar coisas inúteis é símbolo de se saber viver a vida.
303 – Quanto mais conheço os radicais, mais admiro a virtude da prudência!
471 – Quem comumente critica os defeitos alheios não tem tempo de corrigir os próprios. Quem procura corrigir os próprios não tem tempo de criticar os alheios. Os primeiros vivem a vida com amargura. Os segundos, com alegria. Intoleráveis são os primeiros, amáveis os segundos.
477 – Quanta vaidade por nada! Muitas vezes as pessoas esforçam-se por ser alguém apenas para serem admiradas. Se não houvesse palco, pouco se esforçariam.
506 – Quem mente na sua vida familiar também o fará na profissional ou política.
518 – Ter o hábito, mesmo quanto às pessoas que desconfiamos, de procurar primeiro suas virtudes e depois seus defeitos – apenas se necessário – é uma boa forma de viver em paz.
560 – Levar os incômodos da velhice com bom humor é forma descontraída de reduzi-los.
569 – Não viver curtindo mágoas é a melhor forma de crescer na vida, de ser otimista e de realizar obras positivas.
626 – O verdadeiro ser humano sabe conviver, aceitando a maneira dos outros sem perder a sua e corrigindo onde a correção é possível.
641 – O verdadeiro sábio dá à riqueza a sua verdadeira importância, ou seja: pouca.
659 – O invejoso é sempre infeliz, pois coloca a felicidade onde ela não existe, ou seja, em ver a infelicidade alheia e em não aceitar o sucesso dos outros.
697 – A cultura ajuda a pessoa a crescer, mas só a busca do sentido da vida e seu encontro permite-lhe atingir a plenitude.
701 – Quem pensa ser rico porque tem muita coisa não sabe que quem tem o rico é a riqueza. Ela é que o possui, não ele a ela.
771 – Muitas pessoas não crescem na vida porque estão preocupados com o sucesso dos outros. Como perdem tempo e têm inveja, ficam sem tempo para crescer.
775 – Quantos vivem exclusivamente em busca de pessoas importantes para que possam dizer que as conhecem. Como não têm mérito próprio, pensam que assim agindo ganham importância.
776 – As pessoas sem mérito próprio, que julgam ser alguém pelo mérito dos outros, são pobres espelhos e não faróis a iluminar o seu meio.
784 – A podridão não gera arte. No máximo, mau cheiro e náusea.
809 – Vive melhor quem precisa de menos.
816 – O advogado deve sempre considerar seu colega adversário imbuído dos mesmos ideais que ele mesmo tem. E deve tratá-lo com a dignidade que a profissão que exerce merece ser tratada.
834 – Disse-me um amigo “A velhice não compensa”. Pensei comigo: Compensa muito se soubermos, com nossa experiência, aproveitar o tempo que nos resta.
877 – Só podemos compreender o próximo, se formos educados como pessoas e não como ideólogos.
904 – Se alguém se destacou numa profissão, nem por isto deve exagerar nos seus honorários, mas apenas cobrar o que lhe parece justo.
907 – O doutoramento não deve representar somente a busca de um título para a carreira, mas uma real contribuição à ciência.
916 – Erasmo de Roterdã via, na vaidade dos homens, maior campo para a loucura exercer seu poder.
917 – A guerra, todavia, é a loucura das loucuras, em que o preço maior é pago pelos inocentes.
961 – Se nunca perdermos de vista que estamos aqui de passagem, a vida torna-se mais leve.
1014 – A velhice, mesmo com as limitações e achaques da idade, é período de grande aprendizado.
1021 – Sem Deus, a vida é apenas uma luta desesperada em busca de uma significação impossível de se alcançar.
Após os dois posts em que selecionei reflexões do ilustre jurista Ives Gandra, insiro o link de seu artigo publicado pela Conjur (Consultor Jurídico - conjur.com.br), divulgado no dia 28 de Novembro último (“Não haverá golpe, mas STF deve respeitar independência dos poderes”), no qual, numa brilhante síntese dos acontecimentos nesses últimos anos, Ives observa aspectos da política e do judiciário. Vale a pena conferir:
https://www.conjur.com.br/2022-nov-28/ives-gandra-democracia-harmonia-independencia-poderes
In this second post, at the request of readers, I insert reflections by the noted jurist Ives Gandra da Silva Martins on society, customs, education, culture and morals.