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A Aparência da Realidade

Acho que o caminho que o Fluminense vem trilhando hoje
é o caminho que deveria ser trilhado
pelos clubes que desejam a vitória.
E não se limitar a ter um bom elenco e uma boa comissão técnica,
mas se qualificar também fora,
melhorando a estrutura física e todo o resto.
Rodrigo Caetano
(Diretor Executivo do Fluminense)
(Renata Mendonça para o ESPN. com.br 15/11/2012)

Penitencio-me. Ao escrever o post de 28 de Abril último (vide post Elucubrações sobre os Esportes – Realidades), deixei claro, sem condicional, frise-se, que a Portuguesa deveria cair para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro. A sintomatologia não permitia devaneios e, como torcedor, assisto com alegria contida à sobrevida de minha Portuguesa.

Durante parte considerável do campeonato brasileiro (série A) a Portuguesa mostrou-se instável, mas merecedora de certo crédito. Contudo, as últimas rodadas foram preocupantes. Quantidade de empates e derrotas provocaram o temor de uma queda que estava a ser anunciada. Duas etapas antes do término do certame nacional maior estávamos a um ponto, sim, um ponto da degola. Esta não se concretizou, mormente após vitória crucial contra o poderoso Internacional, em pleno Beira Rio, e sofrido empate com a Ponte Preta na derradeira partida. O time da Cruz de Aviz jogava no Estádio do Canindé, portanto, em casa.

Devemos, os poucos torcedores da Portuguesa, alegrar-nos? Tenho lá minhas dúvidas. Apesar de não assistir aos raríssimos jogos televisionados de meu time, por motivos vários, entre os quais a “vocação” da lusa para constante instabilidade nessas últimas décadas, não deixo de ter afeto pela equipe eleita. Não frequento o estádio do Canindé e em apenas duas oportunidades lá estive. Consideram-me um torcedor diferente, não engajado. É questão de estilo. Mas bastará o leitor entrar em meu site para verificar, entre retratos e desenhos, a categoria “corridas de rua”. Entre as fotos, duas evidenciam minha transpiração a encharcar camisas da Portuguesa. Não obstante, jamais tive qualquer relacionamento com a Associação Portuguesa de Desportos. Existe apenas um afeto solitário pelo extraordinário futebol praticado pela lusa nos anos 1950 e após, em esporádicas temporadas (1973-1975). Se a fidelidade permanece, assisto com nostalgia à sistemática e inexorável queda décadas seguidas, a se afigurar, hélas, abissal.

Insisto que tivemos, ao longo da história, um único Presidente competente, friso, um único, Osvaldo Teixeira Duarte, lá se vão tantos decênios. Após, uma série de empresários de tantas áreas diferentes, mas umbilicalmente presos à apaixonada, mas amadora, comunidade portuguesa ligada ao futebol  em São Paulo. Inexiste o espírito profissional que o esporte bretão está a apresentar em muitos clubes, mormente no Exterior. Ainda há pouco tempo dois dirigentes da Portuguesa foram às vias de fato – a mídia divulgou -, numa situação vexatória, e ouve-se falar que, não poucas vezes, membros do Conselho entram em exacerbada discussão,  de maneira também a demonstrar  total ausência de lhaneza e, por consequência, clareza de espírito e objetivos precisos.

Assisti em Novembro a uma longa entrevista concedida a Juca Khfouri (ESPN) pelo jovem Rodrigo Caetano, Diretor Executivo do Fluminense, campeão brasileiro de 2012. Ficou transparente que apenas uma visão isenta, profissional, sem paixões, pode levar um clube de futebol a almejar vitórias consistentes. Durante a excelente entrevista, o dirigente em questão mostrou visão ao afirmar que um Diretor Executivo profissional pode trabalhar em qualquer clube. Importa o resultado concreto, e este veio com certeza no caso do tricolor carioca. Frise-se que Rodrigo Caetano antes administrara com qualidade vitoriosa Grêmio e Vasco.

Quando a Portuguesa ascendeu à série A em 2011, com 17 pontos à frente do segundo concorrente, pensou-se que a lusa faria muito sucesso no ano que ora finda. O amadorismo gritante da diretoria fê-la evaporar a base da equipe que ascendera à série principal do futebol pátrio. Houve significativo desmonte da Portuguesa, que teve jogadores vendidos ou devolvidos aos clubes de origem. Nesse mesmo período, os quatro grandes clubes paulistas buscavam reforços, inclusive na instável lusa. Impossibilitada de realizar contratações de jogadores respeitados ou altamente promissores, mercê dos astronômicos salários pagos a eles no Brasil, a “diretoria” montou uma equipe constituída por atletas menos talentosos, alguns bem limitados, não houve padrão de jogo e o resultado foi desastroso, a queda para a série B do campeonato… paulista. Vexame dos vexames, motivo do post acima mencionado. Logicamente, foi esse time que realizou sofrivelmente o Campeonato Brasileiro da série A e só não caiu, a meu ver, pela liderança insofismável de um goleiro legendário, Dida, e pela tranquilidade do técnico Geninho. Safou-se na última rodada. Dida não deverá permanecer em 2013, Geninho ficará a depender do humor instável de dirigentes amadores.

Essas considerações não são mais do torcedor apaixonado que existiu nas  décadas passadas, mas de um observador que tem na lusa seu único time eleito desde sempre e que se tornou pragmático quanto à trajetória dessa nau sem timoneiro à altura. Ainda acredito que, a continuar nessa queda sentida, melhor fecharem o departamento de futebol profissional, pois fatores apresentam-se gritantes: o reduzidíssimo número de torcedores, o que certamente desagrada Federações, salários alucinantes de jogadores por vezes apenas regulares e o despreparo administrativo de dirigentes sem autocrítica. Aliás, saberiam eles a extensão desse debruçar? Revoltar-se-iam com a frase do Terra Esportes (04/12/2012), no segmento sobre a Portuguesa, onde assinalam “equipe de colonos portugueses no Brasil”, numa clara visão que a sociedade teria do clube? Entenderiam o significado de Diretor Profissional? Se há exceções entre os membros das comissões, têm elas a força necessária para mudanças?

Dramas existem, e o glorioso Guarany de Campinas, campeão brasileiro em 1978 e vice-campeão do campeonato estadual de 2012, caiu infelizmente para a série C do campeonato brasileiro. O time que decidiu o Paulistão foi dissolvido quase por inteiro. Permanência de padrão, impossível. Como bem afirmou o Dadá Maravilha das frases folclóricas, os jogos dessas séries lá de baixo “dão cãibra na vista”.

Diziam que a Portuguesa, ao subir para a série A, estaria a visitá-la, para logo após retornar à série B. Não caiu. Será que gostaria de prolongar a visita? 2013 aí está e trará a resposta. Para tanto, dirigentes teriam de dar espaço a executivos profissionais, especialistas que saberiam sanar uma quantidade de desacertos na Associação Portuguesa de Desportos. E eles existem. Para tanto, teriam de esquecer vaidades e encarar de frente a realidade que lhes é apresentada.

On the agony of my football team, Portuguesa de Desportos, of which I was in the past a passionate supporter, and its shameful campaign in this season’s championship. After doing extremely well in the 2nd Division last year, it ascended to the Premier League, but soon fell into discredit again and was almost relegated back to the second division of Brazil’s National League. It was spared at the last minute, thanks to a victory and a draw in the final two games. No reason to celebrate. The board of directors, amateur and short-sighted, should be blamed for the problems that hit the club. It is time they open space to professional football managers, with knowledge of the technical and no-technical aspects of managing a football club. As it is, supporters have to accept the fact that our team’s place is in the lower leagues.

 

 

Notórias Certezas

…il n’y a aucun rapport entre une somme d’argent et une oeuvre d’art,
l’oeuvre n’est pas au dessus, ni au dessous: elle est en dehors.
Romain Rolland (Jean-Christophe)

Comparadas às programações dos meados do século XX, quando acentuadamente a presença do intérprete individual  frente ao público era aceita como algo sem contestação, mais e mais o quadro tem-se modificado. A simples leitura  dos guias de concerto evidencia a supremacia de fotos de regentes, sempre empunhando  inseparáveis batutas nas mais curiosas posições. Seriam vários os motivos que levaram à presente situação, a privilegiar espetáculos com orquestra, corais, ópera, dança.

Considerando-se o empresário de eventos musicais eruditos, verifica-se que há o fator comercial a preponderar sobre outros. A música, para essa figura necessária, mas inúmeras vezes sem o menor conhecimento musical e, outras tantas mais, tendenciosa, poderia ser uma mercadoria como qualquer outra a ser colocada no mercado. Para a música erudita ou de concerto houve um duro golpe com a ascensão da pop music, em níveis hoje inimagináveis em décadas anteriores, a levar “hordas” às arenas, não raramente causando distúrbios. Esse é um  fato real. O agente de concertos, geralmente astuto, entende que o espetáculo que mais seduz o ouvinte é aquele com  maior número de músicos. Fato também real. Ópera e orquestras sinfônicas – essas preferencialmente quando apresentam solista respeitado – têm um público certo, que acorre às salas de concerto no preciso desiderato de ouvir as mesmas obras. Se considerado for o repertório operístico e orquestral, o número de opus é bem inferior ao do repertório solo ou camerístico que habitualmente é apresentado pelos intérpretes em recitais. Esse fato, também expressivo, explica-se pela estatística, pois o número de obras consagradas para instrumento solo e música de câmara supera bem o repertório para grandes conjuntos.

O público, elo final dessa relação intrínseca compositor-intérprete, tem evidenciado, ao longo das últimas décadas, sua preferência pelo evento mais grandioso representado pela orquestra, ópera, coral e ballet. Os espetáculos com essas associações de músicos geralmente  têm boas platéias, enquanto recitais e grupos camerísticos constatam a paulatina diminuição de ouvintes. Claro está que nomes consagrados no Exterior, acompanhados de uma boa divulgação pela mídia, chegam a ter expressivas audiências entre nós. Mais renomado é o intérprete, maior afluxo dessa escuta peculiar ele terá. É fato.  Ao músico pátrio, essas apresentações ficam geralmente restritas a pequeno número de ouvintes e, o que poderia ser sintoma, de parcela acentuada constituída por integrantes da terceira idade.

Num aspecto outro, as programações, agindo como uma espécie de longo anestésico, privilegiam os repertórios consagrados, que na maioria das vezes é apresentado da maneira  mais tradicional, ou seja, a cronológica. Dificilmente inverte-se a ordem das obras ou mescla-se a cronologia, o que propiciaria um arejamento. Inicia-se o programa por algum autor barroco ou clássico, seguido pelos românticos e pelas obras do século XX, quando programadas. Igualmente, preferencia-se a obra de grande chamamento popular como número final. Ou seja, a tradição é prioritariamente mantida e o público vai sendo injetado culturalmente pela trama que o satisfaz. Mais culto ele se torna? Acredito que não, pois esse ouvinte assíduo não age no sentido de tentar modificar a ordem das coisas. Apraz-se com o que ouve, faz lá suas comparações entre orquestras, regentes e solistas e acomoda-se com o que lhe é apresentado.

Outro fator intrigante, que não merece atenção mais acurada por parte do ouvinte, refere-se às notas de programa, escritas de maneira pueril, abordando superficialmente obras que serão apresentadas. Pílulas “culturais” encontráveis no mais rudimentar texto da wiki. Todos se contentam e pereniza-se o óbvio. O público consumidor satisfaz-se por ter assistido ainda uma vez a extraordinária 5º Sinfonia de Beethoven, como exemplo, após tê-la possivelmente ouvido “ao vivo”  incontáveis vezes e não espera, obviamente, por mudança de repertório.

O que pareceria certo no Exterior, e de maneira mais preocupante, no Brasil, é que mais acentuadamente empresários interessados na quantidade pareceriam ter encontrado a fórmula a levar melômanos aos concertos. Nessa estratégia, hoje clara, intérpretes ótimos, mas não consagrados através de tantos estratagemas por vezes estranhos, e que se apresentam isoladamente ou em pequenos grupos camerísticos, terão assistência pequena, quando não  diminuta. Fora do grande circuito, esses músicos deverão contentar-se, prioritariamente, com programações oficiais benevolentes. E seria justamente nesse quase descaso do grande público, mas na devoção de poucos aficionados, que os intérpretes deveriam singrar mais acentuadamente o caminho dos repertórios inusitados. Essa pequena, mas seleta platéia, lá estará para ouvir o passado ignoto, muitas vezes atraída mais pela antiguidade da obra do que por seu mérito real.

O apoio oficial tem preferência nítida pelo número de ouvintes e espetáculos com grandes conjuntos merecem maior atenção, pois mais concorridos. Ainda assim, em Portugal e no Brasil verificamos desprezo flagrante. Em terras lusitanas o Ministério da Cultura foi extinto, passando a ser Secretaria de Estado da Cultura. Isso representa um duro golpe para todas as artes, pois a Secretaria não tem nem a importância, tampouco o status de um Ministério e, quando o Governo reúne o Conselho de Ministros, inexiste o diálogo com as artes, ficando temas crucias sujeitos à boa vontade do Primeiro Ministro. Em São Paulo, houve um atentado contra as artes. Soube, por um amigo músico, que o excelente pianista Nahim Marun (vide post “Os 51 Exercícios para piano de Johannes Brahms” – Técnica Avançada para Pianistas, 03/09/2011) escreveu no facebook, no último fim de semana, que “A Secretaria Municipal de Cultura cancelou a maioria dos eventos culturais do CCSP neste final de ano, por puro descaso e desinteresse pela cultura nacional – leia-se aqui, cultura que ELES consideram elitista e desnecessária, obviamente. Meu RECITAL SOLO foi cancelado na sexta-feira, ou seja, 3 dias antes de acontecer! Quero deixar público a vocês que o recital estava absolutamente pronto, memorizado e NUNCA (leia-se nunca mesmo!!!) na minha carreira de 30 anos cancelei um recital ou concerto por qualquer motivo. O desrespeito com os artistas está atingindo proporções insustentáveis! Lamento muitíssimo os amigos que compareceram ao Centro Cultural SP neste domingo, dia 25/11, às 18h. Meu público, ao chegar ao local, foi comunicado que o problema foi MEU, ou seja, crucificaram mais uma vez o artista e não a indecência política! Mentem, com a cara mais lavada…”.

Percebe-se que a Cultura musical erudita tem sido desprezada paulatinamente em segmentos essenciais. Poderosos têm hoje outras preocupações. Nada a fazer.

Nowadays space for soloists dwindles as sponsors focuse primarily on orchestras and operas, since grandiose shows capture more public and bring in receipts in ticket sales. Only star soloists – in special foreign ones – have a chance and audiences get more of the same, for they keep hearing the same things again and again. This state of affairs should encourage talented native soloists to act as pathfinders, unveiling to small but selected audiences works of art that, despite their quality, remain unknown because promoters prefer a handful of celebrated masters. Great works, but shouldn’t we move on to other stuff ?

 

 

 

 

Estilos que Perduram ao Longo da História

 

C’est que les études musicales sont de loin les plus stérelisantes.
D’une part elles canalisent les facultés intellectuelles
dans les jeux abstraits d’une complication toute gratuite.
André Souris

Conheci Mariana no final da década de 1960. Estudava piano com professora de mérito. Mostrava afinco e sonhava ir bem longe. Casamento, filhos e outra atividade, não ligada à música, dissuadiram-na de enfrentar a disciplina rígida que se faz necessária quando o caminho do intérprete torna-se mais claro. Contudo, ainda tem grande prazer ao ouvir música erudita ou clássica, que “integra todo meu passado musical interrompido nos anos 70″.

O encontro foi casual no Natural da Terra perto de casa. Como sempre faço depois desses acasos, convidei Mariana para um café. Estivemos um bom tempo a conversar, eu a querer saber o porquê do distanciamento da prática pianística, ela a mostrar-me as razões pertinentes. Se acredito que motivos vários corroboram tomadas de decisões, por vezes radicais, não deixo de crer que uma razão primordial possa provocar o desencadeamento de outras decisões secundárias, que levam fatalmente à desistência.

Disse-me Mariana que certa vez foi assistir a um curso de interpretação pianística ministrado por professora do Exterior. Compareceu às aulas, sem contudo se habilitar a tocar frente à mestra renomada. Geralmente esses cursos, também denominados master classes, tem como frequentadores ouvintes,  alunos, intérpretes e alguns outros professores. Pois bem, após a apresentação de um jovem talento, a professora, que não era pianista, foi de uma severidade absoluta, chegando, segundo Mariana, ao limite da indelicadeza. Finda a aula, Mariana, que era amiga do desacatado pianista, que, aliás, conseguiu futuramente singrar um bom caminho musical, conversou com o jovem. Asseverou-me que durante semanas seu amigo mostrou-se arrasado, só retornando aos estudos após longa preparação psicológica.

Um fato pareceria evidente. Nesses cursos, ou o professor tem a diplomacia a complementar a competência, ou apresenta sintomas de autoritarismo voluntário, a fazer ver ao jovem que existe uma diferença entre magister e aluno e, por que não, “forçaria” essa competência. Inferiorizado, e até “aterrorizado”, o que sofre esses virulentos ataques mal pode expor pianisticamente suas ideias. Se o professor for pianista, a interpretação que entende a melhor é transmitida geralmente a contento, e essa explicação deveria, in conditio sine qua nom, ser colocada de maneira a não ferir a dignidade do aluno. O professor não pianista deve ter ainda maiores cuidados, pois a transmissão passa a ser apenas oral, o que poderia  pressupor uma abordagem “sonora” unicamente através das mãos do aluno que teria captado a mensagem.

O que me chamou atenção foi ter encontrado o fulcro da desistência precoce, pois a partir desse episódio Mariana não mais teve entusiasmo e os fatos mencionados no início do post fizeram-na desistir.

Estou a me lembrar de passagem que li no sensível livro da musicista Amy Fay (1844-1928), Music Study in Germany, no qual, entre as muitas considerações a respeito dos renomados professores com quem estudou, a pianista e professora norte-americana relata o tratamento dispensado por Karl Tausig  (1841-1871) aos seus melhores e menos dotados alunos. Grande pianista, falecido precocemente de febre tifóide, Tausig tinha lá suas preferências e  evidenciava-as claramente. Com aqueles que não se apresentavam a contento, ou por falta de maior talento ou até certo despreparo, Tausig era inclemente. Amy Fay menciona um aluno que, após esse massacre verbal, suicidou-se na solidão de seu quarto.

Recordo-me dos cursos que frequentei em Paris. Estudava com Marguerite Long regularmente em seu apartamento, no 16 da Avenue de la Grande Armée, e me apresentei muitas vezes em seus cursos públicos. Durante alguns meses tive aulas com um assistente por ela indicado, o excelente pianista e professor Jacques Février. Contudo, sua instabilidade emocional em classe era bem acentuada e não poucas vezes o vi proferir palavras desairosas a pianistas ótimos que se apresentavam. Um deles, que desenvolveria no futuro sólida carreira, ouviu do mestre um xingamento que se estendeu aos seus ascendentes. Foi após esse episódio que solicitei à Mme Long um outro assistente. Tive então a ventura de estudar com um dos maiores pianistas e professores que conheci, Jean Doyen. Unia à grande competência musical a relação familiar impecável que mantinha com mulher e filha. Um artista equilibrado, que transmitia segurança e tranquilidade àqueles que com ele estudaram.

Ao final de nosso encontro, Mariana, um tanto nostálgica, observou que aquele famigerado curso, causador de sua futura desistência, não foi seguido de um aconselhamento no sentido de mostrar-lhe que o episódio deveria ser esquecido. Infelizmente, todo o mal ficou na maturação solitária de um vão autoritarismo. Pergunta-se, quantos casos não têm a mesma trajetória? Sabe-se que há concorrentes de concursos de interpretação que realizam promissoras carreiras temporárias devido às premiações, mas após são esquecidos, pois novos valores surgem. Sabe-se também que alguns chegaram ao suicídio depois do convívio com o ostracismo. Encontrar o equilíbrio, eis a fórmula que todos buscam. Uns o conseguem, outros podem sucumbir. O que é certo é que a Música pode proporcionar o melhor para o mundo interior e o pior para a mente não preparada. As circunstâncias determinarão as devidas posturas. 

Talking to a friend, she confessed one of the reasons she gave up studying music was an episode she had witnessed in which an acclaimed teacher humiliated a boy during a master class. This post is about the traits a good music teacher should not have: impatience, roughness, arrogance. Teachers who are capable of patience, kindness, respect for the differences and meaningful criticism encourage pupils’ to learn from their mistakes, exploit their full potential, gain confidence to perform and to go ahead.