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Conceitos oportunos sobre o Governar

Faz de ti uma muralha, esforça-te em dizer sempre a verdade.
Provérbio butanês

O post de 3 de Novembro tem sido um dos mais procurados pelos leitores. Todos os e-mails recebidos agregaram novos conceitos sobre a dissonância absoluta entre promessa eleitoral e cumprimento posterior. Sem exceção. Essa constatação apenas ratifica a baixíssima estima que  políticos desfrutam diante do eleitor que não é seduzido por promessas vãs.

Sem nomear alguns dos prezados leitores, pois houve quase unanimidade, diria que há fortes indícios que caracterizam o descrédito desses frente ao pleito eleitoral. Recebi inclusive  conceitos extraídos de obras recentes, em que internautas evidenciam interesse em buscar alhures considerações que substanciem suas opiniões. Esse acúmulo de informações amplia e enriquece o material sobre o tema.

Foi-se o tempo em que a promessa, na conversa cotidiana entre cidadãos, valia  pelo “fio da barba”, expressão utilizada em tempos de antão, mas que correspondia ao pacto firmado, tantas vezes sem necessidade de papel ou assinatura. A palavra significava que a promessa seria cumprida e aquele que aguardava a concretização podia, em princípio, dormir tranquilo.

No âmbito da política, a palavra promessa banalizou-se por completo. Perdeu a magia ancestral, quando pactos bíblicos eram cumpridos e a sociedade podia acreditar nos tratados. Claro fica que a História está repleta de não cumprimentos de acordos, invasões traiçoeiras de territórios, assassinatos de poderosos após palavra firmada. Todavia, o termo promessa tinha lá a sua aura, a vazar o significado transcendente para a célula mater, a família.

Promessa política, hoje, está umbilicalmente ligada à necessidade imperiosa da obtenção do poder. Entende um candidato que compromisso “convincente”, mesmo sem a mínima chance de concretização, rende votos, mormente dos incautos que, hélas, constituem a esmagadora maioria da população. A promessa passa a traduzir a verdade absoluta e, no dia seguinte do candidato ungido, pode ser abandonada.

O partido que apoiou o vencedor do pleito em São Paulo soube bem explorar o fato daquele que perdeu não ter honrado a promessa de permanecer nos vários cargos durante a esperada vigência integral do mandato, sempre a pensar em pleitos mais interessantes. Realmente é uma decepção e um desrespeito com quem nele votou. Esqueceu-se o vencido que nenhum eleitor consciente vota no suplente, figura necessária, mas um estepe na acepção do termo, pois utilizado apenas a partir de uma “pane”. Sob outro aspecto, o vencedor, dias após ungido, descumpriu a promessa de extinguir a taxa do Controlar, postergando-a para 2014. Ora, se apregoou durante a campanha que teve centenas de assessores a colaborarem em seu projeto de governo,  já deveria ter exposto publicamente que essa taxa seria extinta apenas em 2014. O eleitor ficaria feliz se a verdade fosse dita? Claro que não e a “má notícia” poderia subtrair votos preciosos. Pequeno exemplo que poderá, esperemos que não, estender-se a outras áreas em que promessas foram empenhadas. O fato é que ambos navegam no mesmo barco do não cumprimento, em maior ou menor escala. Contudo, a essência do erro não tem dimensão, não se mede pelo volume.

Ficou claro nos muitos e-mails que deveríamos cuidar da educação de base, única saída a se acreditar como salvaguarda. Mas a Educação jamais tem sido a locomotiva a nos conduzir ao verdadeiro sentido da cidadania, palavra tão gasta no palavreado dos políticos pela simples razão de desconhecerem o significado essencial do termo.

De um leitor recebi frase divulgada em Março de 2006 por cientista americano e publicada no blog político Daily Kos. Referia-se o autor à “Ineptocracia” (A new word for the English Language – Ineptocracy). Escreve: “Sistema de governo onde os menos capazes de governar são eleitos pelos menos capazes de produzir e onde os outros membros da sociedade, menos aptos a se proverem a si mesmos ou a progredir, são recompensados pelos bens e serviços pagos pelo confisco da riqueza de um número de produtores em contínua diminuição”. A afirmação, contextualizada para um outro país, sob outra égide, assenta à perfeição para o dirigismo do voto, a cada dois anos no Brasil a tender para a  necessidade de  fisgar o eleitor menos favorecido por motivos os mais diversos. E é nesse quadro que a promessa surge como palavra mágica a seduzir o mais incauto. O eleito, instaurado no Poder, realmente negligencia o que prometera e fica incomodado se questionado a respeito.

Sob outro aspecto, a internet de tantas controvérsias e paradoxos, tem dado um golpe preciso, trazendo à luz as subterrâneas ações políticas, ao espalhar na vasta rede de informações sórdidos temas sobre corrupção; promessas não cumpridas; enriquecimento astronômico de governantes; os auto-aumentos abusivos da nomenklatura; uma justiça onde os mais aquinhoados contratam advogados a preço de ouro e conseguem se safar, assim como tantas mais mazelas vindas dos incontáveis “planaltos” espalhados pelo Brasil, espaços onde desliza essa figura nefasta, o lobista,  a salvaguardar interesses de empresas de todo porte.

Nestes últimos anos,  membros radicais governistas  assistem, visivelmente contrariados,  à exposição das entranhas de seus líderes. Tentam de todas as formas suprimir um dia a escrita e a fala democráticas da mídia e, também, da comunicação impactante da internet, que se espalha rapidamente como uma teia a influir na mente dos mais esclarecidos. Uma frase a conter forte alento aos que combatem o sectarismo pode ser apreendida da fala firme da presidente Dilma Roussef no último dia sete, quando dos 90 anos da Folha: “Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio tumular das ditaduras”. Guardemos indelevelmente essa frase como baluarte, pois os radicais mencionados estarão a perseguir o mutismo sepulcral que os livra das garras da justiça. O escritor e jornalista Daniel Hannan, em texto publicado no último dia 2 de Novembro em “Contrepoints – Le nivellement par le haut”, sob o título “Mort des politiques et naissance de l’e-démocratie”, afirma: “A internet colocou nas mãos dos cidadãos as informações que, 15 anos antes, um departamento burocrático inteiro teria dificuldades em compilar. A revolução das diferentes mídias de comunicação torna inúteis os intermediários”. Essa expansão ampla da notícia de toda ordem faz tremer os radicais. A corrupção e a promessa não cumprida, como exemplos, em poucos minutos espalham-se pela rede, a fazer com que, conhecedor do mal, o internauta possa tirar conclusões sobre a classe política. Estejamos vigilantes.

In this post I resume the subject of electoral propaganda – now inspired by input received from readers – mentioning voters’ deception with broken promises, the importance of education for all sorts of social and political issues, “ineptocracy” or the leadership of the incompetents, censorship and freedom of speech in the internet age.

René Desmaison e sua Incríveis Performances

Récompense suprême d’une incompréhensible passion.
René Desmaison

Não são poucos os posts sobre montanhismo. Reiteradas vezes tenho confessado meu fascínio sobre o tema, mormente quando escrito por competentes alpinistas que viveram experiências dramáticas, trágicas ou triunfantes. Creio que a vida em parte sedentária faz-me viajar no imaginário, desde a juventude, a paraísos impossíveis. Intrépidos aventureiros, “conquistadores do inútil”,  segundo Lionel Terray, têm narrativas não desprovidas da presença da morte à espreita, sempre, proporcionando ao leitor que aprecia essa literatura momentos de profundo interesse. Já desfilaram em posts anteriores Jan Krakauer, João Garcia, Waldemar Niclevics, Vitor Negrete, Sylvan Tesson e André Poussin (sob outra égide), Maurice Herzog, Jamling Tensing Norgay, Thomaz Brandolin, narrativas sobre Malory e Irvine e mais outras histórias. Mínima literatura, que está a se enriquecer paulatinamente.

Quase todos os temas dos livros percorridos buscam os  altos cumes do planeta, os denominados 14 acima dos 8.000m. O homem a buscar quase imperiosamente o desafio frente à morte, a preferenciar o pico mais elevado. Tanto é verdade que o Everest (8.848m) é incomensuravelmente mais procurado por alpinistas profissionais e amadores do que o K2 (8.611), a pouco menos de duas centenas de metros abaixo. Recordes como metas. Ilusões que se concretizam ou se desfazem, por vezes tragicamente. Todavia, é cada vez maior a vontade do risco empreendida por alpinistas de toda sorte. Há pouco escrevi sobre o excepcional alpinista português João Garcia, que conseguiu atingir os 14 cumes acima dos 8.000m. Enviou-me gentil carta, o que muito me honra.

Geralmente, os livros sobre grandes aventuras nas montanhas partem do projeto a ser realizado, dos preparativos, da empreitada, do êxito ou da desilusão. René Desmaison (1930-2007), em seu livro Les Forces de la Montagne (Paris, Hoëbeke, 2006, 381 pgs.), teve a feliz ideia de nos fazer conhecer as origens originárias de sua vocação absoluta pelas montanhas, a escolher majoritariamente os temíveis paredões. Sua infância já estaria marcada por determinadas rebeldias e atrações pelas pequenas alturas, peraltices inusitadas, desavenças em sala de aula, enfim, René foi um verdadeiro enfant terrible. A morte da mãe obrigou-o a seguir seu padrinho a Paris. Amizades da juventude levaram-no até os rochedos de Fontainebleau e a paixão pelas desafiadoras montanhas instalou-se. A performance de Desmaison ao longo de sua vida ativa como alpinista é notável. Cerca de 1.000 escaladas, sendo 114 como pioneiro! Alpes, Himalaia, Andes foram conquistados, mormente a infinidade de picos alpinos. Motivos vários o impediram em 1959 de chegar ao topo do  Jannu (7.710m na cordilheira himalaia), considerado de muita dificuldade, tendo alcançado 7.350m com seus colegas. Em 1962, uma segunda investida com sucesso ficaria gravada indelevelmente. Picos andinos do Peru foram escalados após ter-se notabilizado nas conquistas alpinas.

As narrativas de René Desmaison prendem a atenção do leitor. Curiosamente, não se concentrou nas altas montanhas do Himalaia, mas preferencialmente nos complicadíssimos paredões dos Alpes. Picos já conquistados, se não o fossem pelas vias mais complexas, encontrariam em Desmaison o aventureiro a tentar o acesso improvável, o paredão que está sujeito à quantidade de adversidades como queda de blocos de gelo, de pedras que tantas vezes têm levado cordadas inteiras precipício abaixo.

Nesse aspecto, impressiona o número de amigos e colegas que o autor nomeia que perderam a vida em trágicas ascensões. Enumera-os e cada morte para Desmaison é quase o apelo para que continue, ao menos in memoriam. Quando nas montanhas, “a morte pode acontecer no momento que ela desejar, naquele menos esperado”, como afirma. Em Les Forces de la Montagne são inúmeros os capítulos reservados às tragédias: Jean Couzy, La mort en face, Équipée tragique au pilier Central du Freney, Les naufragés des Drus, Ascension vers l’enfer. Vitórias e tragédias são narradas com a mesma precisão por Desmaison, que chega a pormenorizar todos os procedimentos das subidas. Jean Couzy (1923-1958) foi companheiro de várias cordadas e morreria em outra aventura alpina; muitos de seus amigos sucumbiriam numa avalanche no pilar central do Freney, no Mont Blanc; o salvamento de dois alemães no difícil paredão do Drus, quando outros haviam sucumbido, são relatos minuciosos. Neste episódio, Desmaison desobedece ordens superiores, parte para o salvamento e é desligado da Companhia da qual fazia parte.

Digno de registro, Ascension vers l’enfer, inserido no livro, já rendera anteriormente uma das mais lidas obras de Desmaison, 342 Heures dans les Grandes Jorasses. O autor não mais desejava retornar ao tema, mas, a conselho de seu editor Lionel Hoëbeke, regressa àquela que se tornaria a aventura que mais o marcou durante toda a existência como alpinista e após a “aposentadoria”. Tratava-se da abertura de uma via nordeste da “ponta” Walker, nas Grandes Jorasses. Na trágica escalada ao pico, iniciada aos 10 de Fevereiro de 1971, em um temível paredão de 1.200m, após dias de intensas adversidades climáticas, seu companheiro de cordada, o jovem Serge Gousseault (1947-1971), morre de exaustão,  a evidenciar indícios que se acentuavam, como lentidão quanto ao acesso, inchaço nas mãos, falta de víveres, inanição. Desmaison permaneceria “grudado” no paredão  ao lado de seu finado amigo durante dias, a pouco mais de 80 metros do pico de 4.208m. Apesar de sinalizar para os pilotos dos helicópteros que decolaram de Chamonix, alegou-se que ventava muito. Só após a decolagem de um Alouette III do heliporto de Grenoble, aos 25 de Fevereiro, houve a possibilidade do resgate. O piloto Alain Frébault e o mecânico Roland Pin apesar de desconhecerem o trajeto conseguiram pousar numa outra face do paredão, a 4.133m, resgatando o corpo de Gousseault e Desmaison em estado deplorável. Inúmeras controvérsias  formaram-se sobre o trágico acontecimento e estão, ainda hoje, a alimentar especulações. Dois anos mais tarde, René refaz com sucesso a ascensão invernal completa da face norte da ponta Walker, caminho doravante denominado voie Gousseault. Desta vez, a cordada era composta dos experientes Desmaison, Giorgio Bertone e Michel Claret, que morreria pouco tempo após numa escalada solitária.

René Desmaison teria de enfrentar várias polêmicas. No affaire Drus, consideraram que preparava material sobre o resgate dos dois alemães para ser vendido à revista Paris Match; no das Grandes  Jorasses, acusaram-no de ter levado consigo, numa cordada arriscada, um jovem não muito experiente e não ter observado melhor o deteriorar físico de Gousseault. Em outra oportunidade, ter escalado o Mont Blanc e lá instalado material publicitário filmado por helicóptero. Todos esses acontecimentos são suficientemente defendidos por Desmaison em La Force de la Montagne com diplomacia, diria. Contudo, no caso das Grandes Jorasses, a participação do primeiro alpinista a escalar um 8.000m (Annapurna), Maurice Herzog -  prefeito de Chamonix quando da tragédia em 1971 -, ao alegar publicamente que fortes ventos impediam o resgate,  foi amplamente questionada quanto às reais intenções dessas afirmações, o que favoreceria as atitudes de Desmaison. Frise-se uma reconhecida animosidade entre os dois, fato que alimentou o affaire. Entre os muitos links que podem ser acessados pelo leitor, recomendaria um bem incisivo a respeito da triste cordada:

http://ghirardini.blogspot.com.br/2011/05/serge-gousseault-un-jeune-guide.html

Uma visita à África e a narração de certos costumes, assim como as quatro viagens andinas, quando realiza as primeiras escaladas da face sul e sudoeste do Huandoy, nos Andes peruanos, entre 1976 e 1979, encerram esse instigante livro biográfico, narrado com os pormenores mais precisos em relação a cada passo das tantas aventuras, com espírito de fraternidade em relação aos seus colegas de cordada e, por vezes, com certa dose de humor. Fica também a narrativa da natureza em suas manifestações mais antagônicas: tempestades de neve, tormentas, quedas de séracs, avalanches, contemplação do céu imaculado, visão nas alturas das distâncias imensas, as várias colorações dos espaços percorridos pelo olhar. Livro pleno de interesse.

In this post I comment on the book “Les Forces de la Montagne”, written by the French alpinist René Desmaison (1930-2007), in which he gives an account of an entire life dedicated to mountain climbing: he explains the roots of his strong inclination for mountaineering, talks about his ascents of the Alps, the Andes and the Himalayas, the new routes he has opened, the death of many friends, the controversy of the Grandes Jorasses, his epic climbing of the mountain in the Mount Blanc massif that saw the death of his partner Serge Gousseault. Desmaison also describes nature in all its contradictory manifestations: snow storms, fall of seracs, avalanches, clear skies, endless horizons with a myriad of colors. A fascinating book for lovers of adventure stories.

     

Livres da Propaganda Eleitoral Durante Dois Anos!

As societies grow decadent, the language grows decadent, too.
Words are used to disguise, not to illuminate, action:
You liberate a city by destroying it.
Words are used to confuse, so that at election time
people will solemnly vote against their own interests.
Gore Vidal (Imperial America, 2004)

A great deal of intelligence can be invested in ignorance
when the need for illusion is deep.
Saul Bellow (To Jerusalem and Back, 1976)

Felizmente vimos-nos livres da propaganda eleitoral obrigatória. Confesso não ter assistido a qualquer programa do primeiro e tampouco do segundo turno, por absoluta desmotivação e enfado quanto à maneira de se conduzir a política em solo pátrio. Todavia, para aquele que ouve noticiário pelo rádio, impossível não ter sido massacrado insistentemente por pílulas de propaganda que surgiam a cada intervalo da programação. Curtas,  perfuravam a alma tamanha a falta de conteúdo, promessas vãs e insultos de toda ordem.

Para aqueles que já viveram muitas décadas, seria possível sentir uma decadência generalizada. Todos os candidatos, sem exceção, friso, inundaram os ouvintes com milhares de promessas. No primeiro turno foi o que mais se ouviu por parte de postulantes à Câmara Municipal e à Prefeitura. Creio que, se fosse concretizada parcela das realizações dessas doses de esperança, viveríamos no melhor dos mundos. O que se viu no segundo turno entre dois candidatos foi a reiteração das promessas e contundentes ataques pessoais. Ao menos em meados do século passado os concorrentes também prometiam – na época, havia menos ilusões a serem transmitidas – e críticas mútuas tinham a “elegância” de um “fugir à verdade” e não as palavras mentira e mentiroso a toda hora ventiladas no presente, essas verdadeiros xingamentos. Ouvimos enxurrada de impropérios, virulentos atentados à dignidade moral do eleitor. Diria mesmo, invasão pelo rádio ou pela televisão. Dois candidatos com nível superior, empregando ad nauseam infamantes palavras. Nunca percebe a classe política que o eleitor mais avisado tem ojeriza absoluta por esse embate de baixo nível. Descalabro que apenas desilude o menos incauto. A enorme abstenção e os votos em branco não seriam o resultado da desilusão? Uma cour de miracles moral. Para o ouvinte apartidário, quem mentiu? Um? Os dois? O sinistro ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, já proclamava que “uma mentira proclamada mil vezes torna-se uma verdade”.

Triste foi a participação de cabos eleitorais, com maior ou menor peso, naquela reta final da campanha. Figuras que preponderam ou tiveram a sua vida pública em passado recente – não considero neste espaço o valor dessas atuações – praticaram a mais rasteira verborragia, não apenas a atacar o adversário como “pontificando” administrações a eles atribuídas. Passado e presente num imbroglio só. Aos apaniguados, elogios ilimitados, grotescos e insistentes; aos adversários, a vala comum, como se houvesse realmente distinção clara entre os políticos! Não se trata de ideologia, mas de levar as “discussões” ao patamar mais baixo do debate. Desacreditam-se uns aos outros. Uma decepção. Ao vencedor fica a aparência da vitória e o fatal início do não cumprimento de promessas que, se reunidas – a totalidade durante o processo inteiro a envolver candidatos à Câmara Municipal e à sede da Prefeitura  - consumiriam o orçamento total da União, friso, total. Ao perdedor, a decepção e o pensar sobre o que fez o eleitor, majoritariamente desinformado, optar pelo “inimigo”.

Outro aspecto, antes crônico, hoje a ultrapassar a barreira do plausível, tem sido o da deterioração do idioma entre determinados políticos, mal a se alastrar por osmose. Sabemos que há aqueles que realmente tiveram pouco convívio com um linguajar ao menos sofrível. Contudo, saliente-se, deveria o homem público, como exemplo para a sociedade, saber expressar-se de maneira ao menos potável, sem insistentes e voluntárias incorreções que, paradoxalmente, passam a integrar o folclore de certos homens públicos. E, mais grave, a insistência no erro, no equívoco, no tropeço gramatical é por vezes erigida como “charme”, característica e até bandeira de políticos que jamais se preocuparam com o conhecimento. É lamentável verificar que certas expressões passam a integrar o cotidiano ou dele saíram. As ruas têm seus trejeitos, a fala e a escrita cultas obedecem a outros critérios. Ao menos deveriam segui-los. Tantos entendem como normais e assimilados os escorregões gramaticais de toda sorte. Essa certeza da permissividade linguística, em que singular e plural se confundem, concordâncias e sintaxes são desprezadas, conjugações arrepiam, elisões proliferam, está a atingir, inclusive, quase todas as áreas. Qual a razão de nossos poderes executivo e legislativo não apreenderem a falar bem? Dirigir-se ao eleitor não lhes dá o direito de desprezarem o idioma pátrio para atingir o “povão” que só não alçou voos na educação por culpa única e exclusiva desses poderes. A recente “reserva” de 50% das vagas nas universidades federais aos que cursaram escolas públicas, sucateadas pelo próprio governo, não é prova inconteste da vontade política de manter nossos universitários em nível inferior? Formará a universidade federal melhores profissionais em todas os domínios do conhecimento? Ledo engano. Tragédia anunciada, não para já, mas certa dentro de poucos lustros. Sob outra égide, que lições do vernáculo não nos deram alguns ministros mais experientes do Supremo Tribunal Federal – friso bem, alguns – nesse execrável e vergonhoso processo a envolver o famigerado “Mensalão”, estampado no Exterior como escândalo sem precedentes!

Não se está neste espaço a conclamar a oratória esmerada, mas apenas o respeito ao idioma pátrio. Os próprios profissionais da imprensa falada entendem natural a elisão que corrompe o vernáculo, acrescida da proliferação de neologismos de moda ou de gírias que contaminam a língua antes chamada culta. Há pouco tempo mencionou-se uma cartilha em que o falar popular, com suas falhas notórias, apresentava-se como futura verdade! A cada ano mais acentuadamente “não é” transforma-se no simples “né”, “José”  em “Zé”, “está” em “tá”, “estou” em “tô”, “espera aí” em “peraí” e as direções das emissoras não ouvem ou não querem ouvir, ou nem chegaram a refletir sobre a extensão do ataque ao idioma. Que as ruas aceitem, nada a fazer, mas nossas emissoras referenciais (em São Paulo três, quatro…) têm de cuidar do nosso idioma. Exceções há, e como é agradável ouvir radialistas que falam com a maior correção ou, então, políticos que se expressam a contento sem empregar palavras injuriosas.

Voltando-se às promessas políticas. Estejamos atentos. A lista das melhorias é enorme. Cumprirão o prometido? Reza a história que, infelizmente, o povo tem memória curta. Tenhamos ao menos o cuidado de registrar essas promessas. Que tudo não fique para as calendas após as eleições, pois promessas, sorrisos, beijinhos, afagos distribuídos fartamente por vereadores e prefeito eleitos desaparecem como névoa. Para os ungidos instaurou-se já, nesta semana, a meta para 2014. Poderemos um dia pensar que o Poder pelo Poder não será prioridade para a maioria dos políticos?  Infelizmente para o cidadão que labuta sem tréguas, nada a fazer.

This post, written on the aftermath of Brazilian municipal elections, discusses the low level of the electoral propaganda on radio and TV, the use of offensive language by candidates, the technology of persuasion used not to enlighten, but to manipulate voters and the widespread decadence of the idiom among our politicians, just a reflection of a widespread disregard for social responsibility.