“O Piano Intimista de Henrique Oswald”

Continuo a pensar que o músico é alguém
com quem se pode contar para levar a paz ao seu semelhante,
mas que é também um lembrete do que é a excelência humana;
acredito que o nosso mundo finito segrega esforços individuais finitos para dar corpo a um ideal.
Yehudi Menuhin (1916-1999)

Alvissareira a atitude do Instituto Piano Brasileiro, dirigido pelo competente Alexandre Dias, ao disponibilizar para o Youtube composições para piano de Henrique Oswald que gravei na Bélgica e foram lançadas em CD para o selo da Academia Brasileira de Música. Cuidadosamente o Instituto as inseriu com as partituras, fator decisivo para que tais obras despertem o interesse daqueles que porventura  desejem estudá-las.

A anteceder a vontade do Instituto do Piano Brasileiro, várias outras gravações que realizara na Bélgica já pontuavam no aplicativo, mormente as de música de câmara com piano. O CD “O piano intimista de Henrique Oswald”, lançado em 2012 pela Academia Brasileira de Música, ABM, contém unicamente peças para piano, entre elas duas coletâneas sensíveis, “Machiettes” op. 2 e “Six Morceaux” op. 4, compostas no longo período em que Henrique Oswald viveu em Florença.

A inserção da “Rêverie” op. 4 nº 2 no post anterior levou dois atentos leitores a pedir-me para introduzir outras peças desse opus em um próximo blog. São cinco outras composições. A fim da ideia de conjunto, posiciono os seis links, divididos em três segmentos. No substancioso catálogo do Instituto Piano Brasileiro, as seis peças estão individualizadas. Três leitores gostariam de saber mais sobre o romantismo “nostálgico”, segundo um dos ouvintes por ele detectado na expressiva “Rêverie”. Meu dileto amigo e ilustre compositor francês François Servenière observou que o romantismo oswaldiano “vai direto ao coração”. As seis peças que compõem o opus 4 têm títulos convencionais.

Valse op. 4 nº 1

https://www.youtube.com/watch?v=efR9ENaw50I&t=3s

Rêverie op. 4 nº 2

https://www.youtube.com/watch?v=kQVASBH6oRM

Entender a destinação das pequenas peças para piano de Henrique Oswald nos faz penetrar no período em que elas foram compostas. Há certamente uma herança, recebida pelos compositores do século XIX, de patrimônio amplamente praticado pelos autores desde a segunda metade do século XVII e destinado ao cravo. A Suíte constituída por diversas peças, mormente danças de índoles e andamentos diversos, preponderou na primeira metade do século XVIII. Durante o século XIX compositores organizaram coletâneas de peças curtas. Essas breves composições reunidas não mantinham a rigorosa observância da tonalidade, fator existente nas peças das Suítes para cravo. Poder-se-ia acrescentar que a imaginação dos compositores, distante das “amarras” que a Suíte impunha, foi povoada por temáticas outras e a dança deixou de ser essencial.


Oswald estaria rigorosamente a professar tendência tão apregoada, pois muitos compositores que perduraram pela qualidade escreveram coletâneas, sendo que essas curtas peças ou poderiam ser interpretadas isoladamente ou reunidas de acordo com a intenção do criador. As curtas composições poderiam, ao gosto do autor, ter ou não um título. Sob outra égide, o termo Suíte continuou a ser utilizado e um exemplo claro é a Suite Bergamasque de Claude Debussy (1862-1918). Maurice Ravel (1875-1937) comporia Le Tombeau de Couperin a ter em mente a Suíte barroca e a nomenclatura das peças.

Quanto a Oswald, frise-se a fluência dessas pequenas e expressivas criações e a recepção pela comunidade, graças ao lirismo inerente em suas composições. A dificuldade média, sob o aspecto técnico pianístico, resultaria na absorção pelos estudantes de piano que as interpretavam em saraus da burguesia florentina.

Minueto op.4 nº 3

https://www.youtube.com/watch?v=mJw238kXbZk&t=38s

Berceuse op. 4 nº 4

https://www.youtube.com/watch?v=0yU3gEcXvVU&t=9s

As dezenas de pequenas peças de Henrique Oswald obedeciam a destinações claras e bem adequadas ao meio em que vivia. Compõe danças e peças a sugerirem estado de alma, observação da natureza e temáticas mais. Não obstante, titulações que permanecem pela tradição são bem comuns na obra para piano de Oswald e as que apresento neste blog são incontestáveis exemplos.

Tendo pleno domínio da escrita, contudo Oswald prima pelo emprego de melodias de fácil apreensão, mercê de uma enorme capacidade em criar temas cativantes. Se Oswald é incontestavelmente um grande melodista, deve-o também ao fato de que, na Itália, o culto à ópera e à melodia produziu temas contagiantes nesses gêneros praticados na península.

Barcarolle op. 4 nº 5

https://www.youtube.com/watch?v=AVZCFB_v_ro

Impromptu op. 4 nº 6

https://www.youtube.com/watch?v=HW5wC-wlFbw

The Brazilian Piano Institute, which has been developing a unique revival of Brazilian composers and performers, recently introduced recordings from the CD I recorded in Belgium and released by the Brazilian Academy of Music, under the title “The Intimate Piano of Henrique Oswald”. The six pieces that make up op. 4 are of rare beauty and bear witness to a sensitive period lived by the composer in Firenze.