Atravessar o oceano em direção ao Velho Continente pressupõe uma série de preparativos, mormente se a atividade fulcral é a Música. Bélgica, França e Portugal serão os países visitados, a continuar um cinqüentenário desses deslocamentos. Se os recitais de piano e um júri de concurso internacional fazem parte do roteiro, é contudo a gravação que está a me proporcionar a relação mais íntima nestes últimos treze anos, sobretudo quando esta se processa em um lugar mágico e pleno de misticismo, encravado no coração da Bélgica flamenga.
Buscarei externar impressões de viagem plena de atividades musicais. Aquelas estarão a traduzir menos a apresentação pública, que realizo sempre prazerosamente e com emoção, do que o pormenor observado nessas andanças. São os detalhes, os fragmentos que me causam espanto desde a juventude. Tentarei compartilhar esse olhar com os meus leitores. Trata-se de acúmulos somados a outros a dimensionar a vida, o relacionamento familiar, assim como aquele com a Música e com os amigos. Sob outra égide, o tempo nem sempre é aquele que rotineiramente elegemos, o que provocará, quando se fizer necessário, o texto sucinto, concentrado, o flash do momento que resultou em atenção maior. Dois livros me acompanham. Um deles tem um tema recorrente, que me fascina quando em aviões ou hotéis: o teto do mundo, as tantas narrativas sobre o Himalaia. Alexandra David-Néel, Maurice Herzog, Jon Krakauer, Bill Nothdurft – contando a história que lhe foi narrada da busca de Mallory e Irvine -, Thomaz Brandolin, Luciano Pires, Carlos Tramontina já foram percorridos, e outros, agendados, para a imaginação alçar vôos. De Paul Brunton (1898-1981), pois, Un Ermite dans l’Himalaya (France, du Rocher/Motifs, 2006), na tradução francesa de A Hermit in the Himalayas; o segundo, de Luís Guerreiro (1929- ), Oitavo Dia da Criação, recém lançado (2007) pela Editora Ser, de Brasília, aborda o dia do homem, de sua trajetória, “da busca da sua plena humanidade”. Foi-me vivamente recomendado por amigos de Lisboa. A ser a Música tão onipresente nessas viagens, a leitura outra propicia uma categoria que enriquece o pensar, levando ao despertar de novas reflexões.
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