Navegando Posts publicados em janeiro, 2009

A Difícil Subsistência e a Permanência na Rotina

Pedro. Gravura de Luca Vitali. 2008. Clique para ampliar.

Passeia tranquilo
no fundo mais fundo
do eu infinito.
Sinto-lhe os passos
nos porões sombrios.
Amigo impossível
que procuro, olhando
os meus olhos no espelho.

Bueno de Rivera

Nesses últimos meses, várias vezes fui indagado sobre personagens que foram temas de posts anteriores. A constância dessas indagações leva-me a várias reflexões. Uma primeira relacionada à solidariedade, mesmo velada, existente em tantos cidadãos conscientes, ao entenderem que a essência do homem tem de ser preservada. Uma outra relacionada à própria curiosidade do leitor em querer saber a sequência de uma narrativa. Há também, por trás de um questionamento, o incentivo no sentido de que outros personagens do bairro sejam focalizados. Logicamente isso não se dá em hora e tempo certos. Cidadãos que partilham os mesmos espaços urbanos vão sendo filtrados em nosso interior e, quando há um leve estímulo que seja, aflora o ser humano com parcela de sua existência e seus hábitos. Essas possibilidades de interpretação de personagens que passam diante de nós abastece nossa maneira de ver as coisas. Diferenças que paradoxalmente levam à harmonia; repetições atávicas de comportamentos que nos fazem melhor compreender o homem, sua dificuldade frente à vida, sua acomodação sem perguntas, seus defeitos, seus sentimentos antagônicos que o conduzem ao desalento, mas também à esperança e à luta permanente por um sentido a ser dado ao caminho ainda a ser trilhado.
Sob outro aspecto, a cidade bairro Brooklin-Campo Belo é rica em figuras humanas as mais variadas. Acostumamo-nos a vê-las muitas vezes. Nesse cruzar permanente, sentimos a frustração por não poder ajudar os mais carentes, a não ser que haja um esforço coletivo privado, pois o poder público não se interessa por não votantes.
Leitores questionaram-me sobre quatro personagens de temas anteriores: Pedro, Sisuphos, o amolador Constantino e Nélson o jornaleiro, esses últimos batalhadores sem descanso. Prometi àqueles que me fizeram perguntas responder em momento oportuno, fazendo-o prazerosamente através deste texto.
Aos sábados encontro-me com Pedro (vide Pedro, o Andarilho, 15/02/08). No presente, permanece quase sempre sentado na posição fetal, ou alongado, à espera de seu destino último. Creio que jamais encontrará a cadência que busca desde a década de 70, quando o conheci. Continua a dormir ao relento e histórias várias existem a seu respeito, lendas até. Quando das reuniões semanais dos moradores do entorno Brooklin-Campo Belo em 2008, a respeito do Metrô, muitas vezes Pedro foi mencionado. Alguns o conhecem pelo nome de Van Gogh, pois certa semelhança existe. Ser morador de rua há 40 e tais anos anos é quase um milagre. Ao me encaminhar aos sábados para a feira livre de Campo Belo, já sei o kit de que ele gosta: uma grande garrafa de refrigerante, banana nanica, pastéis e biscoito de polvilho. Cauê, o feirante dos pastéis, sempre coloca um a mais no pacote, pois conhece o seu destino. Quando entrego a Pedro, um esboço de sorriso seguido de um surdo obrigado. Basicamente não mais sai de seu pequeno entorno. Um dos moradores, o excelente artista plástico e designer Luca Vitali (www.lucavitali.com), disse-me que já havia retratado Pedro. Enviou-me por e-mail a expressiva gravura que apreende o cerne da solidão de Pedro e todo o seu universo conturbado. Traços do artista denunciam, através de linhas fortes, o desalento e o infortúnio de todos que, como Pedro, apenas flutuam à deriva.
Sisuphos, sempre inóspito, é realmente a reencarnação da figura mitológica (vide Sisuphos – Do Indivíduo ao Coletivo, 22/03/07 e Sisuphos (II) – Eterna Sina, 26/07/08)). O passar do tempo tem deixado o nosso personagem acentuadamente mais sorumbático. O peso de seu fardo torna-se cada dia mais martirizante. Continua a transitar diariamente por minha rua, mas hoje sem horários fixos. Alguma transformação interior deve ter mexido em seu fuso. Se era fechado, mais ainda se tornou. Com extremo cuidado dele me aproximo, pois suas reações tornaram-se menos previsíveis.
Constantino, aos 80 anos, continua a percorrer as ruas do bairro e a tudo afiar (vide Amolador à Antiga – Dignidade Mantida, 15/09/07). Não perdeu a energia, quando após soprar as escalas em sua flauta de Pã, lança o pregão “amoladoooire”. Uma figura. Nélson continua sua saga (vide Nélson, o Sábio – Nosso Cantinho Possível, 18/04/07). No final de 2008 cumprimentei-o pelos 50 anos de amizade, pois o conheço desde minha chegada ao Brooklin. Por vezes, sua mulher e sua filha assumem o posto. As longas jornadas durante décadas talvez tenham deixado Nélson menos expansivo. Fazem parte de nosso ciclo existencial possíveis transformações. Contudo, continua sempre estimado pelo grupo de aposentados – no qual eu me incluo – que diariamente, em horas diversas, reúne-se ao lado de sua banca de jornais. Grupo hoje coeso e que periodicamente se encontra para apreciar dons culinários de um dos integrantes, escolhido ao acaso.
Se Carlinhos foi tema do último post, outros personagens que cruzam nossas vidas estarão sendo focalizados. Acredito que uma das mais expressivas características de nossa existência seja tentar compreender pessoas desse convívio rotineiro. Elas carregam atávicas reações que fizeram parte de gerações de nossos ascendentes. Há algo de telúrico nesse cotidiano enraizado, e essas figuras lembradas naturalmente só se fixam em texto se houve uma empatia, sem qualquer juízo de valor. Elas transitam ou permanecem estáticas. Contudo fazem parte de nossos verdadeiros retratos. O espelho não apenas mostra o que somos, mas todo o mistério da saga humana. Aqueles prestadores de serviços conclamam à rotina inexorável, evocando sentimento solidário. Pedro e Sisuphos denunciam o esquecimento a que foram relegados pelo descaso de irmãos cidadãos e autoridade pública. Cruzar seus caminhos e observá-los em suas lides diárias faz-nos compreender a nós mesmos, nessa permanente busca da interação. Remetem-nos à dificuldade de auto-conhecimento, pois os Pedros e os Sisuphos relegados são profundezas nas quais evitamos penetrar. Porém, representam o elo a levar à reflexão e, daí, ao entendimento do próximo. Só precisamos abrir nossa alma.

Readers keep asking me about the fortune of characters that have been the subject of previous posts. So today I resume the story of some of them: those involved in routine occupations like the newsstand owner and the knife grinder, and those who belong nowhere and have not found their way off the streets and into the community yet, like Pedro the drifter and Sisuphos the waste picker.

A Fazer Lembrar o Passado

Carlinhos e seu universo. Clique para ampliar.


Redescobrir, certamente,
não é tão importante como descobrir.
Às vezes, porém, chega a ser altamente gratificante.

Frederico Branco

O passar do tempo é inflexível para todos, a afetar sensivelmente atividades humanas que perduram desde há muito. O pequeno comércio foi, para os mais velhos, para aqueles que sobreviveram às muitas décadas, um dos encantos do relacionamento humano. A mercearia da esquina; a quitanda; o chaveiro e o serralheiro; a papelaria dos cadernos, lápis, borracha e tintas Parker e nanquim; aquela porta de garagem que ao se abrir apresentava todos os produtos indispensáveis à manutenção da casa; a lojinha que vendia armarinhos e toda espécie de quinquilharias. Frequentava mais, quando miúdo, esta última, a fim de comprar botões especiais para mantôs ou sobretudos, a fim de reforçar o meu time de futebol de mesa, assim como bolinhas de gude para os torneios que realizávamos na escola primária. Ainda escreverei sobre esses jogos e as técnicas diferentes utilizadas por João Carlos e por mim. Uma constante alegria.
Hoje, o pequeno comércio foi praticamente banido pela invasão de super-mercados e shoppings calcados nas especialidades ou diversidades. Combalidas, aquelas lojinhas se fixaram preferencialmente na periferia, mas é um prazer verificar a existência de algumas ainda espalhadas pela grande cidade em seus incontáveis bairros. Em tantas ruas e avenidas que cortam regiões da urbe pode-se notá-las em sequência. Agrupadas, simbolizam em parte a classe social de moradores do entorno. Muitos dos que trabalham nesses pequenos estabelecimentos são prestadores de serviços: sapateiro, chaveiro, barbeiro, eletricista, encanador, borracheiro. As lojas de comércio sobrevivem à custa de freguesia fiel que permanece a comprar determinados produtos no estabelecimento onde não falta o bom papo com o dono. Em cidades do interior, pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos existem como respiração pausada da comunidade.
Carlinhos tem um pequeno estabelecimento comercial na Vila Olímpia, bairro contíguo ao Brooklin e separado pelo corredor entupido de caminhões, a Av. dos Bandeirantes. Diferencia-se de outros congêneres pelo isolamento, pois não há o vizinho lojista. Os mais variados produtos lá se encontram. Detergentes, creolina, sabão líquido, tudo se pode comprar aos litros. Sacos de lixo de todas as dimensões. Em um pequeno espaço, há um chaveiro de plantão. A frequência é aquela dos vizinhos e de moradores da redondeza. Habituei-me a comprar em sua loja. Cortês, troca sempre algumas palavras em torno do que se compra, ou de um fato político recente. Lá encontrei, em uma dessas manhãs, Hélio Gomide, cronista que escreveu para a Folha e para O Estado. Ótima conversa, aos 77 anos tem muitas histórias para contar. Em determinado momento surgiu o nome de meu irmão, Ives. Carlinhos imediatamente disse que era seu profundo admirador, o que me deixou curioso. Nada disse, mas dias após resolvi escrever esse texto tendo como temas Carlinhos e o pequeno comércio, uma de minhas gratas lembranças da infância.
Aproveitei as primeiras horas de uma manhã ensolarada e fui a pé até a loja do amigo. Contou-me que, entre muitas atividades exercidas, foi gráfico em firma de consultoria. Nas horas vagas, frequentava a biblioteca da empresa e lia os artigos e trechos de livros de meu irmão. “Era muito instrutivo e tudo o que eu pude ler do Dr. Gandra batia com o que eu pensava também”, afirmou-me Carlinhos. Hoje, acompanha a trajetória do Ives através da Linha de Frente da Rádio Jovem Pan. Fiquei deveras impressionado, pois ele assimilou bem o que leu e ouviu, enumerando temas que são estandartes do grande jurista. Quando não a Joven Pan, ouve a Cultura FM, pois gosta mesmo é de música erudita.

Durante forte aguaceiro, o encontro das águas da Av. dos Bandeirantes e da Rua Alvorada.

O estabelecimento comercial de Carlinhos inundado.

Tirei uma foto de Carlinhos em frente a sua loja. Como aquele trecho da Rua Alvorada fica numa baixada, perguntei-lhe se as últimas chuvas o importunaram. Mostrou-me fotos alarmantes tiradas com seu celular. Comumente, no verão os aguaçeiros levam a enchentes, e a loja é inundada por boas dezenas de centímetros desse caldo grosso pouco confiável. Sente que as águas vão chegar e retira o que tem de ser retirado. Nada que transforme o seu bom humor e o faça pensar em mudança, pois há dez e tais anos está instalado no lugar de que gosta. Todavia, uma das imagens reproduz a confluência dos “rios” da Rua Alvorada e da Av. dos Bandeirantes, que têm sua “nascente” à altura da Av. Santo Amaro. Basta uma chuva mais forte e toda a região que se estende do Brooklin – circa Hípica Paulista – à Vila Olímpia transforma-se no desaguadouro de “corredeiras”, levando transtornos a todos. Na realidade, nem vale mais a pena esperar solução para as enchentes, tema fulcral de todo político, sem exceção alguma, em época de eleição. Basicamente inexiste área verde naquele vasto espaço, dominado pelo asfalto e pelo cimento. Durante o bom tempo que permanecemos a conversar, inúmeros transeuntes o cumprimentavam, sempre festivamente, o que demonstra a sua popularidade. A todos respondia pelo nome e sempre a sorrir.
Carlinhos é um desses personagens que o tempo fará desaparecer, infelizmente, das grandes cidades. Para as novas gerações, a existência de figuras humanas como a dele tornar-se-á cada vez mais vaga. Acostumadas à impessoalidade das enormes redes de supermercados ou dos shoppings que proliferam nos espaços abertos à força pela especulação imobiliária, a nova gente saberá da existência dos tantos bons Carlinhos que resistem, através dos relatos dos mais velhos, ou de ilustrações, ou de filmes, ou enfim a partir de escritos sobre eles. Existirão nos centros das grandes metrópoles bem isoladamente, como raridades, tema para cartões postais. Acredito que sobreviverão por mais tempo apenas no interior do país, onde será possível acompanhar suas respirações cadenciadas. Oxalá perdurem.

Carlinhos is the owner of a tiny cleaning products store near my home. Friendly and polite, knowing his customers by name and offering expert advice, his shop turned into a meeting point for the neighborhood. Unfortunately such family-owned businesses are condemned to death. Fragile and vulnerable, they are all cracking under the pressure of supermarkets and shopping centers and tend to survive only in small cities.

A Salvaguarda da Mensuração Objetiva

Quem tem a faca e o queijo,
corta onde quer.

Adágio Açoriano

Em torno do fim do ano pululam premiações em todas as áreas. Associações, Academias, Sindicatos, Federações adoram premiar. Em sentido quase geométrico verificamos o aumento de láureas. Isso é um fato no Exterior e também no Brasil. Pode-se até dizer ser este o país das premiações. Nas múltiplas atividades, uns poucos se reúnem e escolhem o melhor, ou os melhores. Ao final de um ciclo, tendo os mais visualizados recebido seus prêmios, recomeça-se a repremiação e, vez por outra, novas figuras entram no lista dos agraciados, sob os olhares “benevolentes”, mas cuidadosos, dos eternamente contemplados.
Pouco se escreve a respeito do que está por trás de todas as espécies de premiações, pois interessa à mídia esse fenomenal filão de vendagens. Os envolvidos nos muitos segmentos que oferecem prêmios são potenciais anunciantes ou, ao menos, vitrines para um sem número de propósitos, em exposições nos mais variados meios de comunicação. Promoção e lucro. Eventos tipificados fazem parte hoje do cotidiano e praticamente todos os participantes comparecem às festas de premiação, manancial para os flashes. Fotografados e filmados profusamente, os personagens laureados ou aquelas figuras conhecidas do grande público entram no recinto onde se dará a festa com roupas de grife, ou então com vestimentas estranhas e exóticas. Ingredientes do grande espetáculo. E o público, que projeta seus anseios escondidos, identifica-se ou repudia aqueles que recebem premiações. Os não agraciados, se televisionados, simulam sorrisos sem encantos.
A depender dos recursos de cada associação, assiste-se a parafernálias que têm gradações. Eventos faraônicos ou modestos, todos têm os mesmos trajetos: manter a hegemonia da organização promotora, convidar membros de júri solícitos e, preferencialmente, agraciar aqueles que não estejam distantes de dirigentes de associações, de anunciantes poderosos, de pessoas ou críticos influentes. Artes, literatura, esporte, economia, publicidade, empresariado, política são alguns dos muitos segmentos a ter seus ungidos, cada um com seu estilo e regras. Todavia, o objetivo é um só: agradar quem deve ser agraciado. Finda a festa, ecos que se distanciam, flashes que se apagam, os premiados terão maior visibilidade para as suas realizações, e as entidades promotoras, mais um ano para armar o espetáculo do ano vindouro. É humano e faz parte da vida hodierna.
O tema ressurgiu ao ler em um laboratório, à espera de ser atendido, a entrevista que o excelente ator Alan Arkin concedeu ao “O Estado de São Paulo”, publicada no dia 24 de Dezembro último. Como datava de alguns dias, tinha sido esquecida por algum outro paciente. Trouxe-a comigo e já a partir do retorno a pé fiquei a pensar. Alan Arkin atinge o fulcro da questão e, em entrevista a Franthiesco Ballerini, não poupa sequer a si mesmo, pois recebeu recentemente o Oscar de ator coadjuvante em Pequena Miss Sunshine.
A firmeza das respostas de um vencedor de tantos outros prêmios dá credibilidade a suas afirmações. “Não acredito no Oscar. Não acho que exista ‘o melhor’. Como comparar dois grandes filmes e dizer que um é melhor que o outro? Tudo isso é negócio, não tem nada a ver com a realidade”. Em post anterior (vide O Melhor Pianista do Mundo – É possível Julgar?, 30/11/07) já comungava conceitos a respeito dessa impossibilidade de julgamento. Como se trata de apreciação subjetiva, interesses tantas vezes inconfessos agem na distribuição de prêmios. Continua Arkin a respeito do Oscar por ele recebido: “Eu não fui o melhor ator coadjuvante daquele ano. Ninguém tem o direito de dizer quem é o melhor ou pior”. E com convicção indispõe-se contra os críticos especializados: “Eles não têm esse direito. Eles apenas apontam qual filme mais os tocou, mas não é por isso que podem dizer que foi o melhor do ano”. Ao longo do tempo, em vários textos, tenho afirmado, em termos das artes no Brasil, a inexistência básica de uma crítica sequer minimamente preparada. Reunidos para premiações, o viés passional e de confraria leva “juízes” à outorga de láureas, que podem revelar a “aparência” da realidade. É um fato e, nele mergulhado, o meio acata.
Alan Arkin posiciona-se acidamente contra a crítica não embasada, entendendo que “é preciso ter estado do outro lado para poder criticar”. Considera o crítico sem estrutura, em sua função mediática, com extremo rigor: “Quanto mais julgamento um crítico faz, mais infeliz ele é como ser humano”. Louve-se a coragem do ator. Certamente terá tributo a pagar, pois ser solícito com a mídia faz parte dos deveres da grande maioria dos aspirantes a prêmios.
Essa característica de “conceituar” o melhor, cada vez mais trivial, se sob determinado ângulo projeta figuras que nem sempre se mantêm à altura, sob outro prisma pode destruir definitivamente pessoas mais sensíveis e que, ao se sentirem injustiçadas, distanciam-se da parafernália festiva. O Sistema não contempla a justiça, privilegia articulações hábeis. A entrevista de Arkin é portanto um libelo que, num sentido de expansio, pode ser aplicado a todas as áreas que elegem os “melhores”, de Oscar a Nobel. Um número enorme de grandes atores e atrizes e incontáveis escritores ou figuras ligadas às muitas áreas de Oscar a Nobel jamais foram contemplados por falta dessa habilidade na aproximação com os que decidem, por índole ou mesmo por ideologia. A história, com o passar das décadas, sabe separar os que realmente têm valor. Igualmente, um sem número de premiados nesses dois mais cobiçados troféus desaparecem no esquecimento. Obedecendo-se a gradações de visibilidade ou “respeitabilidade”, chega-se inclusive às premiações de associação de bairro e outras mais. Categorias entendidas como em prateleiras, das mais “importantes” às bem modestas.
Comentava, em posts anteriores, que apenas em algumas áreas do esporte pode-se determinar o melhor. Não seriam aqueles coletivos, que sofrem momentos circunstanciais que determinam resultados. Nos individuais, onde as mensurações são soberanas, difícil não se saber o melhor, geralmente ratificado em provas sucessivas. Quando Rosa Mota ganhou por seis vezes consecutivas a São Silvestre, de 1981 a 1986, ou o nadador Michael Phelps, as oito medalhas de ouro nas últimas Olímpíadas de Verão em Pequim, o insofismável transpareceu. Sem contar Pelé, Michael Jordan ou Michael Schumacher, detentores de recordes absolutos ao longo de carreiras que encantaram o mundo.
Em todas as outras áreas onde o subjetivo impera, Comissões decidem e, não poucas vezes, parcialidade e arbitrariedade rondam suas escolhas. Não obstante a realidade insofismável quanto às premiações, frise-se a legião de agraciados de grande mérito que, ungidos, apenas ratificaram, ao longo de suas trajetórias, carreiras brilhantes.

Reflections on the impossibility of cold neutrality when judging someone’s merits. The subject was brought about by an interview given by the Academy Award-winning actor Alan Arkin to a Brazilian newspaper, when he expressed his disbelief in unbiased judging of professionals in the film industry.