Leitura a Decifrar Intenções
Natal em casa,
Páscoa na praça.
Natal na praça,
Páscoa em casa*.
Adágio açoriano
(*Quando faz mau tempo no Natal, faz bom tempo na Páscoa).
O espírito do Natal mereceria sempre ser o princípio básico, único e indissolúvel. Não há data da cristandade que melhor dignifique o espírito de solidariedade, pois a atingir todas as faixas etárias. A Páscoa, em que se comemora a ressurreição do Cristo, outra efeméride maiúscula, é preparada, como exemplo, durante um ano em certas aldeias gregas, e a frase “Cristo ressuscitou” será o cumprimento entre os habitantes para comemorar a data. O adágio popular da Ilha Terceira do Arquipélago dos Açores dá bem a medida das duas festividades, intrinsecamente ligadas na transcendência. A magia da Páscoa, entretanto, não chegaria ao âmago de uma criança, pois a antecedê-la há a morte na cruz, fato não comumente assimilado pela mente de um miúdo. E se o Ovo contém outra transcendência, passou-se para a criança interpretação e materialização outras. Todavia, o Natal traz a chama do nascimento e é compreendido por todas as idades.
Em posts anteriores comentava essa total dicotomia entre a essência essencial, representada pelo fato em si, e a transgressão que se dá, em muitos segmentos da sociedade, ao não apreender um mínimo gesto concentrado, reflexivo. Nos lares onde se vive a intensidade do nascimento do Cristo há toda uma preparação, que vai da leitura, a levar a compreensão ao clã, até, em certas comunidades, o desvelamento progressivo das figuras de um presépio. Ato comovente é verificar a montagem de uma árvore de Natal, quando o espírito natalino existe. Cada peça colocada amorosamente, na comunhão da fraternidade intensa. A tal ponto que a noite de 24 de Dezembro marcará a revelação por inteiro. Cantos de Natal criados em todo o mundo cristão, populares ou não, e geralmente interpretados por corais, trazem um conteúdo especial à efeméride. Todos esses valores, preservados ainda nos atos e no coração de quem vive a data plena de misticismo e mistério, podem possibilitar a abertura dos espíritos e tornar o cidadão mais solidário, generoso, voltado para o bem.
Bem e mal. Posições antagônicas, desprezadas por muitos direcionados à dissolução de barreiras que impossibilitem ao homem juízos de valor. O desvio como elemento provocado pela sociedade, o bem como acomodamento até hipócrita. Seria essa mentalidade a levar a tantas distorções. O mal banalizou-se, o bem não é divulgado. Noticiários de todos os meios de comunicação anunciam o erro, minimamente a ação que resulta na edificação do caráter.
É pois decisivo para quem cultua o espírito de Natal apreender os ensinamentos que estão au delà da manjedoura. Na distorção da atualidade, preservar esse espírito será uma flama a mostrar à humanidade que nem tudo se perdeu. Há esperanças, tênues, mas há.
Essas mínimas reflexões têm a ver com as mensagens de Natal que todos os anos recebemos. Décadas se passaram e pouco a pouco esses cartões festivos foram se estiolando.Traziam mensagens voltadas à paz entre os homens de boa vontade e redigidos pelos remetentes. Algumas figuras relacionadas ao Natal compunham o todo harmonioso. Aqueles que recebemos contendo mensagens expressivas redigidas à mão, guardamo-los. Como exemplo sensível, menciono os enviados anualmente pelo dileto amigo Ruy Yamanischi, sempre a apresentar um pequeno conto de sua lavra relativo à efeméride, acompanhado de pequena aquarela original. Infelizmente, prática que desaparece pouco a pouco. A internet teria sido uma das responsáveis por essa diminuição. Se essas mensagens afetivas e sinceras ainda permanecem, nem os meios eletrônicos conseguiram alterar o envio de outros cartões desprovidos do espírito de Natal. Empresas as mais diversas remetem quantidade de envelopes contendo em seus interiores frases feitas, padronizadas, nas quais uma rubrica de gerente, diretor ou presidente da entidade atesta que uma tarefa foi cumprida. Mais ainda se torna fria a mensagem, seja qual for o tipo de veículo impresso, quando essa assinatura ou rubrica for através de carimbo ou impressão. Saint-Exupéry já não escrevera em Citadelle que, para quem recebe uma mensagem de amor, o que menos importa é a qualidade do papel ? Não seria essa verdade que se mostraria totalmente olvidada quando da emissão desses cartões onde tudo está escrito, mas nada entendido, pois não houve o viver o Natal ? Diria, uma maneira de desincumbir-se de uma obrigação. Para a entidade que envia, há sempre a “certeza” de que o cidadão que recebe o cartão lembrar-se-á do “ato espontâneo e generoso” do remetente. Junto a outras mensagens, em lar que cultua o Natal estarão a representar a aparência do amor. E essa mistura, que jamais será amálgama, entre o cartão sincero e essa outra espécie de comunicação, evidenciaria apenas o equívoco, não motivado pela mensagem amorosa que visa à união de mentes e corações, mas pelo outro, meramente um cartão.
Clique para ouvir com o Coro Capela Gregoriana Laus Deo, sob a direção de Idalete Giga: “Natal”
Data máxima. Confraternização. Crianças e adultos nessa comunhão. Que não sejam esquecidos os mais infortunados que nada têm, abandonados que estão à própria sorte. Sisuphos de vários posts ainda teima em existir, pragmaticamente em sua sina implacável. Pedro, o andarilho, deve ter partido… Nunca mais o vi após um mal que se alastrava em seu corpo. Outros com menores agruras, organizados, mas sem recursos, gostariam de um alento. Outros mais, trabalhadores, operários, funcionários, camponeses que labutam com coragem para sobreviver com seus salários achatados e proles para criar, mas esquecidos pelos homens públicos, que deles se lembrarão em período preciso. Neste santo período, despudoradamente, os governantes do país se preocupam com reajustes de seus salários. Os deles, incomensuravelmente bem acima da inflação. E só. Aviltantes. Governantes e legisladores passam ao largo do Espírito de Natal. Vendilhões do Templo. Jesus menino, mas já enrubescido em sua manjedoura, a ver essa única preocupação com o quantitativo do vil metal. Sabe que não pode haver paz entre esses homens de má vontade. Se assim não fosse, a fraternidade seria constante.
Vivamos o Espírito de Natal ! Que a centelha permaneça ! No coração daqueles que realmente mantêm a chama intensa durante todo o ano.
Meus agradecimentos à dileta amiga Idalete Giga, Diretora do Coro Capela Gregoriana LAUS DEO. Sob sua expressiva condução fluem os três expressivos cantos, do gregoriano às canções portuguesas tradicionais de Natal.
Magia do Natal ! Finalizava o presente post, quando recebo via e-mail, no instante preciso, três quadras sobre a data máxima da cristandade, justamente de Idalete Giga. Brinda-nos pois duplamente a querida colega portuguesa, através das emotivas interpretações e da pureza dos versos.
LUX MUNDI
I
O nascimento de Cristo
veio trazer a Luz ao mundo
Que toda a Humanidade
Sinta o Seu Amor profundo
II
Todo o Universo cantou
um canto celestial
e toda a Terra vibrou
com a Luz Pura do Natal
III
Deus de Infinita Beleza
Deus de Paz, Deus de Harmonia
Que a nossa Mãe-Natureza
encha a Terra de Alegria
On Christmas season, greeting cards, the decline of personal Xmas cards and the increase of commercial ones, sent to people on customers’ list just to help reinforce brand awareness.