Inúmeras Mensagens Valiosas
Entende-se o medíocre;
não se entende,
porém,
que quem se ama nele mergulhe.
A esperança hoje só existirá quando nalgum lugar,
também por mais confuso,
sujeito e pobre que seja,
possam alguns homens experimentar
o que dá juntar o pão e a liberdade,
desaparecendo um capitalismo que nega o pão
e um socialismo que nega a liberdade.
Agostinho da Silva
“Mediocridade” teve guarida expressiva. Curiosamente, a maioria dos leitores optou por enquadrar a mediocridade, essa ausência do merecimento e sinônimo, tantas vezes, de mesquinhez. Foi notória a ligação feita por tantos com a prática política deste século no país. Apontaram o desencanto que se apodera de parte dos brasileiros esclarecidos frente aos escândalos que são anunciados diariamente, à corrupção endêmica, à classe política central e adjacente que só pensa na perpetuação de mandatos, à insegurança que nos torna reféns de meliantes, à saúde pública em estado deplorável, à total desestruturação educacional e à baderna generalizada que impede o ir e vir do cidadão, à deterioração dos costumes e, consequentemente, da família. Tudo em nome de um social desfigurado, pois manipulado e a tender ao aparelhamento partidário. Leitores consideraram os vícios e as virtudes do homem e sua saga nefasta como maior predador da Terra. A mediocridade como origem dos males, pois impede a altivez, a lisura, a lhaneza, a generosidade e a solidariedade. Outros têm a premonição do caos, hélas, mormente neste país à deriva. Mesmo que não tenha sido essa a intenção de Cláudio Giordano, a simples menção à mediocridade despertou grande posicionamento contra o status quo.
Foi mencionado por um dos leitores o “pão e circo” dos romanos, com a observação de que a humanidade continua a mesma e a mediocridade do “espírito” subsiste na raiz. Contudo, houve quem entendesse o “estado antiespiritual” medíocre de milhões espalhados pelo mundo como contraponto àqueles que são o esteio do denominado bem. Seriam esses, na opinião de um leitor, que impedem que o homem se transforme no predador já mencionado anteriormente. Um professor ilustre escreveu-me a dizer que a Academia tem seus medíocres e que eles ascendem na carreira universitária, por vezes meteoricamente, pois têm tempo à disposição, não para pesquisa em suas áreas, mas para conchavos. Acredito que não apenas na Academia. Basta ouvirmos discursos da imensa maioria de nossos políticos para chegar a essa conclusão. O conchavo é irmão gêmeo da mediocridade e o fugir da verdade seu companheiro inseparável.
Vindo ao encontro dessas mensagens, insiro um trecho do artigo do notável poeta Carlos Nejar, da Academia Brasileira de Letras, publicado na Tribuna e enviado no dia 2 de Junho ao meu irmão, o ilustre jurista Ives Gandra. Menciona o termo mediocridade para reflexões que seguem: “Como brasileiro, repito, estou farto de ver tamanha mediocridade na república, a partir dos postos legislativos, com exemplares exceções; cansado de constatar a burocracia grassando nas repartições; cansado de tantos ministérios, num verdadeiro ‘nonsense’, uns chocando-se com outros, gastando inutilmente, apenas para manter o apoio de aliados; cansado de observar o movimento dos rinocerontes da corrupção na luz do dia, visíveis pelas avultadas mandíbulas. Sim, como cidadão brasileiro, sinto-me excluído, marginalizado, porque o Sistema só tem o nome de democrático. Diz Fernando Veríssimo que a democracia é ‘um acidente de trânsito’, para nós é um acidente de Estado, mostrando o divórcio cada vez mais insustentável entre ele e a Nação”.
Há em “Mediocridade” profundas considerações do agnóstico Cláudio Giordano. Creio que suas dúvidas, que enriquecem o livro e que também atormentaram tantos santos da Igreja Católica e autores da dimensão de Georges Bernanos (1888-1948) e Jacques Maritain (1882-1973), não foram devidamente apreendidas pelos leitores. A exegese giordaniana, que o leva à incerteza, expressa de maneira pungente, quanto à existência de Deus e que resulta nos capítulos mais relevantes do livro, a meu ver não parece ser preocupação maior dos leitores. Seria possível entender que os graves problemas que estamos a viver provoquem um imediatismo do pensar e o distanciamento do sagrado. É possível. No entanto, reitero, as reflexões sobre a temática constituem o fulcro central de “Mediocridade”. Essa não preocupação de alguns leitores com a religiosidade é cíclica. A história recente mostra que o desmoronamento da União Soviética fez ressurgir com intensidade extraordinária o atávico espírito religioso do povo russo.
Foi amplamente elogiada a menção a autores consagrados em textos escolhidos exemplarmente por Giordano. Formaram um conjunto de posições abertas através dos séculos. Todos pertinentes e reveladores do ecletismo responsável do autor-editor. Àqueles que gostariam de ter acesso ao livro “Mediocridade”, transmito, com a autorização de Cláudio Giordano, seu e-mail: claudioliber@gmail.com .
Last week’s post about Claudio Giordano’s book “Mediocridade” had so much e-mail feedback from readers that I decided to give a brief overview of the main points of the messages I received. Much to my surprise, all readers have expressed concern about the serious economic and political situation they are currently experiencing in Brazil, leaving aside the religious dilemma that, in my view, is the crux of Giordano’s book.
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