Navegando Posts publicados em agosto, 2014

Mensagens Benvindas

Nenhuma arte é superior a outra
desde que sopre o espírito do criador,
seja ele quem for.
François Servenière

Por um lado, o artista furta o seu tema ao tempo,
tornando-o acessível a todos os momentos,
por outro lado,
salva-o ainda da corrente do tempo
na medida em que faz convergir num só instante
o que foi beleza em instantes sucessivos.
Agostinho da Silva

Se o blog anterior teve mensagem do compositor e pensador François Servenière, no atual ele nos visita novamente a fazer prioritariamente comparações pertinentes sobre música e arte erudita e popular. Igualmente é com prazer que insiro mensagem da educadora musical e gregorianista portuguesa Idalete Giga que, sob outro enfoque, evoca-nos aspectos relativos ao entendimento sensitivo da arte popular.

Escreve Idalete Giga: “O penúltimo post em diálogo com sua neta Valentina foi uma lição de História de Arte! Eu também aprendi muito. Adorei as várias reproduções, sobretudo as Paulistinhas. É um tema apaixonante. De tal maneira que, a seu pedido, escrevi um conto mágico sobre o Vale do Paraíba, tendo Pituba e o Edu, seu neto (imaginário), como protagonistas! Lembra-se desse conto? Talvez a sua neta Valentina gostasse de lê-lo… (O singelo conto “O Jardim das Fadas” foi publicado no blog sob o título “Pensar e Sentir o Natal”, de 20/12/2008). Como afirma o arquitecto Benedito Lima de Toledo, ‘nem sempre a via erudita foi o mais rico canal das manifestações artísticas’. Admiro muito toda a arte popular, que é sempre genuína e de uma simplicidade comovente. É nela que está escondida a alma de um povo, a sua pureza, a sua identidade. É nela que músicos, pintores, escultores, poetas, dramaturgos se inspiraram ao longo da História e muitos continuam a inspirar-se ainda hoje. Como dizia Monteverdi, o povo é a elite da Terra”.

O pensar arguto de François Servenière: “O post com as perguntas de sua neta Valentina me pareceu de interesse. Na realidade, não conhecendo muito os estilos dessas pequenas imagens sacras populares, apesar de ter conhecimento de algumas similares (sob o aspecto da técnica) no sul da França e no norte da Espanha, sinto-me impedido de opinar nessa instigante temática.

Não obstante, surpreendeu-me a pergunta de Valentina sobre a diferença de estilos, de época e do valor artístico inerente. A pergunta atinge o cerne da arte, pelo fato de que nenhuma arte é superior a outra desde que sopre o espírito do criador, seja ele quem for. Há canções populares com muito mais valor do que certas obras entendidas como ‘intelectuais’, pois nem sempre o espírito do criador sopra sobre estas, mas sim sobre aquelas! Verificamos que os maiores criadores atacam com sucesso todos os gêneros e estilos. Citemos Mozart, Debussy e Ravel, que criaram músicas tão diversificadas no gênero, na forma e na instrumentação; pintores e escultores da Renascença (Da Vinci, Michelangelo…) que eram não somente arquitetos, pintores, homens da ciência, fabricantes de objetos, teóricos, como autores de peças de teatro (Da Vinci), pois o genial espírito criativo soprava sempre sobre suas obras, fosse qual fosse o suporte utilizado (romances, poemas, canções, sinfonias, concertos, peças de teatro, testemunhos, telas, afrescos, esculturas, desenhos…).

A divisão entre gêneros e subgêneros  (famílias e épocas artísticas) permitiu aos séculos modernos colocar devidamente a Divisão Científica do Trabalho, cara a Henry Ford, resultando,  posteriormente, a segmentação profissional entre artes superiores e artes inferiores no que concerne às profissões artísticas. Entendo tratar-se de hierarquia inútil, inexistente anteriormente,  pois um criador bem formado podia e devia ter o domínio pleno da forma e dos gêneros de sua atividade. Hoje, na música da era bouleziana (F.S. refere-se ao compositor Pierre Boulez) pretende-se  não mais misturar panos de prato e toalhas entre os cancioneiros, os autores de músicas para filmes e os músicos de música erudita, quando todos podem e deveriam escrever, mesmo que consideremos talentos desiguais.

Nas academias de pintura e de escultura deve-se aprender de tudo, tomar-se conhecimento de todas as técnicas. Não compreendo o porquê de hoje, nos conservatórios, os aprendizes compositores não mais serem orientados para a escrita de uma canção, pois essa lacuna permanecerá em sua trajetória. Verifica-se que esse aprendiz geralmente não sabe mais cantar, pois não mais sabe escrever música e o fator crucial, a melodia cantada, é hoje negligenciada nos cursos acadêmicos destinados à composição. Um escritor tem o direito de escrever poemas, peças de teatro, romances, artigos de jornais… Na música, é proibido. Um ditador musical, seu séquito, seu sistema de pensamento e de ideologia amplamente difundidos impedem e estigmatizam todo desvio de conduta. Rejeita-se o talento universal, substituindo-o pelo talento constipado e saído dos bunkers. Essa atitude negativa e desrespeitosa para com o espírito criador abriu também uma via nova muito seletiva (e quase sempre fechada a toda arte aberta sem apoio) para os pesquisadores de poder, desprovidos de qualidades criativas, permitindo-lhes que se imponham pela via administrativa e a infiltração política e sectária. O espírito criador perderia, no desvio da arte, seu valor original de convicção, que é feito de juventude, de espiritualidade, de sinceridade, de autenticidade, de inocência… Não mais se convence pela sua arte, convence-se pelo poder e suas relações, pela capacidade perturbadora e pelos discursos políticos ou econômicos.

A pintura contemporânea, como exemplo, resultou em mercadoria  e nenhum critério intervém doravante, como todos sabem. É um meio de troca e um bilhete de entrada para as grandes fortunas lavarem os acúmulos de um sistema financeiro enlouquecido, que cria dinheiro virtual para ser escoado na economia real. Entretanto, esses produtos financeiros ‘artísticos’ apodrecidos tornar-se-ão, por sua vez, uma bolha que explodirá um dia, a levar essas obras àquilo que elas realmente são: nada (a título de colaboração ao pensamento de Servenière, recomendo a leitura de “La Civilización del Espectáculo”, de Mario Vargas Llosa).

Admiro os grandes criadores, que são capazes de tudo escrever e de tudo criar. Desprezo essa qualidade atribuída àqueles que estigmatizam, pelo espírito mesquinho e munidos de viseiras, os gêneros e os estilos populares ou menos elitistas na aparência. O que é o elitismo senão essa senda humana por onde sopra o espírito, seja qual for o suporte utilizado. Reconhecem-se os grandes artistas pelo espírito, não pelo suporte utilizado.

É importante ensinar isso aos jovens, pois o mundo atual sabe criar o falso valor artístico, e a as mídias lá deveriam estar para mudar a mensagem dos poderosos financeiros e políticos”. (Tradução J.E.M.).

Uma revisita à primeira epígrafe evidencia a síntese da realidade expressiva, pois as ilustrações da Virgem Maria com o Menino, em madeira policromada, do artista erudito flamengo quatrocentista e, em terracota, na singela imagem do final do século XIX de nosso santeiro popular Benedito Amaro de Oliveira, o Dito Pituba, indicam esse espírito criador a sobrevoar a criação. Em ambas as obras não nos detalhamos no material utilizado, concentrando-nos na obra prima. Seria a presença das musas de que nos fala Serge Nigg?

In this post I quote messages received from the portuguese choir conductor and Gregorianist Idalete Giga and the French composer Françoise Servenière. Idalete talks about the way she apprehends popular art, while Servenière compares popular and classical music.

 

Posicionamento que Merece Atenção

Inútil comentar que aqueles que têm em conta a Academia
tornaram-se totalmente surdos a qualquer música natural.
Formam uma casta de técnicos para os quais
o valor de toda a música se mede através da complexidade da escritura.
Para eles, o canto gregoriano e a música dos trovadores não têm interesse,
pois comportam uma só voz , resultando música fácil.
André Souris (1899-1970)

Ao considerar a proliferação de compositores e filósofos, baseando-me na observação de Serge Nigg (1924-2008),  primeiro músico francês a compor obra dodecafônica em França, na qual frisava que a partir de certo momento só era apresentado a compositores, pois “todos” assim se intitulavam, observei que, ao longo da última década a preceder minha aposentadoria em 2008, cada vez mais frequentemente alunos cursando ou egressos dos cursos de música-composição e filosofia pronunciavam-se como compositores e filósofos. Mais penetram em elucubrações a partir das tendências multidirecionadas da composição e do pensar, mais acentuadamente tentam diminuir as definitivas contribuições de compositores que permanecerão. André Souris, autor da epígrafe, menciona J.S.Bach, Beethoven e Debussy como alguns exemplos, “vítimas” de determinadas correntes “composicionais”. No pensar filosófico, Russell Jacoby e Vitor J. Rodrigues (vide blogs 21/03/2009 e 14/08/2010, respectivamente) já sinalizavam  empáfias similares às apontadas.

Quanto à música, seria possível constatar que a ascensão dos meios eletroacústicos, que não necessariamente implicou qualidade dos “compositores”, camuflou capacidades, em parte embaçando-as por “falta” de parâmetros de julgamento, levando à multiplicação de autores. Dezenas e dezenas de compositores têm obras selecionadas para as Bienais de Música Contemporânea aqui e alhures. Serge Nigg observa: “Diria que todos foram subitamente tocados pelas graças das musas”. Seria isso crível?  Como bem intuía  o grande escritor e poeta português Guerra Junqueiro (1850-1923): “Sim, o crítico dos críticos é só ele – o tempo. Infalível e insubornável”.

O compositor e pensador francês François Servenière escreveu-me após a leitura do blog de 5 de Julho, a considerar vários fatores influentes nessa multidirecionada diversidade de meios de composição da atualidade. Sente em França o peso de tendências institucionais corroborando a edificação de”mitos” inacessíveis, ininteligíveis para a grande maioria daqueles que labutam em áreas como música e filosofia. Elegem-se oráculos de suas gerações e assim são tratados pela mídia “especializada”. Extraí segmentos de sua longa mensagem.

“Para retornar ao tema de seu blog, só posso, infelizmente, pensar como você. ‘O hábito não faz o monge’ e os estudos de composição, como os de filosofia, não tornam aspirantes a  compositores ou filósofos realmente capazes. O tempo se encarregará da decantação, se  houver. A sequência de minha vida musical revelou-me uma verdade imanente: O melhor gramático não faz automaticamente um artista, um compositor, um escritor ou um filósofo. Para que o artista ou o pensador flua há a necessidade de outra flama, que implica a compreensão  íntima e a partilha das forças do Universo em si. Não nego que as matemáticas constituem uma das forças que arquitetam a música e o Universo, se bem que música e Universo existam antes das matemáticas, estas relativamente recentes. Todavia, tenho a mais extrema reserva em relação aos compositores que entram na música pelas matemáticas. Diria mesmo que, se eles entram por essa porta, não encontrarão aquilo que procuram, como no caso do ‘albergue  espanhol’ (lugar por onde passam pessoas de diversas procedências). Os compositores que vivem a acrescentar sons e notas, sob pretexto da infalibilidade de modelo matemático (o caso da série aplicada a todos os parâmetros musicais é um dos maiores equívocos teórico-musicais, a mais extrema incompreensão do material original da música), apenas produzem dramas acústicos e desentendimento literário para os ouvidos do público.

No ato de compor, jamais pensei nas matemáticas, jamais, mesmo considerando ser meu espírito rigoroso e matemático. Sob outro prisma, sempre estive em concordância com recomendações de Debussy, bem antes de conhecer suas frases e conselhos históricos. Nunca deixei de pensar no prazer. Fui por ele guiado. Permanentemente me perguntava como Debussy deveria fazê-lo no ato da composição: ‘Se você quiser levar o prazer aos seus ouvintes, torna-se absolutamente necessário  começar por ter prazer ao compor’. Desde que sentia o prazer desaparecer de minha partitura, eliminava a passagem ‘não prazerosa’, sem qualquer remorso. Por várias vezes fiz ligações ou junções pela técnica composicional pura, pela sintaxe teórica e as cadências. Todavia, permanentemente as aperfeiçoava da mesma maneira que o pedreiro faz junções artísticas ao manusear belas pedras ou um marceneiro realiza cuidadoso encaixe para associar dois bonitos pedaços de madeira entalhados. Após muitos anos de labor, creio ter chegado a um êxtase que bem antes, numerosos compositores excelsos sentiram, como Gabriel Fauré. É o momento em que concluo que teria dificuldade em ensinar música teórica, tantos são os termos e ‘teorias’ agregados de ordem acadêmica que surgem nessas novas tendências, ininteligíveis para o público no resultado final, a composição.

Cheguei a um ponto onde a música sai de meu cérebro (como sempre, mesmo nos tempos de juventude, quando a ausência técnica freava o processo criativo, evidentemente) diretamente sobre a partitura, sem interface acadêmica. Nenhuma outra reflexão sobre a técnica musical aparece no ato criativo, só ‘o prazer como regra’ a guiar meu mouse e meus dedos a partir do comando cerebral. Essa regra é minha condutora e sempre o foi. Ao contrário dos teóricos, a prática (práxis), o material a ser trabalhado, limado, recortado, lapidado, interessava-me. Única razão de viver na música, nela pensar. Recusei funções docentes na Universidade de Rouen e na École Nationale de Musique em Laval. Entendia não ser o ensino meu caminho primordial.

Quando você aborda esses temas, apreendo fortemente seu ponto de vista, que me parece essencial e central. Assiste-se hoje em França a figuras institucionais em postos de poder se atribuírem títulos (de glória) de compositores, de ‘criativos’ que, na realidade, não merecem. Justificam esses títulos e postos por seus magistérios no Collège de France, o cume do ensino no país para todas as ciências enquanto que suas músicas convencem um número bem pequeno de ouvintes. Eis um caminho tortuoso evidente do sistema atual, que encoraja não somente esse tipo de carreira, mas também provoca o desvio da verdade ‘eu sou um compositor’ ou sou um ‘filósofo’,  pelo razão de se ter estudado nas grandes instituições do mais alto nível  (o status de compositor considerado um pouco como  função administrativa, com intenções de luta para a ascensão social e profissional em direção ao ápice, quando o essencial seria o desenvolvimento da mente criativa). Considerem-se igualmente os modelos típicos de carreiras mediáticas maiores, mas duvidosas sob o aspecto essencial da arte, só obtidas pelos portadores de diplomas e títulos e saberes de toda ordem. Essa situação para compositores, filósofos, escritores… O sistema demonstra, pois, que basta ser o melhor gramático para ser adulado como o melhor artista institucional. Onde estão as obras mestras? Busca-se sempre! E aí reside o profundo, manifesto e trágico erro. Vemos estranhos sábios, e a música (a verdadeira, a linguagem do coração) desaparece pouco a pouco de seus propósitos musicais institucionais. ‘Atentem para a minha música inteligente’, dizem eles! ‘Os senhores não a compreendem, e eu vou explicá-las durante seis horas, pois’. ‘Sim, ela é inteligente, mas ela não me causa qualquer efeito, ela não me diz nada’, responde em coro o público. ‘O que importa’, respondem os compositores institucionais, ‘se o povo não ama nossa música, nossos propósitos ou nossa ideologia, mudemos o povo, divulguemos, divulguemos nossas obras sem cessar, até que o povo nos compreenda’… E eis que nos sentiríamos num Stalag ou Goulag, ou nas escolas de reenquadramento mental das ditaduras ou mesmo tendo de engolir o Pequeno Livro Vermelho, sem compreender o que realmente está escrito, recitando à maneira pavloviana propostas que não nos interessam.

O relativismo colocado em evidência pela mídia, mais a ideologia e o marketing institucional, estabelecem o mesmo nível para todas as obras. É um equívoco, evidentemente. Não obstante, os indivíduos e os povos, desde que tenham meios, direcionam-se para os melhores produtos, para as ofertas mais qualificadas, mesmo as culturais. Não podemos resistir por muito tempo aos efeitos do Belo, e o ‘Clair de Lune’ de Debussy é aceito em quantidade apreciável de filmes. Não se trata de problema de cultura ou de ensino. Cada indivíduo é tocado pelo que é bonito, e isso está inscrito na alma dos seres vivos desde o momento que  tiveram acesso ao primeiro por do sol. A arte é solar! Não sem razão as civilizações mais expressivas do planeta tiveram o sol como Deus (Egito, Atenas, Roma, Europa…). Sol, água e o Belo. Metaforicamente, temos num plano inverso a sombra, o escurecimento, a morte, o niilismo, a frieza técnica e matemática, a supressão da vida nas obras, o risco da perda da identidade.

A política e as artes do século XX omitiram aspectos vitais da arte e da política. Retiraram a alegria, a felicidade, o partilhar, a dança, o prazer de viver e de respirar… e pariram não apenas os piores crimes da humanidade, como tiveram necessidade de bunkers para proteger suas ‘obras’ e sua ‘ciência superior’.

Eis minha prosa desta manhã, que se junta de maneira visceral e espontânea à sua, cultivada, talentosa, plena de experiências profundas e sensíveis, mas não divergente da minha. Não poderia ter um outro discurso diante das situações pelas quais você passou com esse jovem professor de filosofia que se diz ‘filósofo’. Tudo que escrevo sobre a música se aplica igualmente à área desse jovem. Como eu te compreendo!!!”  (Tradução: J.E.M.).

Às observações sensíveis sobre a composição soma-se o desvirtuamento que se amplia, em termos brasileiros, na área da filosofia. Se apontamos Russell Jacoby e Vitor J. Rodrigues, que denunciam desvios do pensar direcionados a estranhos holofotes, como não mencionar três casos típicos oriundos dos bancos universitários. “Filósofos” em pauta: uma vocifera ódio visceral contra a classe média, outro incita a invasão da propriedade privada e outra mais estimula o vandalismo. Casos recentes. Os dois primeiros de São Paulo e o terceiro do Rio de Janeiro. Se pensarmos que o último ex-presidente aplaudiu a fala em que a classe média mereceu frases descabidas e, sob outro aspecto, também tem vociferado em linguajar tantas vezes chulo a proclamar o “ódio” que a oposição teria ao seu partido, muito fácil entender que essa palavra não é pronunciada pela dita oposição. Reflexões, apenas reflexões.

P.S. Após a publicação do post da semana recebi e-mail de meu dileto amigo Magnus Bardela. Tece reflexões a partir da afirmação de Servenière pela qual “não podemos resistir por muito tempo aos efeitos do Belo”, pois somos irremediavelmente por ele subjugados. Pertinente, insiro, dias após a postagem, as considerações de Magnus:

“Concordo com o Servenière. Como já bem explicitado, é mais fácil se esconder nas sombras da técnica fria. Nem todos possuem luz própria – até no espaço sideral é assim… Sob outro aspecto, comentaria sobre o processo criativo de ‘tentativa-e-erro’ (trial and error, termo bastante usado em inglês em tantas áreas do conhecimento).

Depreendi do texto que há no método de compor do Servenière esse processo iterativo do ‘fazer – julgar/analisar – refazer’, até que se atinja um patamar de aceitabilidade. O parâmetro do aceitável é a autocrítica, o acervo técnico e a consciência do Belo e do prazer – como ele próprio escreveu. Entendo que esse procedimento criativo seja natural no homem, presente no artesão mais simplório e até nos mestres que reverenciamos. Pode ser uma obviedade, mas, para mim, é esse o processo original, movido pela curiosidade e criatividade/inventividade, resultando na expressão verdadeira do indivíduo. É uma construção de “baixo para cima”, em que as experiências se somam, se agregam, atingindo novas alturas. Por sua vez, os métodos (as ‘matemáticas’), se adotados às cegas e de maneira obtusa, sem a bagagem da experimentação, como se fossem ‘atalhos’ ou ‘fumaças’ para distração, só trariam resultados desprovidos de qualquer identidade, absolutamente vazios e sem significado. Impossível a aplicação ‘de cima para baixo’. Não há fundamento! Pergunto: Não seria essa a evidência da indiscutível necessidade dos 90% de transpiração (leia-se trabalho, empenho, interesse, dedicação, vocação direcionada) para que proporcionem, se tivermos sorte, a existência dos 10% restantes de inspiração?”

For the past years I’ve been receiving feedback from readers. One in special, the French composer François Servenière, often honors me with valuable comments on the subjects I address. His messages enrich my blog thanks to the great depth of what he writes. It was not different with his e-mail about the self-proclaimed philosophers and composers, which I quote here so that readers may see the subject in a new light.