Quando a Alegria é Interior

Feliz o homem que torna seu o momento presente
e que pode dizer consigo mesmo: haja o que houver, hoje vivi.
John Dryden (1631-1700)

Antônio Lopes, Hélio, Luís Eduardo, Elson Otake e Carlos Batoré são companheiros de corrida. Faixas etárias diversas, pois Antônio tem 87 anos e Elson e Batoré chegaram aos 50. Todos correm bem e, se o decano já chegou a 600 corridas de rua, Hélio atingiu, aos 70 e tantos, 500. Luís Eduardo, dez anos mais jovem do que eu, suplantou 250 e Elson, o maratonista, diletíssimo amigo, tão presente em muitos blogs, tem no currículo bem mais de 100, quase todas seletivas, entre as quais várias maratonas no Brasil e no Exterior. Há ainda o Antônio Luis, sempre entusiasta nos seus 60 e tais anos e o jovem e rápido Anderson. Temos aqueles que correm desde os tempos do serviço militar, caso específico do caro amigo Nicola, que pratica pedestrianismo e jamais deixou de fazê-lo. Hoje, aos 81, não participa das corridas de rua, mas corre com amigos em Salesópolis e Campos do Jordão de 20 a 30 km aos fins de semana. Exemplo puro. Marcos Leite, sem participar de corridas de rua, corre bem em espaços onde treino e é um “papo” excelente. Carlos Batoré, amigo fiel, tem-me acompanhado nestes últimos anos, pois chega ainda às escuras e partimos para as provas do circuito de corridas, geralmente marcadas aos domingos, tanto em São Paulo como nas cidades próximas. Rápido e compacto. No que me concerne, obedeço aos limites de meu corpo, chegando ao fim das provas em posições intermediárias, sem jamais tentar esforços exagerados e com a pressão rigorosamente estável.

Num outro contexto, integro duas equipes. Uma, a TA LENTOS, é formada preferencialmente por nisseis ou sanseis e me “adotou” como integrante. Grupo muito unido. Somos em torno de dezesseis. Quanto à CORRE BRASIL, organizada e a ter o professor Augusto César a coordená-la, é uma equipe homogênea, que treina regularmente. Ranqueada, tem alguns corredores medalhistas.  Encontro seus integrantes na tenda que dá assistência à equipe em dias de prova e em treinos especiais e divertidos: Pico do Jaraguá (9km) – subida ao pico e descida cuidadosa -, Ibirapuera, Parque do Carmo… Nesses dias descontraídos o congraçamento é total.

As premissas fazem-se necessárias, pois esses eu conheço, mas há centenas de outros corredores que praticam o pedestrianismo sob os mais variados pretextos, sempre nessa habitual alegria de correr e de viver.

Comecei a prática muito tardiamente, tendo realizado a primeira prova de rua no dia 1º de Junho de 2008, dias antes de completar a sétima década. Estava e continuo sob os cuidados da excelente oncologista-hematóloga Profª Drª Ana Rita Burgos Manhani que, por volta de 2006, aconselhou-me caminhadas e um personal trainer. Das caminhadas à corrida foi questão de adequação. Portanto, aos 77, comemorar a 100ª corrida neste último dia 9 de Agosto na Corrida do Centro Histórico diz-me muito. Trata-se de uma surda emoção, que está bem a propósito com a epígrafe do post. Jamais andei durante provas, sempre corri, a obedecer um ritmo que me trouxe alegria confessa ao ganhar troféu na Corrida da Longevidade-Bradesco em Campinas, no final de Julho, na categoria de  corredores da minha faixa etária. Devo parte desse troféu ao excelente personal trainer Edgar Barbosa Correa, que tem trabalhado fortemente a parte corporal superior, musculação e respiração.

Foram diversos os posts em que escrevi sobre corridas de rua. Redijo-os com   plena satisfação. Congraçamento, a inexistência, entre milhares de corredores, de um só rosto tenso ou contraído – exceção aos atletas de ponta ou daqueles que buscam baixar seus tempos -, a impossibilidade de existir entre essa multidão um só fumante que, se houvesse, perderia o fôlego durante as primeiras centenas de metros, a contagiante euforia na chegada progressiva dos participantes que cumpriram suas metas individuais, tudo isso é realmente dadivoso. Sequer conheço a esmagadora maioria deles, mas só de observar esse contentamento sinto-me recompensado.

Durante esses mais de sete anos a participar das provas de rua foram muitas as condições de tempo, o que demonstra, por parte dos corredores, o prazer a independer do clima. Chuvas fracas ou aguaceiros, ventos fortes, baixas ou altíssimas temperaturas, sol escaldante, nada demove aqueles que gostam do pedestrianismo amador. Como extremos, citaria uma corrida em Itu, no interior de São Paulo, em que o termômetro beirava os 39º, e a corrida em Ninove, na Bélgica, em que ventava muito, chovia forte e estávamos com a temperatura em torno dos 5º. Nenhuma alteração quanto ao entusiasmo dos corredores. Se a causa é boa, o clima é pormenor.

Após cinco participações na corrida de São Silvestre, a mais tradicional do Brasil, deixei de frequentá-la. A morte do cadeirante Israel Cruz Jackson de Barros (31/12/2012), que poderia ter sido evitada fosse conservada a descida da Avenida da Consolação, e não a imposição da perigosa descida da rua Major Natanael, verdadeira “pirambeira”, evidenciou o descompromisso com a razão primordial do evento, a corrida como congraçamento e não para satisfazer interesses “estranhos”. Denunciara o percurso num blog, no início do ano a anteceder ao infausto acontecimento, mas os ouvidos da organização mantiveram-se tampados (vide blog “Corrida de São Silvestre e Equívocos – Quando Interesses Estranhos Sobrepõem-se à Alegria de Milhares”, 07/01/2012). Mencionei nesse post o preceito latino abyssus abyssum invocat (abismo a chamar outro abismo). Nada a fazer…

Ao fazer visita para aferição de exames que realizo regularmente, conversei longamente com a Dra. Ana Rita. Disse-me que mais acentuadamente males físicos se apresentam para os cidadãos devido ao acúmulo de stress e que as corridas têm sido minha maior salvaguarda, atestada pelos resultados de exames laboratoriais constantes. Para o leitor, diria que a relação humana, que mantenho majoritariamente com músicos do Exterior e com atletas amadores, está sob a égide do absoluto congraçamento. E é este sentimento de convívio que dimensiona ainda mais o prazer que sinto ao participar das corridas.

Para concluir, mencionaria aquelas que mais aprecio em São Paulo e cidades próximas: Juventus (Moóca, S.P.), Bombeiros (Ipiranga, S.P.), Santos Dumont (Campo de Marte, S.P.), Graac e Cidade de São Paulo (Ibirapuera, S.P.), Centro Histórico (Centro de S.P.), Trabalhadores (Parque do Carmo, S.P.), Longevidade – Bradesco (Ipiranga, S.P. e Taquaral em Campinas), Shopping União (Osasco), Cidade de Louveira, Shopping em Mogi das Cruzes…

Many times in this blog I’ve mentioned the benefits of running for body, mind and spirit. It is a great stress-reliever, making us feel energetic and euphoric. It is also a chance to socialize with other people. This week I’ve reached my run nº 100, a personal landmark. In this post I summarize my seven years of runs, talking about the lot I’ve experienced and learned along the way.