Uma Emoção a Mais: a Recepção das Mensagens
Será preciso muita disciplina,
força de vontade e controle sobre as próprias emoções
para calçar o tênis e arranjar um tempo.
Nuno Cobra
O post sobre a centésima corrida de rua teve comentários de aficionados pela modalidade esportiva e de leitores que me prestigiam ao longo da existência deste blog. Tive prazer imenso ao ler mensagens que transmitem o estímulo apreendido a partir dessas considerações sobre qualidade de vida. Alguns voltaram-se às práticas esportivas após blogs em que periodicamente comento determinada corrida. Pessoalmente, iniciei as corridas quando um casal, Marcos e Ruth, que corriam pela minha cidade-bairro, vendo-me caminhar e dar pequenos “tiros” (pequenas distâncias com ritmo mais acelerado), incentivaram-me, aconselhando procedimentos básicos. Era o ano de 2006 e a minha saúde estava sub judice. A consequência já narrei aos leitores no decorrer dos posts, e hoje a corrida de rua faz parte de minha vida.
Selecionei seis mensagens. As duas primeiras de incentivo, sendo que a de minha neta Ana Clara (23) levou-me às lágrimas. Duas outras, em que modestamente sinto-me “responsável” quanto ao estímulo transmitido através de minha prática nessa atividade de atleta amador, acrescido da faixa etária que não pode ser negligenciada. As duas últimas de solidariedade, pois de companheiros de passadas nas tantas corridas de rua.
Magnus Bardela, sempre mencionado em meus posts, escreve: “Mais do que conquistar as ruas e corridas, você tem o privilégio de ter, entre os seus, o verdadeiro congraçamento de amor e admiração”.
A mensagem de Ana Clara, muito mais do que o incentivo, traduz a bela alma de minha querida neta: “Vovô querido, muito me orgulha ver estas fotos e ser testemunha desta conquista que vai além da primeira corrida com três dígitos. Não são somente 100 corridas. São 100 vezes que você acordou antes do sol nascer. São 100 vezes que você se inscreveu com vontade de superar mais um obstáculo. São 100 vezes que você foi dormir pensando que uma nova história te esperava no dia seguinte. São 100 vezes que você se preparou no dia anterior (com os alfinetes na camiseta, com a garrafa d’água, a toalha e a camiseta extra). São 100 vezes que você alcançou a chegada. São 100 vezes que você foi admirado pelos demais corredores pela sua idade e perseverança. São 100 vezes que você chegou em casa satisfeito por mais uma missão cumprida. São 100 vezes que o ‘talento’ percebeu que não estava tão lento assim. São 100 vezes que você se orgulhou da escolha de começar a correr. São 100 vezes que você salvou fotos, as imprimiu, e colou juntamente com o número da corrida no álbum. São 100 medalhas. São 100 corridas SEM desculpas ou desistências. São 100 vezes que você acordou determinado a lutar pela vida. Não pude estar presente nestas 100 corridas, tendo participado de duas delas, mas tenha certeza que você recebeu 100 aplausos, 100 sorrisos e 100 momentos de orgulho da sua querida neta. Esta foi minha singela homenagem ao meu queridíssimo avô! Te amo! Parabéns de novo!”. A alusão ao talento deve-se a uma das equipes da qual faço parte, a TA LENTOS. A outra é a Corre Brasil.
De Portugal chega-me mensagem da prezada amiga Maria Celestina Leão Gomes: “É uma honra sentir, mesmo à distância, um amigo dessa grandeza, destemido, arrojado e perseverante!!! Adorei a reportagem da 100ª Corrida de Rua. Tanto as palavras como as imagens. A tua alegria, estampada no rosto, conseguiu envergonhar-me. Há tanto tempo que ando para encetar corrida ou natação com regularidade, mas, porque sozinha, perco o entusiasmo e vou sempre deixando para as calendas gregas todo o material que coloquei no saco de desporto. Contudo, o teu espírito de luta há de dar-me força para esta inércia pessoal, que tenho trocado pelas várias lutas colectivas. Se não arranjar tempo em setembro, certamente que iniciarei em outubro, mesmo sem acompanhante. Que bom teres ultrapassado um período tão duro da tua vida. Hoje és um Homem Novo. Parabéns e continue com essa determinação. Como a distância não permite um apertado abraço, envio-te um platonicamente – Grande Herói”.
François Servenière, compositor e pensador francês, parceiro contínuo de meus blogs, poliesportista na juventude, confessou-me em e-mail bem anterior que retornou à prática após meus textos periódicos sobre as corridas. Sinto-me deveras honrado. Tem interesse seu relato, pois Servenière comenta suas “transformações” corporais, com reflexo nítido na mente criativa, após a retomada: “Queria felicitá-lo pela centésima corrida de rua, sobretudo pelo fato que desconhecia de que você iniciou essa atividade física aos 70 anos. É impressionante! Endosso tudo o que está relatado em seu blog. A corrida ou a atividade física são necessárias nessa incessante luta contra o stress, as doenças, o envelhecimento e a vida difícil de nossa época. Ignorei esses sinais no meu corpo durante os principais anos de minha vida profissional, obcecado que estava pela performance musical a desenvolver. O corpo vingou-se. Estava eu completamente desolado, pois fui da juventude, aos 35 anos, um formidável esportista, como você bem sabe: meia maratona, natação, esqui extremo, caminhada pelas montanhas, alpinismo e windsurf… Após, a vida, a profissão de músico e a família foram prioridades. Morava em Paris. Retornei ao campo após 20 anos desse ritmo alucinado, pois não o suportava mais, e certamente sucumbiria. Tantos outros artistas tomaram esse rumo, não aguentando mais a pressão imbecil.
Não mais faço treinos a correr e não farei, como você, corridas de rua, tampouco natação, movido pelo fato de ser relativamente pesado e ter pernas de esquiador e caminhante das montanhas. Se correr, meu peso sobrecarrega as articulações, mormente em solo duro. Felizmente encontrei imenso prazer com esse famoso aparelho transport (Elíptico), com o qual realizo 90′ de caminhada diariamente, 45′ de manhã e 45′ à noite, sem choques, harmoniosamente.
Logicamente não tenho a comunhão social que lhe é característica em suas corridas de rua, mas quanto ao esforço físico, entendo-o idêntico. Sempre fui um solitário, mesmo nas minhas caminhadas pelas praias. No meu aparelho posso programar dificuldades, arritmias. Realizo ainda 10 minutos de alongamento pela manhã e à noite, com movimentos de crawl e aquele movimento de braços que você me relatou em certa mensagem, ou seja, os dedos das mãos nos ombros, muito eficaz para a respiração e para as espáduas.
Comprei meu aparelho Elíptico no começo de Junho. Parece-me que ele faz parte de minha vida desde sempre. Estou bem menos estressado, muito mais feliz, pois reencontro minha juventude perdida e consigo subir as escadas de quatro em quatro degraus. Dentro de um ano estarei em melhor forma. Há vinte anos não sentia esse real prazer que é resultado da prática esportiva.
O exposto é razão primordial para que compartilhe totalmente do seu entusiasmo pela corrida de rua. Quem sabe, quando as crianças crescerem e os encargos familiares se tornarem menos pesados, recomeçarei a correr pelas praias, como há 25 anos. Adorava todo esse ambiente em torno da atividade física. A idade não é, evidentemente, um problema e você é um exemplo singular. Só a vontade é a chave desses milagres”. ( Tradução: JEM ).
Elson Otake, maratonista competente, conselheiro impecável, jamais se furtando à observação que conduz à boa postura, velocidade e relaxamento. Foi Elson que me introduziu em sua equipe tão cordial, a Corre Brasil. Escreveu-me: “Somos testemunhas de que as corridas aproximam as pessoas, fiz muitas amizades diletas por conta dessa atividade, inclusive a sua. Foi com prazer que compartilhamos alguns treinos e corridas. (Campo Belo, Brooklin, Descobrimento, Pico do Jaraguá, Mooca, Shopping D, Parque do Carmo, Louveira, etc.). Pude compartilhar também parte das minhas experiências e conhecimentos adquiridos, como escolha do tênis e sua higienização sem imersão na água, hidratação durante a corrida, gel de carboidrato diluído em água, eventual suporte de sites de internet de corrida, etc. Desde que nos conhecemos, evoluímos no número de corridas, na qualidade da corrida, na experiência, nos novos lugares que conhecemos (no Brasil e no Exterior), nas novas amizades e nos novos conhecimentos da atividade. Acompanhei a evolução dos seus registros de corrida com resultados, números de peito e fotos, além do seu quadro de medalhas e espero conhecer a sua futura sala de troféus. Senti uma ponta de orgulho quando fiquei sabendo que minha indicação para você correr a prova do circuito da Longevidade de Campinas gerou como fruto seu merecido troféu. Considero-me mais saudável do que quando comecei a correr. Conheço melhor o funcionamento do meu corpo e suas limitações. As lesões e contratempos foram cuidadosamente tratadas e me fazem valorizar ainda mais cada treino e cada nova conquista. Espero chegar na sua idade podendo ainda desfrutar dos benefícios da corrida com saúde. Na nossa idade o importante não é correr mais rápido e sim a quantidade de corridas com qualidade, saúde e diversão”.
A centésima primeira corrida de rua foi consequência. Deu-se no dia 23 de Agosto na 10ª Corrida de Rua Juventus, na Mooca (10k). Mais acentuadamente, entendo-a como a mais bem organizada prova de São Paulo em todos os aspectos, inclusive nos brindes, uma quase cesta básica!!! Estava no meio da prova quando o caro amigo Luís Eduardo Brandão Machado chega ao meu lado e corremos juntos até o final. Tirou algumas fotos durante nosso percurso. Ao terminar, disse-lhe que escreveria o Ecos da centésima corrida, pois recebi muitos e-mails, o que me alegra muito. As fotos por ele enviadas vinham acompanhadas do depoimento de um partner de tantas provas, generoso nas passadas, pois onze anos mais jovem, corre mais rápido do que o decano da equipe Corre Brasil, mas prazerosamente realiza o percurso ao meu lado.
“Conheci José Eduardo em corridas de rua, somos parceiros sempre que nos encontramos, isto é, corremos juntos, ou do começo ao fim ou quando o encontro durante o trajeto. Temos um jeito parecido de participar destas provas de rua, ambos encaramos como um passatempo que, além de fazer bem à saúde, reúne pessoas do bem. Admiro muito o José Eduardo, em seus 77 anos é um jovem de corpo, alma e espírito, sempre sorrindo, mostrando uma vontade sem igual, de dar inveja aos mais jovens”.
Continuarei a correr até não sei quando, pois o curso da vida tem seu ritmo e duração individual precisa. Importa apreender momentos da existência e vivê-los com intensidade.
O blog entra sempre aos cinco minutos dos sábados. Abri pela manhã e encontro mensagem da dileta amiga e professora Jenny Aisenberg. Transcrevo-a, pois comunga com minha reação frente à mensagem de minha neta Ana Clara: “Que alegria para um avô receber uma mensagem como essa! Ter um neta como essa! Ana Clara é um ser único! Sua admiração, sua ternura para com o avô…como é comovente! José Eduardo, caro amigo, obrigada por partilhar comigo esse momento de puro encantamento!
This week I publish messages from readers with comments on my road race nº 100. Many say they have started to exercise regularly encouraged by my posts, something I am very proud of. A special mention to my eldest granddaughter, Ana Clara, whose message touched me to tears and actually says a lot about the kind of person she is.