Évora, Tomar e outras considerações


Prossegue a viagem. O recital em Évora, na igreja do belo Convento Nossa Senhora dos Remédios, teve recepção calorosa. Abrigado pelo Eborae Musica e patrocinado pelo Centro Ward de Lisboa, o concerto fez parte das apresentações de obras basilares de Fernando Lopes-Graça, inclusive dos 12 Cantos Sefardins. Ao regressar a Oeiras (próximo a Lisboa), o consagrado compositor Eurico Carrapatoso, o competente musicólogo Pedrosa Cardoso e eu almoçamos e apreendi algo inusitado, que terá apresentação marcada para Dezembro próximo. Se no ano passado, na Bélgica, gravei Estudos Contemporâneos de François Servenière, Carrapatoso, Arnaoudov e Peixinho para selo francês (lançamento 2017), considere-se que do CD constará a Missa sem Palavras (cinco “Estudos Litúrgicos”), de Carrapatoso, verdadeiramente multum in minimo. Eurico presentemente parte para uma empreitada hercúlea, inédita em termos musicais, pois o multum em sua amplidão será revelado ao final do ano. Trata-se da criação majestosa “Dece do Ceo”, sobre soneto natalício de Luiz Vaz de Camões. Encomenda da Academia de Música Santa Cecília, a composição está sendo escrita para soprano solo, coro de câmara, coro misto grande (300 vozes!!!), coro infantil (100 vozes) e para os seis órgãos históricos do Convento de Mafra: órgãos da Epístola, do Evangelho, de São Pedro de Alcântara, de Santa Bárbara, do Sacramento e da Conceição. Esses instrumentos, todos das fronteiras dos séculos XVIII-XIX, estão integrados na majestosa Basílica de Mafra. Deverá ser espetáculo a não ser esquecido, mormente graças à maestria do compositor Eurico Carrapatoso.

Estive em Sintra, na bela e ampla morada de Romeu Pinto da Silva. Estamos a estudar as obras de Lopes-Graça que deverão frequentar minha mente e meus dedos proximamente. Repertório dos afetos, diria, pois Lopes-Graça é largamente um de meus eleitos. Durante a semana tivemos outro encontro, a fim de desenvolver projetos. Romeu Pinto da Silva colheu durante décadas observações do compositor e é autor do catálogo mais abrangente das criações de Lopes-Graça, ao meu ver. Trata-se da “Tábua Póstuma da Obra Musical de Fernando Lopes-Graça”.

Tivemos recital em Tomar e o calor receptivo foi intenso. Gosto imenso de tocar nessa encantadora cidade por razões claras. No início da década de 1980 lá me apresentei em três recitais promovidos pelo Conservatório, então dirigido pela sempre lembrada professora Manuela Tamagnini. A partir dos anos 2000 já foram inúmeras as vezes em que toquei sob o patrocínio do Canto Firme. Tomar, a cidade dos templários e do Convento de Cristo (patrimônio da humanidade), é aquela que viu nascer o compositor homenageado, Fernando Lopes-Graça (1906-1994). Pela primeira vez a cidade ouviu os 12 Cantos Sefardins para canto e piano na bela voz da mezzo-soprano Rita Morão Tavares. O recital foi apresentado à noite e no período da tarde, Pedrosa Cardoso realizou magnífica palestra sobre os “Cantos…” na vetusta Sinagoga de Tomar sobre o tema “A alma da portugalidade em Viagens na Minha Terra e em 12 Cantos Sefardins”. Completei o programa com Canto de Amor e de Morte e Viagens na Minha Terra. A acolhida tomarense caracteriza-se pela empatia e confraternização. António Sousa, professor e regente coral do Canto Firme, ao longo dos anos tem desenvolvido trabalho imprescindível para a preservação e divulgação do rico repertório coral de Lopes-Graça.

Neste 14 de Maio teremos a última apresentação do programa Lopes-Graça. Dar-se-á no Convento dos Capuchos, na Almada, em recital promovido pela Associação Lopes-Graça e pela Câmara Municipal de Almada. No próximo blog deverei inserir algumas fotos da digressão. Tive problemas, mercê de minha “idiossincrasia” com a parafernália tecnológica. Perco-me, eis a verdade. Em São Paulo saberei selecionar imagens. Narrarei um crescendo que esteve a acontecer em torno da música oferecida extra-programa.