Tenhamos ainda esperanças!
Cada um de nós emergirá ao fim do Ano Novo, ou maior ou menor;
ou então, absolutamente não teremos crescido,
permanecendo em completa inércia,
exatamente aquilo que agora somos.
Porém, para aqueles dentre nós que sentem ardor,
qual o significado de um Ano Novo?
Somos semelhantes a viajantes, penetrando,
em nossa longa jornada, por um país novo e desconhecido,
onde fados estranhos e estranhas aventuras nos esperam.
Nesta terra,
à medida que o peregrino observador a percorre,
oportunidades se acumulam sob seus passos.
Entretanto, para os utilizar, necessita ser sábio e estar alerta.
Pois de uma coisa deve lembrar-se,
que é um viajante e que o que lhe compete é,
não deter-se, mas passar adiante.
Jiddu Krishnamurti (1895-1986)
O acúmulo de situações estressantes durante 2016 não traduz panorâmica risonha. Pelo mundo e em nosso país, assistimos, tantas vezes atônitos, aos mais díspares acontecimentos, preponderando sempre o drama e o trágico. A mídia a cada ano evidencia de maneira mais cruenta uma visão sádica do mundo em que coabitamos. Qual o jornal televisivo que se sustentaria sem priorizar o crime, o banditismo, a perversidade e a corrupção, esta com seus adoradores pertencentes ao círculo dos políticos, empreiteiros e daqueles que pululam nesse lamacento meio, a deixar o Estado desprovido de estruturas sólidas. Manchetes de jornais (veículo em franco declínio) e capas de revistas conseguem leitores ávidos em conhecer o que não deu certo, qual a desgraça do dia anterior, o nome dos mencionados nas delações premiadas, os Poderes infectados.
Walter Benjamin já observava que o cidadão comum está mais interessado no acidente ocorrido perto de sua morada do que nas tragédias bem alhures. As toneladas de sepultos, consequência das insanas batalhas no Oriente Médio, são vistas de maneira até rotineira!!! É tão verdade e pode ter fácil aferição no cotidiano, pois o crime hediondo, ocorrido no dia anterior nas cercanias, tem maiores possibilidades de ser tema de conversações do que os bombardeios e a dizimação de crianças, mulheres e idosos sírios promovidos pelos ditadores da Síria e da Rússia.
Do conturbado Oriente Médio, da Ásia e da África, levas de imigrantes chegam ao litoral europeu. O historiador Eric Hobsbawm (1917-2012) já preconizava, muitas décadas atrás, que até 2050 o hemisfério norte, Europa e Estados Unidos estariam totalmente invadidos pelas populações mais ao sul. As convulsões mundiais só tendem a acentuar o temor dessa profecia. Parte considerável dos que chegam buscam impor seus costumes e sua religião, não se adaptando às culturas ocidentais sedimentadas através dos milênios. Países que preponderam no cenário mundial preferem o emprego de eufemismos para o não enfrentamento do problema fulcral. Haverá gigantesco tributo a pagar!!!
Comoção absoluta advém quando ato terrorista, geralmente provocado por tresloucados ligados ao EI, abala uma cidade de maneira covarde. O tema prepondera durante alguns dias para descer às profundezas abissais das estatísticas.
Em termos brasileiros, o impeachment da presidente teve desenrolar traumático e durante meses ocupou parte primordial da mídia e das expectativas da população. Após 13 anos, “o projeto criminoso do Poder”, assim denominado pelo Ministro do STF, Celso de Mello, deixava as estruturas do Estado. Espera-se que já no próximo ano avanços nas reformas aconteçam, apesar de embates que certamente serão promovidos por sindicatos e opositores, no caso, propensos ao pior.
A constatação de que o esporte na atualidade tem muito maior apoio do que, hélas, segmento das artes, a música, pode ser sentida. A tragédia a envolver a equipe de futebol da Chapecoense recebeu homenagens fúnebres em todo o mundo, de um Real Madri e Barcelona da Espanha, dos grandes times da Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal a time da terceira divisão na China. A comoção mundial foi plena. Neste fim de ano, outra tragédia, a queda do avião russo que levava cantores do Exército – conhecidíssimos outrora como do Exército Vermelho, durante o regime soviético na antiga URSS – e mais dançarinos, músicos e tripulantes. Ao todo, 92 sucumbiram. Se o Exército Vermelho de tempos outros tem histórico sinistro, o coro masculino encantava o Ocidente com suas melodias, acompanhado de dançarinos em evoluções acrobáticas, perpetuando o folclore russo. Que eu saiba, orquestras espalhadas por tantos países não prestaram homenagens póstumas. Creio que na Rússia devam ter acontecido tributos. O Presidente Putin decretou um dia, friso, um dia apenas de luto oficial!!! Justamente a arte musical que, em princípio, revela a mais intensa emoção e num país de extraordinária tradição relacionada à música erudita e folclórica. Também sinais dos tempos. Teria havido algum segmento expressivo nos noticiários de nossa lamentável TV aberta? A mortes de David Bowie e George Michael marcaram espaços enormes nos noticiários. Ao menos, como dado cultural, poderiam ter dedicado espaços à história dos ascendentes desse numeroso grupo de músicos, legado de uma tradição fabulosa.
Pesquisa recente apontou para a palavra “indignação” como a mais respondida por questionados sobre o ano que ora finda. Outras palavras citadas não são alvissareiras. Todavia, houve alguém a citar esperança.
Nessas incertezas em que nosso mundo mergulhou, ainda mais com a eleição do verborrágico e intempestivo presidente norte-americano, ainda é possível acreditar. O marco essencial continua a ser a família, insistentemente solapada por tantos. É salvaguarda, assim como amizades profundas. Apesar de atingida em seus flancos pela total desorganização social, pelo avanço dessa praga, a droga, e pela violência vista como rotina, só no âmbito da família algo de iluminado poderá advir, pois a Escola, que deveria ser a sequência do aprendizado e o caminho que levaria o homem à sua trajetória íntegra, está contaminada nas entranhas e alunos manipulados têm hoje maior autoridade do que o mestre em nosso país!!!
Apesar de um post sombrio, tenho esperanças de um mundo melhor. Seria utopia assim pensar? Ilustração e epígrafe apontam para uma mesma senda: somos todos peregrinos. Um Ano Novo melhor é o que eu desejo aos prezados leitores e a seus familiares e amigos.
New Year and the reflections it gives rise to: political unrest and corruption in Brazil, violence, poor education, schools that are failing our children and our society. In the Northern hemisphere, invasions of illegal immigrants, intolerance, terrorist attacks. Hoping that family values will not be wasted in face of the dark perspectives ahead of us, I can only wish you all a New Year filled with promises of a brighter tomorrow.