Navegando Posts publicados em janeiro, 2017

Tema que leva ao debate de ideias

Na civilização do espetáculo,
o intelectual só tem interesse
se seguir o jogo da moda,
tornando-se um bufão.
Mario Vargas Llosa

Dá-me alegria receber mensagens  comentando   determinados blogs. O anterior suscitou uma série de e-mails bem diversificados, pois leitores saudaram as posições de Fernando Pessoa e outros entenderam necessário frisar a presença dos críticos competentes que buscam sempre colocações independentes, não atreladas a grupos de opinião, tampouco às pressões da própria empresa que publica seus textos literários específicos.

Dessas mensagens, uma despertou-me para um pormenorizar maior. O professor Gildo Magalhães da USP estimula-me a voltar ao tema. Escreve: “Posso sugerir que, num próximo blog, você trate do outro lado da moeda: o esforço que, não obstante toda a verdade deste blog, deve dispender o crítico sério e honesto para exercer um julgamento o melhor possível, ainda que falível e circunstancial.”

Entendo lindamente a posição do professor Gildo Magalhães, tanto mais que expõe uma realidade rara, mas existente, a do crítico competente em nossas terras. Fernando Pessoa é bem claro, apesar dos múltiplos questionamentos que coloca em seu texto sobre o crítico competente. Acredito que há a necessidade imperiosa de o crítico ser conhecedor pleno de sua área. Deveria haver na universidade uma disciplina específica para a formação do crítico, e o ingressante deveria ser conhecedor de sua área específica da arte ou da literatura. Ter-se-ia uma disciplina que orientasse sobre a estrutura da crítica, as abordagens avaliativas, o método a ser empregado, a possível comparação histórica com outras obras e, a pairar sobre o texto crítico, a descoberta ou a ratificação da qualidade do talento em pauta. Não tenho conhecimento de que haja tal disciplina, salvo melhor juízo.

A professora universitária Jenny Aisenberg escreve: “Mais um primoroso post abordando a controversa questão da crítica, desta vez à altura do pensamento provocativo do grande poeta e crítico literário Fernando Pessoa! Parabéns, José Eduardo! A propósito, vale a pena conferir artigo do crítico Sydney Molina, publicado na Folha de São Paulo de 19 de janeiro. Entre outras considerações interessantes, dois CDS, dedicados respectivamente a Maury Buchalla e Cláudio Santoro, são analisados com bastante propriedade. Exceção à incompetência generalizada?”

Creio que a professora Jenny Aisenberg aborda tema fulcral já exposto reiteradas vezes em meus blogs. Li essa crítica e endosso as palavras da professora. Sidney Molina é músico de fato e de direito, pois violonista de mérito, mestre e doutor em música. Fundador do respeitado Quarteto de Violões Quaternaglia, já se apresentou com o ensemble em muitos países. Tem livros e artigos publicados sobre música. É professor universitário. Corresponde perfeitamente àquilo que considero crítico competente, pois do métier e com profundo senso de apreciação musical. Fá-lo com propriedade ao pormenorizar-se, mormente nos CDs “Santoro inédito”, com obras do ilustre Cláudio Santoro (1919-1989), e “Portrait”, com criações de Maury Buchala, hoje com carreira em bela ascensão como compositor e regente na Europa. Coincidentemente, Maury Buchala realizou-se dentro desse espírito tantas vezes por mim salientado nos blogs. Formou-se na Universidade de São Paulo com a nota máxima e tive o prazer de tê-lo como aluno durante os quatro anos do curso. Assim como Luiz de Godoy, hoje kapellmeister dos “Meninos Cantores de Viena”, Buchala tornou-se músico, essência essencial daquilo que almejei para os alunos que frequentaram minha classe de piano. Ambos têm domínio pleno do instrumento, frise-se, mas são, prioritariamente, Músicos na acepção.

A jornalista e escritora Lucita Briza escreve: “Gostei de seus comentários em cima do texto de Fernando Pessoa, sobre a avaliação de uma obra artística feita pelos críticos – e a diferença essencial entre sucesso momentâneo e sua permanência na posteridade. Na mesma direção, li hoje na página C6 da Folha de S. Paulo um artigo interessante de João Pereira Coutinho, que assim conclui: … os aplausos da crítica ou das massas podem fazer bem ao ego – ou à bolsa. Mas quem escreve para as massas ou para a crítica arrisca-se a perder a eternidade.”

Continuo a insistir, exemplificando minha área de atuação, a Música, que sem o embasamento pleno um “crítico” poderia se ajustar àquilo que em França é denominado o soi-disant. Na área do esporte, futebol mais especificamente, proliferam comentaristas preferencialmente jovens que opinam ex-catedra e que têm parco conhecimento das técnicas e das táticas do esporte bretão. É fato, e rádio e televisão exibem-nos cotidianamente em suas acaloradas elucubrações, tantas vezes verborragias vãs. Defenderei sempre a competência que existia sobejamente em meados do século XX. Já mencionei reiteradas vezes as presenças de críticos que tinham pleno conhecimento da área musical, exercendo a profissão de músicos e respeitados no meio artístico: Caldeira Filho, Dinorá de Carvalho, H.J.Koellreutter, Cyro Monteiro Brizola, L.C.Vinholes, Arthur Kauffmann e outros. Hoje, rarearam-se os espaços nos jornais e revistas para a crítica diária de música de concerto e houve queda acentuada da competência de seus redatores.

A quase desativação da crítica musical, no caso, e o reducionismo crítico em outras áreas da Arte, assim como as “camaradagens” de que nos escreve Fernando Pessoa, têm levado contingente apreciável de leitores ao desalento. Contrariamente, raridades existem entre os críticos, que não passam despercebidos em pareceres profundamente embasados.

Um cenário mais hermético pode ser encontrado na universidade e tantos textos críticos generalizados tornam-se ininteligíveis para leitores “extramuros”. Mario Vargas Llosa, em “La civilización del espectáculo”, escreve não apenas a considerar a desativação atual da crítica, o recolhimento nas universidades, como remonta ao passado. Escreve:

“Tampouco é casual que a crítica tenha pouco a pouco desaparecido dos nossos meios de informação, refugiando-se nesses conventos de clausura que são as Faculdades de Humanidades e, em especial, os Departamentos de Filologia, cujos estudos só estão acessíveis aos especialistas. É verdade que os diários e revistas mais sérios publicam todavia resenhas de livros, de exposições e concertos, mas quem lê esse paladinos solitários que tratam de colocar certa ordem hierárquica nessa promíscua selva que se converteu a oferta cultural de nossos dias? O certo é que a crítica, que na época de nossos avós e bisavós desempenhava um papel central no mundo da cultura, pois orientava os cidadãos nessa difícil tarefa de julgar o que ouviam, viam e liam, hoje é uma espécie em extinção com a qual ninguém se importa, salvo quando se converte também em diversão e espetáculo”. A corroborar a posição basilar de Vargas Llosa, diria que após meu recital no Teatro Colombo, aos 10 de Dezembro de 1954, os principais jornais de São Paulo publicaram críticas nos dias subsequentes.

Em posts bem anteriores já abordava posições de especialistas sobre a a crise da decadência cultural (vide: “Os últimos intelectuais”, de Russel Jacoby, 21/03/2009, e “Teoria da estupidez humana” e “A nova ordem estupidológica”, de Vítor J. Rodrigues, 14/08/2010).

Last week’s post with poet Fernando Pessoa’s thoughts about critics and their capacity to evaluating art got much feedback. Today I publish messages received from readers with their own ideas on the subject. Though sharing the poet’s disappointment with art critics, some point out there are exceptions to the rule and that professionals with the study and aesthetic sensibility required in the appreciation of art can still be found.

 

Poder-se-ia transplantá-las para a atualidade

Sim, o crítico dos críticos é só ele – o tempo.
Infalível e insubornável.
As grandes obras são como as grandes montanhas.
De longe veem-se melhor.
E as obras secundárias,
essas quanto maior for sendo a distância,
mais imperceptíveis se irão tornando.
Guerra Junqueiro
(Prefácio à segunda edição de “A Velhice do Padre Eterno”, 1887)

Em reiterados posts ao longo de quase 10 anos ininterruptos de blog, a crítica musical brasileira é abordada nos aspectos fulcrais, concernentes à raridade e à falta de competência específica daqueles que a ela se dedicam, salvo alguma exceção. Como causas desse desmonte, a derrocada dos suplementos culturais livres de quaisquer posições ideológicas, a massificação ascendente, que está a levar a cultura dita clássica ou erudita à situação limítrofe e, consequentemente, ao nivelamento por baixo daqueles que se dedicam à crítica musical, alguns deles sem formação na área e oriundos de outros compartimentos da comunicação.

Estou a ler uma obra com seleção de textos de Fernando Pessoa (1988-1935) e que integra a Coleção “Citações e Pensamentos”, organizada por Paulo Neves da Silva (Alfragide, 12ª edição, 2016). Foi-me oferecido pela dileta amiga e competente gregorianista portuguesa Idalete Giga, que anteriormente me presenteara com outro livro da coleção, a privilegiar escritos do grande pensador de Portugal, Agostinho da Silva.

Não deverei fazer resenha do livro em apreço, mas pontuar, ao longo da profícua leitura, tópicos que me parecem relevantes sobre artes em geral e literatura, obviamente. No compartimento “Reflexões e Pensamentos”, há segmento intrigante no qual Fernando Pessoa se posiciona sobre a crítica: “A inutilidade da crítica”, que integra “Ideias Estéticas – da Literatura”. Algumas frases merecem um pormenorizar, pois precedem em quase um século posições defendidas em inúmeros posts inseridos neste espaço e que se têm agravado. Escreve Fernando Pessoa: “Que a obra de boa qualidade sempre se destaca é uma afirmação sem valor, se aplicada a uma obra de qualidade realmente boa e se por ‘destaca’ quer-se fazer referência à aceitação na sua própria época. Que a obra de boa qualidade sempre se destaca, no curso de sua futuridade, é verdadeiro; que a obra de boa qualidade, mas de segunda ordem, sempre se destaca na sua própria época é também verdadeiro”. O poeta caracteriza bem “na sua época”, pois a perenidade, pressupõe-se, não estaria garantida. Sutileza.  Continua: “Pois como há-de um crítico julgar? Quais as qualidades que formam, não o incidental, mas o crítico competente?”.  O escritor penetra num campo espinhoso da avaliação. São tantos os fatores que levam jornais e revistas a aceitar determinado crítico. Influência, relações, acolhida por parte de leitores, que nem sempre distinguem o que poderá ser um simulacro. Fernando Pessoa apreende o cerne: “Quão competente é, porém, o crítico competente? Suponhamos que uma obra de arte profundamente original surja diante dos seus olhos. Como a julga ele? Comparando-a com as obras de arte do passado. Se for original, porém, afastar-se-á em alguma coisa – e quanto mais original mais se afastará – das obras de arte do passado”. O escritor está a tratar da competência em graus de intensidade. Seria plausível imaginar a não competência, e ela existe. Neste caso, fugirá o crítico da avaliação de obra original pela ausência do embasamento na área específica, e muitos recorrem, como salvação momentânea à incompetência, ao outro, visitante de mostra, ouvinte de concerto, leitor do poema, no desiderato precípuo de obter informações que o ajudem à elaboração de seu texto, que pode até conter  fluência sedutora.

Fernando Pessoa expõe: “Persuadir-se-ia alguém de que, se fossem publicados hoje o Paraíso Perdido, ou Hamlet, ou os sonetos de Shakespeare e de Milton, lograriam eles cotação acima da poesia de Kipling ou de Noyes, ou a de qualquer outro cavalheiro semelhantemente quotidiano? Se alguém se persuadisse disso, seria um louco. A expressão é curta (?), não doce, mas pretende-se que seja verdadeira”. Observe o leitor que Pessoa dá à palavra “época”, empregada anteriormente, uma outra roupagem, “quotidiano”. A recepção crítica obedece a leis de mercado e, desde que o crítico seja aceito por seus leitores, importaria menos a qualidade de determinados autores ou artistas, mas aquilo que lhes é transmitido. O mediático quase sempre se impõe, independentemente de valor ou não.

Fernando Pessoa, nesse precioso texto, compara a obra de boa qualidade com outra secundária de boa qualidade, mas a simples leitura da palavra “secundária” já a situa em patamar tão bem explicitado por Guerra Junqueiro na epígrafe. Situação dramática estaria reservada à obra de qualidade, mas secundária que, por falta de competência real de um crítico, não é revelada por motivo da possível exposição plena de quem escreve. Teria ele convicção ao opinar? E se estiver absolutamente equivocado? Seria função do crítico musical entender que um jovem talento é realmente bom, do crítico literário apreender da pena de um novel poeta o significado que está além dos versos, de um crítico de artes visuais entender o valor intrínseco de um artista, independentemente da pressão de marchands que têm seus preferidos, tantas vezes secundários, terciários… Esses são aspectos fundamentais dos quais o crítico, sem a formação estruturada da área da qual escreve, esquiva-se ou busca suporte, postura que inviabiliza qualquer avaliação séria, imparcial, embasada na competência. Pode agradar a maioria dos leitores guiados pela máquina da comunicação, mas perguntaria, e a consciência frente ao voluntário equívoco? O mercado e a mídia evidenciariam preferências àqueles artistas plásticos que se dedicam a gamas temáticas reduzidas, com tênues variações, para gáudio de marchands e colecionadores. Quanto à crítica, esta passaria a “descobrir” a grande originalidade na “repetição” temática, apesar da variação de cores na pintura ou, no caso das esculturas, de formas. A crítica musical não insiste em elogios aos intérpretes bem ventilados, que repetem repertórios ad eternum sem o mínimo rubor?

Fernando Pessoa atinge o cerne de um posicionamento que se eterniza na cultura ocidental no que tange à crítica: “De todos os lados, ouvimos o clamor de que o nosso tempo necessita de um grande poeta. O vazio central de todas as modernas realizações é uma coisa mais para se sentir do que para ser falada. Se o grande poeta tivesse de aparecer, quem estaria presente para descobri-lo? Quem pode dizer que ele já não apareceu? O público leitor vê nos jornais as notícias das obras daqueles homens cuja influência e camaradagens tornaram-nos conhecidos, ou cuja secundariedade fez que fossem aceitos pela multidão. O grande poeta pode ter aparecido; a sua obra teria sido noticiada nalgumas poucas palavras de vient-de-paraître em algum sumário bibliográfico de um jornal de crítica”.

Não há a necessidade de mais dizer.

My comments on the views expressed by the Portuguese poet Fernando Pessoa (1888-1935) in the book “Citações e Pensamentos” (Quotes and Thoughts), a compilation of some of his writings by Paulo Neves da Silva. My focus are Pessoa’s considerations about the role of critics in his time and their capacity to evaluating art. How competent is an art critic accepted as competent? Is he really equipped to fulfill his role or just someone pampered by the media? So similar – though written at the beginning of the 20th century – to my own views on the subject expressed time and again over the years in this blog.

 

 

 

São tantos os que acreditam!

A tudo pese.
Pense.
Agostinho da Silva

O último blog suscitou uma série de mensagens, principalmente daqueles leitores que veem na atividade esportiva o caminho para uma vida mais saudável. Mensagens curtas, estimulantes e solidárias.

O amigo, arquiteto e corredor Marcos Leite enviou-me mensagem em que ratifica seu entusiasmo pelas corridas de rua: “Me senti correndo ao seu lado e escutando sua voz. Delícia de texto, especialmente para quem teve o prazer de acompanhá-lo nos treinos permeados de um bom papo. A convite do nosso amigo e vizinho Cláudio Zuccolo, fizemos a São Silvestre na turma da pipoca (termo utilizado para os que não se inscrevem, mas participam. Nota JE) Mas, exagerados como sempre, aquecendo parte da viagem de ida à Paulista, mais os 15 km da prova, ainda voltamos correndo pelos jardins com direito a um suco de melancia no clube Pinheiros, num total de perto de uns 28 km. Foi bem divertido e, contrariando o ‘sacrificado’ Drauzio, muito prazeroso. Que continuemos 2017 fazendo nossos treinos e corridas com alegria e gosto”.

O competente personnal training, Edgar Barbosa Correa, que nos assistiu, Regina e eu, durante mais de um ano, hoje residente na Flórida, escreveu: “Morando aqui nos EUA, procuro ler notícias boas do Brasil. Uma delas encontrei lendo seu blog. Você continua com o mesmo entusiasmo pelas corridas de rua e acredito que alguns recordes virão. Confesso que isto me deu um ‘up’ para continuar correndo com temperaturas abaixo de zero”.

Como sempre o faz, o compositor e pensador francês François Servenière não se restringe ao fato em si e parte para divagações, verdadeiro “tema com variações”, gênero tão praticado na criação musical. Escreve:

“Seus artigos raros sobre corrida me dizem muito. Fui um adepto ferrenho das corridas pelas praias entre 20 e 35 anos. Fiz uma longa pausa de 15 a 18 anos do período em Paris ao retorno à província. Só recomecei nestes últimos dois anos em consequência de vários problemas que poderiam ter consequências físicas sérias como stress, excesso de sedentarismo e aumento de peso. Maus hábitos, na realidade. Atualmente pratico meus exercícios na bicicleta elíptica essencial, alternando com musculação com halteres, assim como caminhada acelerada de 2×500 metros para levar Tom (7 anos) à escola, antes de iniciar meu trabalho musical no novo estúdio nessa recente moradia.

O Esporte: a magia de nos sentirmos em boa saúde, mesmo que o inverno esteja forte neste ano pelos nossos lados. Prefiro-o às horríveis chuvas gélidas de outono. O frio úmido é meu maior inimigo. Posso suportar sem dificuldades temperaturas secas de 20-30º abaixo de zero, enquanto 0º torna-se para mim insuportável em tempo úmido.

Parafraseando Haruki Murakami, inserido como epígrafe em seu blog, diria que o esporte nos permite virtualizar nosso corpo. Isso feito, temos a impressão de ser uma pequena nuvem, plena de endorfinas. Na realidade, somos por elas incentivados por nossas próprias possibilidades antidores. Mas isso é bom. Sou dependente dos esportes, deles não podendo prescindir. Mesmo em pleno inverno, levanto-me e em três minutos já estou na minha bicicleta elíptica, sentindo-me conectado com a vida.

Não sei se um dia retornarei às corridas, mas quando vejo a sua forma e a do atleta francês (104 anos) que acaba de bater o recorde mundial da hora (na sua faixa etária) em bicicleta sobre pista, essa semana em França, ratifico a certeza de que o esporte é uma magia da qual não devemos nos privar, a fim de viver mais tempo.

Sob outro aspecto, será necessário organizar as aposentadorias na França e alhures, pois a prática esportiva permite o prolongamento da vida de maneira incompatível com a organização daquelas previstas após a segunda grande guerra. Na verdade, na época as pessoas paravam de trabalhar aos 65 anos, mas não tinham esperanças de sobrevida após cinco anos inativos. Hoje na França vemos aposentados viverem 40 anos após cessarem o trabalho em carteira… Trata-se de uma guinada absoluta, que terá de ser estudada a fundo. Aos 50-60 ou mais, sentimo-nos em plena forma”. O projeto da Reforma da Previdência do Brasil não estaria a apontar por caminho imprescindível a ser trilhado?

Servenière continua: “Vendo as fotos de seu último post verifico que todos têm a postura e a descontração, demonstrando pleno entusiasmo, mercê do esporte. Partilho de seu sentido de solidariedade relacionado aos atletas que sofrem percalços durante as provas, resultado da atividade esportiva que merece por vezes esforços monstruosos. Há sempre nesses momentos precisos um sentimento de ajuda que não encontramos nas atividades das cidades superpovoadas, onde os mecanismos da vida social são naturalmente voltados ao egoísmo sem limites, o struggle for life a cada dia mais violento e bárbaro.

Face à natureza e ao esforço, os humanos buscam se ajudar. Presenciei inúmeras vezes – em minhas escaladas nas montanhas, velejando no mar e nos lugares de frio intenso – esse espírito solidário entre participantes de atividades afins. Penso como você a respeito da maratona, atividade desumana. Apesar de ter caminhado inúmeras vezes de 25 a 40km em menos de um dia, sentia menor desgaste, graças à marcha lenta. Todavia, essa atividade esportiva tinha um tributo a pagar, e minhas pernas nos dias subsequentes sofriam o resultado do esforço despendido. Foi essa a razão de, quando a correr, jamais ter ultrapassado os 25km. Impressionam-me as suas 130 corridas realizadas após os 70 anos e o despertar às 4:30 da manhã quando das provas oficiais”.

François Servenière tem razão ao afirmar esse lado inumano da maratona. Hoje essas provas de 42km estão espalhadas pelo planeta e o número de adeptos cresceu, sendo que, nas consagradas, há a necessidade de o atleta amador apresentar índices compatíveis em competições similares menos importantes. Vem da Grécia Antiga a lenda que rezava ter Filípides, soldado, atleta e doravante mensageiro, percorrido distância compatível de Maratona a Atenas, a fim de anunciar a vitória contra os persas em 490 a.C. Morreria exausto, após transmitir a informação. Somente em 1896, nos Jogos Olímpicos, homenagearam Filípides ao incorporarem a distância. Que não é natural o atleta amador percorrer a distância de 42km + 195ms, não é. Os treinamentos têm de ser intensos e o desgaste, enorme. Drauzio Varella, ao mencionar corredores que estavam a participar de suas agendadas maratonas, menciona semblantes “miseráveis”, “destruídos”. Pergunta-se: vale a pena, para que tamanho esforço, o que se pretende provar?

Permaneço nos meus 10 a 15km. Sinto-me à vontade e treino regularmente com o mais intenso prazer. Frise-se que 10km é a distância considerada clássica entre as corridas. Não teria tudo a ver com o gênero de música à qual me dedico?

Further thinking on the topic of running, this time through messages from readers with comments on my post on road races. Some say they feel encouraged by my posts, something I am very proud of. All agree physical activities help us meet people and are essential for our physical and spiritual well-being.