São tantos os que acreditam!

A tudo pese.
Pense.
Agostinho da Silva

O último blog suscitou uma série de mensagens, principalmente daqueles leitores que veem na atividade esportiva o caminho para uma vida mais saudável. Mensagens curtas, estimulantes e solidárias.

O amigo, arquiteto e corredor Marcos Leite enviou-me mensagem em que ratifica seu entusiasmo pelas corridas de rua: “Me senti correndo ao seu lado e escutando sua voz. Delícia de texto, especialmente para quem teve o prazer de acompanhá-lo nos treinos permeados de um bom papo. A convite do nosso amigo e vizinho Cláudio Zuccolo, fizemos a São Silvestre na turma da pipoca (termo utilizado para os que não se inscrevem, mas participam. Nota JE) Mas, exagerados como sempre, aquecendo parte da viagem de ida à Paulista, mais os 15 km da prova, ainda voltamos correndo pelos jardins com direito a um suco de melancia no clube Pinheiros, num total de perto de uns 28 km. Foi bem divertido e, contrariando o ‘sacrificado’ Drauzio, muito prazeroso. Que continuemos 2017 fazendo nossos treinos e corridas com alegria e gosto”.

O competente personnal training, Edgar Barbosa Correa, que nos assistiu, Regina e eu, durante mais de um ano, hoje residente na Flórida, escreveu: “Morando aqui nos EUA, procuro ler notícias boas do Brasil. Uma delas encontrei lendo seu blog. Você continua com o mesmo entusiasmo pelas corridas de rua e acredito que alguns recordes virão. Confesso que isto me deu um ‘up’ para continuar correndo com temperaturas abaixo de zero”.

Como sempre o faz, o compositor e pensador francês François Servenière não se restringe ao fato em si e parte para divagações, verdadeiro “tema com variações”, gênero tão praticado na criação musical. Escreve:

“Seus artigos raros sobre corrida me dizem muito. Fui um adepto ferrenho das corridas pelas praias entre 20 e 35 anos. Fiz uma longa pausa de 15 a 18 anos do período em Paris ao retorno à província. Só recomecei nestes últimos dois anos em consequência de vários problemas que poderiam ter consequências físicas sérias como stress, excesso de sedentarismo e aumento de peso. Maus hábitos, na realidade. Atualmente pratico meus exercícios na bicicleta elíptica essencial, alternando com musculação com halteres, assim como caminhada acelerada de 2×500 metros para levar Tom (7 anos) à escola, antes de iniciar meu trabalho musical no novo estúdio nessa recente moradia.

O Esporte: a magia de nos sentirmos em boa saúde, mesmo que o inverno esteja forte neste ano pelos nossos lados. Prefiro-o às horríveis chuvas gélidas de outono. O frio úmido é meu maior inimigo. Posso suportar sem dificuldades temperaturas secas de 20-30º abaixo de zero, enquanto 0º torna-se para mim insuportável em tempo úmido.

Parafraseando Haruki Murakami, inserido como epígrafe em seu blog, diria que o esporte nos permite virtualizar nosso corpo. Isso feito, temos a impressão de ser uma pequena nuvem, plena de endorfinas. Na realidade, somos por elas incentivados por nossas próprias possibilidades antidores. Mas isso é bom. Sou dependente dos esportes, deles não podendo prescindir. Mesmo em pleno inverno, levanto-me e em três minutos já estou na minha bicicleta elíptica, sentindo-me conectado com a vida.

Não sei se um dia retornarei às corridas, mas quando vejo a sua forma e a do atleta francês (104 anos) que acaba de bater o recorde mundial da hora (na sua faixa etária) em bicicleta sobre pista, essa semana em França, ratifico a certeza de que o esporte é uma magia da qual não devemos nos privar, a fim de viver mais tempo.

Sob outro aspecto, será necessário organizar as aposentadorias na França e alhures, pois a prática esportiva permite o prolongamento da vida de maneira incompatível com a organização daquelas previstas após a segunda grande guerra. Na verdade, na época as pessoas paravam de trabalhar aos 65 anos, mas não tinham esperanças de sobrevida após cinco anos inativos. Hoje na França vemos aposentados viverem 40 anos após cessarem o trabalho em carteira… Trata-se de uma guinada absoluta, que terá de ser estudada a fundo. Aos 50-60 ou mais, sentimo-nos em plena forma”. O projeto da Reforma da Previdência do Brasil não estaria a apontar por caminho imprescindível a ser trilhado?

Servenière continua: “Vendo as fotos de seu último post verifico que todos têm a postura e a descontração, demonstrando pleno entusiasmo, mercê do esporte. Partilho de seu sentido de solidariedade relacionado aos atletas que sofrem percalços durante as provas, resultado da atividade esportiva que merece por vezes esforços monstruosos. Há sempre nesses momentos precisos um sentimento de ajuda que não encontramos nas atividades das cidades superpovoadas, onde os mecanismos da vida social são naturalmente voltados ao egoísmo sem limites, o struggle for life a cada dia mais violento e bárbaro.

Face à natureza e ao esforço, os humanos buscam se ajudar. Presenciei inúmeras vezes – em minhas escaladas nas montanhas, velejando no mar e nos lugares de frio intenso – esse espírito solidário entre participantes de atividades afins. Penso como você a respeito da maratona, atividade desumana. Apesar de ter caminhado inúmeras vezes de 25 a 40km em menos de um dia, sentia menor desgaste, graças à marcha lenta. Todavia, essa atividade esportiva tinha um tributo a pagar, e minhas pernas nos dias subsequentes sofriam o resultado do esforço despendido. Foi essa a razão de, quando a correr, jamais ter ultrapassado os 25km. Impressionam-me as suas 130 corridas realizadas após os 70 anos e o despertar às 4:30 da manhã quando das provas oficiais”.

François Servenière tem razão ao afirmar esse lado inumano da maratona. Hoje essas provas de 42km estão espalhadas pelo planeta e o número de adeptos cresceu, sendo que, nas consagradas, há a necessidade de o atleta amador apresentar índices compatíveis em competições similares menos importantes. Vem da Grécia Antiga a lenda que rezava ter Filípides, soldado, atleta e doravante mensageiro, percorrido distância compatível de Maratona a Atenas, a fim de anunciar a vitória contra os persas em 490 a.C. Morreria exausto, após transmitir a informação. Somente em 1896, nos Jogos Olímpicos, homenagearam Filípides ao incorporarem a distância. Que não é natural o atleta amador percorrer a distância de 42km + 195ms, não é. Os treinamentos têm de ser intensos e o desgaste, enorme. Drauzio Varella, ao mencionar corredores que estavam a participar de suas agendadas maratonas, menciona semblantes “miseráveis”, “destruídos”. Pergunta-se: vale a pena, para que tamanho esforço, o que se pretende provar?

Permaneço nos meus 10 a 15km. Sinto-me à vontade e treino regularmente com o mais intenso prazer. Frise-se que 10km é a distância considerada clássica entre as corridas. Não teria tudo a ver com o gênero de música à qual me dedico?

Further thinking on the topic of running, this time through messages from readers with comments on my post on road races. Some say they feel encouraged by my posts, something I am very proud of. All agree physical activities help us meet people and are essential for our physical and spiritual well-being.