Foram muitos os recitais ao longo das décadas
Tempo bem empregado
curto parece.
Adágio popular açoriano
Ao longo desses anos tenho salientado meu afeto pela cidade de Goiânia, mormente graças às inúmeras amizades existentes desde os anos 1970 e que, ao longo, só foram acrescidas por vínculos com gerações mais jovens. Precisamente em 1981 dava curso sobre Debussy e o primeiro recital na cidade, após dois bons anos de visitas mensais para aulas a um grupo de professoras e alunos da Escola Musika, então sob a direção da dileta amiga e competente pianista Glacy Antunes de Oliveira, hoje aposentada como professora titular da Universidade Federal de Goiás. Portanto, os primeiros anos goianos estiveram sob a égide da Escola Musika. Creio que essa ligação profunda, que nasceu no final da década de 1970, faz com que, quando convidado para recital, palestra ou participação em júri de concurso acadêmico, invada-me uma alegria muito grande. Foram várias as visitas à cidade a convite da UFG, sempre para atividades ligadas à música.
Frise-se que Goiânia teve uma das mais destacadas pianistas brasileiras e também professora de grande valor, Belkiss Carneiro de Mendonça, pioneira da arte pianística no Estado de Goiás. Belkiss e sua discípula Glacy formaram quantidade expressiva de ótimos executantes, alguns hoje estabelecidos no Exterior. Professores da UFG da área pianística tiveram sólida orientação de ambas, que foram, diga-se, alunas de José Kliass, a meu ver o nome maior entre os professores no Brasil. Iara Bernette, Estelinha Epstein, Bernardo Segall, Anna Stella Schic estiveram sob a orientação do professor de origem russa. Meu irmão João Carlos e eu igualmente (vide blog “Escola pianística do Professor José Kliass”, 14/04/2012).
Conheci a professora Gyovana de Castro Carneiro há cerca de trinta anos. Veio a São Paulo e frequentou uma disciplina que ofereci na pós-graduação da USP. Estudou piano com Glacy Antunes de Oliveira e Consuelo Quireze, entre outros. Gyovana e sua irmã Ivana Carneiro, também professora, mantiveram uma escola em Goiânia, Pauta. Apresentei-me duas vezes a convite da Escola. Acompanhei o belo desenvolvimento musical de Gyovana, doravante docente da Universidade Federal de Goiás, até o doutorado recente defendido brilhantemente na Universidade Nova de Lisboa. Participei da banca examinadora (vide blog “Uma tese que enaltece repertório basicamente olvidado – Gyovana de Castro Carneiro e a relação amorosa com um tema”, 11/03/2017).
Gyovana e a pianista Ana Flávia Frazão (vide blog “Gravação de imenso valor – Um duo exemplar”, 12/11/2016) dirigem a série “Concertos em Goiânia”, que completa presentemente 10 anos de atividade constante e profícua. Gyovana mantém a Coordenação Geral e Ana Flávia, a Direção Artística. Também tive o prazer de compor o júri que conduziu Ana Flávia à carreira acadêmica na UFG, após provas contundentes.
Dois fatores básicos determinaram um afluxo enorme de público caloroso no recital do último dia 17 de Maio: a organização precisa das duas professoras e a prévia divulgação entre membros do corpo discente das mais variadas áreas da UFG. Gyovana e Ana Flávia têm mantido a chama da música erudita em período voltado a inúmeras atividades e entretenimentos outros, intensamente ventilados pela mídia e que provocam certamente o desvio de interesse dos jovens.
Tive a honra de ter entre os ouvintes professores da UFG, assim como a presença do Magnífico Reitor da Universidade Federal de Goiás, Professor Orlando Afonso Valle do Amaral. Houve a grata oportunidade de manter boa conversação com o Sr. Reitor e o ilustre médico, professor e escritor Heitor Rosa durante recepção no apartamento da professora Gyovana de Castro Carneiro. Basicamente discorremos sobre biblioteca, acervo e conservação.
Foram inúmeros os blogs nos quais enfatizo que me agradam apresentações em salas ou teatros onde há interação, ressaltando que jamais me adequaria à sistemática carreira artística a envolver empresário e apresentações repetitivas em centros visitados, tantas vezes, uma só vez em toda a trajetória. Recordo-me de conversa que mantive com colega francês que teve carreira de mérito, Alain Motard (1928-2011). Dizia-me ele nos anos 1960 que ficava sempre um certo gosto amargo durante tournées prolongadas que não se repetiriam, pois outras geografias apontavam para roteiros novos. Creio que resumia um estado de espírito que certamente acontece em inúmeras carreiras artísticas.
Numa recapitulação descontraída realizada com Gyovana, chegamos à conclusão que nesses quase 40 anos bem mais de uma dezena de vezes apresentei-me em Goiânia, interpretando preferencialmente repertórios diferenciados. Estou a me lembrar que, num breve curso no início dos anos 1980, o tema foi “O repertório pouco ou não frequentado”. Basicamente continuo nessa senha ilimitada, diga-se.
Já temos planos para a série “Concertos em Goiânia” em 2018, ano que presta tributo ao grande compositor Claude Debussy no centenário de sua morte. Estímulos que se renovam…
This post is about my recital in Goiânia last week, the dear friends I have there and memories of many previous visits to the place, keeping in mind that my connections with the city date back to the seventies, when I gave a course on Debussy at the local university.