Simpósio no Centro Cultural de Cascais
Era assim Lopes Graça:
muito exigente em que lhe reconhecessem o mérito,
mas sempre bem adverso à ideia de cultivar a fama.
Romeu Pinto da Silva
(Ex-elemento do Coro da Academia de Amadores de Música)
Convidado pela Fundação Dom Luís I, estou em Portugal para o Simpósio que estudará, neste Dezembro, aspectos fulcrais do grande compositor português, Fernando Lopes-Graça (1906-1994), um dos mais importantes do século XX em termos mundiais. Organizado pela Fundação Dom Luís I, com a colaboração do CESEM - Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa o Simpósio tem na Comissão Científica, os ilustres professores Mário Vieira de Carvalho, Paulo Ferreira de Castro e João Pedro d’Alvarenga. A coordenação está sob os cuidados de Isabel de Alvarenga. Sinalizam: “Revisitar Fernando Lopes-Graça, a sua vida e obra, o seu pensamento, a sua intervenção, o seu extenso e diversificado legado, é o propósito deste simpósio. Pretendemos promover uma tentativa de balanço crítico – ainda que sempre provisório e limitado – das múltiplas dimensões a considerar e que se entrecruzam entre si. Mencionamos, nomeadamente: as relações entre tradição e modernidade, centro e periferia, local e universal, arte e política; as ligações entre música, literatura e as outras artes; a ‘política da identidade’; o princípio da liberdade na vida e na arte – ‘Aquilo em que aposto é na liberdade!’ – e a atitude de resistência; o ativismo cultural e cívico invulgarmente intenso e multifacetado. Acrescentemos ainda os ecos ou repercussões desse legado e as mudanças de perspetiva que ele vai suscitando na sua receção, à luz das tendências atualmente em curso na composição e circulação da música, nos planos nacional e internacional, incluindo naturalmente as redes digitais”.
É extraordinário verificar, por parte de algumas entidades e músicos de Portugal, o esforço do país com população total de cerca de 11.000.000 de habitantes, pela divulgação de seu nome maior da composição. Foram vários os blogs em que escrevi sobre Fernando Lopes-Graça, à medida que me aprofundava nos estudos para apresentação e gravação de algumas de suas obras capitais para piano. Foram várias primeiras audições e gravações, sendo que o comovente caderno “Viagens na Minha Terra” encontra-se atualmente, na íntegra, no YouTube.
A discografia e literatura concernente a Lopes-Graça têm aumentado consideravelmente. Pode-se dizer o mesmo em relação às suas obras editadas. Trabalho pormenorizado empreendido por músicos portugueses. Lamentavelmente, o público brasileiro desconhece a monumental obra de Fernando Lopes-Graça. A música portuguesa de concerto continua a ser entendida como uma “música menor” pelas entidades promotoras e, obviamente, pelos intérpretes pátrios. Dá-se sempre importância à música da Europa mais ao Norte e à Leste. É fato rigorosamente consumado.
No link abaixo tem-se a programação completa do Simpósio. Participo em dois momentos. Num primeiro (dia 15), apresento texto sobre “Canto de Amor e de Morte” do notável compositor nascido em Tomar. Parte do que apresentarei esteve em textos precedentes. O original para piano contém 13 páginas, considerando-se a página de rosto. Lopes-Graça não realizou cópia desse único manuscrito, mas duas versões de “Canto…”, para quarteto de cordas e piano e para orquestra, respectivamente. Após a exposição interpretarei a composição. Já bem anteriormente escrevi blogs sobre essa obra-prima. Contudo, mercê da edição programada para ser lançada durante o simpósio, tantas outras informações foram extraídas sobre “Canto…”, substanciando decididamente a publicação sob a égide do prestigiado Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa (mpmp), conduzido por jovens idealistas com o desiderato único de promover a produção musical lusíada meritória. A digitalização ficou sob a responsabilidade do competente Luís Salgueiro. Fui o editor da publicação que ora vê a luz e tenho a convicção de que doravante a obra será visitada por intérpretes portugueses e por outros fora desse país tão rico em tradições. No dia 16 serei moderador de uma das sessões.
Programação completa do Simpósio “Fernando Lopes-Graça em retrospectiva”
O fato de Lopes-Graça ter sido não apenas notável compositor, mas também escritor, crítico, regente coral, pianista e professor, torna o simpósio em pauta tão relevante. São muitos os aspectos que estão em debate, inclusive sua forte presença como ideólogo – opôs-se com firmeza ao regime salazarista, o que lhe renderia, durante parte essencial da existência, dissabores marcantes. Esses e outros aspectos integram as comunicações pautadas. Quanto ao repertório de Lopes-Graça, haverá uma série de apresentações com obras fudamentais para piano solo e camerísticas.
No blog do dia 23 comentarei as substanciosas contribuições de especialistas presentes ao Simpósio, assim como inserirei o texto básico de minha exposição.
Comentários