O futebolista absoluto

As pessoas tentam encontrar um novo Pelé, mas isso não pode ser.
Como na música, em que só existe um Frank Sinatra e um Beethoven,
ou nas artes, um único Michelangelo, no futebol só há um Pelé.

Se eu pudesse me chamaria Edson Arantes do Nascimento Bola.
Seria a única maneira de agradecer o que ela fez por mim…
Pelé

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, completou 80 anos no dia 23 de Outubro, sexta-feira. Já estava com meu blog programado para aquele dia e guardei para o presente sábado a homenagem ao maior atleta de todos os tempos.

Fui pouquíssimas vezes assistir a um jogo de futebol. Dessas presenças, ver in loco a atuação de Pelé representava o prazer maior, mesmo quando jogava contra a minha saudosa Portuguesa de Desportos que, mercê de gestões medíocres, desapareceria das competições relevantes.

Já àquela altura dos anos 1960, Pelé era festejado como o astro maior do futebol mundial. Estar presente e vê-lo jogar, possibilitava a compreensão da arte autêntica do esporte bretão. Não era apenas assistir ao ato final e primordial de uma partida, o gol, consequência que majoritariamente tinha na ação de Pelé a magia que leva ao maravilhamento.

Pelé, não apenas foi considerado a atleta do século pelos seus feitos futebolísticos, mas também o atleta maior da história se consideramos todos os esportes existentes. Suas marcas são imbatíveis, 1281 gols em 1363 jogos, tricampeão mundial (1958-1962 e 1970), bicampeão mundial interclubes. Ao marcar o milésimo gol (19/11/1969) houve comoção nacional. A transmissão impecável de meu dileto amigo Flávio Araújo fixaria aqueles momentos mágicos. A esses recordes alcançados temos ainda 92 hat-tricks, quando um jogador marca três gols numa mesma partida.

https://www.youtube.com/watch?v=tJnB7q-6vMU

Na juventude fui um apaixonado pelo futebol jogado no Brasil, mormente quando Pelé e seu companheiro Coutinho – futebolista com raro faro de gol -, sempre assistido pelos passes milimétricos do grande mestre, encantavam multidões. O passar das décadas revelaria a decadência progressiva do futebol praticado por times brasileiros e os melhores jogadores precocemente atravessam o Atlântico em busca de reconhecimento e ganhos maiores. Presentemente assisto a determinados bons jogos de campeonatos europeus, não mais vendo partidas de nossos campeonatos.

Se admirei Ademir da Guia, Maradona e hoje Cristiano Ronaldo e Messi, pela inteligência e qualidade no trato da bola, todos ficam a dever se comparados a Pelé. Se no atletismo tivemos Carl Lewis e suas proezas como maior atleta olímpico do século XX, surgiria Usain Bolt como o mais veloz do planeta e tudo indica que outros virão com novos recordes. Isso acontece nas provas de atletismo e de natação, assim como nos esportes coletivos como basquete e vôlei como exemplos. Especialistas concordam que os recordes de Pelé jamais serão batidos. Essa constatação sedimenta a quase absoluta unanimidade em torno de seu nome.

No final da década de 1990, o ilustre musicólogo Régis Duprat me convidou para uma visita ao estúdio de gravação de seu filho Ruriá. Aquiesci com prazer e lá encontrei Pelé a finalizar uma sua gravação, pois gostava de cantar acompanhado ao som de um violão. Foi realmente uma emoção muito grande estar frente a frente ao ídolo de sempre. Extremamente atencioso, ouviu pacientemente meus elogios ao seu incomensurável talento. As duas fotos revelam momentos desse encontro. Ofereci-lhe um CD e ele autografou vários folders com os nomes de três das minhas netas àquela altura, pois mais duas viriam.

Em entrevista que ouvi anos atrás, Pelé afirmava que há duas entidades distintas, Edson Arantes do Nascimento e Pelé. Falava como Edson, figura passível de críticas como todo ser humano, mas tinha absoluta consciência da genialidade do jogador Pelé, personagem que acalenta sempre com respeito e carinho.

Neste post rendo minhas homenagens ao insuperável Pelé que alegrou o planeta com sua arte futebolística. Grandes jogadores surgiram antes e depois dele, alguns demiurgos, mas todos, sem exceção, não atingiram a arte que Pelé desfilou pelo mundo.

On October 23rd, Pelé turned 80. He was the greatest player in the history of soccer and certainly the greatest athlete in history, because his records are impossible to be broken. I followed with admiration all his trajectory and, decades after ending his career, I had the privilege to meet him.