Navegando Posts em Cotidiano

Posicionamentos de leitores atentos e outras considerações

A grande diferença entre um homem do Renascimento,
com seu gênio plural, com sua infinita capacidade de ciência,
de arte, de política, de guerra, de violência e de amor,
de realidade e de sonho, e nós, especialistas,
cada vez sabendo mais de menos, está em que dentro deles,
por um século, o medo se abolira, não o medo de prisões,
de feridas ou de mortes,
que é esse o menos mau,
mas o medo de ser, na plena, na inesgotável riqueza que se é.
Agostinho da Silva (1906-1994)
(Dispersos)

“A iniciativa privada tem muitos atributos,
possibilidades de intervir na cidade, mas não tem nem pode ter
a responsabilidade de definir os rumos que ela vai tomar”.
Sérgio Magalhães (1944- )
(arquiteto e urbanista)

O tema suscitou uma série de mensagens, todas contrárias à desmesurada sanha das incorporadoras. Uma presencial, curta mas incisiva, levou-me a reflexões. Um morador da nossa já ex-cidade bairro, Brooklin-Campo Belo, espaço onde moradores se confraternizavam durante andanças, gosta das corridas de rua como eu. Cruzei com ele em nossos treinamentos e, após breve conversa, continuei a correr no sentido inverso. Morando em um apartamento depois da derrubada de sua morada, afirmou que as incorporadoras não pensam na desestruturação dos desalojados.

Nas tantas ofertas que meus vizinhos e eu recebemos nesses últimos anos, jamais o lado humano foi ventilado. Interessam às incorporadoras dimensão do terreno e as condições para elas mais vantajosas na negociação. Para tanto, empresas têm setores especializados, estreitamento de prazos para desocupação desde que as documentações estejam em ordem, mas… e o ser humano? Este não conta, ele é apenas e tão somente um elemento do processo, descartado após conclusão das negociações, na empreitada cujo desiderato final é o lucro. Teriam as incorporadoras psicólogos nos seus quadros para o acompanhamento dos ex-moradores? A elas interessa seguir o day after deles, dramático para muitos, já que a diáspora individual subentenderia apreensões diferenciadas quanto à desestruturação? Li anos atrás num noticiário sobre o suicídio de um casal nonagenário que, dias após deixar sua morada, buscou o ato trágico, impossibilitado de adequação à nova realidade. Essa ausência mínima de sensibilidade por parte de tantas incorporadoras – haveria exceções? – põe à mostra um lado até cruel nessa civilização do espetáculo e da impessoalidade.

Selecionei três mensagens, que bem retratam aspectos acelerados da sanha das incorporadoras a sobressair sobre quaisquer outros objetivos mais humanos.

Gildo Magalhães, professor titular da FFLECH, USP, comenta: “Seu blog de hoje ficou excelente! Objeto que foi de nosso saudoso café desta semana, é certo que há saudosismo, porque temos saudades do que era bom, mas há nele também considerações técnicas valiosas: onde está o planejamento urbano, que de um lado deveria assegurar a beleza e eficiência das transformações, de outro lado garantir o provimento das expansões da infraestrutura de água, energia, transportes públicos (incluindo o próprio viário urbano para automóveis!), saúde, educação, áreas verdes e tantas outras condições de qualidade de vida? Lembro-me do setor de planejamento do Metrô, onde trabalhei, e onde se tentava equacionar tantas condições urbanas – nele trabalhavam arquitetos, engenheiros, cientistas sociais, hoje desfibrado e sem voz perante os ditames do neoliberalismo, que só enxerga cifrões à frente. E onde está a universidade, que deveria estudar e discutir esses problemas?”.

Eliane Mendes (formada em Química e Ciências Físicas e Biológicas pela Universidade Católica de Santos, é viúva do compositor Gilberto Mendes): De fato, se construímos cidades ruins é porque somos ruins também, como coletividade. Lembro-me de alguns anos atrás, quando a prefeitura podou as árvores da minha rua de uma maneira avassaladora, quando então, comentando com os vizinhos sobre aquela irracionalidade toda, deixando-nos sem sombra no verão, numa cidade tão quente como a nossa, para minha surpresa apenas uma vizinha concordou comigo. Todos os outros acharam muito bom ver a rua mais livre da presença das árvores, apoiando a iniciativa da prefeitura.

Aliás, vendo Santos lá de cima do Morro da Nova Cintra, só vemos cimento, com o verde das árvores praticamente não existindo mais. Havia uma lei estabelecendo que não poderia ser construído nenhum prédio com mais de 12 andares, pois o solo de Santos é instável, mas uma lei recente liberou o número de andares, dizendo que, como não há mais espaço para a cidade crescer horizontalmente, ela deve crescer verticalmente (????).

Vi recentemente uma reportagem na TV alemã sobre o mesmo acontecendo lá com os moradores, assim como no seu bairro, com as construtoras pressionando os moradores que venderam suas casas e até desapropriando, com as pessoas chorando, não tendo direito de permanecer nas casas onde habitavam há anos, mesmo tendo a escritura. O pensamento coletivo é sempre destrutivo, pois a Lei dos Homens é sempre matéria, cruel, destrutiva e gananciosa”.

Flávio Viegas Amoreira (escritor, poeta e crítico literário) escreve: “depois do rastreamento do poder criativo tranZmoderno: a música como resistência ao niilismo de significação, o percepto reinventado em modo de composição: JEM nos dá a medida do amplo arco que toca e move o artista enquanto farol ( Pound ), não só o poeta é farol, até porque em suas crônicas-reflexões JEM também, enfatizo, é carregado de poeticidade (Pound again! ); aqui ele restitui o artista-pensador que também referencia a arquitetura como fonte de pertencimento ou não, convergência ou não, a arquitetura no coletivo, o urbanismo medida do ‘ethos’ global em bases comunitárias, onde se vive, onde se faz sujeito ou não, abdicando ao peso da desmedida em nada humana da ágora perdida…  Sempre que leio esses questionamentos contundentes volto ao filósofo contemporâneo que mais leio e mais me reflete : ‘A percepção só pode ser concluída num repouso contemplativo (Biung Chul-Han)’. Sampa é a cidade mais deleuziana do planeta: metonítimica não metafórica, ainda busca eixos de horizontalidade agregadora, ‘topos’  de alteridade física e anímica: gosto que me enrosco de Sampa até porque tenho uma mirada da borda: marítima, santense e os que melhor pensam Sampa são os que se colocam num distanciamento telúrico ou provocado: quem é do mar tem medida da opressão provocada pela verticalização sufocante: busca-se nesse sem-horizonte…. Saúdo texto desse sábado porque hoje é sábado (como diriam Lorca & Vinícius) e dia de amanhecer com presente de JEM !”.

O competente homem público Philip Yang, fundador do URBEM, instituição dedicada à estruturação de projetos urbanos, enviou-me mensagem com link através do qual o leitor poderá ter percepção maior dos problemas urbanísticos das grandes cidades durante entrevista que concedeu juntamente com Eduardo Giannetti à jornalista Ana Paula Padrão:

https://mail.google.com/mail/u/0/?tab=rm&ogbl#inbox/WhctKKWxcMhSltRnrNXJHzvcljdtFvNZgmgPrJBwBhnhtKXklTpHbVVgwJzpmXcFvZQWBWv

Décadas passarão. Vista bem das alturas, a edificação descontrolada assemelha-se ainda aos grandes bolsões irregulares de cimento, pois a verticalização ainda não atingiu a cidade como um todo. A visão mais próxima revela a absoluta falta de simetria quanto à disposição dos prédios e ao número de andares. O erro maior pode ter sido transferir a verticalização para a iniciativa privada no que concerne a projetos rigorosamente exclusivos por ela traçados e alheios a qualquer planificação urbanística, algo que deveria ser competência do Estado. Houvesse essa orientação numa São Paulo cada vez mais desordenadamente verticalizada, a visão das alturas mostraria uma cidade harmoniosa. No todo temos um grande quebra-cabeças onde as peças não se encaixam.

I have received many messages with comments on the previous post (verticalization of the city of São Paulo). I publish three of them, together with my view on another aspect of the subject, virtually ignored by real estate developers: the human factor during the negotiation process between the parties involved.

 

Quando interesses ignoram o passado e desprezam o futuro

On mène toute sa vie pour construire sa maison.
Dunoyer de Ségonzac, pintor (1884-1974)

“São Paulo precisa parar de crescer”. Essa célebre frase, proferida pelo engenheiro e político José Carlos de Figueiredo Ferraz (prefeito de São Paulo entre 1971-1973), contrastaria com outra de 1940, bem festeira: “São Paulo não pode parar”.

A verticalização da cidade tem sido avassaladora nesses últimos decênios. Atesta a assertiva a diminuição progressiva das construções horizontais que, em determinados bairros, já não mais acontece, pelo contrário, rapidamente desabam frente à investida das incorporadoras.

Entende-se que a construção civil emprega legião de trabalhadores em todas as maiores cidades do país. Essa realidade, se benfazeja, a propiciar um alento frente ao desemprego na área específica, não atenta aos problemas nunca devidamente enfrentados pelos sucessivos governos, como mobilidade urbana, saneamento básico, segurança e tantos outros. Avassaladoramente destrói-se o passado e resquícios existem para sofrivelmente testemunharem que São Paulo teve uma história. Se o Convento da Luz (século XVIII) e umas poucas igrejas antigas do centro histórico conseguiram atravessar mais de dois séculos, os casarões da Avenida Paulista, construídos nas fronteiras dos séculos XIX-XX, desapareceram, restando tristes mansões perdidas num emaranhado de prédios rigorosamente desiguais, calçadas sujas, frequentação imensa de todas as classes sociais, onde não falta legião de punguistas.

A disputa das incorporadoras por espaços em São Paulo e o boom imobiliário que se acentua fizeram desaparecer nosso minguado passado. Saudosista certamente, estou a me lembrar da Avenida Paulista entre os anos 1954-1955, período em que estudei à noite no Liceu Eduardo Prado, que ficava na esquina da Paulista com a rua Pamplona. As aulas findavam às 23:45 e tranquilamente ia a pé até a frente do Instituto Pasteur, a fim de pegar o bonde. Belíssima avenida com suas frondosas árvores e sem a menor possibilidade de, ainda bem jovem, ser importunado por meliantes.

A razão deste post fora das temáticas que abordo advém da atual derrubada sistemática e devastadora de alguns bairros que mantinham certa tradição de um passado recente. No que tange aquela que, com prazer, denominava neste espaço como sendo minha cidade-bairro, Brooklin-Campo Belo, que se desenvolveu basicamente desde as primeiras décadas do século XX, um verdadeiro “tsunami” se processa.  Lembro que no Brooklin-Campo Belo houve forte influência germânica em tantas dessas antigas casas.

Como observador, de minha janela verifico que moradas com as quais convivi durante 58 anos, conhecendo sucessivas gerações de moradores, desapareceram repentinamente. Gigantescas retroescavadeiras em um ou dois dias colocaram abaixo imóveis que levaram meses, por vezes anos, para serem construídos. Fazem-me lembrar grandes dinossauros pelo tamanho e ruídos estrondosos. Em poucas semanas, todo o entorno, que corresponde a três quadras inteiras, foi destruído e a montagem de aparatosos estandes de vendas se processa.

O “…parar de crescer” vaticinado pelo alcaide com olhar para o futuro não é sequer imaginado pelas incorporadoras. Não há a menor intenção por parte desses grandes empresários de se pensar nas gerações futuras numa cidade como São Paulo. Importa o lucro e, tão logo financiamentos aprovados e concluída a construção, determinado prédio foi apenas… mais um. A realidade brasileira, mergulhada num lamaçal de corrupção, sem punição exemplar pelo judiciário, provoca incertezas. Incontáveis financiamentos poderão, a médio prazo, deparar-se com a insolvência dos esperançosos compradores. Exemplos recentes acima do equador não estão servindo como alerta do que poderá ocorrer; 2008 não foi esquecido. Alguns economistas atentos já apontam para impasses futuros.

Quando pensamos em cidades como Paris, cujos prédios do centro urbano podem sofrer reformas, sem ultrapassar, contudo, a altura de seis ou sete andares, ficando as grandes edificações restritas à periferia, tem-se um exemplo sensível. Contrasta o prédio da Tour Montparnasse, considerado um monstrengo pelos parisienses mais conservadores. Incontáveis cidades europeias preservam a organização urbana. Incontáveis.  Não obstante, estamos a escrever sobre cidades planejadas e com meios de transporte de excelência, frise-se, e com organização social disciplinada, fundamentos essenciais inexistentes em São Paulo. Estou a me lembrar da primeira visita do notável musicólogo francês François Lesure a São Paulo. Fui buscá-lo no aeroporto e, no trajeto até um hotel na Rua Augusta, mostrou-se confuso com a desorganização urbanística da cidade, pois, independentemente das moradias à beira da rodovia, chamou a atenção do musicólogo a falta de padronização dos médios e grandes edifícios.

A drástica crise de água, que se acentua anualmente, terá certamente um trágico desfecho, a corroborar a célebre frase de Figueiredo Ferraz. Está-se a captar água para São Paulo de regiões sempre mais distantes. Até quando? Sob outra égide, os rios que atravessam São Paulo constituem verdadeiros depósitos de lixo, sendo que o Pinheiros atravessa parte essencial de zona denominada “nobre” da cidade. Adensar de maneira voraz a população urbana através da verticalização poderá trazer consequências dramáticas.

Moramos na mesma casa há 58 anos e aguardamos. Estudos estão sendo feitos para que o entorno de nossa morada entre num projeto em andamento, mas a aguardar a regularização de documentos de uma das moradias. Quando finalizadas as conversações com a maioria e acertadas as condições, nada poderemos fazer, sob o risco de ficarmos em uma ilhota cercada dos lados e pelos fundos por edifícios. Aceitar a realidade, hélas. Pressionado pelo “progresso”, a sensação que nos assola é a da palavra diáspora, interpretativa, pois pode muito bem ser aplicada ao movimento “expulsório” que já determinou a mudança de centenas de moradores de minha “ex” cidade-bairro, Brooklin-Campo Belo, espaço que me é ainda tão caro, mas que se esvai entre os dedos a dar lugar aos espigões. Após mais de meio século na mesma morada, entendo bem as palavras do notável arquiteto Le Courbusier (1687-1965): “O lar é o templo da família”. Quantos não tiveram, sem vontade alguma, de buscar a reestrutura?

Nesses últimos anos, recebemos pelo menos uma vez por semana ligações de incorporadoras. Uma delas inclusive, sem pudor algum e sem que com ela tivéssemos qualquer prévio relacionamento, enviou, aos meus vizinhos e a mim, carta com nossos CPFs, fixando preço a ser pago e com os nossos nomes para as assinaturas sacramentais!!! Essa atitude não é rara e indica uma sanha inominável.

Já não mais acredito na possibilidade de uma solução urbanística para São Paulo, apesar de especialistas renomados da área acreditarem. Há não muito tempo, reportagem em um dos portais da internet sobre prédios luxuosíssimos na região do Morumbi evidenciava que o crescimento de Paraisópolis fez decrescer sensivelmente os preços de apartamentos da região fronteiriça à comunidade. Um morador confessava que se sentia enclausurado em seu luxuoso apartamento, que estava à venda muitíssimo abaixo do real valor.

Sob outro aspecto, a proliferação de prédios está a extinguir os serviços básicos que mantêm a pulsação de uma cidade. Desaparecem as pequenas e diversificadas oficinas, os cafés, padarias e outros serviços que atendiam muito bem seus frequentadores. A verticalização acelerada faz com que muitas vezes moradores tenham de se utilizar de seus veículos para o deslocamento aos supermercados, shoppings, etc. Está a se perder esse intercâmbio social.

Meu prezado amigo Flamínio Fichmann, arquiteto, urbanista e consultor de mobilidade urbana, afirma em entrevista ao jornal “a Quadra” (Agosto/Setembro 2021), que aborda temas complexos sobre adensamento construtivo e populacional, assim como meios urbanos de transporte: “o trânsito certamente será afetado. Quando fazemos essas análises, não consideramos apenas os moradores, mas também os prestadores de serviços, empregados domésticos, carga e descarga, embarque e desembarque… Então são polos de geração de viagens que produzem um volume de tráfego muito maior do que simplesmente a população e os pequenos comércios que habitam esses locais.”

Meu também distinto amigo Philip Yang, urbanista e fundador do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole – Urbem, entrevistado para o mesmo jornal “a Quadra”, tem uma visão otimista quanto à verticalização: “Um mix de diferentes produtos imobiliários – em empreendimentos que aproximam espaços de trabalho, moradia, serviços e entretenimento – certamente abre mais oportunidades para as pessoas concentrarem sua vida em seus próprios bairros”. Continuando, considera que “Infelizmente, hoje o público tem em geral uma opinião negativa em relação à verticalização, pois a associa unicamente a mais trânsito e aglomeração. Mas há muito mais benefícios que prejuízos quando a verticalização acontece dentro de um processo de desenvolvimento urbano em que a infraestrutura geral – de transporte, comunicações e saneamento – avança junto com a construção de prédios”.

Em conversa com Philip Yang, após texto esboçado, colhi dados do dileto amigo, transmitindo-os ao leitor: “Um dado alarmante da urbanização é o fato de que em 2030 a mancha urbana terá triplicado de tamanho. Ou seja, entre 2001 e 2030 nós produzimos mais cidades do que em 10 mil anos, do Neolítico até o ano 2000. São dados da geógrafa Karen Seto, que diz que o espraiamento (o não-adensamento) tem consequências ambientais dramáticas”. Prossegue: “Gosto sempre também de dizer que a cidade projeta no território aquilo que somos e o que queremos ser coletivamente. Se construímos uma cidade ruim é porque, como coletividade, somos ruins também. Precisamos tratar de construir algo melhor…”. Sobre a memória, considera: “A memória é fundamental para uma coletividade, pois é o que nos faz crer que temos um passado e um futuro comum. Sem esse sentimento, não há sociedade; a memória é o elo que nos liga do passado ao futuro como cidade e nação, como um grupo coeso. Dentro de tantos dilemas que temos como sociedade, a preservação da memória é algo inegociável.

Reitero minha posição de observador e acredito que o restante da hoje pobre memória construtiva da cidade está a ser destruído com voracidade, pois bairros residenciais estão vindo abaixo numa velocidade inédita, mormente, no caso, a região do Brooklin-Campo Belo. Sem entrarmos no mérito artístico desses resquícios, sucessivos governos de tendências diversas não atentam para o problema de determinadas preservações. Recentes museus arderam e o do Ipiranga tem reforma que se prolonga há anos de maneira inverossímil!!!

Se meios de transporte rápidos e condignos existissem, amparados por segurança, grandes edificações poderiam ser erguidas em espaços ainda disponíveis no entorno da cidade. Alphaville foi uma das alternativas; mas, sem meios condizentes de transporte público, tem problemas viários sérios. Todavia, é mais simples destruir o que resta de São Paulo com a anuência sucessiva de nossas autoridades. Temo pelas gerações futuras.

The verticalization of the city of São Paulo is accelerating rapidly, especially in certain neighborhoods. In the 1970s, the Mayor Figueiredo Ferraz already pointed out that “São Paulo should stop growing”. If future governments fail to develop comprehensive plans for the use of space, accompanied by high-quality public services, insoluble problems may arise from this uncontrollable growth.

 

 

Nossos maiores cientistas opinam: Vacina e Máscara

Coordene, isole, impeça o fluxo e vacine.
Miguel Nicolelis
Médico e cientista brasileiro de renome mundial
(entrevista ao UOL, 18/03/2021)

Regina e eu aguardávamos pacientemente a segunda dose da vacina Oxford AstraZeneca. Desde Março de 2020 temos mantido cuidados necessários, quais sejam, porte de máscaras e álcool gel. Evitamos reuniões e visitas nesse longo período. Regina, totalmente confinada, só sai de casa para consultas regulares e eu para compras de abastecimentos ou para as duas solitárias corridas semanais de 8 e 10k pelas ruas de minha cidade bairro, Brooklin-Campo Belo.

A segunda dose não excluirá os cuidados que continuaremos a ter. Pouco sabemos sobre o Covid-19, mas, em uma entrevista dada a um importante jornal inglês, um dos responsáveis pela vacina Oxford AstraZeneca comentou que há dois tipos de vacinas, a inoculada em nossos braços e a máscara. Presentemente, utilizamos quando necessário, duas proteções nasobucais.

Em termos brasileiros, os maiores nomes entre médicos, infectologistas e cientistas têm apregoado com insistência sobre a necessidade da vacinação, que, apesar de problemas quanto à disponibilidade dos imunizantes distribuídos no país, já ultrapassou 65.000.000 de doses aplicadas, considerando-se a primeira dose (20,75%) e a segunda dose (10,22%) da população vacinada, sendo que 43.936.007 já receberam ao menos uma dose (27/05/2021). É mundialmente conhecida a capacidade brasileira no campo da vacinação.

Infelizmente, não apenas parte considerável da juventude, mas igualmente adultos em plena maturidade têm insistido em aglomerar-se em festividades, baladas, praias e outras reuniões coletivas. Não temos minimamente a disciplina dos povos do Extremo Oriente e a responsabilidade em relação ao outro parece ser uma quimera para irresponsáveis em nosso país. Educação e civilidade continuam distantes de parte de nosso povo, mercê do descaso de nossos governantes. Quanto à pandemia, o presidente se mostra negacionista convicto e alheio à tragédia; o ex-presidente, oportunista convicto, denigre o Brasil em entrevistas à mídia internacional a prejudicar sensivelmente nossas relações econômicas com o Exterior. É de se lamentar ambas as atitudes.

Os grandes laboratórios produtores da vacina contra o covid-19 estão a obter lucros extraordinários com aquelas ora à disposição. Faz-me pensar em dois fatos que considero relevantes. Décadas atrás, ao visitar com um amigo um dos mais importantes laboratórios do mundo, chamou-me a atenção um monumental painel instalado no saguão, a apresentar os objetivos essenciais da empresa. Após a série de auto louvações de seus objetivos, uma última atingia o fulcro, pois rezava que a finalidade fundamental era o acionista. Sob outra configuração, no meio da pandemia um dos maiores empresários do país observou que é nesses momentos que estão as maiores oportunidades, enquanto a mídia divulgou há pouco tempo que algumas das maiores fortunas do planeta duplicaram ou triplicaram nesses trágicos tempos. Essas posturas, sem quaisquer princípios éticos e morais, evidenciam que estamos distantes de um mínimo de racionalidade.

É alvissareira a posição de mais de uma centena de países propondo a quebra de patentes dos imunizantes durante esse sombrio período. Oxalá essas patentes sejam quebradas.

No último dia 24 lá estávamos para receber a segunda dose da AstraZeneca na UBS Max Perlman na Vila Nova Conceição. Bem organizada, o atendimento foi rápido.

Fato realmente preocupante está a acontecer, pois milhares de pessoas estão deixando de tomar a segunda dose. Urge por parte do governo estadual divulgar mais acentuadamente o grave problema que pode advir de tal posicionamento. Sem a aplicação que ratifica os efeitos da primeira dose todo esforço para que um painel dos imunizados se complete poderá ficar comprometido.

Sob outra égide, a segunda dose, segundo nossos especialistas, não garante a imunização por completo. Há variações quanto à eficácia de cada vacina. Teremos ainda, durante um período rigorosamente desconhecido, que conviver com a máscara, o álcool gel, evitando aglomeração, as insanas baladas e bailes funks nas periferias, festividades e bingos nos bairros mais privilegiados, assim como reuniões familiares ou sociais com número inadequado de integrantes.

Que as mentes se abram, que a politização não prejudique ainda mais as consciências desavisadas que, mercê do negacionismo, acreditam bastar a medicação não vacinal para se evitar o contágio. A competente pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Margareth Dalcomo, entende que “a discussão sobre tratamento precoce é uma perda de tempo absolutamente imperdoável nesse momento da pandemia no Brasil” (uol debate, 26/05/2021), opinião corroborada por inúmeros médicos, infectologistas e microbiologistas do país, que se pronunciam diariamente pelos meios de comunicação. Todavia, a vacina continua a ser a salvação e, tanto a Fundação Oswaldo Cruz como o Instituto Butantã estão em trabalho full-time, empenhando-se no sentido de produzir vacinas, a AstraZeneca e a Coronavac, respectivamente. O imunizante da Pfizer paulatinamente está sendo introduzido em nossas terras e oxalá outros cheguem. Que os grandes laboratórios mundiais que produzem os insumos essenciais entendam o apelo dos menos favorecidos, os mais atingidos pela pandemia, e permitam a quebra de suas patentes nesse trágico e prolongado período. Creio ser o apelo da Humanidade.

Regina and I took the second dose of the Oxford AstraZeneca vaccine. The WHO and the vast majority of our most respected infectologists indicate the vaccine as indispensable to all Brazilian citizens, as well as the use of masks, even after the vaccine. Unfortunately, negationists in the country, starting with the president, despise the scientist’s opinion on Covid-19.