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A Inesquecível Jornada Mundial da Juventude

Não há esforço de “pacificação” duradouro
com uma sociedade que abandona parte de si mesma.

A verdadeira riqueza não está nas coisas,
mas no coração.
Frases do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude

Verdadeira apoteose apoderou-se da cidade do Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude. A presença do Sumo Pontífice, Papa Francisco, foi saudada ao vivo, sem barreiras, sem carros blindados. Uma emoção só. Para quem assistia pela TV, apenas o receio de que um alucinado pudesse cometer o desvario pleno. Mas não. Comovente sob tantos aspectos, sendo que todos os peregrinos, movidos pela fé, estavam cônscios da dimensão da Jornada. Três de minhas netas lá estiveram e postaram inúmeras mensagens diárias, comentando os momentos inesquecíveis que estavam a viver.

Em entrevista exclusiva ao “Fantástico” da Rede Globo (28/07), conduzida por Gerson Camarotti, o Papa Francisco observou que não tinha temor e que não aceitou os vidros de segurança do papamóvel que lhe foi proposto no Vaticano. Disse que teria contato com o povo, com as comunidades e com os pobres ou não viria. Reconheceu que sua postura poderia não ser bem vista, mas era assim que entendia as palavras que o marcaram tão logo ungido Papa, vindas do Cardeal Dom Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, para que não se esquecesse dos pobres. Afirmaria textualmente: “Eu não sinto medo. Sei que ninguém morre de véspera. Quando acontecer, o que Deus permitir, será. Eu não poderia vir ver este povo, que tem um coração tão grande, detrás de  uma caixa de vidro. As duas seguranças (do Vaticano e do Brasil) trabalharam muito bem. Mas ambas sabem que sou um indisciplinado nesse aspecto.”

Confesso que jamais vi tamanha manifestação de fé e de entusiasmo. Para esse mar de jovens vindo de todos os recantos do mundo, assim como aos adultos, idosos e crianças, Sua Santidade, em nenhum instante dos sete dias passados no Rio, deixou a amabilidade que reforça sua vocação voltada aos mais infortunados. Um iluminado.

A uma pergunta sobre o carro que o levava aos inúmeros encontros, Papa Francisco explicou a razão de ter escolhido para a Jornada Mundial da Juventude, assim como o faz no Vaticano, um veículo simples, aquele que vemos diariamente nas ruas. Da visita ao Vaticano, no longínquo 1959, estou a lembrar das limusines que de lá saíam com altas autoridades eclesiásticas. O exemplo de Sua Santidade atual será seguido? Esperemos que sim. O Papa João XXIII já sinalizara o despojamento, mas apenas com o atual Papa, Francisco, esse difícil processo poderá trazer esperanças às centenas de milhões de católicos espalhados pelo mundo.  Possivelmente, a ouvir as suas sinceras palavras na entrevista aludida, o Santo Padre responderia à carta do Padre Redentorista Henry Le Boursicault que, aos 75 anos, empreendeu em 1995, a pé, viagem de Paris a Roma, a fim de entregar missiva ao Papa João Paulo II na qual denunciava a ostentação e as despesas colossais do Vaticano (vide: “O Peregrino” – Narrativa em Torno do Notável Henry Le Boursicault, 21/07/2012). Le Boursicault jamais recebeu resposta do Vaticano. Esperançosas as palavras do Papa Francisco ditas na entrevista: “O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, apegamo-nos ao dinheiro.”

Durante a conversa essencial, Sua Santidade ainda falaria que ninguém poderá ter a consciência tranquila sabendo que uma criança está a morrer de fome nesse planeta, assim como não deixou de mencionar o descaso para com os idosos. Essa cegueira teria como causa aquilo que denominou a “feroz idolatria pelo dinheiro” (sic).     

Duas observações que nada contribuem para o andamento político e a vida social, se assim podemos afirmar. A mudança da Missa de Envio, transferida de Guaratiba para Copacabana, mostra bem o descaso e o despreparo público de nossos governantes, empreiteiros e organizadores do megaevento, que cometeram erros primários. Como não prever que chuvas poderiam ocorrer? Como ressarcir aos cofres públicos verbas perdidas devido à inadequação? Como compensar comerciantes simples do entorno de Guaratiba pelos gastos enormes que tiveram com mercadorias perecíveis, que serão inutilizadas? Governador do Estado e Prefeito do Rio dão explicações evasivas. Sempre. Lembremos Teresópolis e Petrópolis de anos anteriores, quando os deslizamentos de terra soterraram centenas de moradores e praticamente, apesar das promessas do Governador e Prefeitos da região serrana fluminense, pouquíssima coisa foi feita e até verbas foram surrupiadas.

O desserviço inominável do portal Terra, que na noite de sábado (27/07) deu mostras do despreparo, quiçá irresponsabilidade, de seus dirigentes. Postaram mais de cem fotos de algumas centenas de manifestantes em cenas rigorosamente acintosas, com impropérios que atingiam, inclusive, Sua Santidade. Mulheres desnudas, tendo grafadas em seus corpos  palavras impublicáveis, inclusive se autorotulando “pervertidas”; manifestantes transtornados destruindo imagens da Padroeira do Brasil, todos eufóricos empunhando cartazes injuriosos contra a Jornada e a Igreja Católica. Na belíssima entrevista, o Papa Francisco bem disse frase que cairia como uma luva na infausta manifestação que teve divulgação pelo portal Terra: “fala-se mais de uma árvore caída do que de um bosque a crescer”. E de pensar que essas poucas centenas de provocadores correspondem a uma microscópica porcentagem dos 3.000.000 de peregrinos que estiveram na manhã do domingo (28/07) na Missa de Envio!!! Certamente, essa massa humana extraordinária – majoritariamente jovem – que, movida pela fé, lá esteve a acompanhar a Missa celebrada pelo Santo Padre e coadjuvada por centenas de eclesiásticos, repudiaria veementemente tal procedimento do referido portal. Comentando texto de T.S.Elliot, Mario Vargas Llosa observa: “A ingênua ideia de que, através da educação, pode-se transmitir a cultura à totalidade da sociedade está a destruir a ‘alta cultura’, pois a única maneira de conseguir essa democratização universal da cultura é empobrecendo-a, tornando-a cada dia mais superficial”. E a Igreja Católica Apostólica Romana tem nos estudos exegéticos ao longo da história bases sólidas de segmento da denominada “alta cultura”. Lamentável é a guarida que a mídia dá a essas insensatas e inoportunas manifestações, cujos adeptos estão, hélas, conscientes dessa fácil “divulgação”.

Seria para legião de jovens e peregrinos sãos que o Papa Francisco daria seu sincero testemunho ao entrevistador do programa televisivo: “Com toda a franqueza lhe digo: não sei bem por que os jovens estão protestando. Esse é o primeiro ponto. Segundo ponto: um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre ruim. A utopia é respirar e olhar adiante. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas às vezes a experiência nos freia. E ele tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista. E isso é muito lindo! É preciso ouvir os jovens, dar-lhes lugares para se expressar, e cuidar para que não sejam manipulados.”

Demonstrando um senso de humor requintado, ao ser questionado sobre a rivalidade Brasil-Argentina, disse: “O povo brasileiro tem um grande coração. Quanto à rivalidade, creio que já está totalmente superada. Porque negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro.”

A Visita do Santo Padre ao Brasil, suas pregações, sua atenção para com as crianças (“vinde a mim os pequeninos”), jovens, idosos, carentes e infortunados reforçam a ideia de um Vaticano que se deverá renovar,  voltando ao verdadeiro sentido do Evangelho. Oxalá isso aconteça e que as mensagens diretas aos nossos governantes, onde não faltou alusão à corrupção, possam sensibilizar corações indiferentes às condições do povo, mas intencionados vorazmente à “feroz idolatria pelo dinheiro”. Tem a Igreja Católica Apostólica Romana uma tradição bimilenária, sofrendo contudo, em sua trajetória histórica, períodos que não recomendam lisonjas. Não obstante, mantém-se coesa ainda hoje. E isso é admirável. Que assim persista “per secula seculorum”.

This post is a reflection on the visit of Pope Francis to Brazil for the World Youth Day 2013 and on the importance of his messages addressed not only to pilgrims, but also to civil leaders, government officials and fellow Roman Catholic clerics.

 

A Perenidade Qualitativa

Je suis devenu français d’abord dans ma tête,
dans mon cœur, dans ma manière d’être, dans ma langue.
Je suis devenu français.
C’est-à-dire que j’ai abandonné
une grande partie de mon arménité pour être français.
Il faut le faire ou il faut partir.
Charles Aznavour
(entrevista concedida a Marc-Olivier Fogiel para a RTL, 28/02/2013)

Nossas filhas Maria Beatriz e Maria Fernanda nos ofereceram um belo presente de Bodas de Ouro e fomos os quatro assistir a uma apresentação de Charles Aznavour no último dia 16, em sala de espetáculo absolutamente repleta. Sabiam de minha admiração rigorosamente inconteste por esse mito da canção francesa desde a época de estudante de música em Paris, de 1958 a 1962. Aprenderam com o pai a também admirar determinados cantores desse período de ouro em que Frank Sinatra, Bing Crosby, Tony Bennett, Amália Rodrigues, Nat King Cole encantavam público outro. Tivemos mais tarde Elis Regina, a única neste país a ultrapassar a fronteira que leva à excelência.

Novo perfil  surgiria com os Beatles, Elvis Presley , Rolling Stones e a ascensão do Rock. Com esse gênero mutante, abrir-se-iam as portas para a elevação estratosférica de decibéis, feérica iluminação, trajes e costumes esdrúxulos, gestuais desconectados para o delírio de multidões que, à la manière da juventude nazista, acenam uniformemente braços acompanhando aos berros os grupos estrangeiros que visitam o Brasil. Outros tantos conjuntos de nosso solo, sejam eles baianos em seus trios elétricos; sertanejos descaracterizados e sem raízes que, em duplas  proliferam neste país; roqueiros para todos os gostos desses distintos bandos de aficcionados. Nesta última categoria, prostam-se diante de ídolos estranhos, fartamente tatuados, que percorrem endoidados os palcos, preferencialmente erguidos em grandes espaços abertos. Dias antes muitos já ficam acampados à porta das bilheterias. Histeria pura.  E a mídia, sempre a faturar, dá imensa guarida a essas “tribus” acampadas antes de eventos caríssimos e coloca microfones entrevistando jovens que, realmente nada têm a dizer. Constatações. A “música”, ou quaisquer outros sinônimos, quiça antônimos, é mero pormenor.

Regressemos a Charles Aznavour. Ao adentrarmos a ampla sala de espetáculos, observamos que parte considerável do público era constituída por cidadãos da terceira idade ou da idade madura. Garantia de que, em princípio, haveria silêncio durante a apresentação, apesar de garçons rápidos e treinados atenderem à clientela sentada frente às mesas. Essa audiência habituara-se desde o passado a respeitar o artista remanescente da “idade de ouro”. E o que ouvimos levou todos à comoção.

Charles Aznavour dispensa comentários. Para aquele que não o conhece mais profundamente, o acesso ao Google mostrará com pormenores a bela trajetória do cantor, compositor, ator e cenógrafo francês de origem armênia.

Ouvimos um mito a poucos dias de seu octogésimo-nono aniversário. Movido por uma energia descomunal e possuidor ainda de timbre vocal inconfundível, durante hora e meia, sem abandonar o palco, Aznavour desfilou canções de seu imenso repertório e não faltaram alguns hits que fazem parte do cancioneiro universal: Que c’est triste Venise, She, Ave Maria, La Bohème

Impressiona o impacto que causa a legendária voz rouca do cantor a seguir a frase musical com impecável rigor. Não sem motivo, Aznavour, ao explicar algumas de suas letras e canções, afirmou a importância do texto para a perfeita adequação à chanson. Aquele precisa possuir contorno, plasticidade, rima para que, acoplada à boa canção, resulte em obra de qualidade, como disse. Implica duas categorias de textos: a poesia, que contém  flutuação “melódica” natural e respiração essencial, necessita de um grande mestre para vertê-la em música, e a letra expressamente concebida para a canção, que se estiola sem estar acoplada aos sons. A certa altura do espetáculo, após individualizar cada um dos poucos músicos que o acompanham na tournée, afirmou que durante muitas décadas teve como pianista profissionais da área, mas que, chegado à atual faixa etária, buscou um pianista “de nível superior” (suas palavras) e encontrou num laureado do dificílimo concurso internacional Fréderic Chopin de Varsóvia o intérprete preciso. Frise-se a alta qualidade de mais dois tecladistas, guitarrista, duas vocalistas, um baterista. Todos em harmonia, sem jamais alcançar nível sonoro insuportável, tão característico dos espetáculos destinados a outra categoria de frequentadores. Frise-se a precária condição acústica do Espaço das Américas.

Assim como comentei a apresentação de outro mito, Carlos do Carmo, fadista impecável, o que se percebe é que o público tradicional da canção respeita a interpretação e o silêncio se faz. Carlos do Carmo, que fora precedido por grupo amante dos altíssimos decibéis em música descartável, exigiu silêncio da platéia que lotou o salão da Casa de Portugal o que de fato ocorreria (vide Carlos do Carmo e a Magia do Fado – Gestual Econômico a Valorizar Texto-Música, 29/01/2010). Charles Aznavour manteve en suspense um público atento, admirado e entusiasta ao fim de cada peça apresentada. Discreto em seu gestual, sabe transmitir na plenitude o conteúdo que o público dele espera. Suas canções são verdadeiros hinos à vida e ao amor.

Infelizmente, esses grandes artistas da canção estão chegando ao fim. As novas gerações, inundadas pela parafernália do nada e que têm a sustentação integral do Sistema, desconhecerão dentro de poucas décadas o sentido da música essencial destinada a um gênero de musique de variétés.  Poder-se-ia acrescentar que a canção popular perpetrada por tantos artistas de mérito, entre eles Charles Aznavour, continuará sua trajetória a partir de público menor, mas infinitamente mais seletivo em suas escolhas sonoras. Mario Vargas Lhosa, em recente conferência sobre o estágio atual da Arte, entendendo-a por vezes como palhaçada que interessa ao Sistema, afirmou que “se nos dedicarmos à pura brincadeira, a cultura desaparece e nosso mundo se empobrece”.

 After a concert with Charles Aznavour in São Paulo, I couldn’t help comparing the qualities of this French pop legend – good songs, great lyrics, selected audience – to the crappy pop music of today with performers without singing talent, pathetic lyrics, noise, crowds standing up, screaming and waving their arms in a frenzy, sadly concluding that pop music just isn’t what it used to be at the “golden age” with Frank Sinatra, Nat King Cole, Bing Crosby, Amália Rodrigues, Tony Bennett and Aznavour himself and that quality is falling over time.

 

 

Mensagens que transcendem

Todas as grandes tradições do mundo,
inclusive, é claro, o cristianismo,
dizem explicitamente que a morte não é o fim.
Todas falam em algum tipo de vida futura,
o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado.
Mas, não obstante esses ensinamentos,
a sociedade moderna é em larga escala
um deserto espiritual
em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe.
Sogyal Rinpoche (“O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”)

Todo artista verdadeiro é simples, modesto, generoso e sem vaidades.
Júlia d’Almendra

O post anterior gerou comoção entre os que tiveram o privilégio de conhecer o imenso artista que foi Luca Vitali. Para aqueles que periodicamente viam-no citado em meus textos em contextos sempre ligados à Arte, seja através de argumentos que trocávamos ou, então, graficamente visualizados pelas dezenas de desenhos e charges que ilustraram o blog semanal, ficaria a certeza de um silêncio dos diálogos e imagens que doravante deixarão de visitar este espaço semanal. Contudo, a reverenciar o amigo que nos deixou, inserirei outras obras pertencendo a contextos diversos. Essa vontade, que terá o apoio irrestrito de Marisa – esposa, companheira e colaboradora nessa complexa missão tecnológica, tão distante das preocupações de Luca -, garantirá a presença do artista. É um consolo e surda alegria. Salvaguarda.

Cinco e-mails não poderiam estar ausentes do presente post, o terceiro a conter hilariante ilustração. Revelam a intensidade de afeto que transcende o mero convívio das pessoas. Ainda existem os seres especiais. São cada vez mais raros e, quando há a possibilidade de um deles cruzar nossos caminhos, é porque realmente fomos tocados pela bem aventurança que nos conduz ao inefável. Luca Vitali…

Marisa enviou-nos um pungente ato de fé. Traduz a alma bondosa, paciente, estimuladora e que deu a Luca a possibilidade da criação livre, sem entraves. Tantas foram as vezes em que a vi, atônita e embevecida, a admirar a obra de Luca. Tinha a consciência plena de que estava a viver com um grande Mestre, basicamente desconhecido de um Sistema que vive em função de marchands ávidos de artistas mediáticos, tantos deles sem qualquer mérito.

Marisa confessa:   

“Por mais que procure, não encontro palavras para descrever o que senti ao ler seu blog. Linda homenagem ao amigo irmão que tanto amamos.

Tive o privilégio de testemunhar o encontro de vocês dois e acompanhar o desenrolar de uma amizade imediata e infinita. A verdadeira expressão do amor, no seu mais amplo sentido! Por diversas vezes participei dos encontros onde você lia em voz alta os escritos de seu próximo post para que o Luca o ilustrasse. Você lia lentamente seus magníficos textos e nós escutávamos, atentamente. Eu, como um simples ser humano mortal, prestava enorme atenção nas palavras, tentando compreendê-las e delas extrair o significado daquilo que estava sendo transmitido. Enquanto isso, o Luca, totalmente absorto, ‘sentia’ o que estava sendo lido. Sua compreensão ia muito além das palavras, ele captava todo o sentimento não só das palavras, mas do autor delas. Eram momentos sublimes, mágicos, que tive a dádiva de presenciar.

Luca sempre me falava que a essência de tudo era o triângulo, a trindade, pai, filho e espírito santo. Quando acontecia a trindade, invariavelmente vinha a transcendência. Pois é… hoje não só consigo compreender o que ele tentava me ensinar, como, mais uma vez, pude presenciar a trindade “Luca Vitali – José Eduardo Martins – François Servenière”. Meu Deus, tão simples e tão óbvio! Vocês três formaram a trindade que o Luca tanto procurava. E tudo aconteceu…

Hoje sinto-me muito triste, com uma saudade enorme do Luca, meu amor, companheiro e amigo. Agradeço muito por todo o carinho que você e a nossa querida Regina têm me dispensado. Estar com vocês é sentir o Luca mais perto de mim”.

Idalete Giga, que trocou e-mails com Luca Vitali, dele recebendo um belo desenho, escreve de Portugal:

“Foi com grande consternação que li no seu blog a notícia da morte do seu querido Amigo Luca Vitali. Compreendo e comungo da sua tristeza ao ver partir assim, inesperada e repentinamente, um amigo tão querido. Sem dúvida que Luca era um artista de grande talento e de uma imensa generosidade . Ele permanecerá vivo nas obras que amorosamente criou e na memória dos amigos e familiares. Fico com grande mágoa de não o ter conhecido pessoalmente. Contudo, já me era muito familiar através dos seus inúmeros desenhos que completaram, de forma sublime, muitos posts do José Eduardo. À medida que os nossos amigos partem, vamos também partindo e morrendo um pouco com eles. O Luca já se libertou do peso da terra. Já nada o perturbará. Já nada o fará sofrer. Que a sua alma descanse em Paz para sempre”.

Mônica Sette Lopes, juíza do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais, encantara-se com as pinturas de Luca Vitali da série “Marias Brasileiras” e dele receberia  desenho sugestivo:

“Ele te mostrou a Maria da Lei que fez para mim? Para você rir um pouco, vai em attach. Brinquei com ele com aquelas Marias todas em como seria uma Maria que ficava no meio dos processos”

Franços Servenière nos envia de Blangy-le-Chatêau, na Normandia, texto inserido em seu site:

“No começo de Abril de 2013, enquanto Luca Vitali e José Eduardo projetavam para o outono no Brasil um recital do pianista em torno das sete telas da série cósmica e dos sete Études Cosmiques, o pintor enviou-me seu calendário mensal, ilustrado a cada mês por uma de suas obras. Esta está sob o título de’ Outono de Servenière’ , referência ao meu outono dedicado a compor a coletânea pianística, inspirada por e em honra de suas telas. Fiquei sem voz, pelo presente e pela qualidade da tela, uma verdadeira obra prima. Domingo, 14 de Abril, Luca enviou-me o certificado de autenticidade e mais três fotos ao lado de sua recém criação. Quarta-feira, logo a seguir, José Eduardo me contacta pelo skype e anuncia a chorar a horrível notícia: ‘Luca morreu’. Estou aterrado e incapaz de dizer qualquer palavra…

José Eduardo prestou no blog anterior uma vibrante homenagem ao amigo-irmão, repentinamente ceifado de nosso convívio. Estou arrasado. Perco uma amizade que nasceu profunda, cercada pela comunhão artística intensa, pois nós formamos e formaremos ainda simbolicamente um tríptico de artistas com concepções semelhantes, como tão bem escreve José Eduardo nesse post. Para nos consolar desse desaparecimento trágico, basta admirar pela internet ( http://vitaliluca.blogspot.com.br ) essa arte solar que me inspirou tanto. Resolvemos acrescentar no caderno de Études Cosmiques um oitavo estudo, que terá o título Automne Cosmique – In Memoriam de Luca Vitali“. (tradução JEM).

Eliana Bento, abnegada fonoaudióloga, transmite a sua e a opinião do artista Evilásio Cândido, discípulo de Luca Vitali e mencionado no blog anterior:

“Tivemos a graça de conviver com Luca Vitali!

O encontro de Evilásio e Luca tinha que ocorrer e eu, como um presente da vida, tive o privilégio de ver esse encontro de almas. Li emocionada tudo o que escreveu sobre Luca, sei da falta que ele nos faz. Tive o privilegio de conviver, semanalmente, com Luca por 18 anos, durante as aulas que ministrava ao Evilásio. Conversamos muito durante todo esse tempo e sei da beleza e da importância do deu trabalho artístico, sei também o quanto ele procurou e desejou o reconhecimento de todo o seu talento. Vejo esse reconhecimento na integração entre as artes, citada em seu blog, rara de ocorrer e privilégio das almas generosas, que só os artistas possuem. É como Evilásio afirmou quando soube de nossa grande perda: ‘Ele agora é nossa inspiração!’

Singelamente, Regina e eu, cercados de nosso pequeno clã, comemoramos neste sábado nossas Bodas de Ouro. Singelamente. Muitas alegrias, tristezas, compreensões e paciência por parte dela, esperanças sempre, todo o nosso universo sob o manto da Música e do Sagrado. Sob este, nossas filhas, genros – in memoriam José Rinaldo – e netas proporcionam ao casal a essência da dádiva. Cotidianamente. Logo após nosso almoço de 16 de Abril, menos de dois dias antes do infausto acontecimento, Luca enviou-me singela e expressiva lembrança. Espontaneamente nasciam os primeiros esboços desses pássaros da união feitos à mesa e testemunhados por José Eduardo Lonfranchi, amigo de longa data do artista, que naquele momento veio até nós para saudações. Último desenho a servir como  símbolo de afeto de uma amizade sem limites.

O desenho de Regina em seu piano imaginário, ecológico e voltado ao belo, foi outro desses exemplos da magia que brotavam da mente desse ser especial que sempre será Luca Vitali.

 Fica a nossa gratidão eterna ao artista, amigo e interlocutor arguto pelo estímulo, esperança, desprendimento e generosidade que em nenhum instante deixou de nos transmitir. Sua alma deve agora estar a conviver com o Universo Cósmico que tanto perscrutou em suas extraordinárias criações.