Quando a geografia fascina e a arte aflora

Porém, a arte só beija quem por ela almeja ser beijado.
A arte exige uma liturgia, um ritual, que se prende com a fonte da dádiva e a aproximação do amor.
A arte atravessa a nossa mente com pés de pomba,
à mínima tempestade torna-se invisível, substituída pelos apelos do cotidiano.
Miguel Real (ensaísta e professor de filosofia português)

Em blog já escrevi sobre Joep, meu amigo holandês (vide Blog: “Joep Huiskamp”, 20/03/2021). Conselheiro do “Executive Board”, trabalha na Direção da Universidade de Tecnologia de Eindhoven (IUe) desde 1990.

Recentemente pormenorizei o escritor português Wenceslau de Moraes que, a certa altura, niponizou-se inteiramente motivado pelo fascínio com que o Extremo Oriente, Japão em particular, impregnou sua existência de maneira definitiva (vide blog: “Daí-Nippon” de Wenceslau de Moraes -1854-1929, 11/02 e 18/02/2023).

Conheci Joep no ano 2000 e nos tornamos bons amigos. É um privilégio vê-lo, juntamente com sua esposa Jonneke, em quase todos os recitais que apresento na Bélgica, os bem mais de uma dezena em Gand e em outras cidades do país. Inclusive, estiveram por duas vezes em Portugal, nas apresentações em Coimbra e Lisboa. O apego de Joep aos Açores, bem anterior à nossa amizade, é proverbial. Sempre que pode viaja para visitá-los. De minha parte, confesso que, em três das nove ilhas do arquipélago dos Açores, território autônomo português, apresentei-me em recitais no longínquo 1992. Terceira, Faial, e São Miguel foram as ilhas e, não fosse tão distante alcançá-las, teria ido mais vezes, pois minha impressão é a de que os Açores, situados no Atlântico Norte, fazem parte daquelas regiões entendidas como paraísos sobre a Terra.

Estreitaram-se nossos laços em torno do notável compositor e regente Francisco de Lacerda (1869-1934), açoriano nascido na ilha de São Jorge.  Havia gravado a extraordinária coletânea de Lacerda, “Trente-six histoires pour amuser les enfants d’un artiste”, e já àquela altura Joep esboçava suas aquarelas, guaches ou desenhos em cores cultuando a música, a arte, e não se esquecendo de Francisco de Lacerda. Amalgama-se o amor pelos Açores e a um de seus filhos maiores. Ofereceu-me, fruto dessa admiração pelos luminares açorianos, um desenho de Lacerda feito num recorte de papel grosso, após um almoço num pequeno restaurante de Gand no ano 2.000.

Mais tarde, a rememorar nossa conversa sobre literatura portuguesa, deu-me pequeno óleo sobre tela, em 2015, a homenagear o grande poeta Antero de Quental (1842-1891), nascido em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel.

Os desenhos de Joep Huiskamp relacionados à minha atividade pianística atravessaram duas décadas, pois dos primeiros, no ano 2.000, caracterizando Lacerda, mas também Scriabine, outros surgiram. Em 2017, após meu recital na sala Quatre Mains, em Gand, entregou-me alguns guaches feitos no dia seguinte, sendo que um deles, “Ir mãos”, foi inspirado após a interpretação de “Vers la Flamme”, de Scriabine. Joep e Jonneke deverão estar presentes no meu recital em Gand no próximo dia 25 de Maio.

Qual não foi a minha surpresa ao receber dias atrás e-mail de Joep a dizer que visitara, como sempre o faz, seja com Jonneke ou com seu irmão, a Ilha de São Jorge. A visita “obrigatória” representa também um culto a Francisco de Lacerda. Enviou-me foto do mar açoriano, tantas vezes revolto, a açoitar o arquipélago, e um desenho, creio que o mais expressivo da coleção. Apresento-o no atual post, ratificando a admiração de Joep pela criação de Lacerda.

Creio firmemente que a sensível e magistral coletânea de Francisco de Lacerda está entre as mais importantes obras para piano destinadas ao universo infantil em termos planetários. Já o disse em vários blogs. A ratificação dessa importância veio através do texto assinado pelo mais importante biógrafo de Claude Debussy da segunda metade do século XX, François Lesure (1923-2001), Diretor do Departamento de Música da Bibliothèque Nationale de Paris. Privilegiava o texto minha gravação da coletânea lacerdiana no CD lançado pelo selo belga De Rode Pomp. Seria ledo engano acreditar que as “36 histórias…” são de fácil aprendizado. O aguçado sentido das sonoridades e o seguir as suas extinções sonoras através de efeitos requintados, a pedalização seletiva e, a “comandar “a execução, a audição acurada, tornam o conjunto único no gênero.   No Youtube as 36 histórias podem ser ouvidas, divididas em três blocos. Os desenhos coloridos que acompanham a criação lacerdiana foram realizados pelo meu saudoso amigo e artista plástico Luca Vitali (1940-2012). O ilustre compositor Willy Correia de Oliveira, ao ouvir pela primeira vez as “36 histórias”, atônito me disse: “Essa obra é um milagre”.

https://www.youtube.com/playlist?list=PL1j-Jq5yk8iyblpLYazgN-iA6IyfG6eBv

Se Joep já havia sido atraído pelos Açores, foi mais ainda sonoramente “abduzido” pelas sonoridades de Francisco de Lacerda. Como bem se expressou nosso poeta Luiz Guimarães Júnior (1844-1898) em contexto outro: “Resistir quem há-de?”. Historiar o compositor e a Cultura portuguesa durante mais de duas décadas, pois Joep também traduziu para o holandês “O Mandarim”, de Eça de Queiroz, a revelar o raro talento em áreas outras que não a da sua especialidade em educação e tecnologia, bem evidencia o resultado do aprofundamento em várias sendas. Para tanto, necessário se faz o olhar amoroso àquilo que se está a pesquisar. A existência propicia essa rara oportunidade. Não desperdiçá-la é uma dádiva.

Clique para ouvir, de Francisco de Lacerda, “Papillons” e “Zara”, na interpretação de J.E.M:

https://www.youtube.com/watch?v=rOa_dEmQg30

My friend Joep Huikamp is an advisor to the Executive Board of the Eindhoven University of Technology (IUe). Having visited the Azores archipelago decades ago, he would return numerous times, fascinated by the local culture and unique nature. Our friendship dates back to 2000 and began in Ghent, Belgium, growing stronger  around our shared interest for the remarkable Azorean composer Francisco de Lacerda (1869-1934). Over the years I have been favored with a series of drawings and gouaches made by the artist. A recent gouache I received portraying Lacerda motivated this post.

 

Quando o livro penetra em nosso de profundis

A descrença moderna, ao invés de ser um fenômeno esparso,
encontra apoio na estrutura da sociedade moderna
e na estrutura do pensamento em si.

A memória mais profunda é a memória de todo nosso destino.
Jean Guitton (1901-1999)

Foram inúmeras as mensagens sobre o blog anterior. De maneira unânime a leitura é louvada. É uma dádiva ter leitores que entendem o livro como um companheiro, por vezes de vida. Do meu amigo Marcelo, que encontro raramente na feira-livre devido a horários diferentes de frequência, ouvi, horas após a publicação, uma pergunta surpreendente: “teria o livro vida?”  Numa analogia, sim, pois um livro conservado na estante, após leitura e visitas outras, respira e “transpira” conhecimento, mas tem algo que o faz pulsar, graças à própria exalação de cada exemplar que se altera à medida que o tempo escoa. O perfume das folhas novas tem incomensurável diferença daquele de livro antigo. Fez-me lembrar, sob outra configuração, de um texto basilar de Edmondo de Amicis (1846-1908), autor do consagrado “Cuore”, e que foi tema de um blog (vide: “A voz de um livro”, 19/02/2010). No conto, o livro tem vida e narra a sua saga pelo mundo, chega a receber um tiro e, de mãos em mãos, convive com as várias camadas sociais, continua sua trajetória até se deteriorar com o passar dos anos, para finalmente estiolar-se em paz, em surdina, sôfrego. Àquela altura, atento à minha narração, meu saudoso amigo e artista plástico Luca Vitali (1940-2013) não deixou de criar um desenho para o post mencionado.

Tendo visitado algumas bibliotecas do Reino Unido, da França e de Portugal,  encantaram-me em terras lusíadas as do Convento de Mafra e, sobretudo, da Biblioteca Joanina em Coimbra, que contém milhares de manuscritos e mais de um milhão de volumes em suas salas.  Uma das minhas recordações mais expressivas durante a trajetória como pianista, que se encerra neste ano, foi o privilégio de ter me apresentado 10 vezes em recitais na magnificente Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, de 2004 a 2022. A aura que ela emana é insuperável, a meu ver. Maravilhamento.

https://visit.uc.pt/pt/space-list/joanina

Entendo que a perenidade de um livro físico tem ainda significado mais sensível se estiver sob a guarda daquele que o visitou décadas passadas. Como são expressivas as palavras do meu dileto amigo, ilustre arquiteto português António Menéres (1930-), várias vezes citadas ao longo dos anos neste espaço: “Sempre que olho os meus livros, quer as lombadas simplesmente cartonadas, a sua cor, os títulos das obras; mesmo sem os abrir adivinho o seu conteúdo e, quando os folheio, reconheço as leituras anteriores, muitas das quais estão sublinhadas, justamente para me facilitar outros e novos convívios” (vide blog: “Crónicas contra o esquecimento”, 29/07/2007).

A formação de uma biblioteca privada merece a preservação dos livros que deixaram raízes no nosso de profundis e, mesmo se determinado exemplar não for mais consultado no decorrer da existência, sabe-se que as referências estão sempre generosamente à disposição quando aprouver. Nesse sentido, o livro adquire um outro patamar, a unir importância e afeto redobrados. Conservo a coleção de “O Thesouro da Juventude” (18 volumes) desde 1950, tendo já permanecido em casa de uma das filhas e retornado à casa paterna (vide blog O “Thesouro da Juventude”, 17/10/2009). Quantos mais livros da minha longínqua adolescência e juventude não continuam nas estantes? Alguns daquele período enriquecem estantes de filhas, netas e amigos sensíveis e prosseguem suas sagas. Assimilados nas entranhas, esses livros poderão encantar outros leitores.

Li recentemente, no Jornal da USP, texto sobre grupo criado por estudantes da USP, “Desapega”, que está a recolher doações de livros e material didático. Alvissareira notícia que, espero, não tenha cunho ideológico preciso. Corrobora o fato mensagem que recebi do ilustre amigo, Gildo Magalhães, professor titular de História da Ciência, FFLECH-USP: “Reenviei o seu último blog para outras pessoas, porque ainda acredito no poder da leitura. Apesar da facilidade eletrônica, também ainda acredito que o livro impresso não morreu. Nesta semana de reabertura (tardia!) das aulas na USP, a EDUSP enviou caixas e mais caixas de livros por ela publicados para distribuição gratuita aos calouros. Colocados numa longa banca, foram rápida e avidamente disputados, acabando logo. Entre eles vi a sua bela edição do quarteto para piano e cordas op. 26 de Oswald”.

Nosso Pai, cultor da literatura portuguesa, conservava obras capitais em sua biblioteca. Estou a me lembrar de que, ao ler ainda bem jovem alguns Cantos dos Lusíadas em edição magnífica e bilíngue da Imprensa Nacional, Lisboa, 1878, meu Pai frisou que era necessário também visitar, mesmo que com dificuldades, a tradução em francês, pois nosso progenitor era igualmente francófilo. Após a sua morte tive o privilégio de receber na partilha o histórico exemplar. Só de pensar que anos atrás havia projeto de se eliminar Camões dos currículos escolares brasileiros, tentativa que felizmente não vingou!!! Com a decadência cultural em aceleração, é possível que “mentores” retornem ao desiderato recente.

Em viagens ao Exterior, mormente em décadas bem anteriores, verificava que parcela dos usuários do metrô lia livros durante os percursos. Nas viagens recentes, basicamente só vemos leitores de celulares. Em São Paulo, a prática da leitura no celular está a se diluir (não em troca dos livros), pois o receio de roubos clama mais alto.

Por fim, menciono posicionamento de meu dileto amigo Flávio Viegas Amoreira, escritor, poeta e crítico literário, que enviou mensagem a respeito do post anterior: “uma reflexão que enriquece uma luta que travo pelo pensamento crítico através da leitura diante do processo de idiotização, esse o termo forte, que se impõe pelas mídias de massa contra o pensamento autoconstruído a partir do ser consciente como sujeito”.

Does the book have a life? This was the comment of a reader. I include in the post other messages addressing various issues of interest related to the book and its preservation

 

Está a se perder o hábito salutar?

Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço,
e os limitados braços se põem a abraçar o mundo,
a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia.
Agostinho da Silva
(“Notícia”)

Meses atrás, ao transitar pelos canais fechados de televisão, ouvi durante um bom momento as falas de jovens frente a um entrevistador. O tema era a leitura. A faixa etária devia variar entre os 15 e 20 anos. Às pertinentes perguntas, os jovens, descontraídos, revezavam-se nas respostas, sempre buscando justificar o fato do distanciamento da leitura, mas também realçando outras modalidades de interesse que os satisfaziam.

É fato notório que o desenvolvimento tecnológico trouxe benefícios incomensuráveis à humanidade, mas fez com que tradicionais hábitos tendessem ao olvido progressivo. A eclosão do celular e todas as derivações dele decorrentes transformaram radicalmente a sociedade. Para parcela da juventude, a brevidade das mensagens, a grande maioria delas com erros graves de redação e de “conceitos”, graças também à supressão de sílabas, fato que isenta o “autor” de um mínimo rigor linguístico; o descompromisso com a qualidade dessas comunicações escritas e tantas vezes só entendida pelos pares; os jogos eletrônicos sempre em expansão mundial; as denominadas “baladas” aos fins de semana, tudo contribui para tornar a leitura de livros ou artigos relevantes uma função jurássica e, pela lógica de tantos jovens, enfadonha.

Sabemos das últimas crises de duas das mais consagradas livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva. Se de um lado tem-se de dar crédito aos sucessivos avanços das vendas online, não se deve desprezar a derrocada da cultura humanística frente ao embate desproporcional provocado pela “leitura” de textos abreviados e mal redigidos na gigantesca quantidade de celulares espalhada pelo país e pelo mundo. Verdadeiro tsunami. A distração que a parafernália internética provoca desvia, para legiões de pessoas, qualquer possibilidade de concentração na leitura de um texto propositivo em revista ou livro. Essa distração, que leva ao fatídico desconhecimento de bons textos, provoca igualmente o mau emprego das palavras nas falas – por vezes verdadeiros dialetos -, a ausência de cuidado com o linguajar que está progressivamente a caminhar para o aviltamento, no caso, da língua portuguesa. Jornais outrora de grande circulação tinham em seus quadros revisores que cuidavam com atenção das gralhas em artigos ou reportagens, tantas vezes redigidos às pressas. Presentemente, se de um lado as tiragens desses jornais diminuíram drasticamente, sob outra égide, tanto nas publicações físicas como online, a proliferação desses erros – antes fossem apenas ortográficos – invadiu as colunas.

O ilustre professor de História Medieval da Universidade de Coimbra, João Gouveia Monteiro, já apontava há mais de uma década a inobservância do jovem frente à leitura, problemática que só está a se acentuar: “Não nego que os jovens não leiam mais. Por exemplo, é seguro que leem muito mais periódicos. E também leem muito mais em suporte informático. O que eu digo é que eles, em média, leem pior, que há uma clara infantilização da leitura. E a prova é que a sua capacidade de expressão por escrito se está a degradar fortemente. Pelo menos entre os jovens que frequentam a Faculdade de Letras, disso não tenho a menor dúvidas. E se assim é nas letras…”. A acentuada visita às “telinhas” certamente é um mecanismo de aviltamento da língua mater, pois basicamente não há o menor cuidado de tantos que “escrevem” mensagens, preferencialmente voltadas ao cotidiano inócuo. Gouveia Monteiro alerta sobre situação que se deteriora, sem antídoto que possibilite a esperança: “Reconheço que hoje os nossos adolescentes têm capacidades de diversa natureza que superam em muito as da minha geração. Por exemplo, do ponto de vista técnico, do manejo de equipamentos eletrônicos essenciais para a satisfação de múltiplas necessidades. Isso é verdade. Mas devemos por isso desvalorizar a degradação de um domínio tão estruturante quanto é a capacidade de expressão oral e escrita? Em que medida é que a própria formação humanística do indivíduo, do cidadão, não se ressente da perda de qualidade nessas duas vertentes nucleares?”. E numa realidade bem próxima à da nossa neste país tropical, considera: “Entre novelas de baixa qualidade, jogos de futebol em catadupa e programas de informação convertidos em reality shows, a hipotermia cultural é certa. Mas poucos são os que resistem a um zapping sem rumo e oferecem aos filhos um bom livro, um bom programa gravado ou um bom filme. E, no entanto, é seguro que, nestas alternativas, existiria uma matéria para seduzir pela positiva e para instruir sem bocejo os nossos jovens” (João Gouveia Monteiro. “Crônicas de História, Cultura e Cidadania”, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011).

Sob outra égide, não menos preocupante quanto aos caminhos que legião de jovens está a trilhar, Idalete Giga, competente regente coral e especialista em Canto Gregoriano, tece considerações de interesse envolvendo a cultura humanística: “Mas há sempre uma lacuna que os livros da nossa adolescência não tinham – a questão da formação humanística, a formação moral dos jovens era uma preocupação constante que estava presente na literatura que nos era dirigida. Hoje confunde-se moral com religião. Ao mesmo tempo que se foi perdendo o sentido do sagrado, as sociedades contemporâneas também se esvaziaram de valores morais imprescindíveis para nos respeitarmos e amarmos uns aos outros”. Mensagem que recebi de Idalete Giga em Outubro de 2009.

Drama maior que se assevera peristilo da tragédia é a não preservação das raízes. Uma planta se estiola sem raízes sólidas. A nossa tão bela língua portuguesa corre o risco, no Brasil, de em poucas décadas estar, à força do descuido quanto à leitura de autores relevantes e da massacrante difusão de mensagens e breves textos sem quaisquer cuidados na parafernália internética, assim como no trato do cotidiano, perder a essência de sua magnificente estrutura.

Sob outra égide, diariamente determinados comentaristas televisivos ou políticos incorrem sistematicamente em erros banais da linguagem, sem acanhamento ou rubor. Há alguns que, em suas falas, repetem ad nauseam “gente”, “né” e quantidade de outros mais cacoetes. Onde estão os ombudsmen?  Essa difusão sistemática exerce influência, principalmente nos mais jovens.

Mais recentemente, grupos de estudiosos têm transmitido a jovens interessados conceitos que incluem a necessidade da leitura qualitativa – são tantas as áreas -, de disciplina, respeito aos costumes e moralidade, a fim de impedir que lampejos continuem lampejos, sem a possibilidade de um descortino cultural relevante. É uma ínfima minoria, sem dúvida. Prova de resiliência dos que se debruçam sobre a importância do livro, esperançosos por dias alvissareiros. Sem a leitura dos clássicos à contemporaneidade, esta quando qualitativa, o homem corre o risco de não mais se lembrar de toda a caminhada por ele empreendida através dos milênios.

Franz Liszt (1811-1886) compôs “Après une lecture de Dante” (Fantasia quasi Sonata), empregando o mesmo título de poema de Victor Hugo (1802-1885). Trata-se de uma Sonata com apenas um movimento e uma das criações mais significativas para piano do grande compositor húngaro. Integra o caderno “Années de pèlerinage” dedicado à Itália.

Clique para ouvir, de Franz Liszt, “Après une lecture de Dante” (Fantasia quasi Sonata ou Dante Sonata), na interpretação magnífica de Vladimir Sofronitsky (1901-1961). Gravação ao vivo captada em 1952:

https://www.youtube.com/watch?v=SNj1l7xr-9w

The vast majority of young people read little or nothing. Causes are pointed out and unfortunately there are basically no prospects of reversal.