Quando o leitor aguça a curiosidade

Quão raro seja o verdadeiro amor,
ainda assim ele é menor do que a verdadeira amizade.
Rochefoucauld (1613-1680)

Não foram poucas as mensagens recebidas sobre o talento de Joep Huiskamp, assim como a respeito da nossa amizade. Um dos leitores a questiona, argumentando se poderia ser mantida intensa apesar de tão grande distanciamento. No caso, a minha com o amigo holandês Joep, que perdura há mais de 20 anos. Desde 2001, Joep e sua esposa Jonneke viajam de Eindhoven na Holanda e comparecem aos meus recitais na Antuérpia, Bruxelas e majoritariamente em Gand. Estiveram também nas apresentações em Coimbra e Lisboa. Motivo de grande alegria.

Respondo inicialmente a dizer que a amizade independe da distância, tampouco do tempo. Incontáveis são os textos literários de toda sorte que mencionam amizades perenes sem rusgas e que por vezes se mantêm, apesar de um único convívio durante toda uma existência. Necessário haver afinidades, fator basicamente essencial. Divergências se atenuam durante diálogos conscientes e frutos do amadurecimento. Amigos verdadeiros sabem compartimentar diferenças do pensar, visões do cotidiano, preferências por áreas do conhecimento e tantas mais matérias.

Clique para ouvir, de Gilberto Mendes, “Estudo, Ex-tudo, Eis tudo pois!”, na interpretação de JEM:

https://www.youtube.com/watch?v=eXy69fjF-Yw

Vem-me sempre à mente o pensamento de Saint-Exupéry expresso em “Citadelle”, um dos livros mais significativos do gênero no século XX. Do imaginário do escritor surge a história narrada pelo berbere, Senhor do Império, cujo território  ocupava vastidão do deserto. Já mencionei o relato em blog bem anterior. Dois jardineiros, após a labuta diária, se encontravam para conversar sobre o cotidiano. “Viviam como irmãos antes que a vida os separasse, sempre bebendo o chá à tarde, celebrando as mesmas festas e se aconselhando mutuamente”.  Um mercador contratou um deles para poucas semanas, “…mas pilhagens em sua caravana, acasos da existência, guerras entre impérios, tempestades, naufrágios, ruínas, mortes e as tantas tarefas fizeram o jardineiro viajante viver durante anos como um barril no mar, levando-o de jardim em jardim até os confins do mundo”. O amigo que partiu enviou dessa geografia distante uma mensagem ao seu antigo parceiro de jardinagem, sendo que essa carta demorou tempo imenso até chegar às suas mãos. Dizia apenas que “nesta manhã, eu podei as minhas roseiras…”. Após a recepção, três anos se passaram, até que um dia o Senhor da imensidão comunicou ao jardineiro que uma caravana partiria para aquele fim do mundo, o que fez o amigo ficar dias a pensar numa resposta ao companheiro distante. Por fim, com dificuldade redigiu: “Esta manhã, eu também podei minhas roseiras”, levando o Senhor do Império a meditar sobre o essencial da existência e a celebração com um Ser Superior.

O excelente artista plástico Luca Vitali (1940-2013) realizou dezenas de desenhos ilustrando inúmeros blogs. Sua série Cósmica inspirou os Sete Estudos Cósmicos do compositor francês François Servenière.

Clique para ouvir, de François Servenière, “Níquel”, quarto Estudo Cósmico do também dileto amigo, François Servenière, na interpretação de JEM:

(182) François Servenière – 7 Études Cosmiques – #4 Níquel – José Eduardo Martins – piano – YouTube

Diria, ao responder ao leitor, que para mim o privilégio de ter amizades solidificadas no Exterior, tantas vezes raramente visitadas, não interfere minimamente na intensidade do afeto. Estou a me lembrar de um colega em Paris, Desiré N’Kaoua, ótimo pianista. Após aqueles anos na fronteira dos anos 1950-60, escreveu-me anos atrás, tantas décadas depois de mútuo silêncio, enviando-me uma de suas magníficas gravações (vide blog “Sonata Hammerklavier op. 106 de Beethoven”, 20/02/2021). Foi como se estivéssemos a dialogar naqueles anos de nosso aperfeiçoamento pianístico. E a frequência se restabeleceu. O mesmo se deu com a minha dileta amiga portuguesa Idalete Giga, regente coral e emérita especialista em Canto Gregoriano. Conheci Idalete no início dos anos 1980, pois colaboradora de nossa saudosa Júlia d’Almendra (1904-1992), referência em Canto Gregoriano e especialista em Claude Debussy.  Cerca de três décadas nos separaram, distância temporal terminada após receber notícias da amiga. A nossa correspondência voltou a fluir e, a cada visita para recitais em Portugal, encontramo-nos reiteradas vezes. Verdadeira amiga-irmã. Confesso que meu círculo de amizades é relativamente pequeno, mas intenso, aqui e alhures. Prefiro-o ao relacionamento imenso, efêmero, sintetizado pelo tapinha nas costas, tão comum em nosso torrão natal.

Como não me lembrar da dileta amiga Maria Isabel Oswald Monteiro (1919-2012), amiga-irmã que me abriu o universo musical de seu notável avô, o compositor Henrique Oswald (1852-1931). Durante uns bons dez anos regularmente ia ao Rio de Janeiro, hospedava-me em seu apartamento e estudávamos arquivos preciosos por ela conservados. Aguardávamos os reencontros e consagrávamos o dom da amizade.

Clique para ouvir, de Henrique Oswald, “Tre Piccoli Pezzi”, na interpretação de J.E.M.:

(182) Henrique Oswald – Tre Piccoli Pezzi – José Eduardo Martins – piano – YouTube

Em França, Portugal e Bélgica, preferencialmente, casos expressivos existem e eu os cultivo. Mencionar alguns poderia fazer-me olvidar de outros caríssimos amigos. Relembrar alguns que partiram evoca memórias fixadas no de profundis. Entendo que, em muitos casos, as raízes da amizade são mais profundas quando da geografia longínqua, devido, é possível, à improbabilidade dos desgastes concebíveis num convívio constante.

Separei dois trechos do pensar do filósofo, ensaísta, poeta e filólogo português Agostinho da Silva (1906-1994), inúmeras vezes presente nos blogs através de epígrafes incisivas. Escreve em “Sete Cartas a um Jovem Filósofo”:

“O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível; o que é preciso é que eles sejam nossos amigos; para tal, seremos nós amigos deles; que forças hão-de-trabalhar o mundo, se pusermos de parte a amizade?”.

Em outro segmento observa: “Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos. E é por isso talvez que a grande amizade e o grande amor são aqueles que dão sem pedir, que fazem e não esperam ser feitos; que são sempre voz ativa, não passiva”.

Ainda pensando na resposta ao leitor, observaria que não é incomum em Portugal assinalar Amigo com a letra maiúscula para dimensionar afeto maior.

As afinidades podem fluir através de áreas do conhecimento em comum, mas também no oposto, o absoluto contraste de interesses. Pode-se conviver anos a fio com colegas de profissão e não restar nenhuma relação posterior. Essa certeza é a mais provável. Um ou outro permanecerá, a manter a amizade duradoura.

Chamam-me a atenção as amizades “eternas” entre políticos, que se desfazem como nuvens tão logo interesses “maiores” surjam para o rompimento. As figuras desse meio desvirtuam o sublime sentido da amizade, aviltam o significado da palavra que, repetida quase diariamente, mas rompida sem rubor, acaba por contagiar as gerações mais novas.

Ainda a lembrar Agostinho da Silva: “Tão amigo sou dele que até meu amigo se tornou”.

A few comments about Friendship and its various dimensions, involving admiration, respect, shared interests and tolerance with difference of opinions.

Quando a geografia fascina e a arte aflora

Porém, a arte só beija quem por ela almeja ser beijado.
A arte exige uma liturgia, um ritual, que se prende com a fonte da dádiva e a aproximação do amor.
A arte atravessa a nossa mente com pés de pomba,
à mínima tempestade torna-se invisível, substituída pelos apelos do cotidiano.
Miguel Real (ensaísta e professor de filosofia português)

Em blog já escrevi sobre Joep, meu amigo holandês (vide Blog: “Joep Huiskamp”, 20/03/2021). Conselheiro do “Executive Board”, trabalha na Direção da Universidade de Tecnologia de Eindhoven (IUe) desde 1990.

Recentemente pormenorizei o escritor português Wenceslau de Moraes que, a certa altura, niponizou-se inteiramente motivado pelo fascínio com que o Extremo Oriente, Japão em particular, impregnou sua existência de maneira definitiva (vide blog: “Daí-Nippon” de Wenceslau de Moraes -1854-1929, 11/02 e 18/02/2023).

Conheci Joep no ano 2000 e nos tornamos bons amigos. É um privilégio vê-lo, juntamente com sua esposa Jonneke, em quase todos os recitais que apresento na Bélgica, os bem mais de uma dezena em Gand e em outras cidades do país. Inclusive, estiveram por duas vezes em Portugal, nas apresentações em Coimbra e Lisboa. O apego de Joep aos Açores, bem anterior à nossa amizade, é proverbial. Sempre que pode viaja para visitá-los. De minha parte, confesso que, em três das nove ilhas do arquipélago dos Açores, território autônomo português, apresentei-me em recitais no longínquo 1992. Terceira, Faial, e São Miguel foram as ilhas e, não fosse tão distante alcançá-las, teria ido mais vezes, pois minha impressão é a de que os Açores, situados no Atlântico Norte, fazem parte daquelas regiões entendidas como paraísos sobre a Terra.

Estreitaram-se nossos laços em torno do notável compositor e regente Francisco de Lacerda (1869-1934), açoriano nascido na ilha de São Jorge.  Havia gravado a extraordinária coletânea de Lacerda, “Trente-six histoires pour amuser les enfants d’un artiste”, e já àquela altura Joep esboçava suas aquarelas, guaches ou desenhos em cores cultuando a música, a arte, e não se esquecendo de Francisco de Lacerda. Amalgama-se o amor pelos Açores e a um de seus filhos maiores. Ofereceu-me, fruto dessa admiração pelos luminares açorianos, um desenho de Lacerda feito num recorte de papel grosso, após um almoço num pequeno restaurante de Gand no ano 2.000.

Mais tarde, a rememorar nossa conversa sobre literatura portuguesa, deu-me pequeno óleo sobre tela, em 2015, a homenagear o grande poeta Antero de Quental (1842-1891), nascido em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel.

Os desenhos de Joep Huiskamp relacionados à minha atividade pianística atravessaram duas décadas, pois dos primeiros, no ano 2.000, caracterizando Lacerda, mas também Scriabine, outros surgiram. Em 2017, após meu recital na sala Quatre Mains, em Gand, entregou-me alguns guaches feitos no dia seguinte, sendo que um deles, “Ir mãos”, foi inspirado após a interpretação de “Vers la Flamme”, de Scriabine. Joep e Jonneke deverão estar presentes no meu recital em Gand no próximo dia 25 de Maio.

Qual não foi a minha surpresa ao receber dias atrás e-mail de Joep a dizer que visitara, como sempre o faz, seja com Jonneke ou com seu irmão, a Ilha de São Jorge. A visita “obrigatória” representa também um culto a Francisco de Lacerda. Enviou-me foto do mar açoriano, tantas vezes revolto, a açoitar o arquipélago, e um desenho, creio que o mais expressivo da coleção. Apresento-o no atual post, ratificando a admiração de Joep pela criação de Lacerda.

Creio firmemente que a sensível e magistral coletânea de Francisco de Lacerda está entre as mais importantes obras para piano destinadas ao universo infantil em termos planetários. Já o disse em vários blogs. A ratificação dessa importância veio através do texto assinado pelo mais importante biógrafo de Claude Debussy da segunda metade do século XX, François Lesure (1923-2001), Diretor do Departamento de Música da Bibliothèque Nationale de Paris. Privilegiava o texto minha gravação da coletânea lacerdiana no CD lançado pelo selo belga De Rode Pomp. Seria ledo engano acreditar que as “36 histórias…” são de fácil aprendizado. O aguçado sentido das sonoridades e o seguir as suas extinções sonoras através de efeitos requintados, a pedalização seletiva e, a “comandar “a execução, a audição acurada, tornam o conjunto único no gênero.   No Youtube as 36 histórias podem ser ouvidas, divididas em três blocos. Os desenhos coloridos que acompanham a criação lacerdiana foram realizados pelo meu saudoso amigo e artista plástico Luca Vitali (1940-2012). O ilustre compositor Willy Correia de Oliveira, ao ouvir pela primeira vez as “36 histórias”, atônito me disse: “Essa obra é um milagre”.

https://www.youtube.com/playlist?list=PL1j-Jq5yk8iyblpLYazgN-iA6IyfG6eBv

Se Joep já havia sido atraído pelos Açores, foi mais ainda sonoramente “abduzido” pelas sonoridades de Francisco de Lacerda. Como bem se expressou nosso poeta Luiz Guimarães Júnior (1844-1898) em contexto outro: “Resistir quem há-de?”. Historiar o compositor e a Cultura portuguesa durante mais de duas décadas, pois Joep também traduziu para o holandês “O Mandarim”, de Eça de Queiroz, a revelar o raro talento em áreas outras que não a da sua especialidade em educação e tecnologia, bem evidencia o resultado do aprofundamento em várias sendas. Para tanto, necessário se faz o olhar amoroso àquilo que se está a pesquisar. A existência propicia essa rara oportunidade. Não desperdiçá-la é uma dádiva.

Clique para ouvir, de Francisco de Lacerda, “Papillons” e “Zara”, na interpretação de J.E.M:

https://www.youtube.com/watch?v=rOa_dEmQg30

My friend Joep Huikamp is an advisor to the Executive Board of the Eindhoven University of Technology (IUe). Having visited the Azores archipelago decades ago, he would return numerous times, fascinated by the local culture and unique nature. Our friendship dates back to 2000 and began in Ghent, Belgium, growing stronger  around our shared interest for the remarkable Azorean composer Francisco de Lacerda (1869-1934). Over the years I have been favored with a series of drawings and gouaches made by the artist. A recent gouache I received portraying Lacerda motivated this post.

 

Quando o livro penetra em nosso de profundis

A descrença moderna, ao invés de ser um fenômeno esparso,
encontra apoio na estrutura da sociedade moderna
e na estrutura do pensamento em si.

A memória mais profunda é a memória de todo nosso destino.
Jean Guitton (1901-1999)

Foram inúmeras as mensagens sobre o blog anterior. De maneira unânime a leitura é louvada. É uma dádiva ter leitores que entendem o livro como um companheiro, por vezes de vida. Do meu amigo Marcelo, que encontro raramente na feira-livre devido a horários diferentes de frequência, ouvi, horas após a publicação, uma pergunta surpreendente: “teria o livro vida?”  Numa analogia, sim, pois um livro conservado na estante, após leitura e visitas outras, respira e “transpira” conhecimento, mas tem algo que o faz pulsar, graças à própria exalação de cada exemplar que se altera à medida que o tempo escoa. O perfume das folhas novas tem incomensurável diferença daquele de livro antigo. Fez-me lembrar, sob outra configuração, de um texto basilar de Edmondo de Amicis (1846-1908), autor do consagrado “Cuore”, e que foi tema de um blog (vide: “A voz de um livro”, 19/02/2010). No conto, o livro tem vida e narra a sua saga pelo mundo, chega a receber um tiro e, de mãos em mãos, convive com as várias camadas sociais, continua sua trajetória até se deteriorar com o passar dos anos, para finalmente estiolar-se em paz, em surdina, sôfrego. Àquela altura, atento à minha narração, meu saudoso amigo e artista plástico Luca Vitali (1940-2013) não deixou de criar um desenho para o post mencionado.

Tendo visitado algumas bibliotecas do Reino Unido, da França e de Portugal,  encantaram-me em terras lusíadas as do Convento de Mafra e, sobretudo, da Biblioteca Joanina em Coimbra, que contém milhares de manuscritos e mais de um milhão de volumes em suas salas.  Uma das minhas recordações mais expressivas durante a trajetória como pianista, que se encerra neste ano, foi o privilégio de ter me apresentado 10 vezes em recitais na magnificente Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, de 2004 a 2022. A aura que ela emana é insuperável, a meu ver. Maravilhamento.

https://visit.uc.pt/pt/space-list/joanina

Entendo que a perenidade de um livro físico tem ainda significado mais sensível se estiver sob a guarda daquele que o visitou décadas passadas. Como são expressivas as palavras do meu dileto amigo, ilustre arquiteto português António Menéres (1930-), várias vezes citadas ao longo dos anos neste espaço: “Sempre que olho os meus livros, quer as lombadas simplesmente cartonadas, a sua cor, os títulos das obras; mesmo sem os abrir adivinho o seu conteúdo e, quando os folheio, reconheço as leituras anteriores, muitas das quais estão sublinhadas, justamente para me facilitar outros e novos convívios” (vide blog: “Crónicas contra o esquecimento”, 29/07/2007).

A formação de uma biblioteca privada merece a preservação dos livros que deixaram raízes no nosso de profundis e, mesmo se determinado exemplar não for mais consultado no decorrer da existência, sabe-se que as referências estão sempre generosamente à disposição quando aprouver. Nesse sentido, o livro adquire um outro patamar, a unir importância e afeto redobrados. Conservo a coleção de “O Thesouro da Juventude” (18 volumes) desde 1950, tendo já permanecido em casa de uma das filhas e retornado à casa paterna (vide blog O “Thesouro da Juventude”, 17/10/2009). Quantos mais livros da minha longínqua adolescência e juventude não continuam nas estantes? Alguns daquele período enriquecem estantes de filhas, netas e amigos sensíveis e prosseguem suas sagas. Assimilados nas entranhas, esses livros poderão encantar outros leitores.

Li recentemente, no Jornal da USP, texto sobre grupo criado por estudantes da USP, “Desapega”, que está a recolher doações de livros e material didático. Alvissareira notícia que, espero, não tenha cunho ideológico preciso. Corrobora o fato mensagem que recebi do ilustre amigo, Gildo Magalhães, professor titular de História da Ciência, FFLECH-USP: “Reenviei o seu último blog para outras pessoas, porque ainda acredito no poder da leitura. Apesar da facilidade eletrônica, também ainda acredito que o livro impresso não morreu. Nesta semana de reabertura (tardia!) das aulas na USP, a EDUSP enviou caixas e mais caixas de livros por ela publicados para distribuição gratuita aos calouros. Colocados numa longa banca, foram rápida e avidamente disputados, acabando logo. Entre eles vi a sua bela edição do quarteto para piano e cordas op. 26 de Oswald”.

Nosso Pai, cultor da literatura portuguesa, conservava obras capitais em sua biblioteca. Estou a me lembrar de que, ao ler ainda bem jovem alguns Cantos dos Lusíadas em edição magnífica e bilíngue da Imprensa Nacional, Lisboa, 1878, meu Pai frisou que era necessário também visitar, mesmo que com dificuldades, a tradução em francês, pois nosso progenitor era igualmente francófilo. Após a sua morte tive o privilégio de receber na partilha o histórico exemplar. Só de pensar que anos atrás havia projeto de se eliminar Camões dos currículos escolares brasileiros, tentativa que felizmente não vingou!!! Com a decadência cultural em aceleração, é possível que “mentores” retornem ao desiderato recente.

Em viagens ao Exterior, mormente em décadas bem anteriores, verificava que parcela dos usuários do metrô lia livros durante os percursos. Nas viagens recentes, basicamente só vemos leitores de celulares. Em São Paulo, a prática da leitura no celular está a se diluir (não em troca dos livros), pois o receio de roubos clama mais alto.

Por fim, menciono posicionamento de meu dileto amigo Flávio Viegas Amoreira, escritor, poeta e crítico literário, que enviou mensagem a respeito do post anterior: “uma reflexão que enriquece uma luta que travo pelo pensamento crítico através da leitura diante do processo de idiotização, esse o termo forte, que se impõe pelas mídias de massa contra o pensamento autoconstruído a partir do ser consciente como sujeito”.

Does the book have a life? This was the comment of a reader. I include in the post other messages addressing various issues of interest related to the book and its preservation