Maria Fernanda e quatro décadas a me seguir com desenhos
Ninguém pensa que pintar,
modelar ou gravar seja patrimônio comum da natureza de homem;
e que o sejam igualmente a poesia ou a dança:
acha-se que são um dom, uma genialidade, e além de tudo raros.
Agostinho da Silva
(“Só ajustamentos”)
Após a apresentação de inúmeros desenhos e pinturas que tive o privilégio de receber de artistas que compareceram aos recitais no Brasil e no Exterior, dedico este último blog sobre o tema aos desenhos que nossa filha Maria Fernanda (1968-) realizou durante quase cinco décadas seguindo minha trajetória pianística e acadêmica.
Acredito muito na realidade dos dons individuais. Se nos esportes, desde a tenra idade, é possível detectar o talento, um exemplo nítido pode ser aferido entre os atletas de corrida. Uns têm o físico moldado para a velocidade, outros para as maratonas. Há aqueles que desde a infância apresentam inclinações para as artes, a música, a ciência… Maria Fernanda (1968-) é formada em Psicologia, Artes Plásticas e pós-graduada em Gerontologia. Sua irmã Maria Beatriz (1965-) tem atração pela cultura humanística. Formada em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco, competente, foi procuradora do Estado. Aposentada, volta-se mais intensamente às culturas humanística e espiritual. Regina, Maria Beatriz e eu não temos minimamente o dom para as artes plásticas, apesar de apreciarmos intensamente os múltiplos direcionamentos artísticos.
O primeiro desenho espontâneo, Maria Fernanda realizou aos dez anos. Vê-se a ausência da perspectiva e o teclado do piano em posição vertical testemunha a indecisão.
Dois anos após, um segundo desenho. Sobre o piano, compositores que o pai interpretava.
Estava a escrever o livro “O som pianístico de Claude Debussy” (1981) e Maria Fernanda não deixou de registrar.
Quando da tese de doutorado sobre nosso grande compositor romântico, Henrique Oswald (1852-1931), na FFLECH-USP (1988), Maria Fernanda fez um desenho.
Clique para ouvir, de Henrique Oswald, “Polonaise”, na interpretação de J.E.M.:
https://www.youtube.com/watch?v=fY8suJqIHW0
Em 1989, ano do sesquicentenário do nascimento do notável compositor russo Modest Moussorgsky (1839-1981), apresentei a integral do Mestre no Brasil, sendo que na antiga DDR, Alemanha Oriental, unicamente as peças avulsas do autor dos extraordinários “Quadros de uma Exposição”. Estava a cochilar e Maria Fernanda fez uma montagem com frase a se revelar assertiva.
Clique para ouvir, de Moussorgsky, “Cena da Coroação” da ópera Boris Goudonov, na interpretação de J.E.M.
https://www.youtube.com/watch?v=GFiQhAHtovE&t=4s
Na tese de Livre Docência na USP, “O idiomático técnico-pianístico de Claude Debussy” (1990), Maria Fernanda insere no seu desenho uma frase com humor.
Clique para ouvir de Claude Debussy, Étude pour les arpèges composés, na interpretação de J.E.M:
Claude Debussy – Etude Pour les arpèges composés – José Eduardo Martins – piano
Depois de uma conversa, Maria Fernanda registrou o encontro (1999).
Após uma intervenção cirúrgica, lá estava Maria Fernanda com sua caneta a documentar (2004).
Fixou o pai a pensar.
Dissera a Maria Fernanda que daria a última aula na USP antes da aposentadoria. Compareceu e, como sempre, registrou um momento preciso.
Pouco antes da minha última apresentação pianística pública, encerrando 70 anos nessa atividade, Maria Fernanda quis desenhar as mãos do seu pai. Ei-las:
Ao ler o blog da semana para a filha Maria Beatriz, o sexto e último sobre os desenhos, lembrou ela de um realizado pelo seu avô, meu saudoso sogro, o notável engenheiro agrônomo, especialista em raízes e tubérculos, Edgard Sant’Anna Normanha (1914-2002), considerado o “Pai da moderna mandiocultura brasileira”.
In this last blog dedicated to the artists in Brazil and Europe who have honored me with drawings and paintings after my presentations, I introduce my daughter Maria Fernanda, a psychologist with an obvious gift for drawing. From the age of 10, she spontaneously drew pictures of her father.
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