Encontro Prazeroso com Ilustre Colega
Descobri um novo título
E espero que o céu mo assuma
É ser Honoris Causa
Em coisa nenhuma
Agostinho da Silva
Dois fatos recentes fizeram-me rememorar o ano de 2001. Em ambos esteve em causa um título honorífico que leva o professor, que atravessou décadas em seara precisa, à alegria interior. Honrarias e titulações podem levar o outorgado a imaginá-las como tributo normal e justo a ele prestado, devido aos seus méritos reconhecidos por determinada coletividade. Será possível entender que belas homenagens levem alguns contemplados à “compulsão” por colecioná-las. Todo um mal pode desde logo estar a se produzir, se houver no de profundis a vaidade a suplantar a homenagem. Estou a me lembrar de comunicador de rádio que se orgulhava, ao mencionar dezenas de títulos de cidadão honorário recebidos por este Brasil afora, a inclusão de mais um. E, sem constrangimento, citava um outro colega que, até então, recebera mais honrarias. Observou certa vez a intenção de suplantá-lo !
Receber título ou honraria deveria pressupor sempre, em conditio sine qua non, humildade e naturalidade. O day after deve ser apenas mais um dia e se um “santo orgulho” – como bem gostava de dizer D. Henrique Trindade, arcebispo de Botucatu – invadir o homenageado, entenda-se como reação humana benigna. A emoção de momento único existe, a demonstrar a medida exata da dimensão da outorga.
Os dois recentes flashes em que esteve em causa as palavras Honoris Causa fizeram-me pensar escrever um post a respeito. No de 27 de Fevereiro, Idalete Giga menciona versos de Agostinho da Silva, epígrafe do presente. O humanismo que sempre depreendeu desse imenso poeta e pensador português está concentrado nesses excelsos versos e nos dá a noção exata da ilusão que títulos podem representar. O iluminado poeta da síntese conhecia os mistérios da elisão.
Em 2001 realizei duas tournées pela Romênia. Na primeira, em Abril, integrava a Iª Missão da Diplomacia Cultural que marcava a visita do ilustre Ministro Carlos Mário Velloso, àquela altura Presidente do Supremo Tribunal Federal, ao país. Era Embaixador do Brasil na Romênia Jerônimo Moscardo, que tem prestado imensa contribuição na difusão da cultura brasileira no Exterior. Meus irmãos Ives Gandra e João Carlos fizeram parte da comitiva, o primeiro realizando palestras e a assistir o lançamento de um livro. Com João Carlos, apresentamo-nos em várias cidades, exatamente como fazíamos nos longínquos anos 50. Bucarest, Craiova, Târgu-Jiu e Cluj-Napoca foram as cidades visitadas. Em todas elas recebemos o carinho do hospitaleiro povo romeno. Alguns dos meus CDs foram entregues para expressivas figuras culturais do país. Difundidos pela Rádio Estatal da Romênia, valeram-me uma segunda visita em circunstâncias outras.
Em Setembro, viajei uma segunda vez para apresentações. No dia 7 realizei recital em uma das mais belas salas de concerto da Europa, o lendário teatro Ateneul Român em Bucarest, a convite do Embaixador Jerônimo Moscardo. No dia seguinte, Cássio Mesquita Barros, respeitado advogado trabalhista e professor titular da USP, e eu viajamos a Târgu-Jiu, a fim de receber da Universitatae “Constantin Brancusi” – uma das mais importantes instituições de ensino superior da Romênia – o título de Professor Honoris Causa. O ilustre jurista Cássio Mesquita Barros foi membro durante 16 anos – 1990-2006 – da Comissão de peritos da O.I.T., Organização Internacional do Trabalho, com sede em Genebra, cujo objetivo prioritário é acompanhar o cumprimento das Convenções Internacionais do Trabalho em todo o conjunto dos 184 países que compõem a Organização. Considere-se que apenas 20 especialistas escolhidos participam dessa importante Comissão. Lembre-se igualmente que os primórdios da Organização remontam ao período do Tratado de Versalhes ! Jorge Legmann, que realiza imenso trabalho na aproximação cultural e econômica Romênia-Brasil, recebeu igualmente o carinho da comunidade acadêmica de Târgu-Jiu.
O fato não estaria convertido em post não fosse a lembrança que Cássio Mesquita Barros colocou na conversa prazerosa que tivemos durante justa homenagem que se prestava recentemente ao irmão Ives Gandra, dela a participarem diversas Associações e Academias significativas de São Paulo.
Dizia-me ele que, naquela manhã em Târgu-Jiu, um fato não foi esquecido pelo amigo. Durante a cerimônia na bela sala dos Congregados da Universidade, recebemos as vestes talares doutorais na cor preta com os respectivos capelos e fizemos nossos pronunciamentos, o jurista em inglês e eu, em francês. Verificara que havia um piano vertical na sala da cerimônia. Finalizei minhas palavras e dirigi-me ao piano, a dizer que interpretaria obras de Villa-Lobos. Não estava no protocolo. A recepção ao inusitado foi realmente algo que me emocionou e serviu para o insigne Cássio Mesquita Barros dela lembrar-se quase dez anos após. Finda a expressiva cerimônia, o amigo e eu, ciceronados pelo Magnífico Reitor Emil Moroianu e acompanhados por professores da universidade, visitamos o belíssimo parque Constantin Brancusi, no qual estão algumas esculturas do extraordinário artista romeno num contexto harmonioso.
Honoris Causa. Ficou da cerimônia oficial não apenas a honrosa titulação, como a lembrança da sensível acolhida, mormente em Instituição de Ensino respeitada na Europa. O convívio com Cássio Mesquita Barros, homem de cultura humanística e a revelar espírito de humor e de observação, enriqueceu a estadia em solo romeno. Do título resultou uma certeza. O estímulo dele advindo levou-me a entender ainda mais acentuadamente o aperfeiçoamento individual como objetivo interminável, que se materializa, no meu caso, na dedicação amorosa e diária à música.
A chance meeting with a friend I had not seen for years called up memories of the old times, in particular of our visit to Romania in 2001. In this post I recollect the ceremony in which I was awarded a Doctor Honoris Causa degree by the Constantin Brancusi University in Târgu-Jiu and the special meaning this title has to me.