Qualidade de Vida
Se o físico estiver preparado,
Deixe todo o resto para a mente.
Nicola (maratonista, 78 anos)
Vários foram os posts em que me alonguei sobre treinos e corridas de rua. Neste último 1º de Janeiro completei cinco anos de caminhadas, que logo após se transformaram em corridas de pequena distância até as mais longas. O ritmo também foi sendo alterado paulatinamente e, sem me dar conta, de um trotar-trotar passei a ser mais rápido. Nada que se compare aos amadores e experientes corredores, mas que me traz enorme prazer, pois a corrida representa uma liberdade que desconhecia. Há todo um lúdico existente nessa vontade de correr. Estou a me lembrar que, na crise física de 2004, quando um câncer quase me levou aos anjinhos, andava apoiado em uma bengala e uma nostalgia me invadia quando via em um parque, ou nas ruas, crianças a brincar e atletas amadores correndo descontraidamente. Havia igualmente uma sensação de surdo prazer nesses momentos, pois sentia que a vida continuava e que essa renovação, que os olhos viam, determinava a floração.
No ano que acaba de findar foram muitas as participações em corridas de rua. Elas só existem se o cidadão estiver previamente preparado. Os três treinos semanais, que obedecem a distâncias que se estendem de 6 a 10km, dão-me a confiança para encarar os desafios para esses percursos, mormente se subidas houver, o que pressupõe um treinamento mais específico. Faça bom ou mau tempo, busco as ruas de minha cidade bairro, Brooklin-Campo Belo, e realizo os treinos. Torna-se respiração.
Na maioria das corridas de rua inscrevi-me isoladamente. Naquelas das maratonas de revezamento Pão de Açúcar e Ayrton Senna, a inscrição correu por parte da TA LENTOS, nossa equipe solidária. Somos oito, imbuídos da mesma vontade de congraçamento. O tempo coletivo ? É ele importante, se estamos juntos a desfrutar o ambiente saudável que caracteriza a corrida de rua ? Nosso capitão é Sérgio Yuji Yokoyama, encarregado voluntário das inscrições, da ordem de participação de cada integrante e da confecção das camisas. A ele nos submetemos: Cristina Ito, Franco Nakamura, Regina e Américo Umeda, Shigeo Uchiamida, Ademir Giacomelli e o Matusalém do grupo. Uma alegria.
É notório o aumento do número de atletas amadores nessas corridas dirigidas por várias entidades, umas mais outras menos organizadas. Jovens e não tão jovens buscam esse esporte. Não estou a lembrar de nenhuma fisionomia infeliz entre as milhares que observei. Cansaço sim, ao término de cada competição, mas não infelicidade. São momentos mágicos, de que todos desfrutam. Os menos preparados podem parar ou até caminhar, se a exaustão tomar conta do físico. Mas não são muitos e, se lá estão, certamente numa próxima condicionar-se-ão mais adequadamente.
Quatro provas neste ano chamaram-me a atenção e delas participei. Trata-se do Circuito das Estações Adidas. São quatro corridas de 10km cada, que percorrem a Av. Pacaembu a partir do Estádio Paulo Machado de Carvalho, realizam o trajeto ida e volta do Minhocão – Elevado Costa e Silva – e retornam ao Estádio pela mesma Avenida. Acontecem sempre nas fronteiras de cada Estação, daí ser diferenciado nosso olhar durante o percurso, pois várias as temperaturas ambiente. Na etapa Primavera corri no meu melhor tempo. Estranhei, pois choveu muito durante quase toda a corrida e fazia frio. O amigo maratonista Elson Otake me explicaria que era normal isso acontecer, pois o aguaceiro regula nossa transpiração, evitando o excesso que leva à fadiga. As quatro medalhas concernentes às quatro estações têm alusões à determinada característica do período, salientando uma constante da natureza. Juntas em uma armação, que está à disposição para aqueles que completam o Circuito e desejam adquiri-la, formam uma vistosa Mandala. Foi com prazer que a coloquei sobre o piano de estudo, pois me lembra desafio com final feliz.
E veio a S. Silvestre em sua 86ª versão. Uma lamentável falha, verdadeiro desrespeito para com todos os corredores, deu-se quando da entrega do kit. Veio ele completo, inclusive, é de se pasmar, com a medalha ! Esta deve e tem sempre de ser entregue na chegada dos competidores, quando o suor do esforço recebe a sua recompensa. Prazer indizível é passar pela tenda e ver depositada em nossa mão a medalha de participação, seja qual for a prova. Ela quase que desliza em seu saquinho plástico, mercê da transpiração plena. É um instante mágico que os organizadores do evento, meros administradores, ignoraram. Sim, a enorme maioria dos esportistas é constituída de atletas amadores, e a medalha, muito mais do que representar um troféu conquistado na busca de um recorde, caso dos extraordinários corredores da elite, significa, para cada um dos milhares de entusiasmados participantes, uma realização pessoal indizível. Há simbologia mítica para homens e mulheres, jovens e menos jovens. Reduzir a medalha a um objeto sem glória, pois a fazer parte do kit rotineiro no fundo de uma sacola, é quase um insulto. O desportista nem precisaria competir, já cônscio de que a medalha lhe foi entregue antecipadamente como prêmio às passadas virgens. Esperemos que no próximo ano redimam-se dessa equivocada decisão. Muitos dos que retiraram o kit no dia em que fui buscá-lo reclamavam desolados dessa falta absoluta de sensibilidade por parte dos dirigentes da São Silvestre.
Mas voltemos à corrida. Trata-se da prova mais tradicional do calendário do pedestrianismo no Brasil. Em seu trajeto, que sofreu transformações ao longo das décadas, desfilaram lendas como Emil Zatopek – a locomotiva humana -, Gaston Roelants, Carlos Lopes, Rosa Mota, Paul Tergat, José João da Silva, Osvaldo Suarez, Raul Inostroza, Rolando Vera e tantas outras figuras que encantaram São Paulo no último dia do ano. Mudança de horário, da noite para o dia, tiraram um certo charme existente, mas a S. Silvestre continua a ser uma alegria para 21.000 participantes e dezenas de milhares de pessoas que, ao longo dos 15km, incentivam os corredores, dos velozes atletas de elite à malta com seus números fixados no peito e que preenche todo o trajeto. A grande maioria corre para cumprir o difícil desafio, mormente a temível subida da Av. Brigadeiro Luís Antônio, com seus 2,5km de extensão.
A minha terceira participação consecutiva na São Silvestre teve um fato singular. Corri com a camisa dois da minha sofrida Portuguesa. Não seria exagero se dissesse que centenas de pessoas desse público anônimo, que tanto incentiva os corredores, mostraram carinho para com a camisa. Isoladamente ou em grupos gritavam o nome da Lusa. Em nenhum instante senti desrespeito por parte dos que presenciaram o evento. Curiosamente, na descida da Consolação havia desconfianças devido a minha faixa etária. Ouvi diversos “será que a Lusa chega” ou “não vá morrer na praia”. Com o passar dos quilômetros, o publico mudou as palavras. Lembro-me que “Lusa, Portuguesa, Ela voltará para a primeirona” eram proferidas sempre com sorrisos. Respondia com um “pois, pois ora vamos”. Servia para um relaxamento. Vem provar o que todos já sabem, que a Portuguesa é o segundo time de todos os torcedores de São Paulo, desde que não importune concorrente direto. Diria também que esta terceira participação foi a mais descontraída, pois fazia bom tempo, sai entre as últimas centenas dos 21.000 corredores e consegui chegar à frente de uns poucos milhares (tempo final líquido para os 15km: 1:48:28). Ao final da corrida, quando nos retirávamos da Paulista, encontrei dois ex-colegas que ainda labutam na universidade: os excelentes instrumentistas Fábio Cury (fagote) e Luís Afonso, o Montanha (clarinetista). Disseram-me que completaram bem a prova. Confraternização.
Neste 2011 provas estão a apontar para outros desafios. Treinando com disciplina três vezes por semana, a alegria de participar não tem qualquer entrave. A busca prazerosa pela qualidade de vida. E que assim continue.
Many times I’ve mentioned road races, the pleasure I found in running and the improvement of my running performance thanks to the frequency of my training: three times a week, rain or shine. Last year I took part in many races and said goodbye to 2010 at the traditional Saint Sylvester Road Race on 31 December in São Paulo. It was my third consecutive participation in the event. And I’m already looking forward to new challenges in 2011, just to have fun and enjoy the camaraderie of my teammates and of other runners. Isn’t it a good way to improve our general well-being?