Navegando Posts publicados em outubro, 2011

Panorama-Criação-Interpretação-Esperanças

Sim, o crítico dos críticos é só ele – o tempo.
Infalível e insubornável.
Guerra Junqueiro

Já muito se escreveu sobre a analogia do lançamento de um livro e a paternidade. Há sempre proximidades que podem ser estabelecidas. O tempo de gestação de uma obra não obedece a prazos determinados. As fronteiras se estabelecem entre meses ou incontáveis anos, a depender de tantos fatores.

Foi com prazer imenso que recebi do Professor Doutor João Gouveia Monteiro, ilustre medievalista e então Presidente da Imprensa da Universidade de Coimbra, o convite para apresentar material para um livro unicamente sobre música portuguesa, que seria submetido à Comissão Especializada. Lembro ao leitor que nestes últimos anos tenho-me apresentado regularmente como pianista em recitais promovidos pela lendária Universidade.

A reunião de artigos publicados em Portugal, França e Brasil, que se estendem de 1992 ao presente, causou-me estímulo especial. Não apenas compositores como Carlos Seixas (1704-1742), Francisco de Lacerda (1869-1934), Fernando Lopes-Graça (1906-1994) e Jorge Peixinho (1940-1994), que tiveram obras por mim gravadas em seis CDs distribuídos na Bélgica, Estados Unidos e Portugal, mas também outros, a que me dediquei amorosamente, resultaram na interpretação pianística. Sob aspecto outro, busquei penetrar no universo misterioso da criação e do pensar musical em Portugal e nesse desiderato o discurso literário foi imperativo. O convívio, por cerca de 55 anos, com a música e músicos portugueses, motivou outros artigos, que foram sendo depositados ao longo dos anos em revistas, arbitradas ou não, e em livros. Igualmente foram anexados posts específicos sobre a Música Portuguesa, publicados em meu blog desde 2007.  Aprovados pela Imprensa da Universidade de Coimbra, o livro nascerá neste 3 de Novembro, seguido de recital de piano em que interpretarei obras de Francisco de Lacerda e homenagens a ele prestadas pelos excelentes compositores François Servenière, da França, e Eurico Carrapatoso, das terras lusíadas. Lançamento e recital deverão se processar na sala do belo Museu Machado de Castro em Coimbra, sob a égide da Universidade que foi criada por D. Diniz em 1290.

Reunidos os  artigos, tenho o imenso gosto de ver a precedê-los o prefácio do notável musicólogo Mário Vieira de Carvalho, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa. Entre outros temas, aponta o ilustre pensador para o desconhecimento mútuo da criação musical não popular dos povos irmãos.

A Jangada de Pedra

“José Eduardo Martins é um artista de raro perfil, tanto mais quando o consideramos no contexto da tradição luso-brasileira. Uma tradição que se fragmentou e se perdeu desde que os dois países seguiram o seu próprio rumo há perto de dois séculos. Decerto, tem havido contactos, algum intercâmbio, alguma cooperação, mas nada que faça de Portugal ou do Brasil algo de quantitativa ou qualitativamente diferente do que eles são nas suas respectivas relações de parceria com países terceiros. No campo da música, se excluirmos a música  popular, podemos dizer que nenhum dos países conta com o outro. Com que frequência vêm compositores, intérpretes, orquestras e outros agrupamentos musicais brasileiros apresentar-se em Portugal na Casa da Música, no Centro Cultural de Belém, na Fundação Calouste Gulbenkian, enfim, em vários outros espaços de concertos? Olhamos para sucessivas temporadas, ao longo de anos, de décadas, e é como se o Brasil não existisse. É como se não existissem lá compositores, solistas dos mais variados instrumentos, orquestras, grupos de câmara, nada de interesse para o público português. As agências internacionais de concertos apoderaram-se inteiramente da nossa vida musical, onde colocam (por vezes a peso de ouro) o êxito acumulado do ‘centro’. E nem sequer passa pela cabeça das instituições e dos seus ‘programadores’ que Brasil e Portugal, juntos, bem podiam criar uma nova dinâmica de efectivo intercâmbio que se projectasse não só no espaço cultural luso-brasileiro, mas também para fora dele. O mesmo se passa do outro lado do Atlântico, onde o repertório e a programação revelam notório desinteresse por compositores e intérpretes portugueses.

É neste contexto que a singularidade de José Eduardo Martins se agiganta. Ao longo de mais de cinquenta anos, não se limitou a manter e expandir contactos, a promover o intercâmbio, como já o tinham feito Lopes-Graça, Peixinho ou, por exemplo, Gilberto Mendes. Foi muito mais além. Dedicou-se de uma forma continuada à investigação da música portuguesa. Estudou-a sistematicamente como musicólogo, mas sobretudo como intérprete altamente consciente dos problemas da sua arte. Estudou-a para se deixar surpreender por ela e para nos surpreender com ela, abrindo novas perspectivas através das suas interpretações. Fez da sua relação com a música portuguesa um projecto autónomo, central na sua trajectória artística: desde o momento da análise e da pesquisa de fontes primárias (reconstrução das obras) até à preparação de registos gravados em condições de realização técnica exemplares. Carlos Seixas, Francisco de Lacerda, Fernando Lopes-Graça, Jorge Peixinho são os nomes de compositores portugueses que José Eduardo Martins mais tem interpretado nos seus recitais e em registos gravados, que se impõem pela sua extraordinária consistência. As suas interpretações valem como paradigma da síntese entre o rigor da pesquisa, a profundidade da análise dos elementos expressivos e construtivos, o conhecimento crítico da escrita e da técnica pianísticas e, por fim, uma genuína entrega ou, se quisermos, apropriação afectiva das obras. Não é por uma qualquer conveniência postiça que José Eduardo Martins se interessa pela música e pelos compositores portugueses. É por uma sincera e sentida motivação. Se não bastasse, por si só, o envolvimento  – o impulso mimético  – que emana das suas interpretações, então os seus ensaios teóricos, conferências e escritos reunidos neste livro aí estariam para testemunhar também esse seu entusiasmo.

São textos penetrantes que mostram uma familiaridade de muitos anos com a música portuguesa, um diálogo permanente com o material, um incessante processo de redescoberta dos compositores e das suas obras. Não é fácil enumerar intérpretes portugueses que tanto tenham investido na música portuguesa e que tanto tenham trabalhado sobre ela ao nível a que José Eduardo Martins a aborda. Poucos ousam escapar ao ‘cânone’ hegemónico nas salas de concertos ou na produção fonográfica internacionais: como se o intérprete precisasse do prestígio do cânone para se sentir ele próprio prestigiado enquanto intérprete, e a música portuguesa fosse um sacrifício, um ónus, que não valesse a pena.

José Eduardo Martins não sofre de tal complexo. Pelo contrário: confessa quanto se sentiria frustrado se tivesse de cingir-se àquele núcleo restrito de obras-primas clássico-românticas em que muitos dos mais célebres pianistas insistem invariavelmente. Renovar o repertório é vital para ele, e a música portuguesa tem alimentado essa paixão pelo constante alargamento dos seus horizontes de intérprete.

Mas, se já é difícil encontrar em Portugal intérpretes que tanto se empenhem assim na música portuguesa, que dizer então quando se trata de música brasileira? Com a sua acção ao longo de mais de meio século José Eduardo Martins criou uma enorme dívida dos artistas portugueses para com o legado da música brasileira. Quem pode ser nomeado, de entre os artistas portugueses, que se tenha interessado assim por compositores brasileiros, que os tenha estudado, interpretado, gravado apaixonadamente, que os mantenha no seu repertório, que os divulgue internacionalmente? Não há um único que o tenha feito com intensidade comparável. Do lado de Portugal, ainda ninguém retribuiu verdadeiramente esse gesto fraterno de diálogo com a cultura musical do país irmão, essa paixão por compreender, fazer nossa, divulgar uma literatura musical – neste caso, pianística  – tão rica e tão diversa, tão abundante em fortes e marcantes personalidades, como Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno, Villa Lobos, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe, Cláudio Santoro, Gilberto Mendes, Ricardo Tacuchian, entre vários outros…

Eis o desafio que José Eduardo Martins lança aos artistas e às instituições de ambos os países: deixarem de estar mutuamente de costas voltadas e lançarem pontes de interacção recíproca. Pensarem Brasil e Portugal como uma imensa rede de possibilidades de formação, investigação e intercâmbio artísticos. Pensarem-se também como parte integrante do mundo lusófono e ibero-americano, que  continua a esperar em vão pelo ‘evento’ que tarda (‘evento’ entendido como estratégia ou atitude essencialmente cultural). Há que soltar a ‘jangada de pedra’ das amarras da sua condição periférica e trazê-la de volta carregada de potencial contra-hegemónico”.

Para o pianista que, desde a juventude, nunca deixou de utilizar a pena, é motivo de grande alegria a publicação do presente livro (Impressões sobre a Música Portuguesa. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011, 265 págs.), não apenas pela tradição dessa extraordinária Instituição de Ensino, mas também pela razão de ver reunidos mais de 50 anos de reflexão sobre a Música e Músicos Portugueses que, hélas, tantos insistem em ignorar, sistematicamente. Tenhamos esperanças.

Notes on my book about Portuguese classical music, that will be released next 3 November by the Coimbra University Press.

 

 

 

Portugal e sua Música de Concerto

Les chiens aboient et hurlent à la lune,
sans qu’on puisse en supposer la cause…
Brehm, vol I, p. 349

Viens ici! Tais toi! Que vois tu?
Des ombres? Chopin? Debussy?
Viens ici. Tais-toi. Ce sont des Amis à nous.

Francisco de Lacerda (Epígrafes para a 14ª das 36 Histoires… Mon Chien et la Lune)

O repertório para a tournée programada para este fim de ano em terras lusíadas teve determinantes precisas. A cirurgia do polegar da mão direita (Rizartrose) em Junho deste ano mereceu recuperação cautelosa. A conselho do Dr. Heitor Ulson, notável cirurgião da mão,  fiz-me obediente, a evitar repertório de impacto para os seis meses subsequentes à operação. Confesso que a melhora foi admirável, assim como aquela a suceder a cirurgia do polegar da mão esquerda no ano de 2010.

Há muito tempo não apresentava em público a magistral obra de Francisco de Lacerda (1869-1934), Trente-six Histoires pour amuser les enfants d’un artiste, uma das mais absolutas criações destinada ao universo lúdico. Gravei-as em 1999 para o selo belga De Rode Pomp, juntamente com obras precisas de Claude Debussy. Os dois foram amigos. Quando Lacerda obteve o primeiro prêmio em concurso patrocinado pela Revue Musicale de Paris, em 1904, Claude Debussy presidia o certame. Danse Sacrée – Danse du Voile foi a obra agraciada. Debussy entusiasmou-se pela composição premiada e teria solicitado a Lacerda a utilização de um de seus temas, assim como o título Sacrée, para a primeira de suas duas Danças bem conhecidas, Danse Sacrée – Danse Profane, compostas para harpa cromática ou piano e conjunto de cordas, no mesmo ano da premiação da composição do colega açoriano. A seguir, o amigo e editor de Debussy, Jacques Durand, faria a transcrição da criação debussiniana para piano solo, com a anuência do compositor. Segundo o eminente musicólogo e saudoso amigo François Lesure, Manuel de Falla teria apresentado essa transcrição em Madrid no ano de 1907. Nessa tournée estarei a apresentar não apenas as 36 Histoires… de Lacerda, como sua Danse Sacrée-Danse du Voile, assim como as duas Danças de Debussy.

Deve-se a J.M. Bettencourt da Câmara a redescoberta de pequenas peças de Francisco de Lacerda, que estavam depositadas no Museu de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira do Arquipélago dos Açores. Essas miniaturas deveriam integrar trinta e seis trechos idealizados pelo compositor. Bettencourt da Câmara reagrupou-os e, em 1986, a Fundação Calouste Gulbenkian publicaria a coletânea na coleção Portugalea Musica. Em 1997 seriam republicadas pelo Governo Regional dos Açores (Colecção “Fontes Musicais Açorianas”, vol. II, 1997),  no âmbito da integral para piano.

Se em 1904 Debussy presta homenagem ao talento de Lacerda, durante a longa elaboração das Trente-Six Histoires… (1902-1922) o músico açoriano não deixaria de pensar em seu ilustre colega. Inúmeras peças demonstrariam essa confessa admiração. No dossier de Francisco de Lacerda depositado no Museu de Angra do Heroísmo constatei que o compositor nascido na Ilha de São Jorge fez inúmeras anotações em duas obras impressas de Debussy e pertencentes ao universo lúdico: Children’s Corner e La Boîte à Joujoux. Sob outra égide, o fato de Lacerda ter-se dedicado à regência, tendo sido um dos mais ilustres chefes de orquestra de seu tempo, dava-lhe pouco tempo para a dedicação plena à composição. Seria ainda Debussy que mencionaria em carta o talento que estava represado mercê da regência.

Francisco de Lacerda é o compositor das pequenas peças. Tanto as Trovas para canto e piano, como as outras obras para piano, assim como a pequena produção orquestral têm a excelsa qualidade do multum in minimo, pois é extraordinária a capacidade de síntese de Lacerda, que em poucos compassos estabelece seu paradigma para a forma. Considero a coletânea uma das mais perfeitas criações escritas para o universo lúdico infantil. O acabamento esmerado, a tendência à de-dinamização, a qualidade timbrística e o prazer do despojamento quando, ao suprimir notas de um acorde, Lacerda deixa apenas uma, a buscar a extinção, são atributos inerentes desse grande músico. A apresentação das Trente-Six Histoires pour amuser les enfants d’un artiste terá data show preparado pelo ilustre professor e musicólogo José Maria Pedrosa Cardoso. Seis desenhos de Luca Vitali, bem conhecido de nossos leitores pelas sensíveis ilustrações de tantos posts, integram a apresentação visual de Pedrosa Cardoso. Essa ideia só foi possível mercê da presença, em muitas peças, de um conteúdo programático, com frases especiais configurando situações. Frise-se que todas as pequenas histórias contemplam a fauna. Aves, mamíferos, anfíbios povoam a coleção. Inexiste a ferocidade, mas a descontração, o humor, a tragédia e a contemplação penetram as “mentes” dos simpáticos personagens. Apenas um é  humano, Anaclèto, le simple.

Fixada a obra mestra para a programação em Portugal, dois notáveis compositores vieram prestar homenagem a Francisco de Lacerda. De França chegou-nos, de François Servenière, Trois Musiques pour endormir les enfants d’un compositeur e, de Portugal, da pena de Eurico Carrapatoso, Six Histoires d’enfants pour amuser un artiste, a partir de poemas de Violeta Figueiredo. As duas séries estarão a ser apresentadas em primeira audição. Sinto-me profundamente  honrado em poder contar com a presença dos dois compositores no primeiro recital da digressão. De Portugal deverei escrever a respeito da recepção pública e crítica dessas criações tão especiais.

A tournée começará por Coimbra. A preceder o recital haverá o lançamento de meu livro pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Impressões sobre a Música Portuguesa. Sobre essa obra escreverei no próximo post.

Clique para ouvir, de Francisco de Lacerda, 3 Histoires…, com José Eduardo Martins ao piano.

In November I’m going on a concert tour in Portugal, beginning with Coimbra. The recitals will present works by Francisco de Lacerda, François Servenière and Eurico Carrapatoso. Preceding the recital in Coimbra, my book “Impressões sobre a Música Portuguesa” (A View of the Portuguese Music) will be released by the University of Coimbra.

Salvaguarda de Objetivo Proposto

 

Não adianta correr se você não sabe para onde está indo.
Elson Otake (maratonista)

Há muito tempo não encontrava Márcia. Fazia ela parte de um grupo de estudos da iniciativa privada que visava à preparação de egressos da universidade para o mercado de trabalho. Posteriormente singrou outros caminhos e hoje é empresária bem sucedida. O casual encontro se deu em um supermercado e, como habitualmente faço quando há tempo para um prolongamento de conversa que se vaticina enriquecedora, convidei-a para um curto.

Inteirei-me de muitas posições que desconhecia a respeito de gestões empresariais. Minha amiga apenas teve ratificada minha convicção de que as grandes corporações, com seus lobistas que infestam as salas legislativas, na realidade andam de mãos dadas com o Estado, pois apontou-me as imensas dificuldades das empresas que buscam trilhar caminhos corretos.

A certa altura, Márcia, leitora de meus blogs e a par de minhas gravações no YouTube, pergunta-me: “O que é em sua área estar preparado?”  Confesso que achei curiosa essa questão, vinda de uma mulher totalmente realizada profissionalmente.

Hoje, aposentado, continuo a ter as mesmas colocações nessa edificação a visar à realização de um projeto musical. Primeiramente acredito que estar preparado aplica-se a todas atividades humanas e mesmo ao mundo animal. Um predador fisicamente mal corre o risco de morrer de maneira natural ou atacado por outros predadores. Contudo, um fato curioso advém na atividade de um compositor ou intérprete. Se pressionado por uma encomenda, o compositor organiza suas ideias – seu baú mental  já as tem em grande parte – adiciona o novo, que pode traduzir-se em possibilidades inovadoras e em tempo certo a obra estará finda. Ao longo de minha vida apresentei cerca de 130 músicas em primeira audição e tantas delas encomendadas e compostas generosamente por autores competentes. Jamais houve um centavo em causa e nunca tive um atraso, apesar de que, em algumas situações, as obras tivessem um prazo imenso para a entrega ou sofressem a pressão do tempo. Ou seja, há um mecanismo mental que determina o tempo da preparação. Estou a me lembrar de uma obra extraordinária composta pelo grande compositor Aurelio de la Vega (1925- ), nascido em Cuba mas radicado nos Estados Unidos. A criação fazia parte de 10 tributos a Villa-Lobos no ano do centenário de seu nascimento e a coletânea foi publicada pela USP. De imensa dificuldade e com duração de 10 minutos, Homenagem de Aurelio de la Vega visitava vários ritmos latino- americanos. Recebi-a menos de uma semana antes da apresentação. Normalmente a decantação seria lenta, mas a premência do tempo, o condicionamento mental e horas e horas a fio de estudo fizeram com que “naturalmente” apresentasse a obra, que foi tocada a contento. O público sem ter a menor consciência do tempo de amadurecimento das composições na mente e nos dedos do intérprete. Para o ouvinte, tanto a obra de Aurelio de la Vega, como o Homenagem a Villa-Lobos, de Camargo Guarnieri, que apresentei em Paris em 1960, teriam de estar preparadas. Em 1996 gravaria na Bulgária, para o selo Labor dos U.S.A., entre outras obras, essa duas criações em CD entitulado “Tribute to Villa-Lobos”.

Como Márcia se mostrasse interessada, falei-lhe das corridas. Não fossem os três treinos semanais de 6, 8 e 10km, como poderia, aos 73 anos, encarar as competições de rua, a subir e a descer ladeiras da cidade? Nesses percursos de 10 a 15km sei que, ao iniciar os trajetos com cerca de 10.000 outros corredores, deverei chegar ao final, salvo se algum fato inusitado acontecer, o que felizmente não ocorreu nas 37 corridas já realizadas. Quando passo por outros atletas amadores, que estão a andar ou lentamente a correr lamuriando-se, entendo as palavras “estar preparado”. É como diz meu velho amigo e maratonista Nicola, em seus bem mais de 70 anos: “Se o corpo estiver preparado, a sua mente o levará a qualquer lugar”. O mesmo não ocorre no futebol? O público que vai aos estádios sempre se manifesta ao ver um jogador não devidamente em forma sob o aspecto físico.

As experiências narradas por Márcia, que buscou aperfeiçoamento em cursos no Exterior e  estágios em corporações importantes para aquilo que almejava, a gestão empresarial, fizeram-na preparada. Como dizia a minha legendária professora de piano Marguerite Long, “nada resiste ao estudo ou ao trabalho”. Despedímo-nos e encontro Carlos, companheiro de corrida e bem mais rápido do que o septuagenário. “Já se preparou para a prova Santos Dumont no Campo de Marte?”, perguntou-me. Estou treinando, respondi-lhe, e a olhar para a Márcia disse-lhe: “eis o exemplo ao vivo”. Regressei a pensar nesse percurso de 10km, sem esquecer de outras preparações, do estudo de piano e dos escritos que povoam a mente. O tema do post já estava a ferver. Após a prova deste último dia 12 o texto fluiu prazerosamente.

A chat with a friend brought up the subject of this post, a reflexion on the importance of being prepared to handle the situations that life throws at us.