Realidades

Não há homem algum que não possa ser elogiado;
às vezes os assassinos têm pontaria excelente;
e não existe homem algum que não possa ser censurado;
houve santos que não tomavam banho.
Agostinho da Silva

Tivemos ultimamente uma série emocionante de eventos envolvendo modalidades esportivas. Com a aproximação das Olimpíadas, mais acentuadamente o tema toma dimensões. Admirador dos esportes em geral, assisti a algumas competições de atletismo nessa preparação final para o grande acontecimento esportivo a cada quatro anos, assim como decisões emocionantes de modalidades coletivas, como as das Ligas masculina e feminina de vôlei. Impressiona o número crescente de público que assiste aos jogos de que participa a  nata do vôlei mundial. Não há mistério, pois quando a qualidade extrapola a normalidade, todos prestigiam. Também a decisão do basquete feminino, apesar de desnível claro em relação ao vôlei,  foi um belo acontecimento e a vitória da equipe de  Americana, bem justa.

As Fórmulas Indy e 1 têm adeptos ferrenhos, se é que podemos considerá-las modalidades esportivas, mas a ausência de brasileiros que possam lutar pelo pódio na F1 diminui o entusiasmo. Não obstante, seria possível entender o crescente apelo pela Indy pelo fato de que alguns brasileiros são muito bons. Quanto ao tênis, nossos jogadores são coadjuvantes de uma ou quiçá duas partidas em torneios internacionais; portanto, longe estão de figurar entre os top ten. Belos tempos de antão, quando Maria Esther Bueno e, mais recentemente, Gustavo Kuerten, o Guga, encantavam multidões. Esperemos que um dia mais um gênio da raquete alegre entusiastas pela bolinha. Como leigo, observo o grande avanço que há anos o vôlei conquistou ao eliminar o segundo saque. No tênis torna-se incompreensivel, hoje, o segundo ou terceiro serviço, o que propicia, por vezes, jogos intermináveis e enfadonhos, pois todo tenista despeja a sua força no primeiro saque, com direito a reconsiderar a jogada se a bolinha bater ou tocar de leve na rede. Entendo como atraso histórico, mormente após a decisão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) ter eliminado essa verdadeira “chatice” do segundo serviço,  tornando os jogos emocionantes. Considere-se o fato de que o tênis longe está de ser esporte do povo entre nós.

Quanto ao futebol pátrio, é lamentável o quadro presente. Estádios com pequeno público, mesmo em jogos importantes,  vedetismos,  extravagâncias de alguns jogadores e, sobretudo, uma deficiente condição de nossos técnicos de futebol. Os mais conhecidos já passaram por muitos clubes. Vão e voltam. Hoje, qual deles teria sequer a condição de receber convite de um grande time europeu? Quando muito Japão, leste da Europa, países árabes… Técnicos modernos e atualizados têm dado provas no velho continente de que ficou no passado o conceito da primazia de nosso futebol. Meu bom amigo Vital já definia a realidade brasileira: “técnico é bom quando entra, melhor ainda quando sai”. Durante anos o Brasil figurou no topo da lista de seleções promovida pela FIFA. Despencou. Não se veem táticas inovadoras, mas chavões em campo, repetições ad nauseam do decantado “chuveirinho” e de determinadas jogadas, desinteresse no desarme, erros elementares e abusivos de passes, lentidão, excesso de lances faltosos, verdadeira queda de qualidade futebolística se comparação for feita com o que se pratica na Europa, arbitragens por vezes eivadas de equívocos grosseiros, chaga das torcidas organizadas a afastar o verdadeiro público ordeiro. Para o dirigente de clube, deve ser um martírio observar estádios lotados, campos impecáveis e táticas inovadoras d’além mar. Como se está a jogar bem na Europa! Que abissal diferença com o futebol praticado na América do Sul e a Libertadores da América é exemplo perfeito do desnível a que chegou o futebol do Continente. Mais e mais encontramos entre nós, graças à televisão, torcedores dos grandes times europeus, pois quem gosta de futebol admira o bom jogo. Está-se a praticar na Europa um futebol rápido, inteligente, com poucos erros de passes, movimentação constante e jogadores realizando várias funções. Estamos, no Brasil, a quase atingir a era dos quelônios, pois é lento, muito lento o futebol praticado no país. Sob outra égide, quando as câmaras focalizam alguns estádios daqui e do continente, pode-se verificar a indigência. Campos sem grama e sem drenagem adequada, arquibancadas velhas e sujas, estrutura geral digna de pena. Em blog bem anterior escrevi que os times do hemisfério sul não teriam o menor fôlego qualitativo para enfrentar, integralmente, determinados campeonatos europeus, e que nosso nível continental estaria à altura da segunda divisão dos países de ponta do velho continente. Realidade  insofismável. Quando talento desponta nos gramados brasileiros, uma enxurrada de empresários  cobiça o jovem e este, imediatamente, passa a sonhar com a Europa.

A Portuguesa de Desportos findou o Campeonato Nacional da série B de 2011 com 17 pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Uma façanha, aparência da realidade. Antes do início do Campeonato Estadual, a lusa vendeu seus principais jogadores, enquanto os quatro grandes compraram jogadores de bom nível e até os times menores fizeram contratações. Àquela altura, disse aos meus amigos aposentados, que se encontram todos os dias na mesma esquina, que tinha a convicção plena de que a Portuguesa iria para a série B do Paulistão. Não acreditaram. Sucessivas diretorias não profissionais, dirigentes emotivos, sem preparo para a condução do futebol-empresa, destruíram todas as chances da equipe. Membros da grande colônia portuguesa sempre dirigiram a Associação. Não há o menor profissionalismo, pois todos amadores no mister da direção esportiva. Creio que o técnico é o culpado menor, pois o que fazer diante da incompetência superior? A Portuguesa de tantas tradições foi humilhada e a queda para a segunda divisão do Campeonato Paulista, absolutamente previsível. Também durante o desenrolar da primeira fase do denominado Paulistão disse aos amigos que, para o Campeonato Nacional que terá início brevemente, três equipes deverão cair. Responderam-me que são quatro, ao que retruquei que o quarto já é certo, a Portuguesa. Sob outra égide, como torcedor da lusa, mas felizmente distante do sentimento de paixão, o que me levou a ir ao Estádio do Canindé apenas três vezes desde a inauguração há décadas,  não poderia, seria lógico deduzir, verter emoção por equipe que, desde o saudoso Oswaldo Teixeira Duarte, é dirigida por não profissionais. Meu irmão João Carlos, Vital Vieira Curto e tantos outros, ainda apaixonados pela lusa, convidam-me frequentemente, mas sempre declino. Defendo há muito tempo que, devido ao número ínfimo de torcedores e ao amadorismo das sucessivas direções, deveriam extinguir o futebol profissional ou fundi-lo com qualquer outra agremiação, como fizeram no Estado do Paraná, com certo êxito.  Seria um bem incomensurável para o Esporte. Há tantas outras modalidades a que a Associação Portuguesa de Desportos poderia dedicar-se! Seria mais digno, creio eu. A vaidade diretiva permitiria? A paixão exacerbada de uns poucos torcedores concordaria? Acredito que não, e as sucessivas humilhações deverão continuar, para nostalgia dos saudosistas e aborrecimento para os que ainda confiam.

This post is about sports in Brazil. As a fan of sports events, I can only regret the situation when compared to that of other countries. Apart from volleyball, that has had many achievements in the last decades and enjoys rising popularity, and the women’s national basketball team that also improved a lot, everything else is decadent. In Formula One, for years we have not seen drivers that can level with the notable ones of the past; in tennis tournaments the country is merely a bad supporting actor, with uncompetitive players. But it is in football, the national passion, that decline is at its peak. With stadiums in shameful conditions, shrinking audience, 2nd rate coaches, low level performances and the “prima donna” status of some players, the once almost unbeatable Brazilian squad is a shadow of what it used to be. The opposite is seen in Europe: first class soccer stadiums without empty seats and top players that really give a show: precise attack, possession of the ball, passing it around with accuracy in quick touches, runs and speed, technique and tactics. It is football at its best, while our football today could be compared to that of the 2nd Division of some European countries. We should learn from them!