Escândalos se Sucedem – Leitores Entendendo Mensagens de um Observador
Não basta, porém, para ser livre,
que se tenha liberdade política.
A liberdade política é perfeitamente ilusória
enquanto se não tem liberdade económica,
pela coacção exercida por quem dispõe de meios
de produção, de transportes e de crédito,
pela fácil corrupção do voto,
porque os meios de difusão têm sempre proprietários e custam dinheiro,
e porque a miséria nem pensar pode.
Agostinho da Silva (Dispersos)
Reiteradamente tenho comentado que a temática a envolver mazelas de nosso Governo Federal e outras mais de diversas procedências não são preferências de minha pena. Sentir a deterioração flagrante de estruturas básicas da nação, como Cultura, Ética, Moral, não apenas constrange como “envenena” a mente. Sob outra égide, noticiários televisivos enfatizam ad nauseam resultados da extrema violência e desvios de conduta da classe política, a abranger todos os partidos, uns mais outros menos, mormente o planaltino. Sob outro aspecto, existe o lobista, essa figura sombria quando a visar o lucro abusivo, mensageiro humano que, à la manière da ave de rapina, sobrevoa os poderes públicos sempre em busca da famigerada vantagem para organizações privadas de toda ordem.
Se a Copa do Mundo de Futebol está a revelar, bem antes de seu início, a existência do superfaturamento, essa praga crônica que assola o Brasil, no post do dia oito de Março salientei a derrocada da Petrobrás, antes o grande orgulho nacional e que, desde a ascensão do ex-presidente e mudanças nos escalões superiores, foi sendo aparelhada, para desespero de acionistas, que viram suas ações despencarem e a credibilidade da estatal esvair-se. Dias após meu post, explode de maneira mais contundente, e com todas as letras, o escândalo a envolver a compra de refinaria em Pasadena, em que a Petrobrás pagaria preço inimaginável. No “Estadão” online de 20 de Março lê-se: “BRASÍLIA – Documentos até agora inéditos revelam que a presidente Dilma Rousseff votou em 2006 favoravelmente à compra de 50% da polêmica refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A petista era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobrás. Ontem, ao justificar a decisão ao Estado, ela disse que só apoiou a medida porque recebeu ‘informações incompletas’ de um parecer ‘técnica e juridicamente falho’. Foi sua primeira manifestação pública sobre o tema”. Os leitores certamente já tiveram conhecimento do noticiário posterior, largamente ventilado pela mídia, no qual desdobramentos para a compra do restante, a completar 100% da refinaria em Pasadena, elevaram o preço total à estratosfera. Uma pergunta fica no ar: se em empresa privada com Conselho Administrativo, em qualquer dos países do denominado G 20, fato infinitamente menor tivesse ocorrido a dar enorme prejuízo à organização, qual o destino do responsável pela negociação? Possivelmente estaria não apenas fora da empresa, como “banido” do meio empresarial. A paquidérmica estrutura do Estado consegue sempre minimizar ou fazer o cidadão esquecer mazelas tantas vezes descomunais. Contudo, beneficiários da demagógica Bolsa-Família nem saberão o que ocorre. “E porque a miséria nem pensar pode”, como afirma Agostinho da Silva, programas assistencialistas conseguem o que lhes importa, o voto. Enquanto a prioridade mor, a Educação, a anteceder todas as outras, não estiver na mente de nossos governantes, erro, equívoco, distorção dos fatos, desvio de conduta, embuste, demagogia e descompromisso com a verdade serão preponderantes em nosso país à deriva. A ausência voluntária da Educação planejada como única saída para o progresso harmonioso de uma nação, conduz a caminho sem saída. Tivesse o povo acesso à Educação sólida desde a tenra infância conheceria as lamentáveis negociações da Petrobrás e outras, que estão a pipocar, referentes à Estatal. Certamente saberia escolher o governante preparado. Nada a fazer, por enquanto, a não ser protestar, pois a sustentação de bancadas majoritárias coadunando-se com o Planalto são preocupações primeiras do Establishment. Na recentíssima e excelente entrevista que o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Joaquim Barbosa, concedeu ao jornalista Roberto D’Ávila para a GloboNews (Globo.TV), afirmou: “Se faz muita brincadeira no Brasil no âmbito do Estado, dos três poderes. Muitas decisões são tomadas superficialmente. Não se pensa nas consequências”. Diria ainda: “o Brasil é o país dos conchavos, do tapinha nas costas”.
Muitos leitores manifestaram-se a respeito do post do dia 15 de Março. Flávio Araújo, um dos maiores locutores esportivos do Brasil em todos os tempos e hoje arguto jornalista, inseriu em sua coluna no www.ribeiraopretoonline.com.br (“A Imprensa e sua Missão”, 20,03,2014) parte significativa de meu post, precedido de comentários que anexo ao presente:
“Nem sempre os grandes comentaristas dos fatos que ocorrem pelo mundo afora estão abrigados nas grandes corporações jornalísticas. Com a diversidade da mídia depois da implantação da Internet é comum encontrarmos matérias de grande valor inseridas em sites ou mesmo em blogs avulsos. Também é preciso esclarecer que, com essa possibilidade de todo mundo poder manifestar sua opinião, o que é democrático, nem tudo o que se escreve é digno de ser lido, o que nada tem a ver com liberdade de expressão. Com o tempo e com bom faro vamos selecionando o que há de melhor e, principalmente, buscando opiniões conflitantes, já que nem sempre lermos aquilo que se coaduna com nossas ideias é a melhor das alternativas. Dispensando o material deletério abrigado na web, é possível encontrar matérias de elevada qualidade e opiniões divergentes de cujo confronto sempre extrairemos sábios ensinamentos.
Assim é que procuro ler o que julgo em princípio de boa qualidade literária e, se possível, que esteja projetando também ideias dignas de serem levadas a sério. Não importa se nossos pensamentos caminham em direções paralelas, explico mais uma vez, mas esse não é o caso do que vou agora focalizar, que é a opinião de alguém que, no geral, pensa como eu também tenho pensado na idade provecta que atingi. Um dos blogs do qual sou leitor assíduo é aquele assinado por José Eduardo Martins, grande músico e mestre dos mais respeitados do país. Constantemente em viagens ao exterior, onde grava seus preciosos discos, o professor José Eduardo tem uma visão global das coisas que vão ocorrendo no planeta e não se limita a escrever sobre sua especialidade, a música de alta qualidade.
No seu último post (Pós-Carnaval e Temores Pré e Pós-Copa do Mundo de Futebol) traçou um retrato perfeito da situação que estamos vivendo e, com sua autorização, estamos reproduzindo aqui uma pequena amostra, quando escreve de passagem sobre o mundial de futebol do qual estamos tão próximos”. A íntegra de sua coluna, “A Imprensa e sua Missão”, pode ser lida ao ser acessado o link abaixo:
Clique para visitar a coluna de Flávio Araújo, em Ribeirão Preto Online
Retornarei aos posts que me trazem prazer e alegria. Desesperançado pelos rumos que o Brasil está a seguir, ao menos tenho, ainda, a possibilidade de, por vezes, expressar desilusões.
Flavio Araújo was one of the greatest sports journalists of the 2nd half of the 20th century in Brazil and presently writes for the Ribeirão Preto Online sports section. Last week he posted excerpts of my last week’s post on the current social and political situation in Brazil, while giving his views on how to sort the wheat from the chaff on the web. I transcribe his words here, since they are worth reading.
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