São Tantas as Reclamações contra a Prefeitura!

But tree, I have seen you taken and tossed,
And if you have seen me when I slept,
You have seen me when I was taken and swept
And all but lost

That day she put our heads together,
Fate had her imagination about her,
Your head so much concerned with outer,
Mine with inner, weather.

Robert Frost (1874-1963)

O último blog resultou opiniões contundentes. São Paulo tem convivido, como nunca antes, com a certeza, não a dúvida. Qualquer aguaceiro mais forte e o cidadão já imagina a derrocada infalível de árvores, arbustos ou galhos espalhados pela cidade. A imagem pós-chuva é sempre desoladora. Quando não a árvore inteira, partes dela ficam espalhadas pelas vias. Qualquer chuva leva invariavelmente ao apagão de um sem número de semáforos e o caos se instala em muitas vias. Passadas as águas, buracos se apresentam como consequência de pavimentações superficiais. Os contribuintes pagam impostos altíssimos e nenhuma devolução à altura em forma de serviços públicos acontece.

São Paulo está a sofrer grave crise hídrica. Tivessem os governantes se preocupado décadas atrás, estaríamos livres da emergência. Certamente 2015 será um ano de forte racionamento. Não há como ser diferente. Contudo, apesar do vocabulário nem sempre preciso, pois tangenciado, o governador do Estado vem a público, sempre, e não nega responder à mídia, ou seja, às perguntas que todos nós estamos a pensar sobre a escassez. Não é o caso do alcaide de São Paulo que, seguindo velha tática daquele que o criou para as eleições de 2012, oblitera-se nos momentos de dificuldade, não se apresentando em nenhum momento de crise forte. Já se tornaram lendários os oportunos “desaparecimentos” do criador. Tragédias naturais, escândalos como mensalão e petrolão não tiveram e não têm, respectivamente, por parte do criador a posição firme, a entrevista a não deixar nenhuma dúvida. Essa atitude de se furtar em momentos decisivos, até plausível na idade edipiana, quando em jogos infantis, tornou a criatura o discípulo perfeito, que desaparece do embate tão logo sua presença antolha-se imprescindível. O tergiversar pareceria algo bem estudado pelo criador e as criaturas dele emanadas.

Vital Vieira Curto, empresário português, assim escreve: “Li com atenção seu texto sobre esse problema que é a queda de árvores. Compartilho totalmente da sua opinião. Paralelamente, você também entrou na preocupação do atual prefeito, que é a construção das ciclovias. Este tema me incomoda muito, pois estou vendo enorme preocupação com a pintura das ruas de vermelho, sem maior utilidade, como você já disse. Eu, que transito por São Paulo, vejo como enormes buracos proliferam nas ruas, sem qualquer providência da parte do poder municipal. A nossa imprensa ainda não destacou esse terrível contrassenso. Faço a seguinte pergunta: será que algum jornalista ou mesmo político se debruçou sobre o custo dessas faixas pintadas? Será que isso não poderá estar alimentando a geração de recursos para alguma finalidade menos correta? A implantação de novos faróis também é estranha. São colocados novos faróis, mas não se preocupam com a sua coordenação, conseguindo dificultar o fluxo do trânsito ainda mais. É muito curioso que esses serviços citados sejam de responsabilidade de uma secretaria municipal que está sob o comando de um notório político, que teve na última eleição três candidatos pertencentes à sua família. Será que esse fato sugere existência de qualquer coisa estranha? Certamente eu não posso responder, mas seria importante que alguém investigasse”.

François Servenière nos escreve com outro enfoque sobre o problema, possivelmente por viver em outras latitudes “A França começa a sair do entorpecimento e a Bélgica é atingida, como previsto. Fez-me bem ler seu blog e verificar que nós não somos o umbigo do mundo, com nossos pequenos problemas sociais e cenas terroristas. Ver também que todas as desgraças do planeta não são relatadas pela imprensa mainstream ocidental que nos inunda.

Essa árvore extraordinária que ilustra seu blog (segunda imagem do blog anterior) e que tombou como símbolo dessa pujança vegetal dos trópicos. Uma árvore secular, que dá ao homem a consciência de se ancorar na história natural não escrita. Sou como você. Tudo que se relaciona à natureza me emociona. Encostar os dedos em uma árvore é como apreender a natureza em seu caminho pela história. Encostar a orelha em uma árvore, da mesma maneira que se faz contra uma coluna de catedral para captar o tempo que passa, a natureza em sua lenta trajetória, ritmo quase imperceptível à inteligência humana. Portanto, ao longo da vida humana, a árvore cresceu e não percebemos essa transição. Charles Baudelaire poetizava: La nature et ses vibrants piliers comme les cathédrales…”.

A seguir, Servenière aborda a força da natureza, que inúmeras vezes é imprevisível, tornando o homem inerte. Em São Paulo e no Brasil os acontecimentos trágicos e de violência inaudita poderiam sempre ser previstos se houvesse vontade política, o que realmente não acontece. As tragédias há poucos anos atrás, na temporada de chuvas nas serras do Estado do Rio, onde sucumbiram cerca de 1.000 pessoas, poderiam ter sido evitadas não fosse a ocupação desordenada. Outras tantas acontecem no Brasil mercê do descaso governamental e da corrupção, que jamais esteve em nível tão elevado desde 2003. A quantidade desmesurada de queda de árvores ultimamente na cidade deu-se em grande parte pelo descaso da prefeitura, que tem sistematicamente negligenciado a prevenção necessária. É fácil apontar árvores que poderão cair brevemente, causando transtornos ou mesmo tragédias. As fotos que ilustram o blog mostram um flamboyant inclinado com galhos imensos – mais parecem troncos – atravessando um terreno privado. Fica próximo ao 27º DP no Campo Belo. Continua a crescer e, para a queda, é só questão de tempo. A prefeitura, neste caso e em outros milhares espalhados pela cidade, ignora. Irresponsabilidade, descaso e abandono, palavras tão próximas!!!

François Servenière exercita sua posição frente ao irreparável “Que podem os homens e suas organizações, as municipalidades, contra as forças da natureza? Na França, cada um rejeita a responsabilidade pelas catástrofes naturais, essencialmente imprevisíveis, malgrado os computadores e os programas de previsão, sempre, sempre, friso, sempre falhos. É a fatalidade! Senão entramos na sociedade futurista ‘Minority Report’, idealizada por Philip K. Dirk (1956), onde os assassinatos poderiam ser previstos mercê da ajuda dos precogs, capazes de antever o que poderá acontecer. Isso é desejável? O homem nada pode contra a natureza que, de seu lado, não se importa. O certo é que o homem não controla o futuro, tendo dificuldade em obter previsões meteorológicas confiáveis durante a semana. Sua cidade é imensa e os problemas só podem ser da mesma dimensão, como posso constatar através do seu blog. Quanta complexidade a administrar!!! Suas fotos são belas e emocionam. A grande falsa seringueira lembra-me, mas em dimensão mais dionísica, a imensa aubépine no centro da praça da Catedral de Bayeux, cuja lenda reza que Joana D’Arc chegou a acariciar seu tronco. Obrigado por seu texto, que me faz sair de nossas preocupações umbilicais”. (tradução J.E.M.)

No blog anterior nego o slogan da atual prefeitura, “fazendo o que tem de ser feito”, pois as essencialidades foram abandonadas pelo presente burgomestre em detrimento de superficialidades e populismo. Houvesse respeito do alcaide pelas centenas ou milhares de muitas de nossas árvores em fase final, pois encerrados seus ciclos vitais, determinaria que diariamente, durante todo o ano, fossem extirpadas aquelas que necessitam de tal procedimento. A grande maioria vive sob torturante garrote, que lhe tolhe o pleno desenvolvimento, sufocando-a, enfraquecendo-a, sem poder levar a seiva das raízes sufocadas às ramificações e, fatalmente, condenando-a à inexorável queda. Passarão os raros aguaceiros que estão caindo sobre São Paulo e, certamente, o tema poderá ser arquivado no Edifício Matarazzo. A mídia, tão criticada pelo partido que ora ocupa o prédio mencionado, não pode deixar cair no esquecimento a queda de mais de 1.000 árvores. Será sua missão cobrar atitudes, pressionar para que haja constante vigilância e atenção às nossas árvores. Oxalá isso ocorra.

In this week’s post I transcribe messages received from the Portuguese businessman Vital Vieira Curto and the French composer François Servenière, with different views on the problem addressed in the last blog: street trees knocked down by inclement weather.