Navegando Posts publicados em julho, 2015

Conversa Promissora

Se a literatura salva? Não, não salva. Mas se ela se extinguir, extingue-se tudo.
Hélia Correia (escritora portuguesa)

Minha neta Emanuela, em seus 12 anos e habituada, como a maioria de seus coleguinhas, aos aparelhos portáteis de comunicação, leu os últimos blogs relacionados à proliferação acentuada dessas “engenhocas” e suas consequências, devidas em grande parte às modificações constantes e apelativas de novos modelos e aplicativos que seduzem as novas gerações. Emanuela comentou que ama esses aparelhos, mas também a leitura. Sei disso e a vejo constantemente com um livro com temática relacionada à sua idade. Seguindo uma onda que assolou o planeta, Emanuela e minhas outras netas, quando de sua faixa de idade, percorreram com avidez a série completa das aventuras de Harry Poter, de J.K Rowling, como também outros livros. No início  dos anos 1950 não li com entusiasmo Monteiro Lobato, Viriato Correa e Edmondo De Amicis? Maria Teresa (16) tem lido cerca de 20 livros anualmente, desde os doze anos e abordando variados temas!!!

Dificilmente o hábito da leitura não vem acompanhado de um interesse que pais ou avós despertam na prole. Diria, uma espécie de DNA do intelecto e do espírito. A tecnologia atual despertou na nova geração uma outra possibilidade de leitura, rápida e descartável, e o WhatsApp aí está para evidenciar essa assertiva. Mensagens curtas, cifradas tantas vezes, substituindo as cartas de passado recente. Não há retorno, mas também essa absoluta certeza não inviabiliza a presença de uma carta melhor redigida, a seguir a tradição ou, num sentido mais amplo, o livro impresso. São compartimentos diferentes, que tendem a resultar em posturas outras sobre muitos aspectos culturais. É possível comprar e armazenar, em aparelhos como Kindle, uma biblioteca inteira e inclusive fazer anotações nessas páginas virtuais, que viram naturalmente à medida que a leitura prossegue, a propiciar ao leitor a sensação do livro impresso. Cataloga-se o que é lido e toda uma estante de volumes fica guardada (provisoriamente?) na memória dessas “engenhocas”.

Vozes têm sido ouvidas. Teme-se a breve obliteração do que deva ser preservado. Os mais entusiastas apostam na imagem virtual e programas que substituam o livro impresso. A aceleração é notória. O livro tem permanecido e deverá preservar espaços mais reservados, a depender da área. Muitas formas de edição têm sido criadas, objetivando tiragens menores e criativas. Em curso. Livros dos denominados “famosos” contêm prioritariamente mais divulgação do que conteúdo. Sob outro contexto, livros que discorrem sobre pensamento ou cultura estão condenados às tiragens reduzidas, mas são salvaguarda, resistência que traz alguma esperança.

Focos foram direcionados alhures. Num outro contexto, seria possível entender que a ascensão de toda uma música pop tenha provocado um encolhimento na divulgação da música denominada clássica. Patrocinadores sempre buscam caminhos que lhes propiciem o lucro. Ainda há pouco ouvia entrevista de um especialista em esportes a dizer que, no Brasil, o vôlei desperta ultimamente muito maior interesse do que o basquete e que as empresas migraram para aquela especialidade, mercê de públicos sempre a bater recordes de frequência. Dá-se o mesmo em relação à literatura e à música e escritores e artistas mais propalados pela mídia merecem maior atenção. É a lei do mercado a independer tantas vezes da qualidade intrínseca do que tem de ser divulgado e… consumido.

Presentemente, com a difusão de e-books, mais acentuadamente haverá contingente de leitores buscando esse acesso ao livro na forma virtual. Habituado à internet, aos aparelhos eletrônicos e aos seus aplicativos in progress, esse leitor já está propenso, mormente no que tange às novas gerações, às leituras através desse processo virtual. Fato sem retorno. Para as gerações que, pela tradição, sempre cultuaram o livro impresso, há poucas mudanças, preferencialmente para aquelas que manuseiam a eletrônica de maneira parcimoniosa. Todavia, parece claro que, maior a difusão e publicidade de inovações que se sucedem, maior será a curiosidade do jovem frente aos modelos que surgem. O tempo, que outrora foi dedicado à leitura impressa e que levava à reflexão e à retenção na memória, diferencia-se na essência do atual, com consequências imprevisíveis.

Sob outro contexto, preocupa-me o aviltamento que diuturnamente está a ser perpetrado contra a língua portuguesa. Provedores que apresentam notícias estão plenos de erros primários pela falta de preparo daqueles que as redigem. Artigos assinados ainda têm maior confiabilidade quanto à língua portuguesa, mas é só. Aqueles que acessam provedores se deparam com o erro que, através da repetição, incorpora-se ao “acervo”, ora deturpado. Toda essa “leitura” imediatista nos mais diversos meios eletrônicos de comunicação está a ser progressivamente desvirtuada, mercê obviamente da simplificação linguística. Considere-se, ainda, que parte considerável da nova geração, quando busca livro impresso, também graças à formação educacional menos embasada, escolhe obras de grande divulgação, geralmente sem conteúdo e mal redigidas ou traduzidas sem esmero.

“Público”, jornal diário português, publicou no último dia 7 de Julho o texto que a escritora portuguesa Hélia Correia (1949- ) leu ao receber o Prêmio Camões em Lisboa. Diz a autora que “as línguas são os únicos seres vivos que não têm origem natural”. Afirma que ” Na ditadura da economia, a palavra é esmagada pelo número. A matemática, que começou nobre, aviltou-se, tornando-se lacaia”. Continua: “O nosso mundo de sobreviventes está seguro por laços muitos finos. Eu vejo os fios que unem os textos nas diversas versões do português, leves fios resistentes e aplicados a construírem uma teia que não rasgue”. Há sempre esperanças.

À minha pequena Emanuela, que admira livros antigos como poucos, mas adora as tais “engenhocas”, mostrei estantes plenas de obras. Perguntei-lhe se saberia me dizer as personalidades físicas de cada livro percorrido através dos denominados e-books. Não se lembrava. Mostrei-lhe fotos das grandes bibliotecas europeias e ela se encantou. Disse-lhe que uma das grandes emoções que tive foi dar recitais de piano na maravilhosa Biblioteca Joanina, em Coimbra. Sabedoria de séculos conservada naquelas estantes!!! Os sons do piano em convívio harmonioso com a História, que escreve sobre o Homem em seu caminhar pela vida!!! Carinhosamente, “penetramos” nas minhas humilíssimas outras estantes e afirmei-lhe que cada obra sobre música lida e que lá estava, sempre disponível para nova consulta, representava uma relação de amor,  pois nunca recusara a minha curiosidade. Cada lombada é um convite. O livro não se furta a mostrar o conhecimento inerente. Ele lá está, por vezes desgastado pelo tempo, outras vezes após recente chegada às prateleiras de madeira. Nunca se incomodaram com as muitas anotações que, desde os anos 1950, eu deposito com carinho em seu interior. Sei onde elas foram grafadas. Através da lombada, à maneira de uma janela que se abre para a paisagem, o interior do livro, já incorporado às antigas visitas, pode sempre revelar outros segredos.

A chat with Emanoela, my 12 year-old granddaughter, was the starting point of this post, a reflection upon e-books — now a popular reading standard — and paper books. Which one is better? Is there a place for both digital alternatives and the traditional physical books? Why are tactile sensations (the smell of the pages, the heft of a book, the touch of it) important for some readers?

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Recepção Forte ao Descaso das Autoridades

Contudo, a verdade é que os mais ferozes
levam vantagem sobre os mais civilizados,
chegam primeiro,
autoselecionam-se
na luta pela sobrevivência da estupidez mais arcaica.
Torvi Johansen
(Animalité Humaine)

Foram muitos os testemunhos, tantos deles via oral. Frequentadores do blog e moradores da nossa cidade bairro, Brooklin-Campo Belo, assim como de outras regiões da cidade, enfatizaram a plena negligência do alcaide e sua equipe com os problemas vitais que infernizam a vida do cidadão paulistano. A compulsão pelas ciclovias, cracolândia, zoneamento arbitrário e a nítida repulsa aos automóveis e à classe dita média são notórias. Comentada pela mídia mais esclarecida. A atitude das autoridades tem gerado uma revolta interior na maioria da população e deverá ser traduzida nas urnas em 2016, quando da eleição de um novo Prefeito da cidade.

Dos posicionamentos recebidos selecionei três: do professor da USP,  Gildo Magalhães, especialista em Ciência da Comunicação e com larga experiência internacional na área, do leitor João Cardoso e de meu partner em tantos blogs, o músico e pensador francês François Servenière.

Gildo Magalhães esclarece: “Mais que oportuna sua reflexão! Incidentalmente, fui o coordenador da norma da ABNT NBR9050, que se tornou obrigatória por lei no estado de São Paulo há quase vinte anos e, desde dezembro de 2004, em todo o país por decreto federal. Trata-se da norma brasileira de acessibilidade, que trata de vários aspectos dentro das edificações de uso público (conseguimos tornar gratuito o seu conteúdo, de forma que é só digitar o número citado que a norma pode ser baixada pela internet). Além disto, esse dispositivo legal contém um capítulo sobre as vias públicas e, no que tange às calçadas, exige um piso regular, firme e não escorregadio, livre de obstáculos. Praticamente a totalidade de nossas calçadas está rigorosamente fora da lei e, nem é preciso dizê-lo, a prefeitura é impotente para corrigir essa desatenção para com a lei!”

O leitor atento João Cardoso escreve: “Só lembrando que, nos grandes arredores do ed. Matarazzo (da Luz até a Sé), a cena é pior. Quando existem, as calçadas estão imundas e esburacadas. E os prédios estão ocupados, há mendigos, refugiados e cracômanos de toda sorte. No entanto, permanece  vicejante a faixa vermelha em ruas e avenidas do velho centro. Vazias, as faixas, é claro. Nós, pedestres, pulamos amarelinha para desviar de fezes humanas – sim, pois nem os cães ficam por lá – na praça da Sé e na Praça da República… Então, se sob as barbas do Catilina, que olha lá do alto do vale do Anhangabaú, a sujeirada só cresce, o que dizer? Preocupa-me o novo plano diretor. Venderam a cidade para as incorporadoras, as mesmas envolvidas nos escândalos estranhos recentes, para que prédios e construções de diversos fins sejam levantados em vias de regiões antes tidas como estritamente residenciais. A dr. Arnaldo está nestes planos. As dos Jardins e outros bairros também. A citação de Cícero, mencionada pelo professor ao final do blog da semana passada, diz tudo”.

Sinto-me privilegiado com as mensagens semanais do músico e pensador francês François Servenière comentando meus blogs. Verdadeiro partner de meus posts hebdomadários, Servenière observa preferencialmente a primeira parte do texto anterior, referente à nossa endêmica corrupção, galopante nestes últimos governos: “Li atentamente o blog desta semana e acrescento que ela conduz aos mesmos defeitos recorrentes em todas as democracias, mormente quando evolui em direção a um socialismo que propõe defender os mais pobres e os menos favorecidos, mas que inexorável e inevitavelmente se dirige à tirania e ao clientelismo, únicos modos operantes nesses regimes. A Grécia desceu ao nível tão baixo atual pelo mesmo problema da corrupção: sem lastro, burocracia invasora fora dos limites financeiros do país, sistema previdenciário falido, ausência de um sistema impositivo digno de um país moderno, discursos demagógicos e populistas…  A sua história do papel higiênico antes da queda do Muro de Berlin me faz lembrar de uma lista que tenho sempre bem guardada, ou seja, a relação dos 100 primeiros itens que faltam no caso de um caos econômico. Diria ainda que nenhuma sociedade está ao abrigo de um caos político-econômico, sobretudo nos dias de hoje em que o endividamento mundial atingiu um ponto extremo jamais visto na história da humanidade. Tendo como testemunho a situação da Grécia após o fechamento dos bancos, precedendo o referendo demagógico, não nos esqueçamos das palavras do Primeiro Ministro em Março: ‘Eu não fecharei os bancos’. Segundo estimativas, daqui a três semanas não haverá mais o que comer na Grécia, não haverá dinheiro. ‘Situação de sobrevivência semelhante à da União Soviética’ desde o último domingo, como diz nesta semana um empresário grego em entrevista ao Le Point (após a mensagem de Servenière, houve um acordo entre a União Europeia e a Grécia, com resultado imprevisível).

O certo é que os povos tendem a colocar no poder, obedecendo a ciclos, pessoas responsáveis. É tão mais fácil se fazer eleger pela demagogia e populismo! O fato é que a Grécia não só inventou a democracia, como a demagogia, e isto lamentava Aristóteles. A única resposta justa e universal sob todos os céus, mas não chegada aos holofotes, está contida na frase de Winston Churchill,  ‘suor, sangue e lágrimas’, que se antepõe ao ‘pão e circo’ nefasto, tão ao gosto dos títeres. Jamais, jamais, jamais as situações dos povos e dos países melhoram se virarmos os polegares para baixo” (tradução JEM).

As metonímias mencionadas por Churchill em discurso pungente durante a IIª Grande Guerra passam sempre ao largo do caminho de nossos governantes, infelizmente.

Concluindo este post, regressaria às calçadas e ciclovias, amparando-me em matéria publicada no dia 8 de Julho na primeira página do caderno Cotidiano, de A Folha de S.Paulo. Escreve o articulista Artur Rodrigues: “Na avenida Paulista, um tapete vermelho. Na avenida Bento Guelfi, no extremo leste de São Paulo, lama”. Após considerações, prossegue: “Já nos extremos da cidade a manutenção foi deixada de lado – e as ciclovias estão tomadas por sujeira, buracos, enchente, falta de sinalização, iluminação e fiscalização”. Esse descaso é intolerável. Busca o alcaide de plantão atingir os 400km de ciclovias durante seu mandato e, logicamente, a da av. Paulista leva toda a mídia a comentar. Quanto à preservação daquelas mais ocultas, bem, trata-se de um pormenor. Qualquer cidadão da cidade que queira comprovar esse descaso, é só passar ao lado das muitas ciclovias e verificar in loco o abandono vergonhoso da Prefeitura quanto à manutenção e, sob o aspecto da frequência, a mínima acolhida pelos ciclistas durante a semana, mercê da total falta de planificação para a implementação desses caminhos alternativos. Quanto às calçadas, tema central do post da semana anterior, foram jogadas para as calendas, ad kalendas graecas.

This post is a selection of messages received with comments on last week’s post about the deplorable state of neglect of the sidewalks in São Paulo. It seems many readers agree that the city has been completely forgotten by the mayor, anxious to invest public money on bike paths, the so called “crack land” and the unrestrained verticalization of the city.

____________

In Memoriam

 

A data da publicação deste post coincide com a efeméride a comemorar o centenário de nascimento da Professora Olga Rizzardo Normanha. A notável mestra formou gerações de pianistas vindos de vários rincões do Brasil, tendo sido personalidade destacada na vida cultural de Campinas. Quando de seu falecimento, em 2013, publiquei em meu blog dois posts a salientar sua trajetória. Olga Normanha, mãe de minha mulher Regina, foi querida sogra (vide posts: “Professora Olga Rizzardo Normanha – 1915-2013″, 02 e 09/03/2013).

____________

Apenas um Mínimo Exemplo a Integrar a Grave Crise Generalizada Ética e Moral

Ninguém poderá viver com dignidade em uma República corrompida.
Ministro Celso de Mello (Decano do Supremo Tribunal Federal)

Nada acontecerá. Uma voz a mais ou tantas outras jamais sensibilizam governantes, sempre atentos a interesses outros. Como afirmei em tantos blogs anteriores, não gosto de entrar nesses temas, a cada dia mais indigestos. O amigo Luiz Gonzaga teve de insistir para que colocasse uma posição pessoal a respeito de todo o desmando que assola o país. Relutei, como sempre o fiz em outras oportunidades, mas tratarei bem resumidamente de alguns problemas que inquietam hoje a grande maioria da população brasileira, mercê de um governo desacreditado e cercado por denúncias de corrupção, mormente após 2003.

Quantos não são os profissionais da mídia falada e escrita que diariamente ventilam os problemas do Brasil e de nossa cidade? Todavia, ao leitor de minha coluna semanal diria que não estou alienado dos graves problemas que nos assolam. Descaso, corrupção, insegurança, saúde, impunidade generalizada, graças em parte à justiça morosa do país, são temas debatidos ad nauseam e que preocupam os mais esclarecidos que acreditam em dignidade pública. Sob outro aspecto, de maneira quase que sombria, blogs solidários, que traduzem com fidelidade deliberações do partido planaltino, exaltam – na mesma tonalidade rubra da bandeira – aquilo que não mais tem guarida. Nesse momento de absoluto desalento, qual jornalista-radialista ou político da situação pode, de surpresa, falar em qualquer praça pública em defesa do Governo? Vaias serão ouvidas e, logo após, isso também tem-se repetido, militantes convocados chegarão para possíveis rixas.

Mergulhado inteiramente no mar de lama da corrupção, o partido que ocupa o Palácio da Alvorada vem por vezes a público para tentar evidenciar que tudo vai bem. Hoje, se a presidente tem pronunciamento oficial pelos meios de comunicação, panelaço pelo país é ouvido. O último ex-presidente não tem a menor possibilidade de falar abertamente em praça pública, a não ser cercado pela sua militância. Essas falas são reservadas em salas fechadas ou ao ar livre, em espaços previamente ocupados por sindicalistas e adeptos. Filmadas e divulgadas. Para as duas categorias de fiéis seguidores, fica a certeza de que o ex está convicto a defender a Pátria Amada. Nesses ambientes previamente selecionados nunca faltam críticas monumentais à mídia. Controlá-la é o grande sonho do partido que hoje se encontra bem atabalhoado. Já há boas vozes discordantes dentro dele, impossíveis anos atrás. Que o digam Luíza Erundina, Marina Silva, Heloísa Helena e mais outros…

O mais grave é que jamais aprendem lições democráticas. No caso de Honduras, quando foi deposto o presidente Manuel Zelaya em 2009, a posição do Brasil, a defender abertamente a recondução de um presidente destituído do poder de maneira rigorosamente legal pelas altas cortes judiciais do país, teve ares grotescos e caricatos por parte da nossa diplomacia. A destituição, pela Câmara dos Senadores do Paraguai, do presidente Fernando Lugo em 2012 obedeceu à legislação do país vizinho, o que deu ensejo à vergonhosa e “estratégica” admissão da Venezuela no Mercosul na mesma reunião que decidiu pela suspensão do Paraguai. O Brasil do partido planaltino de plantão, que lá está desde 2003, apoiou com toda ênfase essa vexatória situação. Desde os tempos chavistas a Venezuela tem se caracterizado pela supressão gradativa e acelerada dos direitos do cidadão. Opositores são aprisionados, cidadãos mortos, o país está em situação precaríssima onde tudo falta para a população, até papel higiênico. Contudo, não há uma só palavra da governante reeleita no Brasil ou então do “mandatário mor”, o ex, no sentido de uma condenação clara e decidida. Voltando ao papel higiênico, quando dei recitais de piano na antiga Alemanha Oriental (DDR), poucos meses antes da queda do muro de Berlim em 1989, um amigo pediu-me para levar para sua namorada rolos desse material indispensável. Como fui de trem de Paris a Berlim Oriental (Estação Alexanderplatz), levei um grande pacote. Ao receber esse “megapresente”, sua amiga beijou-me as mãos (sic).

Saio desse tema indigesto onde a mentira é compreendida como verdade, a impunidade é corrente e a corrupção tsunâmica, pois sem controle e generalizada. Como mãe de todos os males, a corrupção levou o país ao desatino atual e a rejeição à atual mandatária é colossal, segundo pesquisas recentes. Se o ato corrupto sempre existiu no país, jamais sofreu tão elaborado “aperfeiçoamento”, como pode ser aferido através de temas tão divulgados como Mensalão, Petrolão e tantos outros desastres nestes últimos doze anos. A “Pátria Educadora”, lema da atual mandatária, só existe na mente de nefelibatas.

Volto-me à cidade rigorosamente abandonada pelo poder público. Segurança, Saúde e Educação figuram com ênfase nos noticiários. O atual ocupante do Edifício Matarazzo e seus secretários não apontam as causas, consequências e soluções para conter a violência inaudita a que o paulistano está submetido diuturnamente; comentam o absoluto abandono a que foram relegados nossos hospitais públicos, mas não chegam ao cerne do problema; enfatizam a igualdade social, mas provocam a discórdia entre as classes por absoluta falta de embasamento dos discursos panfletários. Vivemos num mundo irreal, que mais enfaticamente se torna abstrato à medida que o efêmero mostra-se evidente. Ciclovias e ciclofaixas, proibição do fois gras na cidade de São Paulo, bolsa crack são algumas das grandes prioridades do alcaide. Problemas fundamentais que afetam o cotidiano do cidadão não são sequer ventilados, pois há nítida tendência em afetar uma classe social, precisa. Contudo, é toda a população que fica prejudicada. É inacreditável a determinação do burgomestre!

Como exemplo mínimo, diria que, para aquele que percorre as calçadas de minha cidade-bairro, Brooklin, a situação é desoladora. Há piores exemplos em inúmeros bairros, sem dúvida. A Prefeitura permitiu a redução de muitos passeios, mas não cuidou minimamente de acentuar a sua fiscalização. Se árvore e poste se antepuserem à caminhada, só há uma possibilidade, andar pela rua que, logicamente, tem seus riscos. Em tantos trechos, se amigos e famílias caminham, a fila indiana se apresenta como triste solução. É vergonhosa a situação dessas calçadas, esburacadas, irregulares e imundas, mercê do detrito de cães que nem sempre tem em seus donos pessoas civilizadas para recolher essas sujeiras. Jamais vi um só fiscal passando pelos diminutos passeios e apontando soluções plausíveis. Não poucas vezes presenciei idosos caírem e sofrendo lesões. Eu mesmo tive, ainda há pouco, uma séria queda à noite, devido a essas lamentáveis irregularidades. Para aqueles que se exercitam e correm pela cidade, só resta a via pública e a atenção redobrada para evitar que algum motorista incauto se distraia e que os buracos existentes não provoquem quedas. Essas irregularidades na via, mormente no espaço entre calçada e via pública, ficam ademais sempre encharcadas em época de chuva e, nesse período, diariamente cidadãos tomam banho indesejável, mercê de motoristas mal educados e descaso da Prefeitura.

Vê-se que a preocupação do mandatário que dirige São Paulo está alhures. Não há a mínima intenção da Prefeitura de ao menos minimizar esses desacertos. Contudo, um “pormenor” que o alcaide tende a desconhecer. O povo, que sofre com todas as arbitrariedades, tem memória. Inexiste planificação séria para tantos problemas da cidade e as caríssimas ciclovias, tão glorificadas pelo alcaide de plantão, ficam vazias durante a semana. Se continuarem assim, pois não planificadas e abandonadas após feitura, haverá resposta da população nas próximas eleições. Enquanto estas não chegam, temos de aturar o trabalho de proselitismo do atual mandatário municipal. Quousque tandem

Media professionals daily write incisive articles addressing our government authorities, demoralized by corruption, impunity, disregard for public safety, education and health.This post addresses a much simpler subject, but a direct consequence of everything else: the shameful conditions of sidewalks in São Paulo. As the city administration intensifies investment of taxpayers’ money in bike paths in a city known for its car culture, where riding a bicycle is not safe and still a leisure activity for the majority of residents, pedestrians have to live with thousands of miles of neglected walkways, cracked, broken, blocked by massive tree roots. As someone who regularly runs and walks near home, I care about pedestrian safety, injuries to elderlies who fall, the wet and mud on rainy days. Let’s wait for the next elections and see if anything can be done to turn this around.