Navegando Posts publicados em março, 2016

Exemplo que nos é dado por governantes

Só sei chorar em português.
Heitor Aghá  Silva
(poeta açoriano)

Minha neta Valentina tem tarefa escolar pertinente, uma explanação em aula sobre Ética e Moral. Pediu-me algumas orientações sobre o tema. No decorrer de nossa conversa, Valentina perguntou-me sobre a razão pela qual a grande maioria das pessoas costuma empregar, na oralidade, expressões como “encontrar ele”, “entrevistou  ela” e outras mais. Só me questionou pelo fato de tê-la corrigido meses atrás e hoje, atenta, busca não mais incorrer nessa falha relativa ao uso dos pronomes pessoais que não podem ser utilizados como objeto direto. Valentina é cuidadosa em sua fala. Quanto à incorreção mencionada, a diminuta prática em Portugal só passou a existir mercê da invasão de telenovelas brasileiras. Disseram-me em terras portuguesas que essa forma gramatical errônea simplesmente não encontrava guarida, mesmo no povo mais simples. Em blog bem anterior (vide “A Voz e o Eco” Captados Além Mar – 20 de Março de 2010), comentei a deterioração da língua portuguesa que estava a se processar nos Açores, mercê das novelas brasileiras e denunciada pelo bom poeta Heitor Aghá Silva, da Horta, capital da ilha do Faial, no jornal “O Telégrafo” em 1992. Após minha tournée pelo arquipélago naquele ano, tornei-me correspondente do suplemento cultural “Antília” do referido jornal, e em dois artigos não só concordei com o poeta, como adicionei elementos desconhecidos nas ilhas.

Aflige-me a adoção do erro como verdade, que viria do exemplo de “cima”, estimulado que é pelo líder carismático, Lula. Suas falas chulas, incorrendo em infindáveis deslizes gramaticais que, ao meu ver, voluntariamente se acentuaram, têm a acrescê-las incontáveis palavras de baixíssimo calão e gestos indecorosos dele, da filha e da neta!!! Décadas na vida pública e nenhum interesse em ao menos se expressar potavelmente!!! Esses exemplos, amplamente divulgados pela mídia, como erva daninha, espalham-se e são adotados por muitos que tinham até certo pudor em falar errado e agora, sem pejo, utilizam-se até de palavras obscenas. Prática que tem se tornado “natural”, esses termos fariam corar nossos ascendentes. Entendem os que aderiram ao “modismo” que, se o “demiurgo” assim se expressa, por que não permanecer nessa prática? O nivelamento por baixo estaria a quebrar e a contaminar a espinha dorsal da língua portuguesa, mesmo nas escolas, prática sistemática até a ser entendida por jovens como “aceitação”. Aos 77 anos posso afirmar que jamais ouvi de meu pai, que morreria aos 102, uma palavra sequer de baixo calão. Sim, outros tempos.

Foram estarrecedoras as conversas do sr. Lula divulgadas amplamente pela mídia. Legalmente gravadas e publicitadas, revelaram o baixíssimo nível moral, ético e cultural do último ex-presidente e de seus interlocutores que, a fim de agradá-lo, serviram-se de raciocínio bem semelhante, jargão chulo e subserviência. Lamentável igualmente as palavras do mais baixo calão da esposa do sr. Lula, Marisa, em conversa telefônica com o filho e também amplamente divulgadas.

Uma nação só se robustece através de crescimento homogêneo plural. Impossível desenvolver-se economicamente tendo a educação rebaixada. Friso, impossível. O exemplo da Coreia do Sul é extraordinário e foi a partir de uma consciência educacional coletiva que o país teve desenvolvimento equilibrado nos mais variados setores, mormente na tecnologia.

O linguajar vulgar praticado pelo sr. Lula nas gravações mencionadas, e de conhecimento da população, evidencia algo preocupante. Os tantos interlocutores que com ele falam ao telefone buscam também palavras rasteiras ou indecorosas. O caso do prefeito do Rio de Janeiro é exemplar e levou-o, de maneira vexatória, a pedir desculpas em entrevista após a divulgação do áudio. Na verdade, mais do que a satisfação a ser dada aos seus eleitores, “arrependimento e vergonha”, segundo o alcaide, teria ficado a nítida impressão de estar a encontrar uma saída “honrosa” relacionada aos eleitores de Maricá. O exemplo afigura-se-me basilar. O burgomestre carioca procuraria, nessa fala chula com o líder carismático, equiparar-se a ele, assim como outros interlocutores, como o ministro Jacques Wagner.

Se o povo não tem a oportunidade de se expressar melhor, mercê de tanto descaso com a Educação neste país, a insistência ou impossibilidade absoluta de melhor externar a conversa cotidiana faz com que o exemplo do sr. Lula se propague, e seus acólitos, divulgadores imediatos dessa maneira de se comunicar verbalmente, divulguem ainda mais as inomináveis incorreções linguísticas. Quase todos políticos relacionando-se amplamente com multidões, que recebem indefesas todo tipo de incorreções, demagogia e mentiras sobejamente divulgadas pela mídia.

Acredito que tudo faça parte de um imenso desmonte cultural ainda não devidamente aquilatado pela sociedade organizada. O livro “Por uma vida melhor” (2011), mencionado no blog de 5 de Maio último, é um passo que resultaria no estapafúrdio intento do MEC da não obrigatoriedade da Língua Portuguesa nos currículos escolares. É todo um esquema, não questionado pelo séquito do último ex-presidente, pela intelligentsia de sempre e pela militância do PT. E o nivelamento por baixo está a se processar de maneira contínua, sem que haja revisão. Quantos já não são os radialistas que empregam comumente palavras vulgares ou de baixo calão?

Fico a pensar no conteúdo de minha área específica, a música. Se o MEC tenta excluir todo o passado histórico desde a Grécia Antiga, desobrigando, sob outra égide, a Literatura Portuguesa formadora de séculos de nossa cultura, não seria fácil deduzir que, se tivessem acesso aos currículos das escolas oficiais de Música, tentariam excluir o estudo das obras de J.S.Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, Tchaikovsky, Debussy… Um extenso rebaixamento está em curso. Oportunas as palavras latinas utilizadas na Idade Média e que serviam ao exorcismo, Vade Retro Satana

On the dismantling of the Portuguese language, levelled down due largely to the example of the former President Lula and his family, who are proud to be illiterate, abusing of vulgar tongue and coarse manners. Those around try to be placed on equal footing with them. Education should be the guiding principle of any nation. What can one expect from a country that undervaluates education and wastes its human resources?

 


O Descrédito do Governo e do Partido que o Monitora

Resta ao Congresso descobrir
que todo o poder emana do povo,
e cumprir a ordem berrada
em quase 500 pontos do território nacional:
Fora Dilma!
E chega de PT.
Augusto Nunes

O último post provocou inúmeras observações, mais ou menos ponderadas, todas criticando a lamentável situação por que passa o Brasil desgovernado. Acredito que as notícias veiculadas pela mídia envolvendo o último ex-presidente têm corroborado para o descrédito que a maioria da população deposita hoje no governo, no Partido dos Trabalhadores e em seu único líder, o último ex, pois a atual presidente está rigorosamente sem qualquer credibilidade.

Chamou-me a atenção matéria publicada na Folha de São Paulo, sob o título “Lava Jato investiga presentes de Lula guardados em cofre do Banco do Brasil” (artigo de Leandro Colon Aguirre Talento, Brasília, 11/03/2016), e que explicita que o “Juiz Sérgio Moro determinou a intimação do ex-presidente Lula sobre presentes recebidos por ele que estão guardados num cofre de uma agência do Banco do Brasil”. Continua o articulista: “Entre o material está um crucifixo alvo de polêmica em 2011 por Lula tê-lo levado do Palácio quando deixou Brasília”. Prossegue: “Na época, a assessoria da presidência afirmou que o objeto pertencia ao petista”. Quantas não foram as fotografias oficiais de ex-presidentes no Palácio do Planalto, tendo ao fundo essa bela escultura barroca em madeira a representar o Cristo? Há uma, divulgada amplamente, em que aparece o presidente Itamar Franco (1930-2011) e, sobre a parede, o crucifixo. Imagem pertencente ao acervo do Estado Brasileiro. Teriam sido localizadas 23 “caixas lacradas”. Continham mais de 180 “objetos classificados como joias e obras de arte”. Todo o material estava numa agência do Banco do Brasil em São Paulo. No “acervo” havia inúmeras peças recebidas quando da troca de presentes entre mandatários em encontros oficiais. Obras de arte e joias que também pertencem ao Estado, pois não foram dadas ao presidente, mas ao país, e que doravante deveriam fazer parte do patrimônio brasileiro. Se vigorasse essa “privacidade” apontada acima haveria lacuna irreparável nos bens da República nesse compartimento tão expressivo como a reciprocidade da troca de oferendas entre mandatários. Países do hemisfério norte têm museus que abrigam esses presentes oficiais. Não seriam esses atos referentes às obras de arte do Estado, “privadamente” encaixotadas e retiradas do Planalto, assim como a não obrigatoriedade da língua portuguesa nos currículos, ainda em ebulição acirrada, fatos evidentes a corroerem arte-literatura? Fatos apropriados à eliminação de passado de que nos orgulhamos. Reiteradamente, o “ungido” tem menosprezado o que se refere às letras e à política de épocas anteriores à sua aparição, mais evidente a partir de 2003.  Ter levado do Planalto bens do Estado não mereceria um termo que o leitor certamente já tem em mente? Para não dizer que a retirada de utensílios e obras de arte pertencentes ao patrimônio da República é crime.

Desse passado a ser obliterado e com o tempo “esquecido”, escreve o compositor e pensador francês François Servenière: “Que situação a de encontrar em seu país socialista os mesmos processos de atentado ao ensino de história e das línguas antigas. Que espanto e, ao mesmo tempo, quão pouca surpresa! Não veicularia o socialismo, sempre, os mesmos valores de mediocridade?”. Esconder o passado através de ação ilegal (obras de arte e joias) e apagá-lo de maneira também voluntária instituindo, com o passar das décadas, a “norma popular” linguística a vigorar como “aprimoramento” do povo, tem certa semelhança.

A ilustre especialista em canto gregoriano e em educação musical portuguesa Idalete Giga acompanha com atenção a situação brasileira. Comenta meu último blog de maneira enfática: “O seu post  “Pátria Educadora” às Avessas – Triste Realidade mostra , de facto, o completo desnorte do (des)governo brasileiro e de toda a trupe corrupta que o apoia. A notícia, divulgada pelo Diário de Notícias, sobre a morte anunciada da Literatura Portuguesa nos currículos escolares brasileiros deixou-nos muito tristes. Como é possível que se tome uma tal decisão criminosa? É terrorismo cultural. É ignorância. É tirania. É fanatismo (!) É uma punhalada na Cultura Luso-Brasileira. É o pedantismo de uma certa esquerda totalitária, inimiga do povo brasileiro e português. Nunca desejei tanto como agora a queda dessa corja de bandidos que se apoderou do Poder, enganando e lançando parte do povo brasileiro na mais completa ignorância. Tais bandidos são os verdadeiros mestres da tirania, do despotismo mais abjecto (!!!!!)”. Os atuais mandatários esquecem, deliberadamente ou não, que o Exterior está atento e notícias bem consensuais são publicadas diariamente nos países mais desenvolvidos e dão conta do que Idalete Giga indica como (des)governo.

Lembremo-nos que todo o projeto voltado aos currículos escolares está afeito ao Ministério da Educação, que teve nesses dias lamentável e comprovado testemunho gravado, no qual o atual ministro da pasta, Aloisio Mercadante, compromete-se de maneira vexatória no affaire Delcídio do Amaral. Quousque tandem…

Pela primeira vez estive em uma manifestação de rua em São Paulo, realizada no domingo, 13 de Março, na Av. Paulista, a fim de protestos contra a corrupção, o desgoverno, o “Fora Dilma” e também a favor da punição do ex-presidente Lula. Jamais poderia antever a magnitude do ato público que transcorreu na mais absoluta tranquilidade. Tive de parar o carro a dois km do evento, uma quadra antes da av. Brasil e subir pela rua Veneza e, após, pela alameda Campinas. Verdadeira multidão subia esta última via e outros tantos manifestantes já estavam a descer. A grande maioria com camisetas amarelas. Muitos carregavam a bandeira brasileira. O verde-amarelo pontificou, mas não faltaram as cores azul e branco também de nossa bandeira. Da alameda Santos até à avenida Paulista foram mais de 20 minutos, pois tinha-se uma massa monolítica. Na realidade, em toda a longa extensão da mais renomada avenida de São Paulo. Lá estavam uma das filhas, três das netas e genro. Comovente. O hino do Brasil foi cantado pela multidão. Aderimos e cantamos o nosso hino inteiro e a plenos pulmões. Cidadania. Pesquisas preliminares deram números relativamente próximos quanto aos participantes: 1.400.000, 1.800.000 e até 2.500.000. Descabidamente, e sob quais propósitos (?), uma outra vez a contagem do jornal Folha de São Paulo insistiu em números que variavam de 450.000 a 500.000. Acachapante,  pois a metodologia da empresa não refletiu a verdade. A entrada e saída de participantes da manifestação cívica, durante horas, era notória na av. Paulista, nas paralelas e nas que davam acesso à nossa via cantada em prosa e verso. No Brasil inteiro foram sete milhões que saíram em protesto!!!

François Servenière escreve, após ler periódicos e auscultar a mídia televisiva em França: “O povo se ergue contra a ignomínia. Sondagens evidenciam a vontade do povo a favor do impeachment num nível de 90%, não apenas para ela, mas também para seu séquito corrupto. Li ontem na imprensa francesa que o ex-presidente Lula gostaria de ser ministro do atual governo, a fim de se salvar de processos de corrupção. Que horror! Pessoas como ele são desprovidas de quaisquer escrúpulos e não têm limites à imoralidade. Espero que esse episódio político, que deverá acabar um dia por um processo amplo, sabendo-se lá o que ocorrerá nesse período, dê ao povo brasileiro uma boa lição de política, mesmo salientando-se que a memória histórica dos povos é em geral muito curta”. Após as inúmeras e desastrosas gravações reveladas no último dia 16 de Março, escreveu-me: “Frases do sr. Lula descrevem a realidade de países totalmente corrompidos, em regra geral, mas descreve a imoralidade que reina ontologicamente no socialismo. Lula gangrenou o seu país. A corrupção já existia na América do Sul antes de Lula, mas ele foi além do abjeto. Mais eles pregam a moral, mais eles estão apodrecidos até os ossos”. (tradução JEM).

Para reflexão: Qual o brasileiro consciente que não tem orgulho de nossa bandeira e de suas cores? Símbolo excelso do país, inexiste nas passeatas promovidas pelo PT e frequentadas pelos militantes, sindicatos e movimentos MS…. A invasão de bandeiras e estandartes vermelhos, característicos da ex-U.R.S.S. e de tantas outras Repúblicas com ideologia decorrente, é a cor do PT, das entidades sindicais simpatizantes do Partido dos Trabalhadores e de movimentos agregados. O último ex orgulha-se de participar das manifestações vestindo camisas rubras. Ideologia e cor, imitação em dose dupla, frise-se. E as nossa cores? Quem realmente está com o Brasil? Para reflexão, insisto.

This post addresses the many messages I have received discussing the suppression of Portuguese Literature from school curriculum, proposed by the Ministry of Education, and also the demonstrations last Sunday, when millions of Brazilians – fed up with the biggest corruption scandal ever and the economic crisis – joined rallies across the country in a nationwide call for Dilma Roussef’s impeachment and also targeting former president Lula and the Workers’ Party. Estimates say that around 7 million Brazilians took part in the demonstrations. My family and I were among them.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Triste Realidade

Não julgues que pensas melhor
do que todos os que te precederam:
o mais provável é que penses pior;
principalmente quando tudo te parece mais certo.
Agostinho da Silva
(“Espólio”)

Como se não bastassem as incorreções gramaticais crônicas praticadas pelo último ex-presidente e pela atual mandatária, sem contar os deslizes diários – verdadeiros atentados à língua portuguesa – perpetrados diariamente no Planalto e no Congresso, “educadores”, engajados na elaboração da nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), estariam prevendo para Junho a implementação de novos currículos. Após veementes protestos iniciados pelo historiador Marco Antônio Villa através da Rádio Jovem Pan e da TV Cultura, um tsunami de cerca de 10 milhões de mensagens com sugestões invadiu o site do Ministério de Educação, que doravante estaria a estudar alterações no programa educacional.

Recebi de minha amiga e colega uspiana, Profª Maria Stella Orsini, matéria publicada no “Diário de Notícias” de Lisboa no dia 20 de Fevereiro último, sob o título “Literatura Portuguesa deixa de ser obrigatória no Brasil”, com assinatura de João Almeida Moreira.

Com a mais justa razão o colunista aponta o que está a acontecer com essa proposta para alteração curricular. Se a disciplina História estava a ser mutilada de suas essencialidades, como Grécia Antiga, Império Romano, Idade Média, Renascença, Revolução Francesa, Revolução Industrial entre tantas outras, em benefício das ideologias totalitárias que se instalaram a partir da metade do século XX na América Latina e na África, há que se verificar que, desde a base escolar, as novas gerações estariam acéfalas no que diz respeito ao desenrolar da História através dos séculos.

Deve-se sempre buscar exemplos que corroborem o aprimoramento. No que se refere à literatura, seriam os expoentes máximos da língua portuguesa, como Luís Vaz de Camões, Gil Vicente, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa e inúmeros escritores enriquecedores das letras, que têm contribuído, através dos tempos, com o escrever bem, o cuidado com o estilo, o aprimoramento cultural. A não obrigatoriedade da literatura portuguesa, essencial para a formação do homem como um todo, tornar-se-ia crime educacional irreparável.

O articulista do “Diário de Notícias” historia: ” A BNCC foi criada no ano passado, na gestão do ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, entretanto substituído por Aloizio Mercadante, para estabelecer um grupo de conhecimentos e habilidades de que todos os estudantes brasileiros devem dispor na educação básica. Logo que foi conhecida do público gerou controvérsias: inicialmente, não tanto por causa da literatura portuguesa, mas sim por questões ligadas à História e à Gramática. As críticas surgiram em virtude da pouca relevância dada à história mundial, ignorando pontos considerados por educadores como de conhecimento básico, para dar ênfase às histórias indígena e africana. Outra área que mereceu reparos foi a da ausência da gramática no ensino geral de linguística”. A se considerar o DN, o Ministério da Educação já teria revisto alguns pontos críticos, mas estaria a receber sugestões via site.

A matéria publicada no DN sublinha ainda algo que deve ter chocado até os leitores minimamente cultos: “O governo do Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda, é acusado de populismo e de agir de forma ideológica, ao querer privilegiar a cultura indígena e ao ser mais permissivo em relação a questões gramaticais já desde 2011, quando causou choque na classe educadora que, num manual escolar distribuído pelo MEC, fosse considerada ‘inadequada e passível de preconceito mas não errada’ a expressão, sem concordância, ‘nós pega o peixe’ “.

Sempre é bom lembrar a polêmica em torno do livro “Por uma vida melhor”, de Heloísa Ramos, publicado em 2011 e que teria sido adotado pelo MEC, no qual é apresentada a alternativa da norma popular vinda na contramão da norma culta. Como afirmou a autora em entrevista à Naiara Leão: “Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para cada situação” (“Não somos irresponsáveis”, diz autora do livro com “nós pega”. Artigo de Naiara Leão, IG Brasília, Último segundo – Educação, 12/05/2011). A articulista comenta outra afirmação da autora do livro: ” Ela acredita que, ao deixar claro que é tolerado todo tipo de linguagem, a escola contribui para a socialização e melhor aprendizado do estudante. ‘Quem está fora da escola há muito tempo é quieto, calado e tem medo de falar errado. Então colocamos essa passagem para que ele possa sair da escola com competência ampliada’, diz”. Nessa visão, a corromper por completo a norma culta, outro exemplo pareceria evidente: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. A autora explica o porquê dessa forma linguística: ” Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar os livro?’. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico (negrito da articulista). Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção para todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”.

A exemplificação, através do livro mencionado de 2011, apenas evidencia que se urde um desmonte progressivo da norma culta e, logicamente, com o entendimento do MEC. Tem-se um projeto absurdamente nocivo à elevação cultural de um povo. Quando se deveria buscar o aprimoramento do falar e do escrever, corrompe-se o conceito, destrói-se o passado que impulsiona o presente, rebaixa-se ainda mais a educação de um povo que estaria ávido pelo conhecimento que não lhe chega nunca, a fazer com que a “Pátria Educadora” seja até escárnio, quando deveria ser redenção.

Retirar a obrigatoriedade da literatura portuguesa dos currículos escolares antolha-se-me como uma confissão do descaso cultural, da visão ideologicamente organizada desde bancos universitários em áreas como história, filosofia e literatura. É basicamente consensual que parte expressiva dos egressos das universidades estatais, nesses segmentos apontados, busquem atuar nessa “preparação das mentes”, como bem dizia um saudoso colega da área do Direito. O projeto nas áreas da História e da Literatura apontam, num sentido claro, para a “incipiência” ou voluntária visão do nivelamento por baixo dos que a ele se atêm. Preferem ocultar o passado, única razão a explicar presente e futuro, em torno de um projeto que é propagado pelo último ex-presidente, em suas múltiplas verborragias, de que o Brasil “só″ existiria após a sua unção ao posto máximo deste país.

Numa mesma direção da esquerda obliterada pela ideologia não estaria a França socialista de François Hollande a buscar fórmula bem semelhante, ao tentar excluir dos currículos de História parte do passado que fundamenta o conhecimento,  introduzindo intensamente a cultura árabe? Estudá-la é fato, num país com milhões de muçulmanos, mas suprimir o passado!!!

No que tange à literatura portuguesa, após as 10 milhões de mensagens endereçadas ao site do MEC, segundo o DN, do Ministério sairia uma lacônica nota mencionada pelo jornal português: “No mesmo documento lê-se ainda que serão introduzidos tópicos de análise linguística em todas as etapas de escolarização – mas não há referência à reintrodução, ou não, da obrigatoriedade da literatura portuguesa”.

Mais do que um viés político e ideológico, característico dos movimentos de esquerda extremados, nos quais a Nova Ordem busca o abafamento ou a eliminação do passado, haveria um dado que me parece fundamental. O único verdadeiro líder do PT foi e continua a ser o último ex-presidente. Ungi-lo é o que faz diariamente a cúpula do Partido dos Trabalhadores a influenciar, à maneira nazista, o séquito da militância, apesar de tudo o que está a ocorrer com os desdobramentos do Lava-Jato desvelando a corrupção ilimitada. Isso é fato inconteste. Houve, há e, tudo indica, continuará a existir a permanente citação nominal ou entrelinhas por parte do  PT e do ex ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Também fato inconteste. A insistência ad nauseam do sr. Lula às suas próprias origens humildes, iletradas, geralmente seguidas à crítica aos que tiveram a oportunidade de estudar, “as elite”, vai ao encontro da camada que também não teve acesso aos estudos, nesses últimos governos petistas como no passado. Vídeo bem antigo revela fala do sr. Luís Inácio: “Sou muito preguiçoso, até pra ler eu sou preguiçoso. Eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler” (sic). Sob outro olhar, a militância petista fidelíssima, que tem em seus quadros sindicalistas, os inúmeros integrantes dos movimentos MS…, assim como egressos das universidades e de outras camadas da sociedade, encontra nas palavras do “demiurgo” as “profecias” para incentivá-la. A repetição confere a sedimentação ideológica, e todo o conteúdo a ele agregado apenas substancia um caldo grosso de fácil de interpretação, pois messiânico, perigoso em suas intenções beligerantes – luta de classes -, tantas vezes apregoadas em mensagens que estabelecem “o” modelo “linguístico”, no caso. E qual é esse? O líder carismático inconteste, mas apedeuta contumaz, tem claudicado ainda mais em suas falas, a cometer incorreções gramaticais incontáveis, a empregar a “norma popular” – a que conhece -, aproximando-o, com intentos que pareceriam evidentes, daqueles que a utilizam. Não estaria a haver um voluntário desejo de desmonte da apregoada “Pátria Educadora”? Quantas não foram as vezes que o último ex não pronunciou palavras chulas ou de baixo calão em pronunciamentos? No domingo (6 de Março), em frente à Globo, a filha do apedeuta não fez gesto obsceno ao levantar um determinado dedo? A mesma atitude teve a neta do último ex. Transmissão através das gerações. Para alguém que esteve durante oito anos a presidir o país, palavras e gestos inadequados ferem a dignidade que deve ser mantida, mesmo após o findar do mandato público. Creio que o senhor em questão força ainda mais o equivocado recrudescimento do linguajar e, sua prole, do gesto. A  atitude do líder contamina os militantes mais acirrados que aparelham o governo. A desestruturação curricular nas áreas apontadas pelo DN é consequência dessa necessidade mimética. Daí a frase acima citada pelo jornal: “inadequada e passível de preconceito mas não errada a expressão, sem concordância, ‘nós pega o peixe’ ser interpretada pelo MEC”, hoje a ter como Ministro um ex-professor universitário (sic). Essa distorção não estaria como provocação ao letrado Fernando Henrique Cardoso, jamais esquecido pelo sr. Lula, apesar dos mais de 13 anos de seu partido no poder? FHC seria o patamar que jamais o último ex alcançaria. A insistência em mencioná-lo, sempre, é prova cabal.

Lembraria ainda, como adendo a este post, que na juventude meu saudoso pai nos fez ler, a estimular a leitura aos quatro filhos – Ives, José Paulo, JE e João Carlos – obras referenciais de Camões, Gil Vicente, Sá de Miranda, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Almeida Garret, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão e tantos outros escritores e poetas portugueses para que aprendêssemos os fundamentos da extraordinária língua portuguesa, não desprezando contudo os grandes romancistas e poetas brasileiros. Sou-lhe tributário ad aeternum pelo encaminhamento literário que nos proporcionou. Aliás, como bem lembrava meu pai: “O Homem é ou não é”.

On the deliberate efforts of the Workers’ Party government to ruin the Brazilian cultural heritage in favor of ideologies that flourished from the mid-twentieth century in Latin America and Africa.