Exemplo que nos é dado por governantes
Só sei chorar em português.
Heitor Aghá Silva
(poeta açoriano)
Minha neta Valentina tem tarefa escolar pertinente, uma explanação em aula sobre Ética e Moral. Pediu-me algumas orientações sobre o tema. No decorrer de nossa conversa, Valentina perguntou-me sobre a razão pela qual a grande maioria das pessoas costuma empregar, na oralidade, expressões como “encontrar ele”, “entrevistou ela” e outras mais. Só me questionou pelo fato de tê-la corrigido meses atrás e hoje, atenta, busca não mais incorrer nessa falha relativa ao uso dos pronomes pessoais que não podem ser utilizados como objeto direto. Valentina é cuidadosa em sua fala. Quanto à incorreção mencionada, a diminuta prática em Portugal só passou a existir mercê da invasão de telenovelas brasileiras. Disseram-me em terras portuguesas que essa forma gramatical errônea simplesmente não encontrava guarida, mesmo no povo mais simples. Em blog bem anterior (vide “A Voz e o Eco” Captados Além Mar – 20 de Março de 2010), comentei a deterioração da língua portuguesa que estava a se processar nos Açores, mercê das novelas brasileiras e denunciada pelo bom poeta Heitor Aghá Silva, da Horta, capital da ilha do Faial, no jornal “O Telégrafo” em 1992. Após minha tournée pelo arquipélago naquele ano, tornei-me correspondente do suplemento cultural “Antília” do referido jornal, e em dois artigos não só concordei com o poeta, como adicionei elementos desconhecidos nas ilhas.
Aflige-me a adoção do erro como verdade, que viria do exemplo de “cima”, estimulado que é pelo líder carismático, Lula. Suas falas chulas, incorrendo em infindáveis deslizes gramaticais que, ao meu ver, voluntariamente se acentuaram, têm a acrescê-las incontáveis palavras de baixíssimo calão e gestos indecorosos dele, da filha e da neta!!! Décadas na vida pública e nenhum interesse em ao menos se expressar potavelmente!!! Esses exemplos, amplamente divulgados pela mídia, como erva daninha, espalham-se e são adotados por muitos que tinham até certo pudor em falar errado e agora, sem pejo, utilizam-se até de palavras obscenas. Prática que tem se tornado “natural”, esses termos fariam corar nossos ascendentes. Entendem os que aderiram ao “modismo” que, se o “demiurgo” assim se expressa, por que não permanecer nessa prática? O nivelamento por baixo estaria a quebrar e a contaminar a espinha dorsal da língua portuguesa, mesmo nas escolas, prática sistemática até a ser entendida por jovens como “aceitação”. Aos 77 anos posso afirmar que jamais ouvi de meu pai, que morreria aos 102, uma palavra sequer de baixo calão. Sim, outros tempos.
Foram estarrecedoras as conversas do sr. Lula divulgadas amplamente pela mídia. Legalmente gravadas e publicitadas, revelaram o baixíssimo nível moral, ético e cultural do último ex-presidente e de seus interlocutores que, a fim de agradá-lo, serviram-se de raciocínio bem semelhante, jargão chulo e subserviência. Lamentável igualmente as palavras do mais baixo calão da esposa do sr. Lula, Marisa, em conversa telefônica com o filho e também amplamente divulgadas.
Uma nação só se robustece através de crescimento homogêneo plural. Impossível desenvolver-se economicamente tendo a educação rebaixada. Friso, impossível. O exemplo da Coreia do Sul é extraordinário e foi a partir de uma consciência educacional coletiva que o país teve desenvolvimento equilibrado nos mais variados setores, mormente na tecnologia.
O linguajar vulgar praticado pelo sr. Lula nas gravações mencionadas, e de conhecimento da população, evidencia algo preocupante. Os tantos interlocutores que com ele falam ao telefone buscam também palavras rasteiras ou indecorosas. O caso do prefeito do Rio de Janeiro é exemplar e levou-o, de maneira vexatória, a pedir desculpas em entrevista após a divulgação do áudio. Na verdade, mais do que a satisfação a ser dada aos seus eleitores, “arrependimento e vergonha”, segundo o alcaide, teria ficado a nítida impressão de estar a encontrar uma saída “honrosa” relacionada aos eleitores de Maricá. O exemplo afigura-se-me basilar. O burgomestre carioca procuraria, nessa fala chula com o líder carismático, equiparar-se a ele, assim como outros interlocutores, como o ministro Jacques Wagner.
Se o povo não tem a oportunidade de se expressar melhor, mercê de tanto descaso com a Educação neste país, a insistência ou impossibilidade absoluta de melhor externar a conversa cotidiana faz com que o exemplo do sr. Lula se propague, e seus acólitos, divulgadores imediatos dessa maneira de se comunicar verbalmente, divulguem ainda mais as inomináveis incorreções linguísticas. Quase todos políticos relacionando-se amplamente com multidões, que recebem indefesas todo tipo de incorreções, demagogia e mentiras sobejamente divulgadas pela mídia.
Acredito que tudo faça parte de um imenso desmonte cultural ainda não devidamente aquilatado pela sociedade organizada. O livro “Por uma vida melhor” (2011), mencionado no blog de 5 de Maio último, é um passo que resultaria no estapafúrdio intento do MEC da não obrigatoriedade da Língua Portuguesa nos currículos escolares. É todo um esquema, não questionado pelo séquito do último ex-presidente, pela intelligentsia de sempre e pela militância do PT. E o nivelamento por baixo está a se processar de maneira contínua, sem que haja revisão. Quantos já não são os radialistas que empregam comumente palavras vulgares ou de baixo calão?
Fico a pensar no conteúdo de minha área específica, a música. Se o MEC tenta excluir todo o passado histórico desde a Grécia Antiga, desobrigando, sob outra égide, a Literatura Portuguesa formadora de séculos de nossa cultura, não seria fácil deduzir que, se tivessem acesso aos currículos das escolas oficiais de Música, tentariam excluir o estudo das obras de J.S.Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, Tchaikovsky, Debussy… Um extenso rebaixamento está em curso. Oportunas as palavras latinas utilizadas na Idade Média e que serviam ao exorcismo, Vade Retro Satana…
On the dismantling of the Portuguese language, levelled down due largely to the example of the former President Lula and his family, who are proud to be illiterate, abusing of vulgar tongue and coarse manners. Those around try to be placed on equal footing with them. Education should be the guiding principle of any nation. What can one expect from a country that undervaluates education and wastes its human resources?
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