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Uma história bem documentada

A música escapa a qualquer existência permanente
e só a interpretação pode dar-lhe vida,
uma vida deliciosamente e desesperadamente efêmera.
Marguerite Long (1874-1966)
(“Au piano avec Maurice Ravel”)

Um dos concertos para piano e orquestra mais executados no mundo é certamente o Concerto em sol maior para piano e orquestra, de Maurice Ravel (1875-1937). Após muitos anos, voltei a ouvir, agora via Youtube, uma gravação histórica do referido Concerto para piano com a dedicatária da obra, a lendária pianista Marguerite Long, ao piano e o autor Maurice Ravel a reger a orquestra sinfônica. Realmente uma interpretação excelsa. A gravação foi realizada em 1932 e a tomada de som, longe da qualidade atual, não impede que se depreenda o mérito da interpretação da solista. Em 1952, o Concerto seria regravado com outros recursos sonoros, sendo que Marguerite Long teve a orquestra Lamoureux conduzida por Georges Tzipine (1907-1987), regente da Orquestra Colonne, com quem que tive o privilégio de tocar o Concerto nº 3 de Beethoven em Março de 1960 em Paris.

Na bibliografia de Maurice Ravel, intérpretes renomadas que foram dedicatárias de obras fundamentais do compositor, a saber, a violinista Hélène Jourdan-Morhange (1888-1961), Sonata para violino nº 2, e Marguerite Long, Concerto em sol maior para piano e orquestra, deixaram testemunhos valiosos do convívio com o notável músico. O livro “Marguerite Long au piano avec Maurice Ravel” (Paris, Julliard, 1971) revela a intimidade da pianista com a obra para piano do compositor, máxime sobre o Concerto em sol maior. Marguerite Long aponta as palavras primeiras de Ravel a ela reveladas: “Uma noite, em um jantar na morada de Mme de Saint-Marceaux, cujo salão era ‘um bastão de intimidade artística’, segundo Colette, Ravel me disse à queima roupa: ‘estou no momento compondo um Concerto para você. Se importaria que eu o terminasse em pianíssimo e com trinados?’ Mas certamente, respondi-lhe, muito feliz de realizar o sonho de tantos virtuoses”.

Ravel, após compor o célebre Bolero (1928), passa longo tempo sem criar outras obras. Apesar de pensados em 1929, somente em 1931 nasceriam os dois Concertos para piano e orquestra, bem antagônicos, o Concerto em sol maior e o Concerto para a mão esquerda. Alguns traços comuns, contudo, são evidentes nos dois Concertos, entre os quais lembranças de sua estada nos Estados Unidos concernentes ao jazz e à vida mais agitada, se comparada à sua vivência em França. A um correspondente do Daily Telegraph, Ravel narra a “epopeia” de escrever os dois Concertos tão diferentes: “Foi uma experiência interessante conceber e realizar dois Concertos ao mesmo tempo. O primeiro, no qual participarei como intérprete (na realidade Marguerite Long foi a pianista), é um Concerto no sentido mais exato do termo, escrito no espírito dos Concertos de Mozart e Saint-Saëns. De fato, penso que a música de um Concerto pode ser alegre e brilhante, e que não é necessário que pretenda ter profundidade ou que vise a efeitos dramáticos. Diz-se de alguns grandes músicos clássicos que os seus Concertos são concebidos não para o piano, mas contra ele. De minha parte, considero este julgamento perfeitamente justificado. Inicialmente, tive a intenção de denominá-lo Divertimento. Então refleti que não era necessário, considerando que o título Concerto é suficientemente explícito no que diz respeito ao caráter da música que o compõe. Em certos pontos, o meu Concerto não deixa de apresentar algumas semelhanças com a minha Sonata para violino; traz alguns elementos emprestados do jazz, mas com moderação” (in Alfred Cortot, “La musique française de piano”, deuxième série, Paris, Presses Universitaires de France, 1948).

Mercê de problemas de saúde, Ravel tardou a terminar o Concerto em sol maior, declarando ao seu amigo Zogheb: “Resolvi não mais dormir um segundo sequer. Finda a obra, então repousarei neste mundo… ou em outro”. Ravel, pianista, gostaria de ser o primeiro intérprete, mas, devido às dificuldades técnico-pianísticas reais do Concerto em sol, convidou Marguerite Long para estreá-lo e ela se expressa: “compreenderão qual não foi a minha intensa emoção ao receber o telefonema de Ravel, aos 11 de novembro de 1931, a anunciar a sua vinda imediata à minha casa com o seu manuscrito do Concerto. Estava a me ajeitar quando Ravel chegou repentinamente com as preciosas folhas do Concerto. Confesso que fui diretamente à última página: o pianíssimo e os trinados foram transformados em fortíssimo e percutantes nonas! A obra é árdua, mas o movimento que me deu mais trabalho foi o segundo, aparentemente sem armadilhas”. Estudei com Mme Long o Concerto em sol maior. Disse-me ela que, graças à lenta evolução do segundo movimento e à sua métrica, a possibilidade de falha de memória do pianista ocorre com frequência.

A primeira apresentação mundial se deu em Paris, na Salle Pleyel, aos 14 de Janeiro de 1932. Nessa estreia, Ravel regeu a Pavane, o Boléro e acompanhou o Concerto. Marguerite Long afirma “que não estava tão orgulhosa pelo fato, infelizmente, da sua regência ter sido realizada com a partitura do piano, resultando em uma condução incerta”.

Mme Long escreve: “A Salle Pleyel estava completamente lotada. Tudo correu bem e o sucesso foi considerável, a ponto de termos de repetir o terceiro movimento. Tendo muitas vezes solado o Concerto em sol em França e no estrangeiro, sempre, sem exceção, tivemos de bisar o terceiro movimento”.

Clique para ouvir, de Maurice Ravel, o Concerto em sol maior para piano e orquestra sinfônica, na interpretação de Marguerite Long, sob a regência do compositor (1932):

https://www.youtube.com/watch?v=WSA_MR2Gw_s

Tem interesse o testemunho da pianista ao avaliar o Concerto em sol maior: “Obra-prima autêntica onde a fantasia, o humor, o pitoresco cravam uma das mais tocantes cantilenas que o coração humano jamais sussurrou. Talvez o seu maior encanto resida num conjunto de qualidades que fazem esta obra essencialmente nossa. Colocar as descobertas harmônicas, rítmicas e melódicas mais originais no quadro mais tradicional, despertar os múltiplos setores da nossa sensibilidade com um toque discreto e reservado, falar uma linguagem nova na sombra tutelar de Mozart e Bach, evocar e sugerir sem nunca impor, esconder sempre com pudor a sua própria personalidade e construir tudo com uma perfeição constante e surpreendente foi dar à música uma obra absolutamente francesa”.

Após a grande acolhida pública do Concerto em sol, Maurice Ravel e Marguerite Long partiram em viagem a vários países europeus e as apresentações foram inteiramente dedicadas às criações do compositor. Bélgica, Áustria, Romênia, Hungria, Checoslováquia, Polônia, Alemanha e Holanda aclamaram com o maior entusiasmo as interpretações.

Sob outra égide, no livro mencionado, Marguerite Long escreve sobre os esquecimentos de Ravel no que concerne ao cotidiano nessas viagens pela Europa. “Eu começava, então, a verdadeiramente tomar conhecimento da legendária distração de Ravel, cujo bom humor, a sua melhor característica, contrastava com as consequências às vezes catastróficas de suas imprudências. Juntamente com o cansaço das viagens de comboio, dos concertos, das recepções e das angústias que Ravel me causava frequentemente durante a regência das orquestras, esses incidentes me esgotaram e eu realmente achei que voltaria caquética dessa digressão”! São inúmeros os casos relembrados por Mme Long com boa dose de humor, como esquecer objetos em hotéis, confundir-se com cartas e bilhetes colocados nos bolsos, assim como tantos outros percalços ocasionados também pela distração.

No próximo blog focalizarei o Concerto para a mão esquerda, criação bem contrastante se comparada ao Concerto em sol maior.

After listening to a historic recording of Maurice Ravel’s Concerto in G major for piano and orchestra recorded in 1932, with Marguerite Long, the dedicatee of the work, as pianist and Ravel himself conducting the orchestra, I revisited the book “Au piano avec Maurice Ravel,” written by the legendary pianist.

Organização: Oswaldo Giacoia Junior

Com efeito, para Nietzsche, como para o nosso Machado de Assis,
alguns pensadores nascem póstumos:
a força de seu legado é privilégio dos pósteros.

Oswaldo Giacoia Junior

Sem a música a vida seria um erro
Friedrich Nietzsche

O conhecimento das figuras luminares e perenes se dá essencialmente através das suas obras. Biografias têm importância na medida em que penetram no âmago da trajetória existencial de um autor, pertença ele às mais variadas áreas. Contudo, é através da importância do legado que o personagem ilustre se pereniza.

Oswaldo Giacoia Junior (1954-) é um dos mais relevantes especialistas em filosofia, máxime concernente às obras de Nietzsche, Schopenhauer, Heidegger e Augusto Comte. Professor titular aposentado do Departamento de Filosofia (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor titular do programa de pós-graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Oswaldo Giacoia Junior é autor de várias obras referenciais em sua área de atuação. Teve a grata ideia de organizar precioso livro ao selecionar textos basilares de Friedrich Nietzsche (1844-1900) em “O leitor de Nietzsche” (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2022).

A seleção de segmentos fulcrais extraídos das obras de Nietzsche é precedida por esplêndida introdução do organizador (93 pgs) e de uma bibliografia ampla, antecedida de explicações: “Breve nota histórica sobre a edição crítica das obras completas de Friedrich Nietzsche ‘KGW’, a Edição Colli-Montinari”. A longa introdução do autor e organizador do livro é igualmente didática e conduz o leitor a entender os textos por ele selecionados de maneira clara e objetiva, tornando o percurso dos escritos de Nietzsche reveladores. Os 18 textos inclusos no livro em pauta proporcionam uma visão do pensar do filósofo alemão, a servir de estímulo ao provável aprofundamento do leitor. A salientar a tradução criteriosa realizada por Giacoia.

Mercê do espaço a que me proponho no blog, selecionei dois textos, que se relacionam mais especificamente à relação entre Nietzsche e Richard Wagner (1813-1883). O filósofo Nietzsche foi igualmente músico, pianista e compositor que, apesar de longe da notoriedade como notável pensador, compôs obras de interesse, cerca de 70 criações para piano, canto e piano, orquestra e coral. Tendo uma boa formação pianística, Nietzsche tinha em seu repertório criações de Bach, Haendel, Haydn, Mozart, Beethoven e Chopin. Gostava imenso do compositor polonês. Após a crise mental que o acometeu em 1889, e mesmo posteriormente, internado em uma clínica psiquiátrica em Iena com as atividades cerebrais comprometidas, não deixou de tocar piano e de apreciar Chopin.

Os dois textos de Nietzsche incluídos no livro em apreço, “Considerações Extemporâneas: IV. Richard Wagner em Bayreuth” e “O caso Wagner”, bem posicionam a crítica de Nietzsche a Wagner. Todavia, em dois outros, “Crepúsculo dos Ídolos” e “Ecce Homo”, os segmentos escolhidos por Giacoia não personalizam o compositor da Tetralogia, mas são fundamentais para a apreensão das duas figuras exponenciais. Outras obras filosóficas de Nietzsche também fazem referências à música.

Quando admirador da obra de Wagner, Nietzsche apresentou uma sua composição a Hans von Bülow (1830-1894), ex-marido de Cosima, filha de Liszt e doravante casada com Wagner. Bülow, pianista, professor e regente de várias óperas de Wagner, simplesmente abominou com palavras duras a composição de Nietzsche, “Manfred-Meditation”, criação gestada durante alguns anos, plena da influência de Schumann (Abertura Manfred, op. 115) e de Wagner, mas que, apesar do emprego de processos wagnerianos advindos certamente da grande admiração pela sua obra, tem interesse. O episódio teria consequências no que tange ao respeito àquele que até então era idolatrado. François Noudelmann entende que os ataques de Nietzsche contra Wagner “implicam uma crítica em três níveis: filosófico e histórico, estético e político, psicológico e fisiológico” (vide blog: “Le toucher des philosophes – Sartre, Nietzsche et Barthes au piano” 20/10/2012).

Clique para ouvir, de Nietzsche, “Manfred-Meditation” 1872) para piano a quatro mãos, na interpretação do duo John Bell Young e Thomas Coote:

https://www.youtube.com/watch?v=vcvINsq1KSw

As críticas de Nietzsche a Wagner se acentuaram com o passar do tempo. Oswaldo Giacoia comenta: “Para Nietzsche, a conclusão da tetralogia do Anel de Nibelungo com o Parsifal reconstitui a saga do próprio Wagner, que é também a rendição total da obra de arte aos ideais ascéticos, um testemunho em grande estilo da sublimação da ascese na moderna cumplicidade velada entre a ciência, a moral utilitarista, a política e a arte operística (arte da recreação), todas elas figuras espirituais do niilismo, da nostalgia pelo nada, do cansaço e da impotência ressentida”. O “Anel de Nibelungo” corresponde a quatro óperas essenciais de Wagner, gestadas de 1848 a 1874: “Ouro do Reno”, “Valquíria”, “Siegfried” e “Crepúsculo dos Deuses”.  Entendia Nietzsche um totalitarismo nas criações monumentais de Wagner e a teatralidade exacerbada. Todavia, alguns dos processos escriturais wagnerianos, como o cromatismo e as modulações “infinitas”, corroboraram o advento do atonalismo no início do século XX.

Clique para ouvir, de Wagner, “Morte de Isolda”, na transcrição de Liszt da ópera “Tristão e Isolda”, na excelsa interpretação de Antonieta Rudge (1885-1974):

https://www.youtube.com/watch?v=Je4FdUW6xpg&t=10s

Da confessa admiração ao oposto, Nietzsche se posiciona. Nas “Considerações Extemporâneas: IV. Richard Wagner em Bayreuth” há a nítida admiração de Nietzsche, potencializada pela sua presença no ato da colocação da pedra fundamental na colina de Bayreuth, em Maio de 1872, daquele que viria a ser um templo de arte voltado às representações das óperas de Wagner. Nietzsche o louva pelo “que ele é e o que ele será”. O templo de arte em Bayreuth, após inúmeras tratativas para a sua edificação, foi inaugurado em 1876 com a apresentação da Tetralogia do “Anel de Nibelungo”. O teatro construído para as apresentações de suas obras, o Festspielhaus de Bayreuth, perpetua-se até os dias atuais com afluxo intenso, a reunir cultores da música e camadas privilegiadas da sociedade.

Em “O caso Wagner” Nietzsche é impiedoso e admirador: “Em Wagner, no início encontra-se a alucinação: não de sons, mas de gestos. Para estes, ele busca então a semiótica sonora. Se queremos admirá-lo, examinemo-lo em ação aqui: como ele separa, como ele conquista pequenas unidades, como ele as anima, impele para fora, torna-as visíveis. Mas nisso se esgota a sua força: o resto não presta para nada”. Faz a crítica a determinadas criações de Wagner: “O que importa a nós a provocativa brutalidade da abertura de Tannhäuser? Ou do ciclo das Valquírias? Tudo o que se tornou popular da música de Wagner, também fora do teatro, é de gosto duvidoso e corrompe o gosto. A marcha de Tannhäuser me parece suspeita de pieguice; a abertura para o Holandês Voador é um barulho para nada; o prelúdio de Lohengrin fornece o primeiro exemplo, apenas demasiado capcioso, apenas demasiado bem-cunhado, de como também com a música se hipnotiza (-não aprecio toda música cuja ambição não vai além de convencer os nervos). Mas, deixando de lado o Wagner hipnotizador e pintor de afresco, existe ainda um Wagner que coloca ao lado pequenas preciosidades: nosso maior melancólico da música, cheio de olhares, ternuras e palavras de consolo, que ninguém lhe antecipou, o mestre nos sons de uma nostálgica e sonolenta felicidade. [...] Um léxico das mais íntimas palavras de Wagner, autênticas coisas curtas de cinco até quinze toques, autêntica música, que ninguém conhece. [...]. Wagner tinha a virtude dos décadents, a compaixão”.

Teria sido após sua estadia em várias cidades do Mediterrâneo ― Gênova, Roma e Veneza ― que a transformação se dá ao ouvir os compositores italianos. O “bel canto” o seduz. A ópera do compositor francês Georges Bizet (1838-1875), “Carmen”, as melodias do autor e toda a encenação causaram forte impressão em Nietzsche. Poderia parecer paradoxal tal escolha, se comparada for a enorme dimensão de Wagner com as composições de Bizet. As várias apresentações de “Carmen”, na Itália, Espanha e França, tiveram a presença do admirador Nietzsche.

O que reza a história, apesar da dualidade das posições de Nietzsche a respeito de Wagner, é que ambos são rigorosamente extraordinários quanto aos legados oferecidos aos pósteros em suas áreas fulcrais. A História tem exemplos de expressivas figuras em todas as áreas que tiveram sérios antagonismos com seus pares.

Recomendo vivamente “O leitor de Nietzsche” do insigne filósofo Oswaldo Giacoia Junior. Indispensável a leitura da “Introdução”, que abre as mentes para a compreensão maior do grande pensador alemão. Giacoia soube, nessa cuidadosa seleção, apreender os várias e admiráveis caminhos do pensar de Nietzsche. Se abordei os capítulos a envolver Wagner e Nietzsche, a causa principal foi assinalar igualmente a importância da música para o pianista e compositor Friedrich Nietzsche, algo extraordinário na opera omnia do pensador alemão, pois a abranger duas das mais importantes fontes do saber, a música e a filosofia. Boris de Schloezer (1881-1869), escritor e musicólogo, irmão de Tatiana de Schloezer, primeira esposa de Alexandre Scriabine (1872-1015), elencou, em sua biografia sobre o notável compositor russo, alguns dos títulos voltados à filosofia na biblioteca do seu ex-cunhado (1902-1903), destacando “Assim falou Zaratustra”, de Nietzsche. Saliente-se que o ilustre músico Richard Strauss (1864-1949) compôs um Poema Sinfônico (1896) após a leitura de “Assim falou Zaratustra”, obra maiúscula do compositor teutônico.

Wagner e Nietzsche continuam a ser cultuados. Duas figuras maiores em suas respectivas áreas. Para ambos, “sem a música a vida seria um erro”. A perenização se dá pelo legado.

Clique para ouvir, de Friedrich Nietzsche, “Hymnus an das leben” (Hino à vida), na interpretação da Orchestra do Conservatório de Como e do Coral da mesma instituição, sob a regência do Maestro Domenico Innominato:

https://www.youtube.com/watch?v=FIOIUlDB5yU&list=RDnZ-OQpgNoJs&index=2

The book “O leitor de Nietzsche” (The Reader of Nietzsche), edited by Oswaldo Giacoia Junior, retired professor of the Department of Philosophy at the State University of Campinas (Unicamp) and professor of philosophy at the (PUCPR), specialist in Nietzsche, Schopenhauer, Heidegger and Auguste Comte, is of significant importance. Of particular interest is the magnificent introduction (93 pages) and the selection of 18 texts extracted from Nietzsche’s various works. I focused on those referring to the philosopher and the composer Richard Wagner.

Gildo Magalhães frente à ciência

Tornou-se profundamente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.
Somos um campo de energia, só que visível.
Albert Einstein (1879-1955)

Recebi, do meu dileto amigo Gildo Magalhães, o substancioso livro “Meu caro Einstein e outras histórias da ciência e da técnica” (Livraria da Física, São Paulo, 2023).

Gildo Magalhães, presente inúmeras vezes neste espaço, comentando com acuidade os meus blogs hebdomadários, é professor titular jubilado da FFECH-USP, onde foi docente na área da História da Ciência no Departamento de História. Foi diretor do Centro de História da Ciência da USP e é membro do Centro de Filosofia da Ciência da Universidade de Lisboa. Tem vários livros abordando a sua área de atuação. Ultimamente está a realizar uma profícua colaboração no Jornal da USP, focalizando paulatinamente a História da Ciência.

“Meu caro Einstein” apresenta um conjunto de artigos divididos em três grupos, como posiciona o autor. Num primeiro, insere “artigos que resultaram de pesquisas em bibliotecas e instituições especializadas de História da Ciência nos EUA e Europa”. Gildo Magalhães apresenta no segundo grupo três textos referentes à sua competente atuação junto ao Centro de Filosofia da Ciência da Universidade de Lisboa, frequentemente visitada pelo autor, partícipe dos vários simpósios realizados pela Instituição. Ele esclarece o terceiro grupo de estudos: “No último conjunto de textos, examino alguns tópicos da história da ciência e da técnica no Brasil, tendo como pano de fundo o desenvolvimento do país…”. Dez textos de Gildo Magalhães, publicados em vários países, foram por ele traduzidos para o português. A reunião de todos esses trabalhos revela o vasto conhecimento da História da Ciência, máxime pelo fato de que o autor sempre se baseou em pesquisas profundas,  que resultaram em deduções, tantas delas plenas de originalidade.

Engenhosamente, insere no primeiro texto título que daria nome ao livro, “Meu caro Einstein”, palavras iniciais que indicam as pesquisas do autor apreendidas da correspondência entre Felix Albert Ehrenhalf  (1879-1952) e Albert Einstein (1879-1955) sobre correntes magnéticas. Tem interesse maior essa troca de missivas dos dois cientistas. O interlocutor Ehrenhalf, em sua longeva atividade epistolar com Einstein, durante trinta anos buscou a anuência de suas descobertas, não obtendo a guarida esperada por parte de Einstein. Gildo Magalhães observa: “O problema é que suas teorias se opõem às de Einstein, e também às do eletromagnetismo clássico, pois afirma ter conseguido isolar os polos magnéticos Norte e Sul, observando uma ‘corrente magnética’. O relacionamento se complica com a intervenção de sua esposa, que escreve poesias provocadoras para Einstein, que responde também com poesias. A batalha verbal segue com lances surpreendentes”.

Em um dos textos do livro, “Sobre uma possível contribuição da matemática transfinita para a euritmia”, Magalhães considera que “O conhecimento nunca chega ao final. Qualquer sistema de teorias, por mais excelente que seja, termina gerando anomalias e paradoxos. Esta afirmação é válida para sistemas filosóficos, teorias científicas ou outras formas de conhecimento investigativo. Se se tomar, digamos, a história da física, há muitos exemplos para ilustrar o ponto, como o sistema geocêntrico ptolomaico, ou a mecânica de Newton, ou a teoria quântica ortodoxa”. Em todas as áreas, essas afirmações contundentes do autor encontram eco. Nos dois últimos posts tratamos do progresso e da evolução das artes, entendendo que, para a área musical, a aplicação do termo  evolução é mais adequada pela perenidade das criações dos grandes compositores do passado, máxime pela publicação das obras e pela sua permanente vivificação através da interpretação dos músicos através dos séculos .

Gildo Magalhães finaliza o instigante livro com quatro capítulos dedicados a temas brasileiros. No segundo, “Evolução no sertão: darwinismo, intelectuais brasileiros e o desenvolvimento da nação”, três figuras relevantes na nossa história são contempladas: Sílvio Romero (1851-1914), Euclides da Cunha (1866-1909) e Monteiro Lobato (1882-1948). Magalhães observa, após textos minuciosos sobre as suas atuações e farta produção literária diversificada: “Os três autores aqui apresentados tiveram uma fase de simples imitação dos cânones darwinianos, seguindo um padrão de ideias europeias importadas sobre a evolução, que começou com as obras de Spencer. Isso levou a um caminho ideológico que passou pelo darwinismo social e pela eugenia, agravado por uma visão naturalista. Muitos escritores assumiram a noção de que os problemas sociais e psicológicos eram características hereditárias, uma ideia prontamente assumida por pessoas que também acreditavam que doenças comuns – como tuberculose, sífilis e alcoolismo – eram herdados pelos pobres”.

O livro em apreço é de importância, mormente pelo fato de apresentar uma série de grandes descobertas na área da Ciência, reunidas e didaticamente explicadas. A não intimidade com as especialidades científicas – caso específico deste que ora redige – não impede que o leitor tome conhecimento das conquistas extraordinárias que têm ensejado o progresso da Ciência. “Meu caro Einstein” pode ser uma porta aberta a desvelamentos.

The recent book by Gildo Magalhães, a full professor at the University of São Paulo, “My dear Einstein”, is of great interest as it presents a series of studies published in Brazil and abroad over the years, dealing with his field of work, the History of Science.