O Leitor, Estímulo Maior

Desenho de Luca Vitali. Clique para ampliar.

Ascender requer força da mente.
Provérbio himalaio

Às vésperas de atingir 100.000 acessos partilho com os generosos leitores que não pensava atingir essa cifra. Há blogs e blogs. Muitos conseguem esse número, ou bem maior, em apenas um dia, mercê da temática imediatista encontrável em quaisquer áreas de impacto: política, esporte-futebol, cotidiano agressivo, economia, bolsa de valores, celebridades… Tantos mais são publicados inúmeras vezes ao dia, mormente na área política, e são avidamente sorvidos por legiões de interessados. Não se trata de juízo de valor, mas de constatação. Sob aspecto outro, para determinado grupo da inteligentzia, blog representa uma categoria menor do pensar. Em parte, não sem razão.
O que me leva a esse veículo virtual formidável é a possibilidade do contacto com leitores que buscam uma outra espécie de percepção do cotidiano, não aquela desse mundo tão desvalorizado moralmente; tampouco a do sangue que escorre pelas rádios, TVs, jornais e revistas concernentes à criminalidade em expansão e sempre impune; muito menos a do consumismo exacerbado e a do sucesso pelo aplauso ou outras tantas vertentes assiduamente procuradas na internet.
Observei, no post referente aos 50.000 acessos, que já fui tentado a colocar publicidade em meu blog. Esporadicamente continuo a ser contatado. Implicaria a aceitação de um tipo velado de controle, não apenas relativo ao número de acessos, como também à possibilidade de interferência mínima nas sugestões temáticas. Por outro lado, periódicos e jornais, pragmatizados em relação a preciosos espaços, podem ter influência sobre seus articulistas habituais, a enquadrar textos ao número de dígitos por eles propostos. Estou a me lembrar que, após 10 anos a escrever regularmente para determinado suplemento cultural de jornal de grande circulação, recebi tout court orientação no sentido de que doravante caberia ao importante diário interferir na dimensão e em outros mais processos, inclusive na revisão, a suprimir frases ou segmentos naquilo que entendesse pertinente. Imediatamente deixei de colaborar, assim como outros articulistas por quem tenho o maior respeito. O pensamento cerceado é um desastre irremediável, sobretudo se considerado for que, através da década, recebera o maior respeito por parte de comissão que deliberava com os autores sobre as matérias do ano. Não haveria necessidade de dizer que esse conselho ilustre foi totalmente alterado, fatalmente não ao nível de excelência. Tempos outros vieram e não me entusiasmaram.
A realidade pessoal me impulsiona a escrever, e o ato tem de ser livre. Assim como uma composição musical a obedecer forma determinada pode ser maior ou menor, assim como um gesto de amor não pode ser mensurado, creio que, a depender do tema, torna-se imperativo o livre escoar das ideias, à la manière do rio que corre para o mar, sempre em vazão mutante. O não confinamento do espaço não implica a inexistência do espírito de síntese, apenas o redimensiona.
As nossas preferências dependem de diversos fatores. Os meus leitores, cúmplices ao captarem solilóquios vertidos em vários compartimentos da observação, têm compreendido o direcionamento voltado a categorias não muito diversificadas, mas a contemplar, no limite individual, o tema a ser comentado. Se a leitura sempre foi amiga, a resultar recensão ou interpretação do que foi apreendido, se a viagem é estímulo e fascínio, se o cotidiano – com todas as possibilidades boas e más – pertence aos passos que impulsionam e aos olhos que contemplam, seria, todavia, a “música – minha antiga companheira desde os ouvidos da infância”, no dizer do notável poeta português José Gomes Ferreira, a constância sem a menor intenção de desvio.
O fluir dos textos sem represamento dá-se em prazo certo. A gestação pode durar e durar. Temas são como a natureza. Sabemos que as estações existem, mas ignoramos qual a vestimenta precisa que elas devem exibir no quesito intensidade. Um tema que me leva à reflexão mais ampla vai sendo moldado através das semanas. Repentinamente, uma ideia complementa o raciocínio. Incorporo-a ao post e este continuará em processo de maturação. Outros, mais leves ou mais espontâneos, surgem inesperadamente ou durante os treinos solitários para as corridas. No caso, diante do computador, as ideias descem para a ponta dos dedos, e em poucos minutos o texto nasce. Mistérios do pensar.
Fábio, meu vizinho, questiona-me a respeito da ininterrupção desde Março de 2007. “Haveria compulsão”? Respondo-lhe que o escrever semanalmente, sem quaisquer pressões, é ato de respiração. E de fervor. Se um tema me interessa, continuei, naturalmente tem guarida, sendo apenas uma possibilidade de post. Quantos não são aqueles outros “enredos” que afloram ao pensar durante os sete dias? Os que podem ser convertidos permanecem no baú mental, já assinalado em posts anteriores. O desfilar dos textos não seria, em parte, a transmissão ao leitor do longo caminhar? Ao reler escritos do início dos blogs, senti-os como instrumentos da coerência e da transformação. “Todo mundo é composto de mudança”, já dizia o vate maior da língua portuguesa. E ela existe a partir dos impactos que sofremos durante a jornada. “Diário”?… insiste Fábio. Não há um só dia em que deixe de escrever algo para o blog da semana ou algum outro, bem posterior. Que seja um parágrafo apenas de post a ser publicado tanto tempo após. Essa constância estabelece parâmetros contra o esquecimento. Quantos não são os temas que surgem fulgurantes e dos quais não mais nos lembramos horas após? Se o acúmulo do viver tem seus maravilhamentos, tantas vezes coloca uma nuvem que oblitera o escoar do pensamento. Daí ter vários posts sempre em ebulição. A depender do tema, acrescento algo, e meu cotidiano se orienta para o estudo pianístico, para as leituras, para os treinos e para o viver o dia em todas as suas implicações.
Sobre a ilustração há história. Luca Vitali e eu fomos à uma reunião na Casa de Portugal de São Paulo. Durante o lento trajeto em horário de rush, perguntou-me: “Desde quando você usa gravata borboleta?” Curiosa observação. Respondi-lhe que desde a mocidade, mas com diferenças. Existem as fixas, mero ornamento masculino sem anima, pois imutáveis em seu posicionamento. Empalhadas. Aprendi naqueles tempos a fazer o nó e tenho lá meus papillons, que me dão prazer no momento de ajustá-los. Conservo-os. Um nó feito jamais é igual a outro. Estiolou-se o uso dessas gravatas, mas permaneço fiel aos meus hábitos. Luca sorriu, sem mais. Durante a conversa, surgiu o tema dos 100.000 acessos que se aproximavam. Enviou-me o desenho que ilustra o post.
Chegar aos 100.000 acessos causa-me um “santo orgulho”, parafraseando o que pensava D. Henrique Golland Trindade, ilustre prelado. Sinto-me livre ao colocar o que penso, espécie de erupção do de profundis, a guardar contudo certos cuidados.
Continuemos nessa cumplicidade. Terei imenso gosto em receber comunicação do leitor que acessar o nº 100.000. O e-mail encontra-se no contact, último item do menu do site www.joseeduardomartins.com .
É você, generoso leitor, a salvaguarda que me leva a prosseguir. Os posts fluirão. Teremos muitos outros encontros. Bem Haja !!!

On the eve of reaching 100.000 visitors to my blog, I reflect on how good it is to write with freedom, on the pleasure of posting an entry every week – a way to ponder upon life – on my love of music, a subject always present, and on how proud I am for garning such an extensive following without any advertising.

“Subsídios para uma Revisão Musicológica em Villa-Lobos”

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“Eu não tenho tempo para fazer revisão,
tenho muitas ideias para colocar no papel…”

Villa-Lobos (frase recolhida pelo violonista Turíbio Santos)

O gênio nunca erra; as pessoas comuns são quem,
às vezes, têm dificuldade em compreendê-lo.
E o editor facilita essa tarefa,
traduzindo, em caligrafia legível e fiel,
os “palimpsestos” deixados pelo artista criador e que,
depois de corretamente editados,
serão divulgados pelos intérpretes de hoje.

Ricardo Tacuchian

A noção do erro sempre despertou a curiosidade em todas as áreas do conhecimento. Equívocos, falhas, distrações, cansaço, quiçá esgotamentos físico e mental perpetuam-se entre aqueles que criam. Frequentam sub-repticiamente o universo misterioso das ideias, incorporando-se a elas. No ato insondável da criação, o deslize ocorre sem ser notado pelo autor. Pode o erro até ser intencional, como o fio preto que atravessa determinados tapetes persas de extraordinária feitura, a demonstrar que, ao percorrer a obra de arte, mais fica evidente que a perfeição só existiria em Alá.
Na área musical, o erro, a ter tantos sinônimos, perpassa em menor ou maior quantidade as composições. Todos os autores cometeram lapsos ou senões. Se pensarmos em Mozart, que escrevia como respirava, impossível a não detectação de pequenos enganos. Debussy, possivelmente o primeiro compositor a tudo assinalar nos campos da agógica, articulação e dinâmica, visando a interpretação a mais adequada, cometeu seus mínimos equívocos. É humano e esses descuidos devem ser entendidos como irrelevantes no todo. O trabalho mais recente sobre cópias de manuscritos autógrafos para piano do notável compositor português Fernando Lopes-Graça, levou-me a constatar pequenas incorreções, mormente mercê da intrincada mudança de compassos proposta pelo autor e de uma escrita extremamente densa em segmentos precisos. Minimiza a criação? Rigorosamente não. O revisor tem que estar atento e corrigir, sem nada alterar. Se pensarmos na composição interpretada, não há uma só gravação musical “humana” em que mínimos ou não tão mínimos equívocos existam. É só seguir pormenorizadamente uma partitura para verificar essas falhas ou enganos, que tantas vezes se confundem com o próprio ato da interpretação. Valores e tantos outros sinais propostos pelo compositor podem, em determinado momento, não ter a resolução adequada. Entender-se-ia como falta grave? Melhor seria compreender essas “distrações” interpretativas como a fazer parte de respirações diferenciadas. E, felizmente, essa é a salvaguarda do interpretar. Contudo, há extremos nefastos, e esses são detectáveis. Cai-se nesses casos na sombria irresponsabilidade, que sequer merece um pormenor.
Roberto Duarte é pesquisador de mérito. Um de nossos mais importantes maestros, tem como qualidades irretocáveis a grande competência musical e a contenção dos gestos. Debruçou-se, como uma de suas missões de vida, sobre a obra de Villa-Lobos, gravando no leste europeu, com qualidade insofismável, CDs referenciais contendo segmento considerável de suas composições orquestrais. O aprofundamento levou-o a apreender a intimidade da escrita de Villa-Lobos, mormente quando surgiu a possibilidade de edição de partituras de nosso grande compositor. Relação amorosa com a obra de Villa-Lobos e com o ato da criação envolto em névoas, mistério insondável que exala segredos possíveis de serem desvelados.
A leitura de Villa-Lobos errou? – Subsídios para uma revisão musicológica em Villa-Lobos (São Paulo, Algol, 2009), apenas ratifica posicionamento que defendo desde sempre, ou seja, livro sobre música tem de ser escrito por músico competente. Mencionei recentemente que as estantes de nossas livrarias comerciais e bancas de jornais estão inundadas por livros e artigos escritos por amadores, que jamais poderiam responder a um questionamento concernente à intrincada criação musical. O leigo, cada vez mais acentuadamente, mergulha nessa literatura, compilação maquilada extraída de livros outros e, pior, com o acréscimo emanado do livre arbítrio. No caso, pai de todos os malefícios.
Primeiramente tem-se de considerar a seriedade do Maestro Duarte. Suas revisões traduzem aspecto fulcral de sua personalidade. “Revisar não é alterar a ideia do compositor, não é achar que deva ser desta ou daquela maneira”, escreve. Continua: “Revisar é estudar a fundo não só a partitura mas o conjunto da obra do compositor. É limpar aqueles pequenos, porém incômodos lapsos, com o único objectivo de fornecer aos intérpretes e, finalmente, ao público, partituras dignas da grandeza do compositor”. E Roberto Duarte desvenda, sugere teorias quanto ao ato de compor, apresenta provas insofismáveis que o credenciam como pioneiro em uma vertente analítica a ser considerada.
O respeitado regente, ao mencionar que o autor não é o melhor revisor de sua obra, faz-me lembrar o nosso compositor romântico Henrique Oswald (1852-1931), que, ao escrever a Furio Franceschini, notável organista que estava a revisar a Sonata para órgão do criador de Il Neige !, afirmou igualmente que o pior revisor é o autor e, ele, Oswald, o pior deles. Seria possível entender essas distrações de Villa-Lobos pois, de acordo com suas próprias palavras transcritas por Duarte: “Eu confesso que não me deixo dominar pela meticulosidade. Quando estou trabalhando não me importo que crianças entrem pela casa, liguem o rádio, cantem ou dancem…” Questão de estilo.
Seleciona seis enganos mais comumente presentes na obra orquestral de Villa-Lobos “ ‘erro’ de ritmo; ‘erro’ de nota; ausência de clave; ausência de nome de instrumento; ausência de instrumento(s) nas mudanças de página; problemas de orquestração”. Como modelo, Duarte utilizou-se de obra referencial para orquestra de Villa-Lobos, A Floresta do Amazonas (1957-1958). Disseca esses “deslizes”, que não agem no todo da criação. A minimizar o fato, enumera os milhares de sinais em uma obra, que se expandem da notação às indicações relacionadas aos intentos quanto à interpretação. O número ínfimo de “erros” ou enganos viria corroborar a irrelevância.
O autor considera fundamental o conhecimento das técnicas de um compositor, a fim de que a revisão tenha embasamento sólido: “Villa-Lobos utilizou várias técnicas, desde as escalas tonais tradicionais até uma espécie de atonalismo a seu modo, passando pelas escalas modais, algumas escalas exóticas, escalas por tons e utilizando fartamente os acordes de sétima e nona além dos encadeamentos não ortodoxos. Passeou, não com muita frequência, pelo bi e pelo politonalismo e empregou acordes feitos por superposição de intervalos determinados, principalmente os de quarta e de quinta”.
A criatividade de Villa-Lobos teria sido ilimitada. Roberto Duarte menciona a utilização daquilo que o compositor denominaria “a linha das montanhas”, sistema sui generis empregado pelo compositor na criação de melodias, mormente na obra orquestral. Através de foto de uma montanha, gráficos em escala milimetrada, folha quadriculada e pantógrafo, Villa-Lobos determinava contornos melódicos. Dir-se-ia, uma analogia musical com os picos das montanhas. Roberto Duarte pormenoriza-se igualmente no inusitado instrumental empregado por Villa-Lobos: viololinofone, solovox, tambu-tambi e alguns outros. Apresenta as maneiras diferenciadas propostas pelo compositor para se tocar determinado instrumento. Dá ênfase aos cuidados necessários, nesses casos especiais, durante a revisão.

Processo evidenciado por Roberto Duarte da interação piano-orquestra em Villa-Lobos. Clique para ampliar.

Duarte revela ter sido o piano uma fonte inesgotável para as criações orquestrais, e que inúmeras formulações instrumentais surgiram dessas “fôrmas” pré-construídas no piano e transferidas para a orquestra. Sabe-se que quantidade expressiva de compositores tiveram o piano como laboratório primeiro para a destilação de suas ideias. O autor analisa e vai às profundezas da criação ao elaborar inúmeras ilustrações, onde ficaria evidente o comprometimento de Villa-Lobos com essa passagem do teclado à grande orquestra.
Modestamente, Roberto Duarte, cônscio da imensidão que representa o criador das Bachianas, entende que o trabalho de décadas não está terminado. Há muito por fazer. Contudo, Villa-Lobos Errou? passa doravante a ser livro referencial para todo estudioso que busca apreender parcela da genialidade do grande compositor brasileiro, um dos maiores do século XX em termos mundiais. Um extraordinário e original contributo ao desvelamento do ato de compor em Villa-Lobos. A edição trilíngue e muitíssimo bem cuidada, ricamente ilustrada, enriquece a bibliografia villalobiana. Livro a merecer todos os louvores.

An appreciation of the book Was Villa-Lobos Wrong?, written by the accomplished conductor and musicologist Roberto Duarte, who dedicated part of his life to studying, editing and promoting Villa-Lobos’ works. It is thus with authority that Roberto Duarte analyzes the composer’s creative process, proposing new ways to approach the great composer’s scores. A tribute to Villa-Lobos and, at the same time, a guide for conductors, interpreters and researchers in the future.

Para Facilitar Acessos

Charge de Luca Vitali. Clique para ampliar.

Compreender é rodear, mas também penetrar,
e, quando renunciamos a colocar alguma coisa em um círculo,
há a chance de se chegar ao seu centro, ou seja,
uma outra maneira de tecer explicações.
Tentemos este segundo procedimento,
que nos é mais acessível.

Henri-Fréderic Amiel

Magnus me propõe: “porque não ter no menu do blog um item destinado aos livros que você leu, comentou ou resenhou? Creio que o leitor poderá, através de uma listagem, obter, inclusive, conhecimento maior de suas preferências”. Confesso que hesitei inicialmente. Aliás, é muito difícil ter eu uma decisão imediata sobre qualquer coisa. Questão inalienável de estilo. Mas, após pensar, telefonei ao fiel amigo, a dizer que aceitara a sugestão. Finalizei a lista a partir do primeiro blog, datado de Março de 2007.
A elaboração trouxe-me várias certezas. Primeiramente, a de que há nítida preferência pelo multidirecionamento. Se livros de Música mostram-se em evidência, outros, voltados a diversas áreas, têm-me proporcionado agradável companhia. Romance, poesia, aventura, reflexões frequentaram nesses últimos anos o segmento Literatura do blog. Por vezes pormenorizei-me mais em determinado tema. Atração ou fascínio. Um autor, uma temática precisa, um gênero em especial. Nosso batimento cardíaco não é o mesmo durante o dia, assim também as escolhas podem oscilar. Uma só verdade, a constância, pois a leitura desde tenra idade faz parte de meu respirar.
Durante as décadas da vida acadêmica preferenciei bibliografia mais uniforme. Teses em andamento, orientações e livros concernentes à minha área. Ainda nesse longo período, não deixava de visitar as leituras paralelas. Enriqueciam-me, a partir do olhar diferenciado que delas emanava. Com a chegada da aposentadoria, o horizonte, livre de quaisquer névoas que pudessem ofuscar o descortino da vida restante, mostrou-se translúcido, e a inteira possibilidade do livre arbítrio, do retorno às escolhas literárias antes da Academia, antolharam-se-me como do prazer pleno. Prazer este que se estende de um livro profundo sobre música, sempre presente, à narrativa de um alpinista, a um conto singelo, à poesia que encanta, ou ao mistério da morte traduzido em tantos textos onde a incógnita se faz mestra, mormente nas interpretações que dela apreendem os sábios da região himalaia.
Para uma organização mínima dessa listagem busquei, no final de cada indicação bibliográfica, colocar a data em que a resenha ou comentário foi postado. Refiro-me aos dois. Resenhas, mesmo que bem tardias, preenchem basicamente um post integral, enquanto que comentários de livros são feitos, nada além de um parágrafo. Essa colocação explica a leitura da obra e a lembrança que vem à superfície quando determinado tema leva-me à consideração de conceito pertinente. Daí ter colocado um livro do grande pensador português Agostinho da Silva e um segundo sobre o autor, não resenhados, tampouco comentados como mereceriam, mas sempre citados em inúmeras epígrafes, preferencialmente quando um determinado assunto penetra uma profundidade maior. Visitação constante aos seus ensinamentos. Os deliciosos adágios açorianos, em dois volumes, encantaram-me desde os recitais que realizei nos Açores em 1992. Frequentemente sei que nas lombadas do vasto adagiário encontrarei a epígrafe que corresponde às intenções do texto. Populares, o conteúdo desses tomos presta-se às temáticas mais intrincadas. A menção aos dicionários de minha preferência fez-se necessária, pois continuo a ter certa idiossincrasia por outros, bem mais atualizados, que incluem neologismos que nos cercam, mas que estão distantes da precisão vernacular daqueles que merecem minhas permanentes consultas. Em outro enfoque, a mídia imperativa, a forçar termos de moda, tão logo estes caem em desuso torna rapidamente estiolado o efêmero. Contudo, não deixo de, por vezes, frequentar essas atualidades. Apesar de tê-las sob o olhar através da internet, nem sempre me aprazem.
Conversava com a querida amiga e colega acadêmica Jenny Aisenberg. Dizia-lhe que a liberdade que o blog me proporcionou faz com que a resenha, para mim, necessite da participação viva do autor a quem presto tributo. Entendo que as citações de trechos maiores ou menores de obra estudada propiciam, àqueles que porventura desconhecem o escritor, o conhecimento prévio de excertos, mesmo que selecionados por olhar particularizado. A resenha unicamente voltada à erudição pode extinguir-se na erudição, sobretudo quando ela vem acompanhada de notas de rodapé. Mal acadêmico necessário que, se de um lado esclarece, sob outro ângulo é a ferramenta utilizada na Universidade para a insuspeição e, sob outro mais – tantas vezes a depender de secretas intenções individuais -, traduz a nefasta erudição estereotipada. A presença da obra nessas preciosas citações que seleciono, sem notas pois, corresponde ao caminhar de mãos dadas com o autor homenageado. Diria, sem qualquer empáfia, que a sensação é a do diálogo, ele a jorrar o ensinamento, eu a tentar transmitir o que foi captado. Magnus entenderia que esse olhar em direção à inserção de segmento tem a ver com a minha prática musical, quando o intérprete está perenemente a olhar, a ouvir, a sentir e a tocar o discurso musical. A frase do autor como presença constante.
No menu à direita do blog há, a partir de agora, o item Resenhas e Comentários. O leitor terá, ao nele clicar, a lista por ordem alfabética das obras resenhadas ou comentadas. Sempre haverá a possibilidade de uma busca junto às livrarias físicas ou virtuais, ou até aos alfarrabistas, quando de obras fora de catálogo. Contudo, convido o leitor a escrever-me, via contact do site, se obra difícil de ser encontrada tornar-se porventura inacessível.
Livros continuam a chegar pelas mãos de amigos ou pela minha própria curiosidade. Obras de passado remoto ou mais próximo, que jamais foram por mim visitadas, são a salvaguarda de um debruçar em que a esperança de autores ascendentes pode também ser a nossa. Faz entender que, como observava Miguel Torga, um texto sempre tem precedente, alguém que já pensou aquilo que tentamos traduzir, mesmo que sob outra tonalidade. Inconscientemente, somos parte de uma construção sem fim aparente. Este só chegará quando o homem encontrar sua cadência interior, antítese daquele que não se preocupa com os pósteros, com a leitura, tampouco com os valores humanísticos, mas insiste em seus anseios de ganância que levam à destruição da espécie humana, homeopaticamente. Temos de acreditar, ainda.

The post of this week is a list of all the books that I commented since the beginning of this blog in March 2007, including also those that I have considered for the epigraphs.