Triste Realidade
Não julgues que pensas melhor
do que todos os que te precederam:
o mais provável é que penses pior;
principalmente quando tudo te parece mais certo.
Agostinho da Silva
(“Espólio”)
Como se não bastassem as incorreções gramaticais crônicas praticadas pelo último ex-presidente e pela atual mandatária, sem contar os deslizes diários – verdadeiros atentados à língua portuguesa – perpetrados diariamente no Planalto e no Congresso, “educadores”, engajados na elaboração da nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), estariam prevendo para Junho a implementação de novos currículos. Após veementes protestos iniciados pelo historiador Marco Antônio Villa através da Rádio Jovem Pan e da TV Cultura, um tsunami de cerca de 10 milhões de mensagens com sugestões invadiu o site do Ministério de Educação, que doravante estaria a estudar alterações no programa educacional.
Recebi de minha amiga e colega uspiana, Profª Maria Stella Orsini, matéria publicada no “Diário de Notícias” de Lisboa no dia 20 de Fevereiro último, sob o título “Literatura Portuguesa deixa de ser obrigatória no Brasil”, com assinatura de João Almeida Moreira.
Com a mais justa razão o colunista aponta o que está a acontecer com essa proposta para alteração curricular. Se a disciplina História estava a ser mutilada de suas essencialidades, como Grécia Antiga, Império Romano, Idade Média, Renascença, Revolução Francesa, Revolução Industrial entre tantas outras, em benefício das ideologias totalitárias que se instalaram a partir da metade do século XX na América Latina e na África, há que se verificar que, desde a base escolar, as novas gerações estariam acéfalas no que diz respeito ao desenrolar da História através dos séculos.
Deve-se sempre buscar exemplos que corroborem o aprimoramento. No que se refere à literatura, seriam os expoentes máximos da língua portuguesa, como Luís Vaz de Camões, Gil Vicente, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa e inúmeros escritores enriquecedores das letras, que têm contribuído, através dos tempos, com o escrever bem, o cuidado com o estilo, o aprimoramento cultural. A não obrigatoriedade da literatura portuguesa, essencial para a formação do homem como um todo, tornar-se-ia crime educacional irreparável.
O articulista do “Diário de Notícias” historia: ” A BNCC foi criada no ano passado, na gestão do ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, entretanto substituído por Aloizio Mercadante, para estabelecer um grupo de conhecimentos e habilidades de que todos os estudantes brasileiros devem dispor na educação básica. Logo que foi conhecida do público gerou controvérsias: inicialmente, não tanto por causa da literatura portuguesa, mas sim por questões ligadas à História e à Gramática. As críticas surgiram em virtude da pouca relevância dada à história mundial, ignorando pontos considerados por educadores como de conhecimento básico, para dar ênfase às histórias indígena e africana. Outra área que mereceu reparos foi a da ausência da gramática no ensino geral de linguística”. A se considerar o DN, o Ministério da Educação já teria revisto alguns pontos críticos, mas estaria a receber sugestões via site.
A matéria publicada no DN sublinha ainda algo que deve ter chocado até os leitores minimamente cultos: “O governo do Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda, é acusado de populismo e de agir de forma ideológica, ao querer privilegiar a cultura indígena e ao ser mais permissivo em relação a questões gramaticais já desde 2011, quando causou choque na classe educadora que, num manual escolar distribuído pelo MEC, fosse considerada ‘inadequada e passível de preconceito mas não errada’ a expressão, sem concordância, ‘nós pega o peixe’ “.
Sempre é bom lembrar a polêmica em torno do livro “Por uma vida melhor”, de Heloísa Ramos, publicado em 2011 e que teria sido adotado pelo MEC, no qual é apresentada a alternativa da norma popular vinda na contramão da norma culta. Como afirmou a autora em entrevista à Naiara Leão: “Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para cada situação” (“Não somos irresponsáveis”, diz autora do livro com “nós pega”. Artigo de Naiara Leão, IG Brasília, Último segundo – Educação, 12/05/2011). A articulista comenta outra afirmação da autora do livro: ” Ela acredita que, ao deixar claro que é tolerado todo tipo de linguagem, a escola contribui para a socialização e melhor aprendizado do estudante. ‘Quem está fora da escola há muito tempo é quieto, calado e tem medo de falar errado. Então colocamos essa passagem para que ele possa sair da escola com competência ampliada’, diz”. Nessa visão, a corromper por completo a norma culta, outro exemplo pareceria evidente: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. A autora explica o porquê dessa forma linguística: ” Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar os livro?’. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico (negrito da articulista). Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção para todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”.
A exemplificação, através do livro mencionado de 2011, apenas evidencia que se urde um desmonte progressivo da norma culta e, logicamente, com o entendimento do MEC. Tem-se um projeto absurdamente nocivo à elevação cultural de um povo. Quando se deveria buscar o aprimoramento do falar e do escrever, corrompe-se o conceito, destrói-se o passado que impulsiona o presente, rebaixa-se ainda mais a educação de um povo que estaria ávido pelo conhecimento que não lhe chega nunca, a fazer com que a “Pátria Educadora” seja até escárnio, quando deveria ser redenção.
Retirar a obrigatoriedade da literatura portuguesa dos currículos escolares antolha-se-me como uma confissão do descaso cultural, da visão ideologicamente organizada desde bancos universitários em áreas como história, filosofia e literatura. É basicamente consensual que parte expressiva dos egressos das universidades estatais, nesses segmentos apontados, busquem atuar nessa “preparação das mentes”, como bem dizia um saudoso colega da área do Direito. O projeto nas áreas da História e da Literatura apontam, num sentido claro, para a “incipiência” ou voluntária visão do nivelamento por baixo dos que a ele se atêm. Preferem ocultar o passado, única razão a explicar presente e futuro, em torno de um projeto que é propagado pelo último ex-presidente, em suas múltiplas verborragias, de que o Brasil “só″ existiria após a sua unção ao posto máximo deste país.
Numa mesma direção da esquerda obliterada pela ideologia não estaria a França socialista de François Hollande a buscar fórmula bem semelhante, ao tentar excluir dos currículos de História parte do passado que fundamenta o conhecimento, introduzindo intensamente a cultura árabe? Estudá-la é fato, num país com milhões de muçulmanos, mas suprimir o passado!!!
No que tange à literatura portuguesa, após as 10 milhões de mensagens endereçadas ao site do MEC, segundo o DN, do Ministério sairia uma lacônica nota mencionada pelo jornal português: “No mesmo documento lê-se ainda que serão introduzidos tópicos de análise linguística em todas as etapas de escolarização – mas não há referência à reintrodução, ou não, da obrigatoriedade da literatura portuguesa”.
Mais do que um viés político e ideológico, característico dos movimentos de esquerda extremados, nos quais a Nova Ordem busca o abafamento ou a eliminação do passado, haveria um dado que me parece fundamental. O único verdadeiro líder do PT foi e continua a ser o último ex-presidente. Ungi-lo é o que faz diariamente a cúpula do Partido dos Trabalhadores a influenciar, à maneira nazista, o séquito da militância, apesar de tudo o que está a ocorrer com os desdobramentos do Lava-Jato desvelando a corrupção ilimitada. Isso é fato inconteste. Houve, há e, tudo indica, continuará a existir a permanente citação nominal ou entrelinhas por parte do PT e do ex ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Também fato inconteste. A insistência ad nauseam do sr. Lula às suas próprias origens humildes, iletradas, geralmente seguidas à crítica aos que tiveram a oportunidade de estudar, “as elite”, vai ao encontro da camada que também não teve acesso aos estudos, nesses últimos governos petistas como no passado. Vídeo bem antigo revela fala do sr. Luís Inácio: “Sou muito preguiçoso, até pra ler eu sou preguiçoso. Eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler” (sic). Sob outro olhar, a militância petista fidelíssima, que tem em seus quadros sindicalistas, os inúmeros integrantes dos movimentos MS…, assim como egressos das universidades e de outras camadas da sociedade, encontra nas palavras do “demiurgo” as “profecias” para incentivá-la. A repetição confere a sedimentação ideológica, e todo o conteúdo a ele agregado apenas substancia um caldo grosso de fácil de interpretação, pois messiânico, perigoso em suas intenções beligerantes – luta de classes -, tantas vezes apregoadas em mensagens que estabelecem “o” modelo “linguístico”, no caso. E qual é esse? O líder carismático inconteste, mas apedeuta contumaz, tem claudicado ainda mais em suas falas, a cometer incorreções gramaticais incontáveis, a empregar a “norma popular” – a que conhece -, aproximando-o, com intentos que pareceriam evidentes, daqueles que a utilizam. Não estaria a haver um voluntário desejo de desmonte da apregoada “Pátria Educadora”? Quantas não foram as vezes que o último ex não pronunciou palavras chulas ou de baixo calão em pronunciamentos? No domingo (6 de Março), em frente à Globo, a filha do apedeuta não fez gesto obsceno ao levantar um determinado dedo? A mesma atitude teve a neta do último ex. Transmissão através das gerações. Para alguém que esteve durante oito anos a presidir o país, palavras e gestos inadequados ferem a dignidade que deve ser mantida, mesmo após o findar do mandato público. Creio que o senhor em questão força ainda mais o equivocado recrudescimento do linguajar e, sua prole, do gesto. A atitude do líder contamina os militantes mais acirrados que aparelham o governo. A desestruturação curricular nas áreas apontadas pelo DN é consequência dessa necessidade mimética. Daí a frase acima citada pelo jornal: “inadequada e passível de preconceito mas não errada a expressão, sem concordância, ‘nós pega o peixe’ ser interpretada pelo MEC”, hoje a ter como Ministro um ex-professor universitário (sic). Essa distorção não estaria como provocação ao letrado Fernando Henrique Cardoso, jamais esquecido pelo sr. Lula, apesar dos mais de 13 anos de seu partido no poder? FHC seria o patamar que jamais o último ex alcançaria. A insistência em mencioná-lo, sempre, é prova cabal.
Lembraria ainda, como adendo a este post, que na juventude meu saudoso pai nos fez ler, a estimular a leitura aos quatro filhos – Ives, José Paulo, JE e João Carlos – obras referenciais de Camões, Gil Vicente, Sá de Miranda, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Almeida Garret, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão e tantos outros escritores e poetas portugueses para que aprendêssemos os fundamentos da extraordinária língua portuguesa, não desprezando contudo os grandes romancistas e poetas brasileiros. Sou-lhe tributário ad aeternum pelo encaminhamento literário que nos proporcionou. Aliás, como bem lembrava meu pai: “O Homem é ou não é”.
On the deliberate efforts of the Workers’ Party government to ruin the Brazilian cultural heritage in favor of ideologies that flourished from the mid-twentieth century in Latin America and Africa.
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