Meliponideos – Abelhas do Convívio

A colméia entre as ramas da unha-de-gato. Foto J.E.M.

O inverno está a começar e raios solares atenuam-se graças à sua menor incidência sobre o hemisfério sul nesse período. Num fim de tarde agradável, quando o sol já buscava ocultar-se, observei que um pequeno foco de luz recaia diretamente sobre a entrada de uma colméia logo abaixo de minha janela. Presenciava um espetáculo rotineiro extraordinário. A luz mostrava-se tênue, realçando o cenário. As pequenas abelhas negras, sem ferrão, mergulhavam em vôos rápidos e rasantes no orifício de pouco mais de sete centímetros de diâmetro, a buscarem proteção durante a longa noite. Era uma sucessão contínua, que se prolongou. Pouco a pouco fazia-se sombra e rapidamente começou a escurecer.
Fiquei a pensar durante um bom tempo. Que relação plena com os filmes de ficção, onde pequenas naves espaciais recolhem-se à nave mãe! Exatamente da mesma maneira e com a mesma precisão. Nos filmes, geralmente não há equívocos, a depender dos roteiros. Na natureza, as abelhas fazem essas incursões sem jamais errar. Absoluta competência.
Há trinta e tal anos convivo com essa colméia. Diria que faz parte da família. Essas abelhas, em suas muitas gerações a povoarem o mesmo local, inicialmente construíram sua morada na compacta vegetação conhecida como unha de gato, que com o tempo tudo cobriu, exceção à entrada. Um volume apreciável é possível perceber. Não ferroam, mas causam um grande transtorno àqueles que se aproximam, a fim de aparar as ramas da unha de gato. Estou a me lembrar de um velho jardineiro, que durante muitos anos freqüentou nossa casa para podar essa trepadeira tão comum. Munia-se de um pano sobre a cabeça, óculos de piscina, tampão para os ouvidos, luvas e ia ao corte. Praguejava sempre quando nesse mister. Após o ótimo trabalho do bom homem, tinha por hábito olhar para a entrada da colméia a ver, com mais clareza, a rotina de entrada e saída das pequenas abelhas negras. Num determinado dia, não vi esse movimento. Subi numa escada e, devidamente protegido, verifiquei in loco que o apavorado jardineiro havia introduzido um pano embebido em querosene à entrada da colméia de minhas velhas amigas. Retirei o trapo com o devido cuidado, elas vieram sobre mim, mas tudo se passou bem, pois entendia de longa data as reações desses insetos tão necessários. Dizem que essas abelhas produzem ótimo mel e, como não ferroam, imiscuem-se pelos cabelos, tornando-os uma pasta, ou então azucrinam os ouvidos. Alguns as chamam de Abelha Cachorro, mercê do ruído, outros de Jataí… O certo é que todas as abelhas são insetos Hymenopteros, da extensa comunidade Apoidea. Se denominações variam, dependendo das regiões, o certo é que as pequenas abelhas negras em questão, minhas vizinhas tão próximas, são familiares. Não raras vezes, uma delas entra em meu quarto, permanecendo longos momentos. Após, busca o seu habitat original. Essa colméia tão antiga integrou-se à minha história. Partilhamos uma convivência tranqüila. Que continuem seu destino de fidelidade à velha morada!