Columbina Talpacoti

Rolinhas - foto: J.E.M.

No distante 1965, meu bom vizinho, o saudoso Seu Chico, cortou um galho de seu jasmim manga, que floresce em amarelo-rosa, e ofereceu-mo. Plantado em nosso pequeno jardim que dá para a rua, virou árvore, sofreu ao longo dos anos várias podas e, de Novembro a Março, o perfume das flores penetra pela casa. Está disponível durante o ano, com total aceitação de sabiás e rolinhas, para nidificações.
Diante do computador observei pela janela, há cerca de três meses, o primeiro impulso da renovação constante da natureza, o preciso instante do acontecido. Um casal de rolinhas, também conhecido pelo nome de rolinha-caldo-de-feijão, iniciava a construção de um ninho. Gravetos e outros materiais afins compuseram o espaço que abrigaria dois ovos. Cuidadosamente agasalhados pelo casal que se revezava, pouco menos de duas semanas após a postura nasceram os filhotes, que não podiam ser vistos, mas eram tratados com a maior dedicação pela dupla, que continuava a distribuição das tarefas. A nidificação foi feita a menos de dois metros das abelhas negras (Dando Asas à Imaginação, de 07/07/07, categoria Interlúdio), mas certamente rolinhas e as possíveis arapuás se entendem. Após dias seguidos de aguaceiro, em que havia permanentemente um dos pássaros a proteger o ninho, fez bom tempo. Dois filhotes já crescidinhos surgiram do fundo, e vê-los ensaiar as primeiras batidas de asa, rápidas mas hesitantes, foi prazeroso. No dia seguinte ainda lá estavam, mas algumas horas depois buscavam galhos próximos, sendo o abandono do ninho irreversível. À tardinha consegui fotografá-los em uma das ramificações da primavera-roxa (Trochilidae, de 14/03/07, categoria Interlúdio). A mãe – ou o pai – lá estava ao lado dos filhotes. Abandonou-os logo após e eles permaneceram na mesma posição durante a noite gélida. Possivelmente o grande teste. Pela manhã, já voavam da primavera ao jasmim manga, seguidos pelo casal que ainda lhes ofereceu alimentos. Depois…ganharam outros espaços. Voltarão certamente, mais crescidas e encorpadas. Outras rolinhas estão sempre no solo, buscando sementes que caem das gaiolas dos canários, pedaços de frutas, ou ainda pequenas larvas. Como têm mais de uma postura anual e reutilizam, por vezes, o mesmo ninho, voltarei a vê-las nidificar. Não têm receio da presença humana. O fato é que enriquecem o olhar. Bem-vindas.