Ayrton Senna Racing Day
Amor à vida no tempo
corra bem ou corra mal…
Agostinho da Silva
No post anterior escrevia que chegara bem tarde da noite de minha semana musical em Goiânia. Às seis e meia da manhã do dia seguinte já estava no autódromo de Interlagos. Participar pela segunda vez da Maratona de Revezamento Ayrton Senna Racing Day em sua 6ª edição foi uma grande alegria. Nossa equipe TA LENTOS foi pouco a pouco chegando, pois cada integrante já era conhecedor de sua posição no revezamento. Competia a cada corredor da TA LENTOS dar uma volta no lendário circuito. Fui o segundo a sair após receber a braçadeira de Franco, bem mais jovem e mais rápido do que eu, o Matusalém do grupo. Para esta prova Regina e Cristina não puderam correr e foram substituídas à altura por Paulo e Fernando. Curvas, descidas e subidas, entre as quais aquela temível que leva à reta dos boxes e que é mostrada em uma das ilustrações, constituem o belo traçado do autódromo. Assim mesmo baixei meu tempo em quase dois minutos em relação ao ano passado nesse percurso de 5.275 metros, distância para cada integrante das equipes de oito corredores. Em post anterior descrevia a sensação realmente intensa de percorrer o circuito de Interlagos (vide TA LENTOS – Sinônimo de equipe solidária 29/11/08).
O congraçamento nessas provas de revezamento é grande. Todos imbuídos de uma intenção única, a de participar e conviver durante aquelas prazerosas horas.
Novamente nossa equipe recebeu a simpática recepção de Viviane Senna, irmã do grande tricampeão mundial de Fórmula 1 e dedicada organizadora do evento.
Um fato chamou-me a atenção. Durante o aquecimento passava por mim um corredor amputado da perna esquerda pouco abaixo do joelho. Exercitava-se desenvolto e notava-se tratar-se de alguém experiente. Continuava meu aquecimento quando, ao cruzarmos o caminho uma outra vez, indaguei-lhe a respeito. Disse-me que perdera parte do membro em acidente e que corria com prótese há alguns anos. Quis saber mais, mas o nosso atleta prometeu continuar o diálogo, pois estava a exercitar-se em várias velocidades. Chegou o meu momento, fiz o percurso e passei a braçadeira para Américo, colega de equipe. Como em prova transpira-se muito, há a necessidade de alongamento após a corrida e ingestão de líquidos. Preferencialmente trocamos de camisa uma ou mais vezes após o término. Lá pelas tantas chegou o atleta amputado, que ainda deveria participar. Fazia-se acompanhar daquele que o precederia, Ezequiel Costa, também amputado, de um braço. Continuamos o diálogo interrompido. Soube tratar-se de Edson Dantas, excepcional corredor. Atencioso e modesto, disse-me que era bi-campeão na categoria amputados da concorrida Maratona de Nova York. Estava feliz, pois regressara a poucos dias dos Estados Unidos com o tempo para os 42.200 metros percorridos em 3hs16’. Tem 43 anos e invulgar disposição. Na categoria, é tricampeão da São Silvestre e ostenta prêmios em lugares os mais diversos. Utiliza-se de uma prótese alemã especialmente elaborada para ele. Apreendi que a tal prótese é constituída de fibra de carbono, a conter várias especificações ultramodernas, proporcionando ao atleta uma impulsão superior nas passadas. Como os dois teriam ainda de participar, pedi ao Américo para tirar uma foto. Sérgio Yuji disse-nos mais tarde que Edson Dantas passou por ele como uma flecha. Pudera, estava o amigo diante de um dos melhores atletas paraolímpicos da atualidade e especialista também nos 5 e 10kms. É surpreendente e emocionante verificar essa disciplina que leva à grande superação.
Pouco a pouco os oito de nossa equipe foram cruzando a linha. Findava-se o revezamento. Fomos um pouco mais rápidos do que no ano anterior. Isso para nós não tem a menor importância. Estou a me lembrar da frase de Sérgio Yuji Yokoyama quando da nossa Maratona em 2008: “O melhor resultado não é da equipe que consegue o melhor tempo; o melhor resultado é daquela que consegue desfrutar da alegria, do prazer, da satisfação de estar entre amigos e fazer perdurar isso pelo maior tempo possível…”. Não apenas Sérgio, mas Sato, Ademir, Américo, Franco, Paulo e Fernando partilham da mesma opinião. Alguns de nossa equipe correrão a São Silvestre em seus 15km. Américo e Sérgio, certamente. Já fixamos o encontro em frente ao metrô Brigadeiro no próximo 31 de Dezembro. Sairemos lá atrás, mas o importante será a permanência irmanada durante o longo trajeto, apesar de nossos ritmos diferenciados.
Findava este post, horas após ter dado o recital de lançamento do álbum duplo de CDs contendo a integral de Jean-Philippe Rameau interpretada ao piano. (vide Jean-Philippe Rameau – Origem de Fascinante Envolvimento, 14/11/09). Qual não foi minha alegria ao ver a TA LENTOS completa a assistir ao recital. Na fala que precedeu à apresentação, mencionei o fato de tê-los presentes. Se as mensagens musicais serviram para uma outra categoria de congraçamento, comprovaram aos queridos amigos da equipe que os meus dedos correm bem mais velozes do que as septuagenárias pernas. Sob outro aspecto, Luca Vitali, atento, conversou com integrantes da TA LENTOS após o recital. O artista, jocosamente acaba de me enviar sua interpretação do grupo nipo-brasileiro. Uma só alegria.
Once again I participated in the relay marathon held yearly in São Paulo at the Interlagos circuit, the venue of the F1 Brazilian Grand Prix. I was one of the eight members of the “TA LENTOS” team. This time I had the chance to meet a man of exception, the amputee runner Edson Dantas, who has twice won the New York City Marathon and three times the local Saint Silvester Road Race for athletes with physical disabilities, proving that determination can push us to new limits. “TA LENTOS” didn’t win the race, but we had a great time together. Some of us have already arranged to meet at the Brigadeiro subway station on 31 December to run the 15 km course of the Saint Silvester competition through the hilly streets of São Paulo.