Desafio Inusitado

Elson Otake e J.E.M. próximos do topo do Pico do Jaraguá. 27/06/10. Clique para ampliar.

Aprender até morrer.
Adágio açoriano

Tranquilo, permanecia em meus afazeres diários. Elson Otake, o maratonista, toca a campainha. Atendo-o sempre com prazer, pois a temática envolve a invariável corrida, treinos, técnicas e desafios. Convida-me para um exercício que seu grupo, liderado pelo excelente treinador Augusto, faria com o objetivo de subir a correr o Pico do Jaraguá. Tem-se 4.5km em aclive permanente. Disse-lhe que os acompanharia, mas que teria de regressar ao ponto de partida ao menor sinal de fadiga. Seu grupo se preparava para a subida da antiga estrada da serra do mar. São 7.5 km. Também, sempre a correr.
Confesso que fui dormir um tanto preocupado. A salvaguarda era o retorno imediato à base num caso de desistência. Minha neta Ana Clara, aos 17 anos, já se entusiasma pelas caminhadas e pequenas corridas. Acompanharia o avô nesse passeio singular.
Reiteradas vezes salientei o despojamento de Elson. Quando me convida, solidariamente abdica de sua velocidade e corre ao meu lado, estimulando-me, controlando meu percurso e sempre a perguntar se tudo vai bem. Enfim, uma grande segurança.
A manhã ensolarada e fria de um belo domingo ajudou a difícil subida rumo ao Pico do Jaraguá. Minha neta e outros caminhantes fizeram todo o trajeto, sendo que Ana Clara ainda teve entusiasmo para ir, pelas escadas, até o sopé da antena que pode ser vista, à longa distância, de tantos pontos da cidade e de estradas circunvizinhas.
Saindo-se do parque, tão dentro da cidade e tão aprazível, sentimo-nos em plena natureza. Elson e eu fomos a subir e mantendo ritmo cadenciado, respiração controlada e alegria contagiante. O caminho repleto de curvas, mas em ascensão permanente, tem muitos atrativos. Uma bela vegetação, árvores frondosas, revoada de pássaros. Um vento cortante e gelado não interferia no entusiasmo que sentíamos. Aproximadamente no meio do caminho realizamos a única brevíssima parada de uns 15 segundos, a fim de beber a água gelada de uma bica. Sempre a correr, sempre a subir.
O grupo de Elson, formado por atletas que treinam sistematicamente sob orientação precisa, tem ótimos corredores. Walquíria, uma bonita morena, passou-nos com rapidez. Realizou o trajeto de subida e descida por duas vezes. Corre com elegância, passadas largas e firmes. Sei que Elson estaria entre os mais velozes, mas transmitiu o estímulo permanente ao amigo.

Informações coletadas pelo GPS. Clique para ampliar.

Gráfico da altimetria. Clique para ampliar.

A alegria ao ter conseguido chegar ao Pico do Jaraguá correndo ininterruptamente ajuda, e muito, a auto confiança. Quase no topo, tiraram nossa foto. Elson diverte-se e o velho corredor ao lado, sério, mas infinitamente feliz, percebe que poucos metros o separam da curva que leva à descida. É bom frisar que declives acentuados podem danificar irremediavelmente as articulações intrincadas dos joelhos, daí a planejada atenção nessa segunda etapa. Todavia, os três treinos semanais pelas ruas de minha cidade bairro, Brooklin-Campo-Belo, já me davam uma certa esperança de poder realizar a façanha.

Ana Clara a repartir canjica com o macaquinho. Clique para ampliar.

Enfim, já de volta à base no aconchegante parque, Augusto refere-se à subida de 2.5km da Brigadeiro, trecho final da São Silvestre. Bem mais amena, comparada à do Pico do Jaraguá. Portanto, mais um estímulo. Um café matinal servido após esse duro treino serviu para o amplo congraçamento. Macacos desciam das árvores para beliscar torradas, pães ou bolos que lhes eram oferecidos. Diversão absoluta para minha neta, indisfarçável prazer para todos nós.

Após corrida, dividindo merenda com um símio do parque do Jaraguá. Foto de minha neta Ana Clara. Clique para ampliar.

Se São Paulo não tem belezas naturais, e o homem, em sua selvagem ganância, destruiu ao longo dos séculos – e sobretudo nestas últimas décadas – praticamente tudo o que pudesse lembrar a história da cidade, ainda podemos usufruir de raríssimos locais como o Parque do Jaraguá, o Jardim Botânico, os pequenos parques do Povo e do Morumbi, o Parque do Ibirapuera e alguns mais.
A confiança transmitida por Augusto deu-me certezas. Continuarei a treinar pelas ruas e a participar de algumas corridas oficiais pela cidade. Música e corridas. As afinidades, nós as estabelecemos. Os amálgamas feitos pelo homem podem ter os temperos mais variados. Dependem unicamente de nossa vontade e gosto. Uma semana após a subida ao Jaraguá já participava da segunda etapa do Circuito das Estações (inverno), evento patrocinado pela Adidas (10km). Uma multidão unida pelo mesmo espírito esportivo. Cada um dos milhares de corredores com seus objetivos ou sonhos. Contudo, nessa atividade fundamentam-se as esperanças quanto ao desempenho: ao passar pelo portal da cronometragem, todos partem com o desejo de concluir a prova; ao cruzar a mesma barreira na chegada, a agradável sensação do desafio vencido. Salvaguardas estimulantes. A prática esportiva a levar ao equilíbrio.

Circuito das Estações (2ª etapa, inverno). 04/07/10. Foto Webrun. Clique para ampliar.

Invited by a friend– the marathon runner Elson Otake – I joined his team a couple of weeks ago in a singular adventure: running the Pico do Jaraguá trail inside the Jaraguá Park, a forest within the urban area of São Paulo city. The peak is the highest point of the metropolitan area and to reach it we had to face a 4,5 km run through a gradually ascending slope. I confess I was a bit afraid of failing, though it was a non-competitive training practice, but things went much better than I expected. After this hard test, the group was offered a breakfast shared with the local monkeys that came down from the trees, much to my 17 year old granddaughter’s delight. Being able to reach the summit and then sloping down the hillside again ― running well and non-stop among trees, birds and exotic animals ― was a personal achievement that made me feel very proud. A challenge met!