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Charge de Luca Vitali. Clique para ampliar.

Compreender é rodear, mas também penetrar,
e, quando renunciamos a colocar alguma coisa em um círculo,
há a chance de se chegar ao seu centro, ou seja,
uma outra maneira de tecer explicações.
Tentemos este segundo procedimento,
que nos é mais acessível.

Henri-Fréderic Amiel

Magnus me propõe: “porque não ter no menu do blog um item destinado aos livros que você leu, comentou ou resenhou? Creio que o leitor poderá, através de uma listagem, obter, inclusive, conhecimento maior de suas preferências”. Confesso que hesitei inicialmente. Aliás, é muito difícil ter eu uma decisão imediata sobre qualquer coisa. Questão inalienável de estilo. Mas, após pensar, telefonei ao fiel amigo, a dizer que aceitara a sugestão. Finalizei a lista a partir do primeiro blog, datado de Março de 2007.
A elaboração trouxe-me várias certezas. Primeiramente, a de que há nítida preferência pelo multidirecionamento. Se livros de Música mostram-se em evidência, outros, voltados a diversas áreas, têm-me proporcionado agradável companhia. Romance, poesia, aventura, reflexões frequentaram nesses últimos anos o segmento Literatura do blog. Por vezes pormenorizei-me mais em determinado tema. Atração ou fascínio. Um autor, uma temática precisa, um gênero em especial. Nosso batimento cardíaco não é o mesmo durante o dia, assim também as escolhas podem oscilar. Uma só verdade, a constância, pois a leitura desde tenra idade faz parte de meu respirar.
Durante as décadas da vida acadêmica preferenciei bibliografia mais uniforme. Teses em andamento, orientações e livros concernentes à minha área. Ainda nesse longo período, não deixava de visitar as leituras paralelas. Enriqueciam-me, a partir do olhar diferenciado que delas emanava. Com a chegada da aposentadoria, o horizonte, livre de quaisquer névoas que pudessem ofuscar o descortino da vida restante, mostrou-se translúcido, e a inteira possibilidade do livre arbítrio, do retorno às escolhas literárias antes da Academia, antolharam-se-me como do prazer pleno. Prazer este que se estende de um livro profundo sobre música, sempre presente, à narrativa de um alpinista, a um conto singelo, à poesia que encanta, ou ao mistério da morte traduzido em tantos textos onde a incógnita se faz mestra, mormente nas interpretações que dela apreendem os sábios da região himalaia.
Para uma organização mínima dessa listagem busquei, no final de cada indicação bibliográfica, colocar a data em que a resenha ou comentário foi postado. Refiro-me aos dois. Resenhas, mesmo que bem tardias, preenchem basicamente um post integral, enquanto que comentários de livros são feitos, nada além de um parágrafo. Essa colocação explica a leitura da obra e a lembrança que vem à superfície quando determinado tema leva-me à consideração de conceito pertinente. Daí ter colocado um livro do grande pensador português Agostinho da Silva e um segundo sobre o autor, não resenhados, tampouco comentados como mereceriam, mas sempre citados em inúmeras epígrafes, preferencialmente quando um determinado assunto penetra uma profundidade maior. Visitação constante aos seus ensinamentos. Os deliciosos adágios açorianos, em dois volumes, encantaram-me desde os recitais que realizei nos Açores em 1992. Frequentemente sei que nas lombadas do vasto adagiário encontrarei a epígrafe que corresponde às intenções do texto. Populares, o conteúdo desses tomos presta-se às temáticas mais intrincadas. A menção aos dicionários de minha preferência fez-se necessária, pois continuo a ter certa idiossincrasia por outros, bem mais atualizados, que incluem neologismos que nos cercam, mas que estão distantes da precisão vernacular daqueles que merecem minhas permanentes consultas. Em outro enfoque, a mídia imperativa, a forçar termos de moda, tão logo estes caem em desuso torna rapidamente estiolado o efêmero. Contudo, não deixo de, por vezes, frequentar essas atualidades. Apesar de tê-las sob o olhar através da internet, nem sempre me aprazem.
Conversava com a querida amiga e colega acadêmica Jenny Aisenberg. Dizia-lhe que a liberdade que o blog me proporcionou faz com que a resenha, para mim, necessite da participação viva do autor a quem presto tributo. Entendo que as citações de trechos maiores ou menores de obra estudada propiciam, àqueles que porventura desconhecem o escritor, o conhecimento prévio de excertos, mesmo que selecionados por olhar particularizado. A resenha unicamente voltada à erudição pode extinguir-se na erudição, sobretudo quando ela vem acompanhada de notas de rodapé. Mal acadêmico necessário que, se de um lado esclarece, sob outro ângulo é a ferramenta utilizada na Universidade para a insuspeição e, sob outro mais – tantas vezes a depender de secretas intenções individuais -, traduz a nefasta erudição estereotipada. A presença da obra nessas preciosas citações que seleciono, sem notas pois, corresponde ao caminhar de mãos dadas com o autor homenageado. Diria, sem qualquer empáfia, que a sensação é a do diálogo, ele a jorrar o ensinamento, eu a tentar transmitir o que foi captado. Magnus entenderia que esse olhar em direção à inserção de segmento tem a ver com a minha prática musical, quando o intérprete está perenemente a olhar, a ouvir, a sentir e a tocar o discurso musical. A frase do autor como presença constante.
No menu à direita do blog há, a partir de agora, o item Resenhas e Comentários. O leitor terá, ao nele clicar, a lista por ordem alfabética das obras resenhadas ou comentadas. Sempre haverá a possibilidade de uma busca junto às livrarias físicas ou virtuais, ou até aos alfarrabistas, quando de obras fora de catálogo. Contudo, convido o leitor a escrever-me, via contact do site, se obra difícil de ser encontrada tornar-se porventura inacessível.
Livros continuam a chegar pelas mãos de amigos ou pela minha própria curiosidade. Obras de passado remoto ou mais próximo, que jamais foram por mim visitadas, são a salvaguarda de um debruçar em que a esperança de autores ascendentes pode também ser a nossa. Faz entender que, como observava Miguel Torga, um texto sempre tem precedente, alguém que já pensou aquilo que tentamos traduzir, mesmo que sob outra tonalidade. Inconscientemente, somos parte de uma construção sem fim aparente. Este só chegará quando o homem encontrar sua cadência interior, antítese daquele que não se preocupa com os pósteros, com a leitura, tampouco com os valores humanísticos, mas insiste em seus anseios de ganância que levam à destruição da espécie humana, homeopaticamente. Temos de acreditar, ainda.

The post of this week is a list of all the books that I commented since the beginning of this blog in March 2007, including also those that I have considered for the epigraphs.