As Esperanças de um outro Polegar

A mente a guiar os atos das mãos.
Provérbio vietnamita

Pouparei o generoso leitor. Não exibirei as fotos da intervenção cirúrgica no meu polegar da mão direita, três dias após o recital no Instituto Dante Pazzanese. As da esquerda estão fixadas em blog anterior (vide Cirurgia da Mão – Rizartrose, 09/10/10). O problema também era o da Rizartrose.

A cirurgia do polegar esquerdo, realizada pelo ilustre cirurgião Prof. Dr. Heitor Ulson, alcançou os mais esperançosos resultados. Diria eu que, hoje, minha mão esquerda está como sempre, antes da evolução da Rizartrose que se instalou lentamente até o impasse. Só de lembrar que todas as minhas gravações no Exterior, desde 1995, foram precedidas por intensas doses de antiinflamatórios, causa-me estranha sensação. Se o polegar da mão esquerda está sem qualquer problema, o da direita, sobrecarregado neste último ano, trazia-me a presença diária da dor quando dos estudos pianísticos, pois, por instinto, levava-me à comparação. Sem as dores na região do polegar esquerdo, acentuaram-se – é mentalmente natural – os incômodos do polegar direito. Igualmente o recital do último dia 3, com obras de forte impacto, teve a tranquilizá-lo fortes doses de medicamentos. As radiografias, tiradas em meados de Maio, não deixavam dúvidas. O quadro atingira um limite e a cirurgia fazia-se necessária, sempre sob os cuidados do Dr. Heitor Ulson. Um pianista tem de pensar muitas vezes antes de escolher o cirurgião preciso. Lembro-me sempre, hoje com certa galhofa, de consulta realizada quando o mal estava a se instalar em meus polegares. “Especialista” em outra área aconselhou-me a parar com os recitais e as gravações. De maneira “segura” e sem rubor, observou: “O Sr. já tocou muito até hoje. Recolha-se e toque para si e para seus familiares”. Saí quase a correr ao ouvir vaticínio contra natura. E na realidade “especialistas” diariamente emitem diagnósticos que podem, até, ter consequências catastróficas.

A Rizartrose instala-se pouco a pouco. Sem contar fatores genéticos, na medida em que as causas não são abolidas, como o impacto dos dedos e dos polegares sobre o teclado em determinadas obras nas quais, in adendo, haja abertura excessiva das mãos, as cartilagens tendem à deterioração, e esse contato direto osso x osso torna o ato de tocar bem doloroso. O temor frente à primeira cirurgia, apesar de insistentes conselhos do Dr. Ulson desde a década de 90, fez-me sempre protelar a decisão. Os paliativos antiinflamatórios conseguiram “anestesiar” os polegares em desempenhos públicos e gravações que poderiam ser realizados em circunstâncias  muito dolorosas. Todavia, não utilizava medicamentos no dia a dia dos estudos pianísticos. Logicamente, outras são as gradações de intensidades, desde os sons menos intensos aos mais impactantes, durante o ato diário de tocar piano. Mas não houve um só dia, nesses 15 ou mais anos, em que a dor deixasse de ser minha “companheira”. E a decisão inalienável foi sempre adiada, até 2010. A recuperação total após a primeira cirurgia levar-me-ia à certeza da segunda.

Sentir segurança. No recital do dia 3 externei em público a minha convicção e confiança no cirurgião competente, presente ao evento. Doses fortes de antiinflamatório me dariam a efêmera garantia de não sentir dores durante a apresentação. E chegou o dia 6. Cirurgia delicada precedida de anestesia geral, mas a esperança como norte. Só de vislumbrar a ausência de poderosos medicamentos no futuro já é uma dádiva, sobretudo ao adentrar os 73 anos. Para este ano, as apresentações deverão privilegiar programas de menor impacto, pois seis meses são necessários para a plena recuperação. Todavia, riqueza repertorial permite a diversificação e a escolha, a depender das situações. A longa tournée em Portugal em Novembro deste ano terá, do compositor português nascido nos Açores, Francisco de Lacerda (1869-1934), as Trente-Six Histoires pour Amuser les Enfants d’un Artiste, com apresentação de datashow preparado pelo ilustre professor e musicólogo José Maria Pedrosa Cardoso e mais desenhos do excelente Luca Vitali. Dois compositores de grande mérito escreveram obras a homenagear o grande músico açoriano: Eurico Carrapatoso e François Servenière, e essas criações serão apresentadas em première.

Se no post mencionado apresentei fotos da cirurgia, no presente apenas flash das mãos, quinze dias após a intervenção. Cicatrizes: a recente e a de 2010, esta concernente ao polegar da mão esquerda. Para os instrumentistas ficaria o depoimento a respeito de solução que se pode dar ao problema. Que não aguardem três lustros, como o fiz, e que busquem orientação precisa, sem confundir reumatologista ou ortopedista, com cirurgião da mão,  especialistas em áreas distintas. Há casos que apenas a cirurgia resolve.

Ficaria sempre o meu agradecimento ao Dr. Heitor Ulson, Prof. Dr. do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNICAMP, Coordenador da àrea de Cirurgia da Mão e Ex-Presidente da Associação Brasileira de Cirurgia da Mão. Como bem dizia a minha legendária professora de piano em Paris entre os anos 1958-1962: “Nada resiste ao estudo e à competência”.

For many years I’ve been suffering from rhizarthrosis, a chronic and progressive wear of the cartilage of the joint at the base of the thumb. The extreme exposure of my hands during piano practice made the surgery unavoidable. Last year I was operated on the left hand, with excellent results. Two weeks ago, on the right hand, once again by the hand surgery specialist Dr. Heitor Ulson. This post Is an account of the surgery and the post-surgery treatment.