Quando Dias Turbulentos Exigem
Exija muito de ti mesmo e espere pouco dos outros.
Assim ficarás livre de muitos aborrecimentos.
Confúcio
Presenciando escândalos em fase de julgamento; ouvindo promessas impossíveis de serem cumpridas nesses momentos que antecedem as eleições, por todos os candidatos sem exceção; vivendo insegurança quase absoluta, o cidadão comum tem de buscar alívio. Uns o encontram junto aos familiares, outros nas profissões escolhidas amorosamente, outros mais em atividades diversas.
O post Saber Julgar despertou uma série de e-mails, alguns desesperançados, outros corajosos. De leitor assíduo recebi um texto pleno de histórico.
“Rezava” lenda urbana que um texto-poema teria sido deixado anonimamente na igreja Saint Paul, em Baltimore, em 1692, ano da construção do templo. Em data não precisa, um Pastor da igreja teria afixado esse escrito na Old Saint Paul’s Church e o “poema” divulgado e reeditado sem a assinatura do autor, o que significava o anonimato, mas com a data da construção da igreja ao alto. O nascimento da lenda teria nascido de um equívoco. Soube-se que o verdadeiro autor é Max Ehrmann (1872-1945), que escreveu o texto-poema em 1927, publicando-o em 1948 numa coletânea. Denominado Desiderata (plural do termo latino desideratum, ou seja, almejo, desejo) o poema ganhou enorme notoriedade distribuído em folhetos. Estes serviriam também à rede de contra-cultura entre os anos 1950-1970. O texto foi amplamente divulgado durante o movimento hippie dos anos 1960. Chegou até os nossos dias, já sem a aura lendária, depois da descoberta do autor, mas com intensa carga de mensagem espiritual laica. Possivelmente esse texto-poema não teria ultrapassado a barreira do tempo se o nome do escritor fosse divulgado. Sob outra égide, os frequentadores do templo não teriam verificado minimamente estilos literários do final do século XVII e o vigente na primeira metade do século XX nos U.S.A.
Que o texto mencionado não se confunda com a quantidade de outros escritos e livros que buscam apenas a auto-ajuda. Serviria esse “depoimento”, à maneira do If (Se), de Rudyard Kipling (1865-1936), lido durante gerações em reproduções com as mais distintas caligrafias, ornamentadas e emolduradas em milhares de casas pelo mundo, como um apelo do hipotético “bem”, neste nosso país que tem necessidade imperiosa de encontrar o caminho da moralidade político-empresarial.
Para a tradução busquei a fonte em inglês e várias versões em francês. Nestas, há inúmeras alterações de vocabulário que, sem alterar o sentido, friso, configuram possível atualização. Portanto, explico ao leitor que a versão ora apresentada é quase ad libitum, mas procura manter o sentido do texto original.
Permaneça calmo entre o alarido e a impaciência,
e lembre-se da paz que decorre do silêncio.
Se puder, mas sem renúncia,
viva em bons termos com todos.
Diga o que pensa serena e claramente
e ouça os outros,
tanto os simples de espírito como os ignorantes,
pois eles também têm sua história.
Evite os indivíduos grosseiros e violentos,
são eles tormentos para o espírito.
Não se compare aos outros,
pois, ao fazê-lo, haverá risco de amargor e de futilidade.
Sempre haverá alguém melhor ou pior do que você.
Alegre-se com o que já foi feito e com seus projetos futuros.
Ame sua profissão, mesmo que humilde;
ela é um bem precioso nesses tempos turbulentos.
Seja prudente nos negócios
nesse mundo pleno de hipocrisia.
Contudo, não fique cego à virtude existente.
Muitos lutam por um ideal
e dão mostras heróicas.
Seja autêntico sobretudo quanto aos afetos.
O amor é permanente como a relva,
portanto, fuja do cinismo que o envolve,
sinal de amargor no coração e desencanto.
Que a idade lhe traga sabedoria,
fazendo-o renunciar com serenidade aos tempos da juventude.
Esteja forte para enfrentar as desgraças repentinas,
mas não se destrua a partir de imaginação doentia.
Saiba que muitos medos nascem do cansaço e da solidão.
Afora uma disciplina salutar,
seja gentil consigo.
Você é filho do Universo,
assim como as árvores e as estrelas,
tendo, pois, o direito de integrá-lo.
Mesmo que a ideia não lhe pareça clara,
tudo se passa no Universo como está escrito.
Esteja em paz com o seu Deus,
seja qual for a imagem que dele você tenha.
Através de seu labor e aspirações,
apesar das vicissitudes da vida,
não deixe de estar em paz com a sua alma.
Falsidades, ingratidões e sonhos perdidos
não impedem que o mundo continue a ser maravilhoso.
Mantenha o bom humor. Lute para ser feliz.
An assiduous reader of my blog sent me a poem that, according to the common myth, was centuries old. Only in the seventies its authorship was definitely clarified: it had been written in 1927 by the American Max Ehrmann. This week’s post is a free translation of this prose poem, a reminder of how each of us should approach each day of our lives, preaching tolerance and peace on earth