Quando Afloram Homenagens

“Seigneur, disais-je, donnez-moi  la force de l’amour !
 Il est bâton noueux pour l’ascension de la montagne.
Faites-moi berger pour les conduire”.
Antoine de Saint-Exupéry  (Citadelle, CLXXXV)

Foram inúmeros os e-mails recebidos sobre o post do último dia 11, a homenagear a grande amiga Maria Isabel Oswald Monteiro, que partiu no dia 28 de Junho. Desta vez selecionei os enviados por três dos filhos de Maria Isabel, os de minhas filhas Maria Beatriz e Maria Fernanda, o do compositor francês François Servenière, fiel leitor de meus posts e que captou a magnitude da memorialista que foi a saudosa Maria Isabel, assim como o da competente pesquisadora, Profª Drª Susana Igayara, da Universidade de São Paulo,  uma das que receberia por parte da homenageada a acolhida generosa e atenta.

“Sem palavras!!!!!!! Texto justo e digno dessa linda e bela amizade que vocês dois construíram, e que você, com sua generosidade, hoje homenageia. Nessa grandeza você e Mamãe se reconheceram! Já incluí meus irmãos nessa mensagem, se me permite, vou divulgar junto a todos meus primos e amigos…. Muito emocionada me despeço e te agradeço por tão especial presente”.
Maria Clara Porto (Clarinha)

“A descriçao, seus momentos com ela, as palavras em seu blog para minha mãe foram como um raio de sol que invadiu meu coração! Obrigado por suas sinceras e tocantes palavras”!
Carlos Oswald Monteiro (Carlinhos)

“Somente hoje, de volta ao Rio de Janeiro, li seu texto sobre mamãe. É belíssimo, como era belíssima a amizade de vocês dois. Foram muitas as vezes que trocaram ideias, crenças em torno da música, pintura, gravura. Como mamãe adorava quando você chegava ao Rio. Mas não somente ela, mas papai também! De forma muito emocionada, agradeço a homenagem feita, expressa em texto de grande profundidade”.
Isabel Alice Oswald Monteiro Lelis (Belzinha)

“Que linda e justa a homenagem.
O artigo, as fotos que você escolheu. Parabéns, pai.
E comovente o que os filhos escreveram para você”.
Maria Beatriz Martins Lazzarini (Bê)

“Eu conhecia Maria Isabel apenas pelas elogiosas descrições de meu pai, até o momento em que tive a oportunidade de ir pela primeira vez ao Rio de Janeiro, hospedando-me em sua casa. Incrível anfitriã, de uma delicadeza e uma simplicidade que superavam os elogios tantas vezes ouvidos.
Era eu ainda uma adolescente e desconhecia muito o que ela dominava com primor, mas ainda assim ela se dirigia a mim com palavras que me faziam sentir como alguém de grande estima. Sua cultura era erudita, mas sua simplicidade e envolvimento com as demandas cotidianas revelavam grande equilíbrio. Tinha talento para os diversos domínios a que se dedicava, como artes, família, amigos e casa, sem que suspeitássemos quais as suas preferências. Havia cumplicidade entre ela e papai, perceptível na troca de olhares, na dedicação ao pesquisarem àquela altura a obra de Henrique Oswald, na compreensão, na amizade profunda que mantinham.
Me afeiçoei a ela e a toda a sua cativante família, em especial sua neta, Maria Cecília, com quem mantive amizade.
Tê-la conhecido foi um presente, assim como o foi constatar o resultado de sua dedicação à memória de sua talentosa família. Sua incansável colaboração com aqueles que continuaram sua luta – a exemplo de meu pai – fizeram dela uma mulher de grande valor”.
Maria Fernanda Martins Rosella (Fê)
 

“Primeiramente para dizer que é sempre mágico estar em contato com herdeiros de criadores como Henrique Oswald. O seu artigo me calou fundo, pois sabe você como sou admirador incondicional da obra do avô de Maria Isabel, como aliás escrevi em minhas Réflexions… E apreender que essa grande dama era igualmente filha do autor dos desenhos preliminares do Cristo Redentor, no Corcovado, foi para mim um choque suplementar, pois essa criação é  tão simbólica como a estátua da Liberdade ou a nossa Torre Eiffel. Há três obras modernas monumentais de amplitude universal em nosso planeta e ei-las mencionadas. Compreendo a vontade férrea de Maria Isabel de que uma placa fosse colocada ao pé do monumento, após o esquecimento oficial!!! Na realidade, isso ocorreria em qualquer lugar… Um homem político encomenda um monumento para a sua glória e se esquece do criador… Fenômeno histórico tão comum! Gostei imenso de todas fotos e retratos de uma mulher plena de humanidade, como você bem descreve em seu texto, afável e inspiradora, cultivada, talentosa e também tão propensa a ouvir e compreender os outros. Nessas fotos, aquela em que Regina está atrás de sua amiga em cadeira de rodas apresenta-se particularmente expressiva. Regina parece respirar a música que você toca, como em comunhão com o sublime. Se a obra interpretada é de Henrique Oswald, sofri o mesmo impacto ao ouvir tanto Il Neige, no post, como a Berceuse, esta no magnífico disco com o violinista Paul Klinck, pura maravilha. Comungo a perda imensa e, como você  bem diz, ‘os amigos se vão e a vida continua’. É assim, nós transmitimos a flama às gerações seguintes como as precedentes o fizeram, à maneira das corridas de revezamento que acabamos de assistir durante as Olimpíadas. Precisamos aceitar e viver a fundo os dias incríveis que nos são dados nessa Terra. O repouso virá quando não mais estivermos no planeta! Maria Isabel está hoje no paraíso dos músicos e pintores, como meu irmão Benoît, músico também”.
François Servenière

 “Seu texto-homenagem a Maria Isabel Oswald Monteiro fez com que eu rememorasse meu encontro com ela no Rio de Janeiro, na fase final de redação de minha dissertação de mestrado sobre a obra sacra coral de Henrique Oswald. E, ao rememorar esse encontro, coloquei-me a pensar em minha trajetória como pesquisadora e professora, nos temas para os quais me voltei e na importância de momentos como esses, que são oportunidades marcantes e definidoras para nossos caminhos e nossas escolhas.
Eu sou uma das pessoas que, generosamente, Maria Izabel recebeu e incentivou, atendendo ao seu pedido. Lembro-me perfeitamente daquele encontro, numa tarde ensolarada. Eu tinha dúvidas pontuais sobre as circunstâncias da composição de algumas obras, os dedicatários e, principalmente, sobre a relação entre Henrique Oswald e seu filho Alfredo, pianista que havia se tornado religioso. Eu imaginava que haveria uma ligação entre a produção de obras sacras e as atividades de Alfredo nos EUA. Nesse mesmo ateliê que você menciona, Maria Isabel permitiu que eu folheasse as cartas que Alfredo enviava para a família. É incrível como, ao ler alguns trechos, ao ver os desenhos que Alfredo fazia no papel finíssimo, eu começava a captar sua personalidade, seu humor (Maria Isabel comentava o quanto Alfredo era alegre). Aquelas cartas, entremeadas pela conversa com Maria Isabel, iam mostrando a força dos laços afetivos da família Oswald. Eis que, de repente, eu me deparo com uma das cartas que mencionava exatamente o que eu queria saber: Alfredo escrevia ao pai, em 1929, perguntando como estava a revisão da Missa, e se ele poderia tê-la logo. Com a permissão de Maria Isabel, transcrevi um pequeno trecho, que citei em minha dissertação, comentando ainda a importância desse conjunto documental.
Terminei minha dissertação em 2001, mas nunca mais abandonei o contato com a obra de Henrique Oswald, de quem falo com entusiasmo para algum aluno, todas as semanas. Um tema forte e verdadeiro fica para sempre! Sem dúvida, a divulgação da obra de Henrique Oswald deve muito à atitude constante dessa ‘guardiã da memória’, como dizem alguns estudiosos da relação entre memória e história.
Em 2011, terminei meu doutorado em História da Educação, voltado à produção escrita por mulheres sobre música. Mais uma vez, você estava na banca julgadora. E agora esse seu texto sobre Maria Isabel fez com que eu percebesse que, sem citá-la, ela está também refletida nesta última pesquisa que eu realizei, em que concluo que as mulheres tiveram um papel fundamental na preservação da memória das atividades, das personalidades, das práticas e dos repertórios musicais.
Maria Isabel realizou um grande trabalho como divulgadora e facilitadora de atividades artísticas e musicológicas, profunda conhecedora da vida e da obra de seus familiares artistas. Deixo aqui minhas homenagens e meu sincero agradecimento”.
Susana Igayara

A foto que ilustra o presente post foi tirada  durante nosso derradeiro encontro. O e-mail que recebi após nossa visita ficará guardado em minha mente e meu coração: “Quando você chegou aqui em casa e imediatamente abriu o piano, tocando duas músicas, a nossa querida ‘Il Neige’ e a ‘Berceuse’, a emoção tomou conta de mim. Ouvi-lo executar músicas de meu avô deixou-me sem fôlego. Cada nota foi valorizada e o som se espraiou doce e apaixonadamente por toda a sala. A gente chega a ficar parada para escutá-lo. Hoje te digo, não penso em outra coisa. Na alegria de sua visita, da Regina e sua neta Isabel. Penso que Deus é muito bom por ter permitido vê-lo novamente e ouvi-lo, espalhando seu talento, que é uma dádiva. Parabéns, Zé, por espalhar alegria e beleza por onde anda e obrigada por ser o musicista que você é”. Eu que sou grato  pela ventura de um dia, no longínquo 1978, ter conhecido figura tão especial, que marcaria decididamente a minha vida.

Clique para ouvir, de Henrique Oswald, a Berceuse Op.04 n.04, com J.E.M. ao piano. Gravação realizada na Bélgica.

My post on Maria Isabel Oswald Monteiro received much feedback. This week’s post is a selection of e-mails received, all expressing admiration for our friendship and for the remarkable woman she was.