Justo Tributo a Henrique Oswald
Como tudo é possível,
ousemos fazer rumo ao impossível.
Agostinho da Silva
Em reiterados posts tenho louvado a qualidade de “Glosas”, revista portuguesa sobre música (MPMP – Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa). Criada pelo jovem e talentoso musicólogo Edward Luiz Ayres d’Abreu, chega ao número 9 com ampliações de seus propósitos iniciais e, pela primeira vez, tem como núcleo temático um músico brasileiro, o ilustre compositor Henrique Oswald (1852-1931).
Um caminho bem estruturado e conduzido com cuidado e competência levou Edward Luiz Ayres d’Abreu a ampliar o olhar do território português às fronteiras mais longínquas, onde traços fundamentais da língua e da cultura portuguesas como um todo pudessem ser encontrados. “Glosa” criou núcleos para sedimentar essa outra conquista lusíada a partir de Lisboa. Acredito que estamos diante de publicação voltada à divulgação musical que não encontra similar à altura nos países de língua portuguesa. “Glosas” tem como público alvo músicos, investigadores em música, compositores, intérpretes, teóricos e melômanos. A qualidade dos colaboradores comprova a credibilidade dos artigos assinados. Sob outro aspecto, tudo o que está a se relacionar com repertórios afins, integrando o propósito fundamental de divulgar o universo musical dos países em que a língua é marco de união, pouco a pouco vai encontrando espaços em “Glosas”.
O ambicioso projeto dimensiona a universalidade através do Conselho Científico Lusófono, constituído por três núcleos: africano e asiático, brasileiro e português. Do Brasil fazem parte, por ordem alfabética, José Eduardo Martins, Paulo Castagna, Ricardo Tacuchian e Susana Igayara. Após consultas, “Glosas” inclinou-se a homenagear no presente número nosso mais importante compositor romântico, Henrique Oswald (1852-1931). Não apenas reservou-lhe a capa, com bela foto do músico tirada no início do século XX, como destinou-lhe segmento capital da revista, num justo tributo ao compositor. Temas diversos são abordados, destacando vida e obra do autor de Il Neige! Pela ordem: “Henrique Oswald e o sopro romântico” (José Eduardo Martins), “Henrique Oswald e a música vocal” (Susana Igayara), “Por que foi esquecido Henrique Oswald?” (Ricardo Tacuchian), “O inusitado da fé na vida de um músico: o caso de Alfredo Oswald” (José Francisco Bannwart) e “Música” (texto de Cristina Carvalho, desenho de Manuel San-Payo). Iconografia pertinente ilustra o núcleo dedicado ao músico brasileiro. No segmento “Rubricas”, em “Ecos d’além-mar”, página permanente que mantenho em “Glosas” e que muito me honra, escrevi sobre a relação de amizade entre Henrique Oswald e o notável pianista, compositor e professor português Viana da Mota (1868-1948).
Outros temas de profundo interesse estão presentes em “Glosas” nº 9. Nos Cadernos de Musicologia temos “Polifonia na Sé de Angra: O Liber Missarum de Duarte Lobo” (Luís Henriques).
No item Entrevistas salientem-se “No quintal de Almeida Prado: o compositor retratado por sua família” (Helen Gallo); “Dois dedos de prosa com o maestro Cláudio Cohen” (Edward Luiz Ayres d’Abreu). Em Efemérides, destaque para “Nos 200 anos de Manoel Dias de Oliveira – ou as memórias de Verônica” (Flávia Camargo Toni) e “A Symphonia Camoneana de Ruy Coelho: um centenário despercebido” (Edward Luiz Ayres d’Abreu).
No compartimento “Rubricas”, “Glosas” apresenta diversificação: “Compositor a descobrir / José Avelino Canongia (1784-1842)” (Luís Carvalho), “Glosando: a convite de glosas, uma peça inédita / Postal a Verdi” (Alexandre Delgado), “Apontamentos em torno de música e transdisciplinaridade” (Patrícia Sucena de Almeida), “Notas de Passagem” (Fernando Lapa), “Laboratório de iconografia musical” (Luzia Rocha), “Ecos d’além-mar” (José Eduardo Martins), “Coisas em que tropeço” (Sílvia Sequeira).
Tem-se ainda “L’Ippolito de Francisco António de Almeida” (Miguel Jalôto), resenhas de livros e CDs. Como destaque final ou inicial, saliente-se a crônica sempre arguta e a agenda cuidadosa escrita e elaborada por Manuela Paraíso.
O lançamento de Glosas dar-se-á no próximo dia 28 de Setembro, às 17 horas, no Palácio da Foz em Lisboa. Num concerto inteiramente dedicado a Henrique Oswald, apresentaremos a integral para violoncelo e piano, o Poemetto Lirico Ofelia para mezzo-soprano e piano e três peças para piano solo: Il Neige!, Estudo (1897) e a Valse-Caprice op. 11 nº 1. Alguns dias antes estarei em Lisboa para ensaiar com os competentes Nuno Cardoso e Rita Morão Tavares. Como curiosidade, lembro ao leitor que, aos 28 de Fevereiro de 1982, apresentei-me no Grêmio Literário de Lisboa, interpretando unicamente composições de Henrique Oswald para piano solo. No salão nobre da tradicional instituição, fundada em 1846, estavam presentes o ex-presidente Jânio Quadros e esposa, o Embaixador Dário Castro Alves e sua esposa, a escritora Dinah Silveira de Queiroz, ilustres músicos portugueses, assim como membros do corpo diplomático da Europa e da África. Era a primeira vez que um concerto em homenagem a Henrique Oswald realizava-se em Portugal. O crítico Humberto D’Ávila, do “Diário de Notícias”, saudou, surpreso, o ineditismo e a qualidade das obras. O que virá, 31 anos após, será a evidência do grande camerista que foi o compositor brasileiro. Voltaremos ao tema.
This post is about issue nº 9 of Glosas, the authoritative voice of classical music that is the only one to cover all the countries united by the Portuguese language. The upcoming issue is very special, since a large segment – including the cover – is dedicated to the Brazilian composer Henrique Oswald (1852-1931). The official launch of Glosas nº 9 will be next September 28 at Palácio da Foz, in Lisbon. On the occasion, a concert entirely with works by Henrique Oswald will be presented with Nuno Cardoso (cello), Rita Morão Tavares (mezzo-soprano) and myself (piano).
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