Navegando Posts publicados em maio, 2014

Edição Brasileira de Livro Lançado em Coimbra

As agências internacionais de concertos
apoderaram-se inteiramente da nossa vida musical,
onde colocam (por vezes a peso de ouro) o êxito acumulado do “centro”.
E nem sequer passa pela cabeça das instituições e dos seus “programadores”
que Brasil e Portugal, juntos,
bem podiam criar uma nova dinâmica de efectivo intercâmbio
que se projectasse não só no espaço cultural luso-brasileiro, mas também fora dele.
O mesmo se passa do outro lado do Atlântico,
onde o repertório e a programação
revelam notório desinteresse por compositores e intérpretes portugueses.
Mário Vieira de Carvalho
(Prefácio:  A Jangada de Pedra)
Cascais, 26 de Fevereiro de 2011

Confesso que me comoveu a acolhida que a Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) deu ao meu livro editado em 2011 pela Imprensa da Universidade de Coimbra (IUC). Tendo-se esgotada a edição promovida pela lendária universidade portuguesa, o lançamento da obra no Brasil é motivo a mais para uma aproximação entre duas culturas musicais que pouco interagem. Para a edição brasileira conservou-se o prefácio do insigne professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, Mário Vieira de Carvalho, e houve a necessidade de determinadas adaptações ortográficas de meus textos que, na realidade, minimamente intervêm no todo do livro. Sob aspecto outro, capa e contracapa tiveram nova apresentação. A presente edição mantém CD com obras escolhidas de notáveis compositores portugueses: Carlos Seixas, Francisco de Lacerda, Fernando Lopes-Graça e Jorge Peixinho. Gravei-as na Bélgica, Portugal e Bulgária para diversos selos.

Concerto – guia mensal de música clássica -, em sua edição de Maio, publica artigo do ilustre maestro e membro da Academia Paulista de Letras, Júlio Medaglia, sobre o livro e apresenta em um box pequeno trecho de meu texto de abertura. Transcrevo-os para o leitor.

Júlio Medaglia em Atrás da Pauta, coluna mensal do maestro, escreve: “Sentados ao computador, dando tratos à bola para encontrar temas para meu programa de fim de tarde na Rádio Cultura, ocorreu-me o nome de um compositor português pouco lembrado e tocado: Frei Jacinto. É que toda sua obra, com raríssimas exceções, foi destruída no terremoto de Lisboa de 1755 – ele teria nascido em 1712. Entrei no YouTube e encontrei uma Sonata em ré menor para cravo. Fiquei boquiaberto. A composição possui qualidade técnica, ousadia e beleza comparáveis às de qualquer das suítes de Bach para o instrumento. Procurei, então, mais informações a respeito, mas os dados que encontrei eram os mesmos que eu já tinha. Numa reação de fazer, talvez, um ‘mea culpa’ no sentido de encontrar outros autores da Santa Terrinha, possivelmente também menosprezados pela história ou intérpretes, iniciei uma busca de dados sobre a música portuguesa. Sempre soubemos do elevado interesse e do alto nível musical da corte daquele país. E o Brasil se beneficiou com isso. Desde meados do século XVIII, praticava-se nesta colônia extrativista, muito distante da ‘civilização europeia’, a mais sofisticada música clássica, feita, aliás, por nativos, negros e mulatos, escravos ou alforriados. O próprio D. João VI, no dia que aqui chegou, levou um susto ao assistir à execução de uma obra de um padre, filho de escravos, um ‘Haydn negro’ de nível internacional.

Como por encanto, porém, naquele momento chegava à minha casa, não pela internet, mas pelo correio, um precioso livro de estudos escrito pelo nosso grande pianista José Eduardo Martins: Impressões sobre a Música Portuguesa, editado pelas Universidades de São Paulo e de Coimbra.

Há décadas acompanho e admiro o trabalho de José Eduardo, um dos raros instrumentistas deste país que vê a música como parte de um rico e complexo emaranhado cultural, e não como um simples malabarismo ao teclado (*). Cada vez que recebo uma notícia dele é sempre uma agradável surpresa. Seja um estudo musicológico, seja uma nova gravação entre as mais de duas dezenas (seis só de música portuguesa) por ele realizadas aqui, em Portugal, na Bélgica, na Bulgária ou sei lá onde, José Eduardo contribui sobremaneira para a dilatação da cultura e da literatura musical em nosso país em elevado e consciente nível profissional.

Impressões sobre a Música Portuguesa, que está sendo lançado neste mês pela Edusp, oferece um panorama abrangente da criação musical em Portugal. Apoiado em quatro colunas mestras da criação, ele abre o leque de análise para os mais variados assuntos, composicionais, interpretativos, históricos ou profissionais, em um resultado das 49 viagens de pesquisas e atuação pianística do autor naquela vida musical. Impressiona a densidade dos estudos de obras e características de interpretação como Carlos Seixas, Scarlatti português e mais importante compositor barroco daquele país; Francisco de Lacerda, impressionista amigo íntimo de Debussy; Fernando Lopes-Graça, o maior compositor português do século XX, plenamente integrado na estética contemporânea e ao mesmo tempo preocupado com a ação social da música, o que lhe valeu sérias dificuldades em seu país, tantos anos sob regimes ditatoriais; e Jorge Peixinho, que se envolveu com as vanguardas do final do século XX, particularmente as da Neue Musik, dos dodecafonismos aos aleatorismos de então.

E para que a enxurrada de informações não fique só nos textos, a edição traz também um CD com obras dos compositores analisados, interpretados pelo próprio José Eduardo Martins.

Esta publicação vai contribuir decisivamente para que intérpretes e estudiosos revejam e ampliem relações com a rica vida musical portuguesa, que, apesar de nossa relação umbilical com aquele país, nunca foi devidamente cultivada.

(*) Leia também J.E.Martins, un pianiste brésilien, coleção de entrevistas que resumem suas ideias (série Témoignages nº 4), publicação da Universidade Sorbonne de Paris”.

Gentilmente, Júlio Medaglia selecionou trecho do livro, que insiro neste espaço:

“O relacionamento de um músico com a panorâmica musical de uma nação pode ser estabelecido através das mais diversas vertentes: a admiração pelas culturas de um povo, motivada por estágio curto ou prolongado, mas impregnante pela intensidade; laços que ratificam o genético e o atávico; apreensão espontânea, muitas vezes independendo da presença física do estudioso; idealização de um modelo cultural, a emergir em determinado momento, movido pelas mais variadas causas. Seriam estas, basicamente, as amarras para que haja a relação.

Os 75 anos de existência permitem a liberdade da revisão parcial, do olhar o passado, de relembrar trajetórias, a fim de buscar melhor entender o porquê de uma ligação amorosa com personagens de uma nação e com a geografia acarinhada de um país. Essa promenade física, musical e espiritual levar-me-ia a captar tenuemente parcelas das culturas de Portugal. Poder-se-ia mencionar, como estímulo maior, sempre, a sanguinidade, a carregar consigo moléculas essenciais às aproximações posteriores”.

“Impressões sobre a música portuguesa” será lançado na Livraria da Vila (al.Lorena, 1731, São Paulo, dia 13 de Maio, às 18h30, precedido por debate em torno do livro entre o maestro Júlio Medaglia e o autor. Seria um prazer enorme contar com a presença de leitores que têm acompanhado meus posts ininterruptos desde Março de 2007.

Abaixo, seleção de faixas do CD que acompanha o livro, com José Eduardo Martin ao piano. Clique para ouvir.

On the release of my book “Impressões sobre a Música Portuguesa” (Impressions on Portuguese Music), originally published by Coimbra University Press and now being released by São Paulo University Press. The launch of the book will be on May 13, preceded by a discussion mediated by conductor Julio Medaglia.

 

 

Temas Esclarecedores

A vida de Debussy não tem nada de romanesco:
é aquela de um criador que sacrificou quase tudo por sua obra.
François Lesure

É comum a reunião de artigos apresentados em congressos, seminários e colóquios em formatações variadas, livros, revistas e online. Sempre me posicionei a respeito da qualidade homogênea desses trabalhos. É difícil mantê-la. Se estudos de grande importância são publicados, escritos por autênticos especialistas, há aqueles que, aceitos, denotam a índole carreirista daquele que escreve, não sendo difícil apreender intenções. Infelizmente, essa prática faz parte do todo. A depender da respeitabilidade internacional dos organizadores, resultados relevantes serão alcançados.

Comemorou-se em 2012 o sesquicentenário de nascimento de Claude Debussy. Um colóquio foi realizado em Paris e reuniu cerca de quarenta estudiosos. “Regards sur Debussy” (France, Fayard, 2013), sob a direção das competentes Myriam Chimènes e Alexandra Laederich, traz à público a maioria das contribuições apresentadas durante o colóquio. O prefácio substancioso de Pierre Boulez evidencia seu compromisso, desde o aprendizado, com a obra de Debussy. Estuda-a profundamente. “Quando analisamos o estilo harmônico de Debussy, há muito a se descobrir e é a partir desse momento que eu fiz minhas descobertas”. Entendeu sempre Debussy como o “único músico francês verdadeiramente universal”. Tem interesse a observação de Pierre Boulez sobre obras distanciadas de mais de uma década, pois “não discirno o que liga conceitualmente obras como Hommage à Rameau e as três últimas Sonates“. Para ele, Hommage à Rameau (2ª peça do 1º caderno de Images para piano- 1904) é “puramente Debussy”, sendo que “as Sonatas são mais curtas, mais concentradas”. A introdução estaria reservada a Myriam Chimènes e a Alexandra Laederich, aquela, secretária geral do Centre de documentation Claude Debussy, membro do comité de redação dos Cahiers Debussy e do comité científico da Edição crítica das obras completas de Debussy; esta, conservadora do Centre de Documentation Claude Debussy, membro do comité de redação dos Cahiers Debussy e responsável pela coleção fac-similada de manuscritos de Debussy editados pelo Centre de documentation Claude Debussy. Discorrem sumariamente sobre cada artigo publicado e evidenciam a unidade que buscaram encontrar.

A literatura sobre o compositor francês Claude Debussy é substanciosa e, em mais de um século de estudos, tem apresentado constantemente caminhos novos, discussões enriquecedoras a respeito de temas já conhecidos e ratificação mais encorpada de estudos realizados ao longo dos decênios.

A leitura de “Regards sur Debussy” é de grande interesse, pois o livro está subdividido em seções, a abordar aspectos fulcrais para a compreensão da criação de Claude Debussy. Política e Literatura, Teatro e Melodias, Interpretações, Pensar a Composição, Recepção e Herança abrigam os muitos artigos pertinentes. Devido ao espaço a que me proponho para o post semanal, pormenorizar-me-ei em alguns, que estariam mais próximos à minha área de estudos relacionados a Debussy.

Em “Debussy en Grande Guerre”, Annette Becker aborda o período crucial na vida do compositor. À doença fatal desse período soma-se a 1ª Grande Guerra (1914-1918). A correspondência de Debussy é reveladora e, à medida que obras da maior importância vão sendo criadas, frases do compositor não deixam dúvidas sobre seu estado de espírito. A articulista apreende a tragédia que se abaterá sobre Debussy. Tempos difíceis para a França submetida ao racionamento, o que não impede certa ironia do compositor, que reclama da  “falta de munições, ou seja, falta de papel para escrever música”, ou a menção a seu piano alemão Bechstein como presa de guerra, que precisa ser afinado para estar “em condições de soar à francesa”. A leitura e interpretação dessa rica correspondência em período crítico, físico e mental, corrobora o entendimento da feitura de obras essenciais, como as três Sonates, En Blanc et Noir para dois pianos e, sobretudo, os 12 Études, obra maior para piano de Debussy e fundamental na literatura pianística universal.

Debussy mostrar-se-ia discreto frente aos primeiros passos da indústria gramofônica. Data de 1904 sua primeira incursão. Apesar da precariedade da aparelhagem do início do século XX, é possível, através das gravações realizadas por Debussy ou de intérpretes que com ele conviveram,  apreender essencialidades voltadas à interpretação. Em artigo que escrevi para os “Cahiers Debussy” (“La technique pianistique et les doigtés dans les Études”. Paris, Centre de Documentation Claude Debussy, nº 19, 1995) salientei a facilidade que Debussy apresentava frente à técnica das mãos alternadas, focalizando Gradus ad Parnasum, da suíte Children’s Corner, quando o pianista compositor “dispara” do compasso 57 até o final en animant peu à peu, que apresenta desenho repartido entre as mãos nas proporções 3/1 e 2/2 (nº de notas para cada mão). O processo alternado é típico entre pianistas que improvisam e Debussy sabia fazê-lo. Revela esse registro fonográfico qualidades pianísticas do compositor. Quatro artigos, assinados por Élizabeth Giuliani, David Grayson, Roy Howat e Mylène Dubiau-Feuillerac, captam diversos aspectos relativos às gravações primevas da obra de Debussy. Temos desde a abordagem histórica à observação auditiva através de Debussy pianista e a primeira intérprete da ópera Pélleas et Mélisande, Mary Garden. Nesse quesito, Roy Howat (“Les enregistrements historiques des mélodies de Debussy”) estabelece interessantes parâmetros, que fazem melhor entender como o compositor realizava musicalmente determinadas frases musicais juntamente com Mary Garden. Sob outra égide, Élizabeth Giuliani (“Debussy et le disque”) enumera com acuidade desde as primeiras gravações da obra de Debussy, passando pelas 78 rotações, long plays e as mais recentes, tendo as revistas discográficas ajudado a “santificar” (segundo ela) certos intérpretes consagrados. Mencionando a discografia catalogada por Margaret Cobb, chama a atenção que, de 1309 gravações, 512 referem-se à obra para piano. E nem contemos as tantas gravações com obras de Debussy interpretadas por músicos notáveis, mas que não são mediáticos, lançadas por selos representativos, mas menores. Tema recorrente, pois menciono o fato em posts bem anteriores.

O artigo de Marie Duchêne-Thégarid e Diane Fanjul tem interesse a partir de uma reavaliação que pode ser feita da tradição interpretativa da obra de Debussy para piano “estabelecida” pelo Conservatório de Paris de 1920 a 1960. As autoras estariam preocupadas na maneira como alguns intérpretes-professores de renome, que receberam, direta ou indiretamente, conselhos do compositor, transmitiram a tradição nas salas do Conservatório. Sob aspecto outro, houve período em que as criações de Debussy, salvo as conhecidíssimas do público, não fizeram parte dos programas da famosa Escola, em parte pelo “desconhecimento” de alguns mestres quanto às novas conquistas estabelecidas por Debussy, que se mostravam diferenciadas frente ao vade mecum do repertório tradicional.

Paolo Dal Molin se debruça sobre tema fundamental, os esboços das últimas obras. Menciona frase do saudoso François Lesure: “Debussy só iniciava a composição de uma obra quando a tinha por inteiro em sua cabeça, e sem nenhum auxílio instrumental. No entanto, o tempo da incubação mental… era habitualmente muito longo…”. Dal Molin estabelece a relação entre o esboço e a definição de uma obra e incontáveis exemplos dão conta do preciosismo do compositor quanto à elaboração de uma criação. Estou a me lembrar de que os esboços autógrafos dos Études para piano de Debussy foram-me fundamentais para a gravação que realizei em 2005 para o selo belga De Rode Pomp. Sob outro aspecto, Debussy sugere aos intérpretes a busca dos dedilhados, como faziam os cravistas franceses do século XVIII, daí não ter colocado qualquer indicação a esse respeito na edição impressa pela Durand, advertindo com certa ironia no prefácio: cherchons nos doigtés. Contudo, pouquíssimas indicações quanto a esse mister podem ser encontradas nos esboços (Claude Debussy. Études pour le piano – Fac-simile des esquisses autographes (1915). Genève, Minkoff, 1989). Voltando ao artigo de Dal Molin, este adverte que a publicação facsimilada de uma obra esboçada de Debussy tem também a força de ser  “considerada como testemunho de um processo de composição que pode ser complexo”. Creio que o artigo em questão é um dos mais substantivos de “Regards sur Debussy”.

Richard Langham Smith apresenta tema de enorme importância, “L’art de Préluder. Quelques questions de taxonomie chez Debussy”. O autor busca entender títulos empregados pelo compositor em suas obras. Taxonomia, a parte da gramática que se preocupa com a classificação das palavras, adequa-se às preocupações de Langham Smith. Curiosa a resposta de Debussy a uma pergunta sobre o significado de uma de suas mais conhecidas criações para piano, L’Isle Joyeuse: “Se perguntássemos a François Couperin sobre Les barricades mystérieuses – uma de suas mais adoráveis peças para cravo – o que ele teria respondido”? Langham Smith classifica os títulos debussynianos, sentindo aqueles que “por vezes ambíguos, necessitam para a compreensão de um conhecimento do contexto, como Voiles, Bruyères ou Brouillards. Há outros em que seria necessário buscar um poema, um evento ou um lugar: La Cathédrale engloutie, La Puerta de Vino e, sobretudo, La Fille aux Cheveux de Lin“. O articulista preocupa-se com a ligação desses títulos sugestivos a poetas como Leconte de Lisle, Théodore de Banville e, principalmente, Stéphane Mallarmé. Traça comparações de interesse entre Diane au bois e Prélude à l’après midi d’un faune, esta uma das mais célebres obras de Debussy.

Sempre que me deparo com a palavra reavaliação histórica busco entendê-la com precauções necessárias, mas sem parti pris. Julien Dubruque e Jean-Claire Vançon, em “Pour une réevaluation critique du ramisme de Debussy”, estendem-se, durante todo o bem documentado artigo, sobre os escritos de Debussy em que Rameau é citado e mais o contexto musical ao qual estariam acoplados. Não me parece minimamente difícil perceber nítida idiossincrasia dos autores por Jean-Philippe Rameau. Já de início mencionam artigo de Anya Suschitzky (2002) em que a estudiosa afirma ter sido Debussy “o ‘ramista’ mais entusiasta de sua geração”. Antolha-se-me que os autores “interpretam” todas as menções de Debussy, buscando adequá-las ao “pré-julgamento”. Essa prática, aliás, pode ser aplicada a qualquer criador do passado, em qualquer área do conhecimento, a depender das intenções de “pesquisadores”.

François Anselmini aborda tema que sempre despertou interesse, “Incarner le génie français – Alfred Cortot et Claude Debussy”. Percorre desde um certo mal estar de Debussy frente ao então jovem pianista e regente, admirador confesso do repertório alemão, até uma aproximação maior e, por fim, o grande contributo do pianista nas décadas após a morte do compositor, não apenas apresentando, mas a gravar na excelência interpretativa algumas de suas mais importantes criações.

“Regards sur Debussy” têm um dedicatário, François Lesure, que foi diretor do departamento de Música da Bibliothèque Nationale de 1970 até sua aposentadoria, autor de livros referenciais sobre Debussy e, consensualmente, o nome mais expressivo entre seus especialistas da segunda metade do século XX. Após enumerarem com precisão o contributo extraordinário do notável musicólogo, de 1962 até sua morte em 2001, Myriam Chimènes e Alexandra Laederich finalizam: “Felizes beneficiários dos caminhos que ele abriu, todos os debussistas são hoje devedores a François Lesure, legitimando a homenagem que este livro lhe tributa”. De minha parte, tenho a maior gratidão pelo ilustre e saudoso amigo que, de 1981 até sua morte, jamais deixou de me dar incentivo, tanto para os vários artigos que escrevi para os “Cahiers Debussy”, como a prefaciar meus CDs contendo obras de Francisco de Lacerda e Debussy e a integral para cravo – executada ao piano – de Jean-Philippe Rameau, divulgados pelo selo De Rode Pomp da Bélgica. Convidou-me para seminários na École Pratique des Hautes Études e esteve por três vezes no Brasil, sendo que a última a participar de júri de um dos concursos a que me submeti na Universidade de São Paulo, que teve como tema “O idiomático técnico-pianístico na obra de Claude Debussy”. Merecidíssima a homenagem prestada pelas diretoras de “Regards sur Debussy”.

In 2012, a symposium was held in Paris, celebrating the 150th anniversary of Debussy’s birth. Some of the works presented were gathered in the book “Regards sur Debussy”, a collection of writings by different authors, each one addressing different aspects of the French composer’s work and life. Under the direction of Myriam Chimènes and Alexandra Laederich, respectively General Secretary and Curator of the Centre de Documentation Claude Debussy, the book was dedicated to the memory of its founder, musicologist François Lesure. In this post I give my views on some of the articles. For reasons of space, it was impossible to address all of them.