Navegando Posts publicados em setembro, 2015

Desdobramentos

Sou como bandeira de longe agitada.
Pressinto os ventos a vir, e devo dar-lhes vida.
Enquanto embaixo nada se mexe ainda:
As portas se cerram, suaves e nas chaminés há calma:
As janelas sequer tremem e a poeira ainda assenta.

Então súbito percebo as tormentas e como o mar me excito,
Me estendo e me enrolo pendente,
Lanço-me e estou só totalmente
Na grande tormenta
.
Rainer Maria Rilke

O post precedente teve competente recepção, a partir da epígrafe de Rainer Maria Rilke (1875-1926), que me foi enviada pelo professor de Ciência da Comunicação da USP, Gildo Magalhães. O poema, adequado ao post anterior, é-o também para o presente. Magalhães traduziu-o.

O momento único por que estamos a passar, com  o último ex-presidente muito mais altissonante do que a atual detentora do poder, é prova inconteste da nau sem rumo. A presidente, a acatar nos bastidores sucessivos aconselhamentos que emanam de seu criador, evidencia com clareza que não é líder, trazendo ao cidadão comum – esse que tenho auscultado – a nítida certeza de fraqueza que se traduz, obviamente, num governo acéfalo. O semblante da senhora mandatária tem-se mostrado mais do que nunca cerrado e sombrio. As imagens televisivas e as fotos não mentem. Quanto ao último ex, tornam-se patéticas e desesperantes suas manobras para não naufragar.

São de François Servenière, sempre atento pensador e compositor de mérito, observações argutas que perpassam o tema, mas se aprofundam na interpretação do termo pofiguismo, trazido das entranhas da Sibéria para o Ocidente  por Sylvain Tesson em seus livros. Interpretei o termo, associando-o à nossa realidade, após observar e arguir inúmeros cidadãos comuns de todas as camadas sociais. Entendi como oportuna a inserção das considerações do notável músico, que me tem honrado com seus comentários hebdomadários.

“Sou como você, adoro Dostoïevsky e pelas mesmas razões. Os títulos que me marcaram mais foram O Idiota, leitura universal, e Crime e Castigo. Nos anos 1980 li Soljenitsyne e confesso-lhe que sou naturalmente mais atraído pela literatura e a música russa do que pela francesa.

Também adoro o termo pofiguismo, ‘resignação alegre, desesperada frente ao que virá’, segundo Sylvain Tesson. Creio, contudo, que o termo é ontologicamente eslavo e oriental – Inch’Allah – e encontra sua origem semântica nesses territórios imensos e na impossibilidade para o humano de se projetar em direção a um horizonte controlável. A Terra tem infinitas terras geladas e desertos áridos intransponíveis. Ilustres geógrafos nos ensinam que a mentalidade de um povo estará sempre ligada à ontologia de seu território. As ideologias que dela se inspiram têm as mesmas lógicas, o mesmo DNA. Reconhecemos nessa acepção a fatalidade bem oriental que encontramos no Islã e nos habitantes do Leste. Na Europa Ocidental, avançamos em direção ao oceano, a resultar na vontade de ultrapassar o imaginário e a realidade, desejo inscrito, aliás, em nosso  gene, a decorrer o otimismo na perspectiva de um melhor horizonte. Avançar em direção a uma nova fronteira faz parte do cerne do pensamento do ocidente europeu, que conquistou numerosos territórios graças à mentalidade ligada à geografia de ponta lançada no oceano.

Observe a história e os principais países colonizadores da Terra: Inglaterra, França, Portugal, Espanha… Bem anteriormente, os Homens do Norte, Normandos escandinavos. Mais do que o atrelamento à nossa mentalidade, há nosso pensamento geográfico, que pensa sempre além dos limites dessa linha sobre o mar. Não por acaso terem sido os descendentes desses povos europeus aqueles que tiveram a vontade primeira de se ‘aventurar’ fora da Terra em direção ao espaço, a partir de Jules Verne. Os orientais teriam sido incapazes. Seria bem isso que eles nos condenam hoje, mesmo que inconscientemente. Seria notória sua incapacidade de se projetar fora desse território findo. Sob outra égide, diria que é bem mais simples atravessar o mundo pela via marítima do que por terra. Os nômades aquáticos foram bem mais longe, física e mentalmente, do que os nômades terrestres, pois as terras novas retêm  mais rapidamente seu homem. Sabe-se hoje que, ao longo do Danúbio, o avanço dos povos a pé foi feito na proporção de 25km por geração, não mais… Na vontade insaciável de um mundo melhor, desde que o homem encontrasse uma terra melhor ou mais fértil, ele fincava raízes. A terra emergida impediu-o de avançar rapidamente, por comodidade. Para que ir mais longe se tudo está bem onde me fixei?”. Apenas para lembrar ao ilustre amigo Servenière, não fosse a intrepidez, a volúpia, a coragem, mas também o espírito aventureiro, por vezes com escusos propósitos, das Bandeiras conduzidas pelos bandeirantes rumo ao oeste, não teria o Brasil suas extensas fronteiras.

Continua Servenière: “O mar causou efeito inverso sobre o cérebro humano. O imenso vazio oceânico, apesar de vida intensa em suas águas, levou o homem, mercê do aperfeiçoamento dos meios de navegação, a destinos desconhecidos. O temor e a angústia do soçobrar no vazio não impediram as aventuras. Quanto à Terra, é ela concreta e o mar, abstrato.

Creio que a natureza nos torna o que somos. Você escreve sobre o fatalismo do povo brasileiro frente à corrupção. Tenho lido a respeito e sobre os baixíssimos índices de popularidade da presidente. Você associa esse fatalismo em seu país ao termo  pofiguismo, proposto por Tesson. De meu lado, acredito nessa pujança da natureza que impõe ao homem sua maneira de pensar. Habitantes das estepes siberianas, da Ásia Central e dos desertos gelados ou tórridos teriam o mesmo fatalismo que deva existir naqueles das florestas exuberantes do Brasil. A natureza sempre será superior. Na Europa ocidental sabemos domar a natureza, pois ela é menos pujante, mais dócil, mais maleável às mãos do homem. Penso que essa perspectiva geográfica explica muito as diferenças das mentalidades, tanto terrestres como marítimas. Pelo menos, assim entendo” (tradução: JEM).

Quanto à nossa floresta amazônica, a tragédia está a se abater sobre ela, arrastada atualmente, em tantas áreas, por correntes que chegam a derrubar numa só cartada inúmeras árvores centenárias, sem que essa ação seja exemplarmente punida. Acrescente-se, como exemplos, duas outras tragédias, a do Mar de Aral, hoje com pouco mais de 10% de sua capacidade, em virtude dos planos insanos da ex-URSS; a que se abaterá sobre as populações ribeirinhas às margens do sofrido leito do São Francisco nessa “planejada” transposição do rio, o que tornará  esses povos tão indefesos como aqueles do agonizante Mar de Aral. Evidências de que o MAL, originário dessas catástrofes alhures e em nosso solo, advém da corrupção. Numa outra esfera corruptiva, Mensalão e Petrolão exemplificam essa endemia que se alastrou pelo país, mormente a partir de 2003. Compete à mídia competente e esclarecida revelar sem tréguas as operações do Lava-Jato. Observar, apenas observar, apesar de desesperanças…

In this post I transcribe message from the French composer François Servenière with reflections on the issue of what Sylvain Tesson calls “pofiguisme”, something we can understand as fatalism. According to Servenière, the resignation shown by people from Eastern Europe or Islam is a consequence of their harsh geography: arid grasslands and scattered oases, barred from contact with the sea. On the other hand, for people of Western Europe, living by the sea in a more docile environment , it is easier to tame nature, modify it and go searching for new horizons.

 

 

 


O que se ouve pelas ruas

Quando alguém constrói um navio,
não se preocupa com os rebites, nem com os mastros,
tampouco com as pranchas da ponte.
Trabalho findo, enclausura dez mil escravos
e alguns capatazes munidos de chicotes.
E a glória do navio se expande.
Jamais conheci um escravo que se vangloriasse de ter vencido o mar.
Saint-Exupéry
(Citadelle, cap. LXXVIII)

Um dos traços marcantes na literatura de Fiodor Dostoïevsky (1821-1881) é sua capacidade de observação e a apreensão de pormenores que poderiam parecer irrisórios, atribuindo-lhes importância. Essa observação só se torna possível através da memória, que retém as lembranças. Perfila entre os personagens de seus romances essa profunda qualidade de perscrutar a alma humana. Diversidade de personalidades em obras que perduraram: Os irmãos Karamazov, O Idiota, Crime e Castigo, O Eterno Marido, Aldeia de Stiepantchiko e seus habitantes, entre tantos livros consagrados, evidenciam esse penetrar a alma humana. Observar é inalienável qualidade na extraordinária obra de Dostoïevsky, autor que me fascinou quando de meus estudos em Paris durante a juventude. “Aprendi a conhecer o povo russo, como poucos o conhecem”, escreveu Doistoïevsky a um amigo, quando o autor de Recordações da Casa dos Mortos esteve preso na Sibéria. Esse observar, encontrável em tantos outros autores eslavos e em particular no compositor Modest Moussorgsky (1839-1881), tem muito a ver com aquilo que Sylvain Tesson coloca, sob outro contexto, como pofiguismo, quando estagiou no lago Baikal, na Sibéria. A palavra, sem tradução em França como na língua portuguesa, remete-nos àquilo que, no entender de Tesson, “é uma resignação alegre, desesperada frente ao que virá”. O adepto do pofiguismo não se agita frente ao infortúnio, aceita-o (vide obras resenhadas do autor no item Livros do menu). Apreende o que vê e tende à nostalgia.

A premissa se faz necessária em virtude desses tormentosos momentos  que o país atravessa, eivado de “certezas” anunciadas e desmentidas poucas horas após pelas autoridades que as divulgaram. O comandante de um barco à deriva não tem as mesmas “decisões”?

Como cidadão, gosto imenso de auscultar pessoas das mais variadas camadas sociais, assim designadas. Dão-me a medida do termômetro, sem que necessário seja ter de recorrer às pesquisas, que colocam abaixo de dois dígitos a popularidade da presidente de plantão. O que impressiona é que, do profissional liberal ao empresário, do laborioso caixa de um supermercado ao professor esclarecido, do estudante que realmente estuda ao motorista de táxi, as estatísticas confirmam essa triste constatação. Sob outro aspecto, aquilo que Tesson observa como pofiguismo na alma e no viver do povo russo amolda-se perfeitamente ao que assistimos, uma resignação “nostálgica”, um aceitar todos esses desacertos como se eles fossem irremediáveis. O cidadão observa, recolhe-se e sente que a chaga da corrupção que se agigantou geometricamente a partir de 2003, está aberta e purulenta. Sinto, nessa auscultação e no observar semblantes após respostas, um quase que desânimo. A triste dificuldade da presidente em ser coerente, ao menos no respeito à construção das frases, o que leva à frequente ininteligibilidade de sua fala quando improvisa o discurso, assim como o despreparo na direção do país, desconcertam a população. A presidente não mais consegue falar em rede nacional, pois o panelaço será a instantânea resposta da população. A segurança de um navio está em seu timoneiro. A suspeição que sobre ela recai, a envolver “desatenção” a tantas irregularidades cometidas em sua gestão, desacredita-a. Os terríveis males que vinham dos dois governos que antecederam seu primeiro mandato só foram dimensionados. O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em recente pronunciamento, avalia como “método de governança criminosa” a gestão petista. E persiste a corrupção, essa mãe de toda administração, tanto pública como privada. Enraizada até o lençol freático. É claro que, e isso também observei,  quando se trata de um militante petista, nada a fazer, pois ele tem frases feitas, repetições ad nauseam dos pronunciamentos em recintos propícios que realiza o último ex-presidente. Nessas bravatas, FHC está sempre presente, apesar de há bem mais de uma década ter encerrado seu governo. É possível entender uma obsessão clara do último ex pelo seu antecessor.

A observação me levou ao cerne desse pofiguismo. Os que tenho ouvido e que acompanharam o Mensalão e assistem à interminável e desastrosa novela do Petrolão,  nascida no governo do último ex-presidente, estão revoltadamente resignados. Entendem que um modelo de governança está estiolado, mas preferem cuidar de um dia a dia cada vez mais restrito quanto à realização pessoal e acesso aos bens que, anos atrás, apontavam erroneamente para um Xangri-lá que se sabia a “aparência” da realidade,  amplamente anunciado pela mídia esclarecida como bolha a explodir logo adiante, o que está a ocorrer, hélas.

Para os meus generosos leitores, sugeriria esse auscultar junto às diversas camadas sociais. Leitores de vários rincões deste imenso país poderão ter respostas aproximadas. É só começar.

Enquanto panem et circenses estiverem distraindo parte do povo, mercê do futebol e sua imensa divulgação, dos shows e festivais que vão do rock pauleira ao sertanejo brega e das novelas com anestésicos enredos, que ocupam os principais horários televisivos, o povo brasileiro estará resignado. É de se louvar aqueles que protestam e se organizam pacificamente na busca de uma conscientização necessária. Baluartes. O último rebaixamento do Brasil por importante agência internacional, a Standard & Poor’s, minimizado grotescamente pelo último ex, que a exaltara em 2008, é sinal de alerta, a apontar para tempos difíceis que deveremos passar. Pacificamente, desse pofiguismo atávico deve o povo brasileiro tomar consciência e colaborar no sentido de que sejam encontradas soluções que sobretudo não onerem ainda mais o já super tributado cidadão brasileiro. Os cortes de gastos são rigorosamente necessários. Estariam os governantes, em todas as esferas, dispostos a renunciar às incríveis mordomias que se auto outorgaram?

Para finalizar, relato o que ouvi de um diplomata francês, décadas atrás. Dizia ele que um seu colega voltava do Médio Oriente em classe turística e encontrou um colega brasileiro, que estava a viajar na primeira classe. À indagação deste no sentido de viajarem juntos, o francês teria respondido: “não pertenço a um país rico”. Nada a acrescentar.

This post addresses the ability to observe day-to-day life as expressed by Dostoïevsky, Saint-Exupéry, Sylvain Tesson and the man in the street and the entrenched inertia of unhappy Brazilians to change the status-quo.

 


Não há como evitá-los

Lembra-te que, para ser útil à humanidade,
o pensamento deve traduzir-se em ações.
Não tomes sobre ti novos deveres para com o mundo;
porém, daqueles que já te encarregaste,
desempenha-te perfeitamente,
entenda-se,
os deveres definidos e razoáveis que tu próprio reconheces
e não os deveres imaginários que porventura
alguém pretenda impor-te.
J. Krishnamurti

Foram três blogs dedicados às corridas de rua e às reflexões e comentários de leitores sobre o tema. Decididamente, elas fazem parte de minha vida e me trazem grande alegria e prazer. Periodicamente o tema retorna ao blog, mormente quando fato inusitado assim pede. Se minha digitação percorria o teclado nessas últimas semanas na tentativa de passar ao leitor todo esse envolvimento, não estava alheio aos gravíssimos problemas que nos assolam e que têm sido debatidos por profissionais abalizados. Mais a operação Lava-Jato se aprofunda, mais intensamente temos a certeza de um projeto inescrupuloso de poder que há mais de uma década está a deixar o país completamente à deriva, mercê da endêmica corrupção agigantada e da má governança. As democracias consolidadas têm como constante a alternância do poder, que no mínimo gera arejamento, apesar de alguns problemas vitais permanecerem. Todavia, a intenção do aparelhamento definitivo de um país não se dá. Desgraçadamente, a ânsia da perpetuação de um partido no poder que já deu água desde os primórdios está a levar o país ao impasse. Os planaltinos de plantão nunca negaram o desejo de permanecer décadas no poder. Expressamente.

Sob outro aspecto, como não se indignar com a grande invasão migratória do Oriente Médio e da África do Norte rumo à Europa, via Mediterrâneo, graças às ditaduras e ao fanatismo ideológico e religioso? Assiste-se “passivamente” ao extermínio indiscriminado de vidas e a destruição de propriedades público-privadas, assim como de monumentos arqueológicos. Numa outra situação, a corroborar as tragédias, a  implacável natureza a provocar secas aterradoras. Tempos difíceis, quiçá de insolúvel acerto. Estou a me lembrar de texto que li nos anos 1980, escrito pelo ilustre historiador inglês Eric Hobsbawn (1917-2012). Dizia que, passadas as primeiras décadas do século XXI, o hemisfério norte estaria inteiramente invadido pelos povos do hemisfério sul, Europa e América do Norte como destinos. Verdadeira profecia! A atualidade assiste com estupefação a essa realidade! Fome, ação de ditadores sanguinários, guerras e guerrilhas sob a égide de intolerância religiosa ou diferenças étnicas. O Médio Oriente totalmente convulsionado, a maior parte da África fadada às batalhas fratricidas. A barbárie como rotina. Hobsbawn apresentava razões, se bem que, àquela altura, o acelerado e pandêmico terrorismo ainda não se mostrava aterrador.

A fazer parte sistematicamente de meus blogs, os comentários de François Servenière testemunham a leitura atenta e enriquecedora. Esse olhar distanciado, vindo da Normandia, tem dois méritos incontestáveis, o talento do compositor e pensador francês e, necessariamente, uma visão outra dos fenômenos que estou constantemente a narrar. Nessa última mensagem, Servenière aborda dois temas, a alucinante migração que tem o Mediterrâneo, de fantásticas tragédias desde a Antiguidade, como palco atual, para outra categoria de desgraça, o total desprezo que os poderosos têm pelos infortunados sob seus jugos. Como bálsamo retorna em seu e-mail à atividade esportiva. Escreve:

“É sempre motivo de alegria a publicação de meus comentários em seu blog, após tradução. Interessam-me muito os seus temas hebdomadários, pois os assuntos que você aborda são essenciais e focalizam problemas de nossa sociedade mundial em sua essência atual. Na realidade, todos os países hoje estão interconectados pela mundialização. Não seria difícil compreender que as sociedades sigam as mesmas direções e sofram os efeitos de idênticos atavismos…

Todos nós ficamos horrorizados esta última semana pela foto da infortunada criança síria sobre uma praia da Grécia. Tínhamos a impressão de que ele dormia, alongado na posição em que Tom (filho pequeno de Servenière) dorme sobre seu leito. Ficamos arrasados. Essa emoção correu mundo. Que injustiça para esses países, suas famílias e seus pequeninos! Que irresponsabilidade também, da parte dos governantes, sempre cruéis ditadores que não deixam outra opção a não ser a fuga em massa das populações, pois, no afã de se perpetuarem, preferem ver cidades, vilas e aldeias completamente destruídas! Que irresponsabilidade também desses inescrupulosos traficantes de homens fazendo-os atravessar sobre embarcações da miséria, muitas vezes por somas, a partir de informações publicadas, que chegam a 10.000 euros por pessoa! Tudo isso é loucura, é apocalíptico! Devemos acolher essas pessoas na Europa, é certo, mas tendo de tomar cuidado para que esses alucinados da Daesh (Estado islâmico, organização jihadista que proclamou em Julho um califado entre o Iraque e a Síria) não se misturem aos infortunados fugitivos, apesar de certamente ter havido infiltrações. Já é o caso dos Bálcãs, a 1.000km de Berlin e pouco mais de Paris. Horror à vista, se não houver a necessária união europeia para erradicar o flagelo.

Retornando ao esporte e ao seu artigo, estamos diante de uma das mais belas atividades do planeta. Se cada um de nós pensasse no mens sana corpore sano evidentemente haveria menos guerras e conflitos.

Todos, sem exceção, podem e deveriam fazer esporte ou alguma atividade artística. Evidentemente uns pouquíssimos se tornarão Usain Bolt ou Renaud Lavilenie, Arthur Rubinstein ou Vladimir Horowitz. Mas cada um pode alcançar a felicidade simples que consiste em atingir seus próprios limites, tanto nos esportes como nas artes. Na música, como exemplo, nós dois iniciamos o caminho ainda crianças, sem outro ferramental que nossas visões, nossos sonhos, nossas possibilidades, pois tivemos a chance de ter pais compreensivos, o que, na realidade, deveria ser sempre uma constante.

Estamos atados a essas aspirações, como você menciona em seus textos, uma vontade i-na-ba-lá-vel acoplada ao nosso corpo para a realização de nossos sonhos mais íntimos. O esporte e a arte integram e desenvolvem essa vontade. Não somos seres excepcionais, longe disso. Mas trabalhamos para a realização de nossos ideais, convencidos de que as únicas barreiras que tínhamos em nossas vidas estavam em nossas cabeças e não no exterior. Compreendido esse paradigma, todas as portas estarão abertas, necessário apenas abri-las. É tudo!

O esporte e a arte são verdadeiramente espaços propícios a todos, que permitem ultrapassar barreiras físicas, psíquicas, sociais, éticas, religiosas… “. (tradução: JEM).

Para o leitor, diria que essa última concentração de posts sobre as corridas buscou mostrar esse lado tão benéfico da prática esportiva, independentemente de eu estar a praticá-la. Se as mensagens caírem em solo fértil, o objetivo terá sido alcançado. O refúgio junto à família, à música e à corrida é necessário para o provável equilíbrio da mente.

Regressando ao desastre ético, moral, político e econômico que assola o Brasil nessas governanças do século XXI, sem uma almejada esperança, pois terra quase arrasada, ao cidadão laborioso, que trabalha com seriedade e que cultua valores sacralizados como a família, a moral e a solidariedade – tão inerentes no povo brasileiro -, dedicar-se com entusiasmo às tarefas diárias, sejam elas de quais áreas dignificantes forem, mostra-se como o caminho desse acreditar, ainda.

In today’s post I transcribe message from the French composer François Servenière, in which he addresses with great acuteness the uncontrolled mass migration of refugees to Europe – a serious political question with global dimensions – and stresses once more the importance of sports and music as ways to refresh our soul in moments of crisis.