Recitais em torno das obras para piano de Claude Debussy

Tenho recordações de Tomar que remontam a 1982, quando dei meu primeiro recital na cidade dos templários, convidado pela saudosa Professora Manuela Tamagnini, colaboradora e amiga da ilustre gregorianista Júlia d’Almendra (1904-1992). Durante dez anos, entre 1982 e 1991, sempre que vinha a Portugal para recitais, ficava hospedado na morada de Júlia d’Almendra em Lisboa. Foram três récitas em Tomar em anos consecutivos. Para lá me dirigia em companhia de Júlia, sempre a conduzir seu pequeno Toyota em estrada bem movimentada, anterior à construção das magníficas autoestradas que atravessam Portugal. Passaram-se os anos e só a partir do início deste século retornei à cidade, apresentando-me regularmente desde então. Em Tomar situa-se um dos monumentos mais emblemáticos da humanidade, o Convento de Cristo (início no século XII, término no século XVIII). São muitos os blogs em que escrevi sobre Tomar e a aura existente, assim como comentei ter o grande compositor Lopes-Graça nascido na cidade  em 1906. O fato de ter gravado três CDs com suas obras, muitas delas inéditas, fez com que recebesse convites para regressar, a fim de realizar recitais e palestras. A população de Tomar é estimada em cerca de 40.000 habitantes.

Neste ano estarei a apresentar apenas composições de Claude Debussy, mercê do centenário de sua morte. Na Canto Firme, Escola de tradição em toda a Região das Beiras e sub-região do Médio Tejo, deu-se a  palestra-ilustrada na tarde quinta feira, 10 de Maio, sendo que à noite realizei o recital. Dois programas, portanto. Como mencionei no post anterior, o fato de que as mais divulgadas obras de Debussy serão interpretadas por pianistas de mérito, fez-me optar pelo repertório menos divulgado, com exceções.

Canto Firme, hoje tendo a direção segura do maestro Simão Francisco, foi durante muito tempo conduzido pelo professor e regente coral António Sousa, divulgador incansável da obra vocal para coro de Lopes-Graça. Em sua casa, nos arredores de Tomar, Regina e eu sempre nos hospedamos, acolhidos generosamente por António e sua esposa, Maria do Rosário. Prioritariamente nossas conversas giram em torno de Lopes-Graça, pois António é um de seus especialistas, tendo escrito livro referencial , “A construção de uma identidade – Tomar na vida e obra de Fernando Lopes-Graça” (2006). É sempre comovente apresentar-me em Tomar. A acolhida é generosa e a aferição, feita por músicos competentes, um estímulo.

Diferentemente de Tomar, visitada ao menos dez vezes, apresento-me pela segunda vez em Guimarães. Em 2017, o recital foi programado no âmbito do Festival de Música Sacra, na Semana Santa tão bem dirigido pelo notável professor e dileto amigo José Maria Pedrosa Cardoso, nascido na cidade. A recepção acolhedora no ano passado possibilitou o retorno a Guimarães e o recital Debussy constitui-se na continuação das homenagens prestadas ao grande compositor. Torna-se patente o respeito que nutrem pela cultura. O recital está integrado na programação do Simpósio Guimaramus de Musicologia. A cidade berço, como reza a frase em muralha da cidade, “Aqui Nasceu Portugal”, assistiu em 1128 a acontecimentos extraordinários, que resultaram na criação da nação portuguesa. É notório o orgulho do cidadão vimaranense pela história de sua cidade. Escrevi posts sobre Guimarães em 2017. O recital será realizado neste sábado, 12 de Maio. Como sempre faço, apresentarei em poucos minutos aspectos fulcrais das obras a serem interpretadas. Essa fala é sempre bem vinda, mormente quando as obras são menos conhecidas.

Reitero que a breve tournê em torno de Claude Debussy é um prolongamento seletivo da integral que apresentei nos anos 1980. Devo à Júlia d’Almendra o estímulo para que apresentasse paulatinamente, naquela 0casião, as obras completas para piano. Júlia, escreveu livro fulcral sobre o compositor, “Les modes grégoriens dans l’oeuvre de Claude Debussy (1948).

De Guimarães seguiremos para Lisboa, guiados pelas mãos seguras do professor Pedrosa Cardoso. Aguardam-me três atividades, que serão sucintamente comentadas no post da próxima semana: palestra ilustrada em S. Pedro de Alcântara (15), entrevista no consagrado programa Antena 2 da RTP, conduzida por Paulo Guerra (16), e recital no Museu Nacional da Música (19).