Navegando Posts publicados em julho, 2018

Apesar de saberem-me leigo, leitores reagiram positivamente

O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…
Albert Camus

Não pensava receber mensagens tão significativas. Geralmente curtas, focalizaram, até de maneira mais incisiva, a participação pífia da seleção brasileira e a preocupação exagerada daquele que é considerado seu jogador principal, Neymar, com seu visual, suas reações abusivas ao sofrer ou simular faltas, sua ação desmesurada e ridícula nas redes sociais e a ausência, durante seus raros pronunciamentos, de um discurso ao menos palatável. O treinador Tite, considerado pelos leitores como o melhor nessa função no Brasil, é contudo salientado como tendo deficiências evidentes. Trataram-no como um bom motivador, mas incompleto sob o aspecto tático, fato amplamente ratificado nos jogos da seleção brasileira na Rússia. É algo a se pensar.

Tite e Neymar, não figurando nas listas dos dez mais do ano em cada especialidade elaborada pela FIFA, são provas inequívocas de que algo está errado no nosso futebol. O preocupante não é apenas a ausência dos dois, mas a de qualquer outro jogador brasileiro. Antolha-se-me que há equívocos essenciais em toda a cadeia futebolística no Brasil. Nesses incontáveis erros não nos esqueçamos da CBF, do agente ou empresário, este a ter o lucro como única preocupação.

De maneira unânime tem o brasileiro a consciência plena de que estamos rigorosamente defasados – seleção e times da série A do Campeonato Brasileiro – em relação ao futebol praticado pelas principais equipes da Europa. Sou mais um nessa quase unanimidade. Razões econômicas e culturais são apontadas. Realmente não esperava tão expressiva resposta ao tema futebol, que, no dizer popular, “é a coisa mais importante entre as menos importantes”. Entretenimento sim, que é hoje o mais visualizado no mundo inteiro.

Um dos leitores comentou a ilustração e perguntou-me se poderia dizer mais. O pequeno quadro, pintura sobre madeira de Sérgio Duarte Milliet (1898-1966), foi-me oferecido no início da década de 1980 pela viúva do literato e pintor, a saudosa Lourdes Milliet, irmã do escritor, poeta e jornalista Paulo Duarte (1899-1984). Participamos durante dois anos do Conselho Deliberativo do Museu de Arte Sacra de São Paulo, então presidido pelo Padre Antônio de Oliveira Godinho (1920-1992).

Como a maior parte dos ótimos comentários foi bem sucinta, selecionei três mais extensos. Flávio de Araújo, um dos maiores locutores esportivos da rádio brasileira, narrador de eventos memoráveis, como as corridas da Fórmula 1 de Emerson Fitipaldi e Nelson Piquet, assim como lutas de nosso campeão de boxe Eder Jofre, sem contar campeonatos brasileiros, o milésimo gol de Pelé e as cinco copas do mundo de futebol, de 1966 a 1982, escreveu com a competência que lhe é familiar:

“Caríssimo José Eduardo, excelente e inteligente artigo, que li com a mais profunda atenção. Só gostaria de acrescentar que, infelizmente, também na Europa e em seu futebol a corrupção corre solta. Veja o caso de Sandro Rossel, ex-presidente do Barcelona. O futebol se espraia hoje também pela Ásia e chega ao Oriente distante, onde há exploração desonesta no ramo de apostas, gerando também corrupção. A América do Sul, se souber aproveitar as lições que a Copa da Rússia trouxe, não deixará de estar presente nas próximas competições. Lembro que nosso subcontinente tem 10 países concorrentes, contra mais de 50 da Europa. A Copa do Mundo é um grande festival de futebol internacional e uma das razões de seu êxito, e aqui incluo também os principais campeonatos europeus, reside na presença de africanos e, principalmente, sul-americanos. Além do que, dos 21 campeonatos do mundo, a América do Sul, com apenas três campeões, Brasil, Argentina e Uruguai, tem 9 títulos. Considero que a situação política no nosso país e a corrupção endêmica que nos domina exercem também influência no péssimo momento de nosso futebol. Enquanto a CBF for dirigida por falsos esportistas, desonestos mesmo, pagaremos um preço muito alto. Enquanto isso, a China está construindo estádios na África e fez um acordo com a Inglaterra para fortalecer seu futebol. Daqui a pouco estará também entre os grandes da Copa. Seu artigo só eleva meus parcos conhecimentos e continuo seu admirador incondicional”.

O escritor e advogado Pedro de Almeida Nogueira comenta: “Gostei de seu texto. Tem muita razão quando diz de treinadores desejando manter unidas ‘as famílias’, quando alguns integrantes já não são ou estão em condições. Detesto essas formações para disputas de amistosos para criar ‘entrosamento’. Seleção tem de ser montada com os melhores do momento, para uma determinada competição. Enfim, você diz que FIFA é FIFA e eu digo que CBF é CBF”.

O compositor e pensador francês François Servenière, amante do futebol arte, ficou exultante com a vitória da França na Copa recém finda. Escreveu:

“Li seu artigo em que o futebol sul americano e a Copa do Mundo são abordados com pormenores globais e concordo plenamente. Faltou, na minha opinião, em suas brilhantes observações o fato de que os melhores jogadores sul americanos jogam e vivem na Europa durante o ano e que, pela defasagem horária, a cada viagem internacional ficam esgotados nessas constantes idas e vindas de 24 horas, com cerca de 36 ou 48 horas de adaptação em cada sentido”. Apenas observaria que jogadores da elite futebolística viajam de classe executiva, quando não em seus jatos particulares, e que a adaptação ao fuso horário é minimizada pelo aconselhamento diário de especialistas na matéria. Continua Servenière: “Jogadores sul-americanos recebem bem mais na Europa e parecem sentir-se mais felizes nessa situação (assim como os artistas franceses que recebem mais nos Estados Unidos – marasmo da música francesa idêntico ao futebol brasileiro). Seus argumentos no blog são essenciais. Malgrado essa constatação, temos dificuldades crescentes, apesar do amor pela camisa nacional, de motivar os atletas para os torneios eliminatórios ou jogos no continente americano. Não obstante o fato, observando-se as melhores equipes europeias, sua ossatura é constituída pela safra inesgotável sul-americana, mormente as brasileiras, argentinas e uruguaias e, numa menor quantidade, pela safra africana, cuja maioria dos jogadores, sem ter a mesma técnica existente daqueles oriundos dos países citados sul-americanos, impõem-se pela força física, velocidade, resistência incrível e musculatura bem acima da média. É fato também. Quanto aos sul-americanos, possuem eles talento e habilidade absolutamente alucinantes. Os pampas e o futebol de praia tornam as pernas fortes e possibilitam técnica extraordinária. Pouco a pouco o futebol de praia torna-se familiar na França, mesmo aquele praticado nos clubes. Assim como conseguimos os melhores cavaleiros fazendo-os correr na água fria da região da Manche (Deauville), Usain Bolt treinava seus arranques (tiros) nas piscinas de água gelada”.

Às corretas observações de um especialista da área, Flávio Araújo, de um respeitado articulista e advogado, Pedro de Almeida Nogueira, e de um aficionado pleno e músico de expressão, François Servenière, acrescento aspectos que têm de ser considerados. A farta corrupção que imperou (impera ainda?) na cúpula da Confederação Brasileira de Futebol, com um ex-Presidente preso nos Estados Unidos, outro banido pela FIFA e mais outro às voltas com a Justiça, ambos não mais podendo dar um passo além-fronteiras, pois visados pela INTERPOL, e um atual absolutamente despreparado, devastou o futebol brasileiro. Federações Estaduais, que votam ratificando membros que se perenizam na cúpula da CBF, mídia diária que incensa ou critica em debates apaixonados, tantas vezes a ultrapassar o limite da exacerbação, e exercida por tantos não especializados na origem, mas com milhões de seguidores, clubes endividados que conseguem sobreviver “driblando” adversidades contábeis, reféns de torcidas organizadas, eivadas em suas fileiras de marginais travestidos em torcedores, toda essa triste realidade resulta na permanente queda de qualidade do futebol praticado no Brasil. O êxodo exagerado de nossos jogadores ainda imberbes para o Exterior retira de nossas terras o talento que, não desfilando mais pelos gramados, não estimula os que aqui permanecem ao menos ao aperfeiçoamento. Transferindo-se os artistas da bola precocemente, muitos têm aferido somas altíssimas. Ao vestirem a camisa da seleção, teriam eles no de profundis a ligação amorosa às raízes? Eliminada a seleção, viu-se que alguns jogadores retornaram ao Brasil, outros se dirigiram diretamente aos países onde moram e foram vistos descontraídos, usufruindo férias do verão europeu. A Copa do Mundo, para alguns jogadores brasileiros, não representaria apenas uma grande vitrine para exibição das habilidades individuais? O considerado salvador da Pátria não participou a pensar ser ungido o melhor da Copa? Tem o jogador que veste a “amarelinha” a noção verdadeira de Pátria? O êxodo sem tréguas não seria igualmente um descompromisso perene com as raízes? Indagados, todos afirmam o pleno envolvimento com o país de origem. Tenho minhas dúvidas.

In today’s post I publish messages received from readers with new thoughts regarding the steady decline of Brazilian football.

 

 

Considerações de um simples observador

O povo não se importa com os salários desmesurados dos jogadores
como o faz para com os dirigentes das grandes empresas.
O patrão é menos legítimo para o grande público
do que o artista da bola de futebol.
Seria temerário assim considerar.
Mas o patrão impõe restrições, licencia, fixa as regras do jogo.
Em suma, ele possui o poder.
O jogador de futebol, tão rico quanto, oferece o espetáculo.
Um se apresenta e faz sonhar, o outro impõe.
Os imperadores romanos do baixo império
ofereciam ao povo “pão e circo” para governar em paz.
Os dirigentes do ocidente contemporâneo
Oferecem-lhes consumo e espetáculos.
O esporte e as emissões televisivas constituem o essencial do espetáculo.
Patrick Aulnas
(“Contrepoints” – 15/07/2018)

Assisti a muitos embates da Copa do Mundo, que premiou com justiça a seleção francesa, apesar das empolgantes participações da Croácia e da Bélgica na competição maior do esporte bretão. Friso, sempre pela FOX, a meu ver a melhor transmissão dessa competição. Creio mesmo ter sido a melhor Copa, desde a primeira de 1950 quando, com meus pais e irmãos, assistimos ao jogo Brasil x Suécia no Maracanã, com resultado surpreendente para o Brasil. De lá para a atual, estive atento a acompanhar igualmente jogos importantes de inúmeras seleções.

Assistir a jogos pela televisão, apesar dos avanços tecnológicos com quantidade de câmaras fixando todas as jogadas, não tem a mesma garantia de avaliação daqueles presenciados in loco, pois temos a possibilidade de observar todos os jogadores e melhor julgar estratégias. Todavia, pouquíssimas vezes fui a um estádio, sendo que jamais voltaria por motivos óbvios, pela faixa etária e também pela violência que pode advir a qualquer momento nos eventos no Brasil, marcados pela chaga representada pelas torcidas organizadas.

Primeiramente, apesar de saber que todos os continentes têm de ser contemplados, é lamentável não termos na Rússia seleções como as da Itália e da Holanda, como exemplos. Seleções que conseguiram com esforço se classificar em continentes menos qualificados futebolisticamente chegaram quase como sparring partners, figurantes apenas do que estava por vir. Tornaram-se presas fáceis das seleções mais fortes. Se necessárias as participações para contemplar cotas dos continentes, enfraqueceram o campeonato na primeira fase, que poderia ter outra dimensão se países mais representativos estivessem presentes. Contudo, a FIFA é a FIFA, com tantos imbróglios através da história. Em 2026 teremos 48 seleções!!! Sempre interesses estranhos que desconheceremos.

Gostei muito da Bélgica, que nos eliminou. Futebol moderno, defesas sólidas, linhas bem ajustadas, contra-ataques rápidos e organizados. Percebia-se a orientação do treinador. A seleção inglesa não decepcionou. Muitos são jovens e campeões de ligas de faixa etária mais baixa. Creio que em 2022 poderá ir mais longe, com a geração atual amadurecida. A experiência e o entrosamento da seleção belga mostraram-se presentes e os ingleses não resistiram. Ambas as seleções praticaram o jogo coletivo.

Quanto à América Latina, a cada ano ficamos mais distantes do futebol jogado na Europa. Um exemplo que se concretiza todos os anos é a diferença abissal existente entre jogos da Liga dos Campeões da Europa e a nossa triste Libertadores da América. Estádios espalhados pela América sem condições, gramados por vezes semidestruídos, iluminação nem sempre condizente, participação de equipes sem a mínima condição, mas contemplando interesses. Verdadeiramente tristes “espetáculos”. Na Copa ora finda, os países da América Latina sucumbiram. Menção apenas à seleção do Uruguai que lutou com determinação, mas também não suportou a superioridade europeia no presente. Assisti aos seus jogos e era notório o empenho, a raça, como costumam dizer, dos jogadores do Uruguai, capitaneados pelos excelentes Godin, Suarez e Cavani, este que, contundido, não esteve presente no jogo da eliminação de seu país frente à poderosa França. A Argentina realmente decepcionou.

Quanto ao Brasil, já se podia prever a desclassificação. A tantos amigos dizia eu em Março que o treinador Tite poderia ser seduzido pela mídia e por poderosos patrocinadores e que não deveria levar Neymar, que retornaria aos treinos um mês antes da competição, após operação a que foi submetido no pé direito. Não só não estaria em condições ideais como poderia desestabilizar estratégias antecipadamente preparadas. Tite não considerou a hipótese de não contar com o jogador, mantendo-o no elenco, sempre a precisar sua importância decisiva na competição. Um dia possivelmente saberemos as razões da manutenção de Neymar entre os jogadores, assim como outros que vinham de lesões e não deveriam estar na Rússia. A essa observação soma-se a tendência de nossos treinadores em manter as “famílias” constituídas pelos jogadores eleitos. Parreira (2006), Dunga (2010) e Scolari (2014) assim agiram e Tite continuou a famigerada sina. Tirou Gabriel Jesus ou Neymar, que não estavam bem? Não. Manteve a “família”. Tite não soube introduzir mudanças fundamentais durante os jogos, como outros técnicos o fizeram. Na desclassificação frente à Bélgica não agiu a tempo após estar a seleção em desvantagem. Faltou-lhe esse algo a mais, decisão no momento certo. Sob outro aspecto, em todas as suas entrevistas mantinha constantemente o discurso ex-catedra. Contudo, paradoxalmente, não teve pulso para evitar a distração fatal causada pelo excesso de familiares e amigos dos jogadores, destes retirando o foco essencial. A TV cansou de mostrar esse cerco, que desvia a atenção fulcral.

Estratégias dos técnicos dos quatro países que chegaram às semifinais bem evidenciaram o jogo coletivo, distanciando-se do pensamento a ter como eixo paradigmático um salvador da pátria, caso específico de nossa seleção. Os quatro técnicos semifinalistas mudaram estratégias no decorrer dos embates. Uma constatação é evidente, pois não há um só técnico no Brasil que possa ser convidado para dirigir um médio ou grande time europeu. Triste retrato de nosso futebol, mal congregado em torno de uma CBF totalmente desmoralizada.

Decantado em prosa e memes, o caso Neymar foi emblemático. Talentoso, muito acima da média, está a se perder pelo excesso de autoconfiança e pela visualização excessiva, sempre a querer figurar acima de seus reais méritos. Tem como ídolos a serem ultrapassados Cristiano Ronaldo e Messi. Seu talento não está à altura dos dois e essa evidência só não é vista por alguns cronistas, que teimam em considerá-lo superior (sic). Em recentíssima pesquisa da Pluri Consultoria, especializada no ramo esportivo, na qual aborda a desvalorização do jogador, lê-se: “Neymar entrou na Copa do Mundo cercado de expectativa Global pela condição de protagonista da maior transferência da história do futebol mundial (€ 222 milhões), e frequentemente apontado como sucessor natural de Cristiano Ronaldo e Messi”. Prossegue a consultoria: “O jogador, porém, não se comprometeu com a bola nos pés, não foi decisivo como se esperava dado seu talento. E, sem a bola, amplificou em escala planetária os piores aspectos que há tempos se apontavam sobre sua carreira”. O tempo dirá.

Não vejo a menor possibilidade de haver uma elevação do futebol praticado na América Latina. Não há como. Confederações eivadas de corrupção, agremiações tendo de vender para o Exterior talentos recém-surgidos e repatriar jogadores em faixa etária a apontar para o fim de carreiras, resultando na contratação de outros no mercado local ou de países latino-americanos apenas de qualidade bem mediana, fazem com que o futebol praticado no Brasil e no continente seja sofrível, sem exceções. Chauvinismo “impede” para todos esses países a contratação de descendentes imediatos de imigrantes, daí termos seleções “puras”. Assim procedia a Europa. Hoje, países como a França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, entre outros, já entenderam não poder prescindir em suas seleções do talento de afrodescendentes de última geração ou, então, de originários do Médio Oriente. Acredito que dificilmente nossa América Latina chegará às próximas finais.

Essas observações de um apreciador do futebol-arte desde os 12 anos de idade impedem-me de assistir aos jogos de nossos campeonatos e até da Copa Libertadores da América. Fundamento essencial como o passe não é tido como prioridade e o número errado desse quesito nos confrontos é extraordinário. A Europa se reestruturou no âmbito do futebol de base, tido como essencial pelas categorias acima. Crianças aprendem prioritariamente os básicos fundamentos. Sob outros olhares, a violência em campo e fora dele, as estratégias pobres de treinadores que permanecem fazendo rodízio, trocando constantemente de clubes durante as temporadas, são alguns fatores que inibem quantidade cada vez maior de admiradores, induzindo-os a assistir ao melhor futebol do mundo, já há tempos praticado na Europa. Na falta de bons espetáculos em nossas terras, observo com entusiasmo, tantas vezes, jogos importantes dos campeonatos espanhol, alemão, inglês, italiano e francês. A ida de Cristiano Ronaldo para a Juventus na Itália despertará enorme curiosidade para milhões de aficionados pelo esporte bretão da península itálica. Espalhados pelo mundo serei um desses admiradores do magistral jogador português.

As Russia 2018 World Cup came to an end with the victory of France, I raise some considerations about the sad situation of Brazilian football today. South America didn’t do well. Brazil, as I have expected, did not make to the finals. The time the Brazilian squad was an example to be remembered is gone. We are not part of the elite soccer any more. At domestic cup competitions we see second class coaches and players, no game plan, corruption, violence, the need to sell the best players to the European soccer leagues, stadiums in very poor conditions, with ruined pitches and defective lighting. Without good matches at home, I can do no more than watch with envy the outstanding technical quality offered by the European championships.

Esquecimento em publicações relevantes

Car la technique, c’est le son.
Alain Lompech

Abordei no post anterior descaso de nossos países irmãos quanto à efetiva divulgação de seus vultos mais expressivos. Portugal e mormente o Brasil pouco fazem para que ilustres músicos, escritores e pintores de mérito sejam conhecidos nos países em que a cultura erudita ainda é cultivada em vários níveis. Despreparo daqueles que mantêm o poder, desinteresse de agentes e da mídia. Dessas três categorias culturais, a música é a mais sacrificada, como se para governantes e promotores a música de concerto fosse realmente de menor expressão do que artes correlatas. Acentuadamente a música descartável, efêmera e de qualidade duvidosa invade espaços e mentes das novas gerações. Não observado com profundidade, esse distanciamento se agudiza entre as duas manifestações, a que perdura durante séculos e a efêmera, que, à maneira de Leviatã, conquista inteiramente a escuta de gerações de adeptos, para gáudio da indústria do espetáculo.

Há alguns anos li o livro “Les Grands Pianistes du XXème Siècle”, de Alain Lompech (Paris, Buchet Chastel, 2012). Ao todo, 44 pianistas entre os maiores, nascidos de 1873 a 1947, são evocados em relatos não profundos, mas a salientar aspectos até desconhecidos das biografias publicadas. Talvez ao autor a ideia de transmitir determinados fatos, por vezes triviais, pudesse dar às narrativas uma maior aproximação do leitor com o artista em pauta. Essa proximidade torna a leitura agradável, sem contudo ultrapassar os limites até de crônicas bem elaboradas. Tantas são as vezes que Alain Lompech, para melhor enquadrar o pianista no cenário proposto, insere algum outro nome relevante, não necessariamente pianista, a complementar seu desiderato de apresentar o pianista em seu labor, nas especificidades interpretativas, no contato com o público e com seus diletos, no convívio social e na recepção crítica. Sem ser profundo, “Les Grands Pianistes du XXe Siècle” chega a agradar. Para músicos e parcela considerável do público que frequenta concertos os nomes são bem conhecidos, de Sergei Rachmaninov (1873-1943) a Catherine Collard (1947-1993) e mais os outros 42 pianistas que nasceram entre essas datas limites.

Se, para explicar a ascendência pedagógica de Edwin Fischer (1886-1960), o autor debruça-se sobre seu mestre Martin Krause – um dos últimos alunos de Liszt -, professor que foi de Claudio Arrau e de meu mestre durante seis anos, José Kliass, igualmente o faz quando aborda Vladimir Sofronitzki (1901-1961), pormenorizando o pianista que o antecedeu, Anton Rubinstein (1829-1894), a explicar uma sequência da denominada escola pianística russa. Essas inserções complementam um conhecimento maior da formação de cada intérprete mencionado no livro.

Um dos aspectos mais marcantes em “Les Grands Pianistes du XXème siècle” refere-se aos repertórios. Frisa bem o autor a quantidade de “concertos históricos” realizados pelos pianistas nascidos no século XIX e que prosseguiram brilhantes carreiras durante a primeira metade do século XX, por vezes algumas poucas décadas mais. Arthur Rubinstein (1887-1982) é um deles. Lembraria que, durante meus anos de aperfeiçoamento em Paris, ainda era relativamente comum essa façanha. Chamaram minha atenção e de meus colegas àquela altura comentários a respeito de uma série de 17 recitais diferentes oferecidos por Arthur Rubinstein. Não me recordo a cidade onde se deu essa extraordinária realização. Curiosa a observação do autor ao afirmar que Arthur Rubinstein – nenhuma relação de parentesco com o mencionado Anton Rubinstein – era “polonês de nascimento, alemão de educação musical, francês de educação intelectual, mas de coração espanhol e brasileiro”. Complementa que isso se deve às turnês pelo Brasil, amizades com a intelligentzia do país e o fato de ter “descoberto” o jovem Villa-Lobos. Acrescentaria que frequentou a morada do nosso mais importante compositor romântico Henrique Oswald (1852-1931), dele se tornando amigo. Dos pianistas brasileiros, dois são lembrados: Guiomar Novaes (1896-1979) e Nelson Freire (1944- ).

Alain Lompech dedica bom espaço à excelsa pianista Marcelle Meyer (1897-1958). Lembro-me que cheguei em Paris com bolsa do governo francês no ano da morte da pianista. Durante os anos que permaneci na capital da França praticamente seu nome não era lembrado. Sabia-a extraordinária, pois na juventude meu pai adquirira a obra para teclado de Jean-Philippe Rameau (dois LPs) e a de Igor Stravinsky por Marcelle Meyer. Nas minhas muitas viagens posteriores à França, seu nome permanecia sempre bem abaixo de sua excepcional qualidade. Lompech observa que a pianista preferia outras atividades àquela de “estar cortejando empresários, a fim de realizar a grande carreira internacional que seu talento certamente mereceria e que na realidade não aconteceu”. Frequentou e gravou repertório do barroco à Stravinsky, foi a intérprete do “Groupe des Six”, que lutava por uma arte genuinamente francesa e se opunha ao wagnerismo e ao até então denominado impressionismo. Gravaria obras de Debussy, Ravel (integral), Mozart, Beethoven, Schubertt e Chopin, apresentando-se com orquestra sob a regência dos grandes nomes de seu tempo. Um de meus primeiro blogs foi sobre Marcelle Meyer (vide: “Marcelle Meyer – A redescoberta merecida”, 06/03/2007)

Lembrar de Marcelle Meyer, nascida em França, diga-se, hoje totalmente reconhecida, faz considerar a ausência no livro de Alain Lompech do grande Vianna da Motta, tema do blog anterior. Quando afirmo que não há a devida divulgação de Vianna da Motta em esfera internacional, e essa publicidade teria de ser originária de instituições do governo português ligadas à cultura, é pelo fato de que ocultá-lo tem triste resultado, pois apequena o que é expressivo em Portugal. Em dois livros referenciais sobre pianistas, Vianna da Motta não é estudado: “Great Pianists on Piano Playing”, de James Francis Cooke (New York, Dover, 1999), e “Great Contemporary Pianists Speak for Themselves”, de Elyse Mach (New York, Dover, 1991). Os autores se debruçam sobre 30 e 25 pianistas, respectivamente. No caudaloso “Los Grandes Pianistas” (Buenos Aires, Javier Vergara, 1990), de Harold Schonberg (1915-2003), conhecido crítico do New York Times, Vianna da Motta é mencionado entre muitos e mereceu um pequeno parágrafo de oito linhas nas 419 páginas do livro, mormente por ter sido aluno de Franz Liszt. Nessas reduzidas linhas observa: “Nas poucas vezes que deu concertos despertou admiração” (sic). Justamente Vianna da Motta que se apresentou centenas de vezes em inúmeros países e foi detentor de imenso repertório!!!

Acredito que teria de haver uma ampla divulgação de sua obra como compositor em termos mundiais. Certamente o pianista Vianna da Motta emergiria nessa promoção. Se tantos pianistas são lembrados e a eles capítulos são dedicados, por que não Vianna da Motta!!! Está por merecer uma maior acolhida internacional.

A few thoughts on the oblivion of some great pianists by the media and musical associations. Think for example of the brilliant French pianist Marcelle Meyer, who even at her time has never received from the media the recognition a performer with her accomplishments would deserve. Her name passed into obscurity shortly after her death, and only recently her reputation as one of the greatest keyboard virtuosi of the XXth century in French was reestablished. The multitalented Portuguese pianist, composer and conductor Vianna da Motta was not so fortunate. Because little has been invested in the promotion of his works outside Portugal, he is virtually unknown outside the boundaries of his native country. Had this been done and today his name would have received the international acclaim he deserves.